14/09/2011

VIDA DE CACHORRO, alegrias e tristezas

Por que os gatos e principalmente os cachorros nos encantam sobre os outros animais? É porque, por alguma razão não explicada eles se aproximam de nós, nós os amamos e somos amados. Por eles, incondicionalmente. Os cães se tornam policiais, guias de cegos, companheiros...
E os cavalos, a sua beleza e sua elegância? Uma vaca mansinha, amorosa? É uma questão de oportunidade. Esses e outros animais não podem estar conosco numa sala ou num quintalzinho.
E o que mais dói: embora amemos as vacas, vendamos os nossos olhos de modo a não saber ou pensar o que passam quando carregadas de modo brutal num caminhão com outros da espécie e levados para o matadouro.(1)
Por conta de sustentar gatos e cães as fábricas de rações – algumas malcheirosas - prosperam. Esses animais, num visível exagero são tratados como filhos, vestidos e as cachorrinhas, particularmente, até mesmo com vestidinhos e fitinhas cor de rosa. Os animais menores, de regra pouco caminham com seus donos (as), porque carregados nos braços como bibelôs ou bichinhos de pelúcia naquela relação dengosa e, por que não, amorosa de proteção e carinho mútuos.

Sempre me chama a atenção o cão vira-lata que, fielmente, segue seu dono ou protetor, seja ele um indigente, alcoólatra, catador de papel, magro tal qual o seu senhor, dividindo as migalhas mas, jamais, faltando com a lealdade. Ele é leal, mesmo sob pancadas. Nessas desfeitas, seu olhar é tristonho, ressente-se da reciprocidade não recebida nessa relação. Mas, continua caminhando junto ao seu dono.

Há em Piracicaba a denominada “rua do Porto” que, em razoável extensão, margeia o rio. Via aprazível que concentra inúmeros restaurantes instalados em casinhas antigas, mas com a tradição de servir peixes como especialidade, a céu aberto, sob árvores e coberturas, beirando a margem do Piracicaba.

Todo domingo, nas minhas andanças por ali me deparo com um vira-lata, velho (uns 17 anos), cinzento escuro, que se ajeita numa escadinha numa dessas casinhas. Passei a afagá-lo com um agrado que talvez ele nunca recebesse, até o dia em que, de mau humor rosnou para mim. Parei. De vez em quando eu passo por ele e até acho que ele espera um agrado, mas não mais fiz.

Paralelamente à rua do Porto, uma avenida com algum movimento a separa do parque batizado com o mesmo nome (parque da rua do Porto), muito agradável, com pista para caminhada com dois quilômetros, sob árvores frondosas.

Domingo desses, assisti nessa rua, sem nada poder fazer, uma cena impressionante de amor a uma cachorrinha mimada. Num dado momento, percebendo a dona que o animal solto na rua do Porto continuaria sob seu controle, resolveu livrá-la da corrente. Mas, o animalzinho rebelou-se e passou a não obedecer aos chamados da dona para que ficasse próximo.

À medida que elevava ela a voz, a cadelinha a olhava perplexa, mantendo distância segura para não ser apanhada, como se não reconhecesse mais sua dona.

Num dado momento saiu por uma ruela e correu para a avenida movimentada. A mulher pôs-se a gritar desesperada, com todos os pulmões, correndo, prevendo o atropelamento iminente da cachorrinha:
- Não! Não, volte aqui, volte aqui...

A tragédia não ocorreu. A mulher, já na avenida ergueu os braços gritando desesperada. A cadelinha, por sua vez, de repente, já do outro lado, estancou, cheirando sabe lá o quê num canto dos alambrados do parque e foi recapturada. Com visível alívio e emoção a dona a prendeu na corrente e saiu rapidamente como que querendo esquecer o que passara.

Eu mesmo já tive essa experiência com minhas cadelinhas vira-latas. Uma delas, já velha, um dia escapou e, no seu anseio de liberdade, foi encontrada por mim a alguns quilômetros, nas margens do Rio Piracicaba perfeitamente entrosada com o ambiente.

