26/01/2014

A TECNOLOGIA DESAFIANTE DAS COMUNICAÇÕES QUE EVOLUI SEM LIMITES



[Este artigo foi escrito em 29.12.2005 e revisto em 20.09.2009, agora com pequenas atualizações]


A eclosão da internet, o correio eletrônico, a impressionante precisão dos mapas do Google Maps, o GPS e até mesmo o “pen drive”. Até onde chegaremos com essa tecnologia tão refinada?

Escrevo como leigo tal qual daqueles de uma geração longínqua que se deparava, para tirar cópia de documentos, por exemplo, com uma máquina de fotocópia na acepção do termo. 

Devagar ela ia passando no rolo, meio no escuro e depois de alguns minutos lá estava a cópia fotostática de regra bem tirada em papel grosso. Depois, para tirar cópias para uso comum, tal qual o fax hoje, usava-se a “termofax” com suas folhas alaranjadas, opacas. (1).

Passei por tudo isso e, meu instrumento de trabalho, claro, era a máquina de escrever, mesmo sendo mau datilógrafo. Quantas vezes, um erro no meio de texto me obrigava a começar tudo de novo, inapelavelmente.

Com o computador, comecei a manipulá-lo para valer há cerca de duas décadas alcançada  em 2014. 
No começo da aprendizagem, marcava as teclas principais para não “deletar” inopinadamente, o texto em digitação.

Aí, um dia “caí do mundo” com o advento da internet. A minha perplexidade chegou ao auge por tudo o que ela desvendou e desvenda.

Voltei no tempo para entendê-la.

A origem da internet vem sempre ligada ao momento mais temível da guerra fria. Ela teria sido imaginada depois que a União Soviética colocou em órbita o primeiro satélite artificial, o Sputnik. Apressavam-se os Estados Unidos, então, em produzir altos estudos que objetivavam colocá-los na liderança tecnológica e científica do mundo.

Todos os estudos em torno da ideia de intercomunicação via computadores nos idos de 60, estiveram, pois, vinculados ao Departamento de Defesa americano.

Todavia, somente em 1969 um primeiro esboço da rede, se deu com a interligação de quatro universidades americanas possibilitando que professores e pesquisadores se comunicassem via computadores.

Mas, essas experiências eram incipientes se considerarmos a publicação “O Correio da Unesco” de 1983 (proclamado pela Assembleia das Nações Unidas como o “ano mundial das telecomunicações”) em nenhum momento menciona a palavra “internet” ou outro termo que qualificasse a intercomunicação via computadores.

Havia indícios de possível ampliação das comunicações: “Dentre as perspectivas abertas pela evolução técnica e pelo aumento do potencial da comunicação destacam-se suas possibilidades cada vez maiores como instrumento de educação e cultura.”

Revelava a UNESCO, porém, grande preocupação com a eventual dificuldade de acesso dos países do denominado “Terceiro Mundo” nos equipamentos modernos de comunicação, considerados elemento de sucesso “em sua luta contra a pobreza e o analfabetismo e para ampliar sua capacidade educativa”.

Possibilidades do Japão no século XXI, segundo a revista da Unesco, a partir de projetos pensados pela Nippon Telegraph and Telephone Corporation (NTT), numa mistura de telefone digital, fibras óticas, tecnologia do computador e das comunicações via satélite. A mulher consulta a lista de preço de uma loja e faz uma encomenda. O homem envia convites para um jantar usando o telecopiador. Um professor remete uma lista de perguntas aos alunos que estão em casa e recebe as respostas.

Com a internet essas tarefas, antes do advento do século XXI se tornaram corriqueiras com imensa abrangência de facilidades como se sabe.

Nos primeiros anos de 1990 já com a Internet mais avançada, mas meio hermética pelas dificuldades em acessá-la, foi introduzida a WWW – World Wide Web (Teia do Mundo Inteiro), simplesmente uma “teia mundial” (web = teia), uma ideia de um engenheiro britânico, Tim Berners-Lee, que veio facilitar a navegação na rede, resultando no fenômeno que é hoje.

Como sabido, tal a sua utilização universal, a internet, na verdade, malgrado os abusos que ela pode conter, popularizou a cultura mundial, a ponto de permitir que qualquer pessoa, grupo social ou país por mais pobre que seja, transmita suas ideias, cultura ou mesmo suas dificuldades sociais e políticas, disponibilizando pela rede, para o mundo todo, as informações. Ou receber informações.