A cadela preta, também já velha, quando escapava sai às carreiras pelo bairro, correndo o risco do atropelamento. De repente, ela para cansada e faz questão de voltar à sua “prisão”. (2)

Há algum tempo, a propósito, a imprensa local noticiou que um cãozinho de 30 centímetros de altura enfrentou um cão pitbull que mordia com ferocidade sua dona, que mal se defendia, protegendo seu filho pequeno da fera. O bichinho, em desvantagem, conseguiu que o pitbull soltasse a perna da mulher e, ao ser atacado pelo animal enlouquecido, foi “estraçalhado” por ele. Deu no jornal. Um heroizinho sem medalhas. Mas, o menino perguntava por ele:
- Quando ele vai voltar?

Vida de cachorro e de seus fãs é assim. Alegrias e tristezas. Gatos e cachorros também morrem.

Legenda:

(1) V. crônica "Renuncia à carne (animais brutalizados)" de 08.03.2009 e também "Fábula: a vaca e o leão" de 04.07.2010 (a mais acessada deste "Temas");
(2) Sobre essa cadelinha preta, v. minhas crônicas também neste "Temas":
“A (in) sustentável leveza do ser...animal” de 26.06.2011
“Mensagens & imagens” de 23.01.2011
“Dias amargos” de 28.11.2010


Fotos:


A cachorrinha da foto é da mesma raça da fugitiva na rua do Porto - Piracicaba


Imagem da rua do Porto, numa segunda-feira. No domingo, o movimento é intenso com os restaurantes e com frequentes barracas de artezanato.

04/09/2011

TRADIÇÕES, MEMÓRIAS, FRAGMENTOS (II)

Como já expliquei antes, farei desse título uma série referindo-me a momentos diferentes de memória e fragmentos dela. Assim, para diferenciar esses “momentos diferentes”, o segundo texto será sempre grafado em itálico para estabelecer o contraponto. Tradições e outros Acho que os sonhos, se não fossem importantes nós não sonhávamos. Eles anulam tempo e espaço, fazem-nos viajar, reviver e conviver, “pessoalmente”, com episódios já vividos e reprisados e nos encontrar com entes que da mesma forma fizeram parte de nossa vida, ou deram um sentido especial. Bom ou ruim. É nesse lapso que até mesmo a censura pode ser anulada. De onde provêm essas sensações virtuais, essa liberdade...essa libertinagem? Uma espécie de arquivos na mente (superior?) como um google que eclode sem ser acessado. Talvez até já tenha me referido ao sonhar acordado. Na Barão de Itapetininga, que é uma rua (agora já não sei) que gosto de São Paulo, parei numa loja de discos, porque garoava, um resquício daquela garoa que dera um qualificativo no passado à grande cidade e, à espreita, vi aquelas imagens de pessoas que irradiavam menos ou mais calor, não reclamando do vento forte e molhado e, quem sabe, tendo tudo aquilo como bênçãos. A alma lavada. Um sentido de serenidade numa cidade sacrificada pela sua grandeza e para mim, também um sentido emocionado de anonimato naqueles instantes. “Acordo” e volto ao chão da Barão molhado. Reflito das quantas vezes frequentara o Mappin, antiguíssimo ali na esquina com a Xavier de Toledo, uma tradição que veio abaixo pela falência, uma perda, porque fora um referencial por décadas. Mais que o Teatro Municipal do outro lado. Afinal tudo prescreve. A vida prescreve. E quando ela prescreve, no seu tempo pré-fixado nem sei bem como e por quais motivações, na mais das vezes, desaparecem as próprias experiências da vida que não chegaram a ser contadas. Já devo ter falado disso, também, em alguma crônica passada. Vindo da PUC de São Paulo, lá das Perdizes, no meu velho fusca-64 vermelhinho que nunca me deixara na mão – e quando deixava, bastava uma lixada na abertura do platinado para ele voltar a funcionar -, me vejo parando, uma vez por semana, pelo menos, na Leiteria Americana, também na Xavier de Toledo. Ali, relaxava um pouco às dificuldades das provas (direito penal, meu carrasco), matava a fome com mini-pizzas e chocolate quente nos dias frios. Lá pelas tantas chegava a São Caetano do Sul com tantas aventuras e sonhos para contar. Mesmo que o interesse seja muito restrito ou seja apenas do meu interesse que digam respeito somente a mim.










Memórias, fragmentos Corriam aqueles tempos em que ter um Fusca 1300 era ser rei na paquera. Em São Caetano, o cine Vitoria sob um prédio com alguns andares, tinha logo ao lado das bilheterias, um bar de bom padrão. Quantas vezes ali me servi de pizzas do tamanho de um prato ou arrisquei um licorzinho ameno nas madrugadas. 

 Numa das salas do prédio, instalara-se o Centro Acadêmico que, como se deduz, concentrava esses estudantes que já haviam ingressado no curso superior. Muitos desses acadêmicos se reuniam ali ao lado do “bar vitória” ou na esquina. Nos contatos que tive com alguns deles constatei que exalavam cultura, bem informados, revelando todo o meu despreparo. 

Um deles, acadêmico de direito do Largo de São Francisco, aprendera inglês em contato com o “éter” – enquanto eu fugia desesperado das aulas da língua ministradas por professora rigorosa. Foi naqueles dias que pela primeira vez devo ter ouvido a obra “Crime e castigo” de Dostoiévski e muito mais: “Sartre disse...”, “Foi Bertrand Russell quem disse...”; “O livro”O Lobo da estepe” de Herman Hesse...” (1); “Herbert Marcuse no livro “Eros e a Civilização defende que...” 

Para mim uma humilhação. Imaginem que poucos anos antes eu me ocupava em ler livros de Edgar Rice Burroughs sobre o personagem Tarzan! Lembro que já havia lido “Dom Casmurro” de Machado de Assis. Alguns dos livros mais citados pelos acadêmicos da esquina do Cine Vitória procurei ler mas, por exemplo, “Lobo da Estepe” preciso reler porque não me lembro de absolutamente nada do seu “enredo”. (2) 

Bem, passados tantos anos, me pergunto por onde andam esses intelectuais tão jovens. Sei que um deles já “mudou de lado”, outro se deu bem na vida profissional...mas, e os demais que me marcaram tanto? Perderam-se no tempo, nalgum lugar. 

Porém, se havia assunto que me preocupava desde então, era a preservação das florestas. Essa pequena crônica abaixo se situa naqueles idos e a ideia, mais tarde, inspiraria um poema com o mesmo tema, já publicado neste Temas: 
“Paisagem 
Vez por outra busco uma estrada com vegetação cerrada que toma ambos os lados. Próximo a uma baixada onde a vista se perde, lá embaixo é qualquer coisa de magnífico, notar os raios solares beijando as frondosas árvores, seculares árvores, talvez. 

Bem à minha frente, eis uma delas, várias delas nas redondezas. São rainhas, sem trono nem coroa. 

Seu reino é a própria dignidade que externam, é a sombra também secular que propiciam. Aqui me sinto bem! Esqueço os problemas mesquinhos, perco o egoísmo e o espírito anda por lá, por aqui. 

Outro dia voltei ao local tão sereno. As árvores seculares foram destronadas: o progresso ultrajou-as. “Aqui a natureza dará lugar ao progresso”, dizia uma placa.” 

Isso escrevi na década de 60. Nem pensar no hoje, “natureza dando lugar ao progresso”...e à cobiça desenfreada!

  Legendas: (1) De Hermann Hesse (“Siddharta”), v. “A Sabedoria dos rios” crônica de 22.11.2009 (2) Resenha de livros: “Dos livros que não consegui ler ainda...e os já lidos” de 17.10.2010 “Madame Bovary e Anna Karenina – duas personagens” de 28.03.2010 

  Fotos: 1. Rua Xavier de Toledo à noite, foto de Fernando Martins (Google) 2. Entrada do Cine Vitória (SCSul), hoje desativado. À direita é possível divisar a entrada do também extinto “bar vitória”. Foto obtida em www.panoramio.com (Google)