Qualquer pesquisa, sobre qualquer assunto, hoje pode ser obtida ou completada na rede. E com ela o “inacreditável” correio eletrônico com ampla utilização. E a dizer que não muito tempo antes, o fax se constituíra numa verdadeira maravilha de transmissão instantânea de correspondências e documentos. Agora, constitui-se aparelho que vai se tornando obsoleto.

Essas afirmações são hoje até elementares. Nada há nada de novo nisso.

Mas, a rede ainda traz surpresas. E quantas ainda trará? Uma das mais intrigantes é o Google Earth. Quando se insere na tela o portal, o mundo é esmiuçado. Dependendo da localidade – e na maioria delas isso é possível – com a aproximação que o sistema possibilita, qualquer ponto do planeta pode ser identificado nos detalhes ruas e logradouros. Encontram-se, então, a casa, o armazém o quartel, qualquer endereço, em fração de segundos. Até mesmo as monstruosas queimadas e devastações na Amazônia.

Ficara há alguns anos meditando sobre as decorrências dessa “quebra de intimidade mundial” quando me deparei, então, com a afirmação de um general russo, Leonild Shazin, ligado aos serviços de segurança de seu país, sobre o Google Earth:

“Os terroristas não precisam mais fazer reconhecimento de alvos. Agora uma companhia americana trabalha para eles.”

Há, efetivamente, muito de verdade nisso, mais agora com a melhora da nitidez das imagens e dos locais.

Quero significar com esta análise que os meios de comunicação via internet parecem não ter limites. O que ainda veremos?


Em viagem há alguns anos aos Estados Unidos me deparei com a impressionante precisão do GPS. O equipamento quer dizer Global Positioning System (“Sistema de Posicionamento Global”) “que fornece a um aparelho receptor móvel a posição do mesmo, assim como a informação horária, sob todas as condições atmosféricas, a qualquer momento e em qualquer lugar na Terra desde que o receptor se encontre no campo de visão de quatro satélites GPS.” (2)

A tecnologia é recente: a primeira vez que o GPS foi usado efetivamente foi na Guerra do Golfo, em 90 e 91. Alguns anos depois, o sistema foi liberado para o uso de civis gratuitamente.



Pois bem, mesmo com o GPS de viva voz indicando as direções e as conversões, se houve erro no trajeto pré-estabelecido, o sistema trata de corrigir e define outras alternativas de caminho. Por fim, alcançado o objetivo, se em inglês, mas também em português ou outra língua, do modo mais revelador e simplório, a voz: “turn right and you reach your destination”. É demais.

E o “pen drive”, equipamento menor que um tabletinho de chocolate, do que um isqueirinho? Pois armazenou ele, todos os arquivos de meu computador doméstico e cerca de 15 anos de arquivos profissionais.

Entre outros sistemas gratuitos de comunicação como os blogs, sobressai-se nestes tempos de século XXI o facebook que, com efetividade, democratizou as comunicações entre as pessoas que podem inserir em suas páginas quaisquer tipos de mensagem praticamente sem qualquer controle.

Há estudos prevendo que o facebook se esvazie, por “fadiga”, lá pelos anos de 2017. Para mim, mesmo reconhecendo seus méritos, me parece que se trata de um modo de desviar os seus membros da leitura mais densa, uma desculpa para deixar livros de lado. Seria, então, o “fastreading”, com odor de “fastfood”, que sustenta mas não alimenta.

Paro por aqui. Outras tecnologias estão por aí, mas eu ainda não fui nelas “iniciado”. Que se renovam e se aperfeiçoam sem parar. Repito: é demais. Demais para mim, mas ou por necessidade ou por obrigação vou, devagar, assimilando já me inserindo no sistema de peticionamento eletrônico dos Tribunais. Uma vitória. Devagar e sempre. 

Epa, vou atender o Skype...desligo.


Referências:

(1) Minha crônica “O meu tempo do onça” de 27.03.2011. Nessa crônica inseri a foto de um aparelho de "termofax"

(2) Wikipédia

Imagens:

1. Representação da internet no mundo
2. Representação de satélite GPS da NASA (Wikipédia)

10/12/2013

RESENHA AMBIENTAL E ECOLÓGICA

I - Pássaros e passarinhos

Já disse tantas vezes que pássaros e passarinhos (também as borboletas?)  tem algo de brinquedo de Deus. É como para nós, quando crianças, empinar papagaio (diversão que vai sumindo como tantas outras) e torcer para que o vento batesse forte e levasse a armação colorida para o alto e ai, controlávamos, soltando a linha até que ele se tornasse quase invisível no céu.
Veja se não tenho razão quanto a serem brinquedos da Divindade, esse contraste de cores, de trinados, de belezas, conforme alguns "exemplares" abaixo.
Infelizmente não sei o "nome" deles - só alguns, o pavão, a coruja -, tão lindos, tão coloridos, tão inofensivos.