24/08/2011

POEMAS, para não dizer que não falei de... (VI)

(Estas composições são de diferentes épocas, lembrando que algumas ou todas já ilustraram crônicas neste Temas – agora nestas resenhas eu as tenho recuperado e compilado).
(V. texto no final sobre rodeios)

PAIXÕES NO TEMPO









Como são fortes, candentes
Os primeiros amores,
Ardentes
Marcam n’ alma
Lembranças tênues
Calmas

O momento mágico
Musicado, apaixonado
Nostálgico


Os amores passados,
São adocicados
Calados

A imagem constante
Um rosto jovem
Distante

A primeira namorada
Dúvida amarga
Amada.



MELHOR TEMPO


Qual, pois, o melhor tempo...
Estes de hoje
Tecnológicos, metálicos,
Úteis, soberbos
Televisivos...aborrecidos
Poluídos
Amargurados
Dos terrores e humores
Estremecidos?

Ou aqueloutros, de antes
Criativos
Ritmos (de vida)
(Mais) confiáveis,
Serenos,
Rimas e poesias
Amáveis?

Respondo: é de cada um
Para mim, de coração,
não há saudades do hoje
Só do ontem até longínquo:
dos meus amores
enternecidos
alegrias, tristezas
levezas...

De tudo
Da vida indo
Até chegar ao agora
Com uma dose de angústia
Do que vi, vivi e vai indo
Embora.



LUA, LUAR


 Despertou-me ó luz prateada
Brilho tépido, candente, o luar
Obriga-me a desfrutar do seu momento
Da graça, do amor e da nostalgia
Convida-me a olhar para fora do que sou
Indago assim inspirado o que há além
Sua luz não esconde os piscares infinitos
Da Terra aprisionado estou o bastante
O peso do meu tempo, bem sei, não permite,
Tocar na sua fronte, tão perto e tão distante.


Fotos de Milton Pimentel Martins


RODEIOS

Não falo de poesia, mas da estupidez humana.

Estamos “acostumados” com os maus tratos aos animais. Mas, se tem espetáculo sórdido são os que usam animais para o divertimento público, como são as touradas e os rodeios, entre outros. Há até caçadores que organizam “safaris safados” para abater animais em extinção.
Os rodeios se popularizaram no Brasil. Todos sabem que para obter a reação dos animais (touros) a sua genitália é pressionada causando-lhes dor e desespero. Esses falsos vaqueiros covardes sobre eles montam devendo ficar equilibrados por oito segundos enquanto eles (os animais) reagem com saltos intensos.
O rodeio de Barretos e o mais conhecido e o mais torpe.
A despeito dessa crueldade permanente, houve alguma reação oficial (do MP de Barretos) ao saber que um bezerro “ficou paralítico depois que um peão saltou sobre ele para completar a prova chamada bulldog, que visa a imobilizar o animal no menor tempo possível”. (1)
Por conta desse incidente, o Ministério Público está abrindo inquérito civil para apurar responsabilidades pelos indícios de maus-tratos, até porque o animal, com 18 meses de vida, tal a lesão, teve que ser sacrificado.
Ora, e esse vergonhoso rodeio de Barretos já não significa no seu todo, maus-tratos aos animais?
Eu não vejo em que, salvo o vil metal que circula – e por sua conta essa crueldade é aceita como “normal” -, como uma “festa” dessas pode honrar o nome de uma cidade ou qualquer outra que se vale dessa prática covarde.
Abaixo os rodeios, abaixo a covardia!

(1) “O Estado de São Paulo” de 23.08.2011



14/08/2011

TRADIÇÕES, MEMÓRIAS, FRAGMENTOS (I)

Explicação: pretendo fazer desse título uma série referindo-me a momentos diferentes de memória e fragmentos dela. Assim, para diferenciar esses “momentos diferentes”, um dos textos será sempre grafado em itálico para estabelecer o contraponto.


A palavra tradição, nos dicionários, não significa apenas referências históricas ou culturais preservadas ao longo do tempo, de geração em geração tantas vezes.
Há festas tradicionais, lojas e empresas também tradicionais, atividades populares e culturais que sobrevivem à intempérie do tempo. Quanto a estas, sem muito esforço para citar, ainda sobrevivem as festas juninas e forte o carnaval, claro que não com aquela alegria dos salões de antes.
TRADIÇÃO, significa, também, recordação, memória.
Hoje, olhando para trás, lembro-me de um “fenômeno” que se deu mesmo comigo, essencialmente natural, nada novo.
Quando jovem (refiro-me à minha geração) não havia uma perspectiva de futuro, isto é, não se pensava muito sobre o que viria pela frente e no que se refere ao dia-a-dia tudo se resumia às novidades e experiência inéditas daquele momento às vezes recebidas com indiferença. Porque no dia seguinte novas alternativas se apresentariam.
À medida que o tempo passa a vida “cobra” compromissos que vão sendo suportados com alguma relutância num canto qualquer da mente e se tornam nosso futuro. E mais além, nossas tradições. Por exemplo, eu gostava de jornalismo, mas a moda era estudar Direito, essa “tradição” do meu tempo que me influenciou.
Somos, por conta desse “fenômeno”, despertados por uma música que nos faz retornar ao passado naqueles tempos que tiveram algum significado, incluindo as pessoas em volta que lá estavam.
Aqueles acordes mágicos.
Ou ouvir um nome que nos faz lembrar de alguém que de algum modo fora importante para nós e até mesmo estalos de memória inexplicáveis que nos fazem recordar fatos ou pessoas gratos ou não. Aí incluídas as paixões, que eclodem geralmente enfeitadas com alguma emoção.
Nesses estalos muitos são os poetas que encontram inspiração.
Voltarei.

Memórias – fragmentos: “Meus oito anos”.

Um amigo de mais de 50 anos me fez recordar dia desses a poesia imortal de Casimiro de Abreu, “Meus oito anos”, que começa com está estrofe:

Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !

E eu incluo, também, “Meus tempos de criança”, música de Ataufo Alves com este trecho:

Se não sai da gente essa lembrança
Aos domingos missa na matriz
Da cidadezinha onde eu nasci
Ai, meu Deus eu era tão feliz
No meu pequenino Miraí
Que saudade da professorinha
Que me ensinou o Bê a Bá
Onde andará Mariazinha...

Situo-me nesse lapso da vida, numa casinha humilde com um quintalzinho, num dos cantos, um poço e a bomba manual para trazer a água. Ali era meu pequeno reduto, de fazer aterros com carrinhos de plástico enquanto minha mãe se movimentava lavando a roupa e cuidando da casa.
Lá fora na rua de terra batida, dálias enormes exultavam insistentes pelas calçadas mal traçadas – agora não mais as vejo - e “copos-de-leite” viçosos à beira de brejos fétidos.
Os campos eram abertos e eu os explorava.

Aquelas tardes iluminadas que não acabavam, a noite vacilava em chegar e quando chegava o luar era límpido naquelas noites escuras sem iluminação de qualquer natureza lá fora, aquele disco iluminado que eu nunca consegui entender. Quem disse que é um satélite? Quem disse? Quem influencia quem?

Pouco depois, no segundo ano do primário, aulas à tarde, minha professora, muito bonita, pálida, sem pintura.
Sempre que ela faltava lá vinham as substitutas, esforçadas mas nada da aula fluir. Tudo monótono. Sonolento, quatro horas de tormento.
E aí eu ficava doente, com “dor de barriga”, uma desculpa para tentar fugir da aula na ausência de minha professora efetiva. Mas, no fim sempre ia para o sacrifício. Não adiantava nada me queixar com meus colegas na fila para as salas de aula. Eu era aluno exemplar naqueles tempos.
E ela faltava muito, muitas eram as dores. Às vezes chegava atrasada e as “dores” passavam na hora.
Se fui feliz nesses oito ou dez anos? Que me lembre, sim.

Fotos:

1. Largo de São Francisco (SP) - Faculdade de Direito, exemplo de tradição (Google)
2. Lua cheia - Foto de Milton Pimentel Martins