[E há os malvados que os aprisionam, comercializam e deixam que morram num  cativeiro sórdido, gaiolas minúsculas, maldades.]

Você já teve a emoção de segurar um beija-flor afoito que entrou na sala, atraído pelo buque de suco de uva e não conseguia sair? E aí precisou ser agarrado?











II - Minha convivência com bem-te-vis


Tenho a impressão que os bem-te-vis no passado não eram tão, digamos, "domesticados". Hoje, como resultado de diminuição do seu habitat, eles estão por toda parte e, quando próximos, muito me agradam.
Já relatei uma dessas convivências duradouras, mas quero deixar registrado aqui, neste "Temas" que pode ser mais amplo a pessoas que não se encantam tanto com a velocidade do facebook.
Então, sobre essa convivência com os bem-te-vis, escrevi:
Um casal se instalou no vão do ar condicionado do meu escritório. Toda manhã, nestes últimos meses, aqueles trinados estridentes, do “bem-te-vi”, “bem-te-vi”, a sombra às minhas costas das suas idas-e-vindas ao ninho. A foto 'melhorzinha' um deles, atento posicionado sobre o ar condicionado, vigiando o ninho e a palha que sobra fora, embora eles a reponham sem parar. Na foto 'piorzinha' – o vidro é espelhado – o casal no andar de baixo exacerbando o trinado de que “bem-me-viu”...



A manhã começara mal-humorada

Não bastara o café adocicado

Algo no jornal me deprimira

Uma notícia cruel e malvada.

Mas, ai um bem-te-vi

Na janela me avisou que me vira

Eu também te vi vigilante passarinho!

Encontro seus olhinhos entre as tiras da cortina.

Há um ninho nos vãos de ar condicionado, por ali.

A vida ainda se renova, bem vi.

Até quando, meu querido amarelinho estridente, até quando?

Abelhas e cardeais

No Pantanal matogrossense, numa pousada para uma parada rápida, recomposição e descanso, uma surpresa porque impensado para os caipiras das cidades.
Numa pequena casinhola de madeira, quirera espalhada na sua também pequena base retangular, aguça o empenho das abelhas em obter...exatamente o quê?
- É o melzinho que tem o milho naquela parte branca, explica o caboclo.
Ora, pelo modo como elas se empenham sobre o milho picado, quase imóveis, parecem embriagadas ou querendo assim se tornar.


Não ligam em dividir a “iguaria” com dezenas de cardeais, aqueles pequenos passarinhos, de penugem vermelha na cabeça que se apoiam na casinhola e também avançam sobre a quirera. (Transcrito da crônica "Essas coisas de Mato Grosso" de 24.07.2012, neste blog)

III - Flores  e canteiros

Sempre sou criticado pelos meus canteiros e jardins, nos quais faço predominar flores, lírios, chorões, tentando um contraste com dracenas e folhagens. E aí falta estética, combinações.
Alguns desses canteiros já divulguei em outro local. 
Mas, as flores estão avançando ficando bonitas. entre "onze horas", gerânios, lírios, ixora,azálea... não tenho que me preocupar se a estética é pobre. As multicores são vivas, e compensam o "desarranjo".  










A DEVASTAÇÃO DA AMAZÔNIA

Quanto já escrevi sobre isso. Mas, neste meu canto e em qualquer outro que se apresente, falarei sempre. Vejam que absurdo! Por aqui se comemora a diminuição de áreas devastadas como se tal medida significasse alguma esperança de preservação íntegra da grande Amazônia.  Não critico o grande jornal de São Paulo, porque esse tipo de manchete é comum: "Desmate na Amazônia sobe pela 1ª  vez em 4 anos".
A manchete esperada é esta: "Não há desmate na Amazônia há 4 anos". 
Pois bem, a notícia dá conta de que  a devastação de agosto de 2012 a julho de 2013 fora de 5.843 km² contra 4571 km² em no mesmo período de 2011 a 2012. A soma da irresponsabilidade em 2 anos: 10.414 km². EU DISSE 10,4 MIL QUILÔMETROS QUADRADOS.


                (Desflorestamento no Pará, foto de Nelson Feitosa - Ibama)

Além da madeira ilegal levada a rodo, a área semi-desertificada servirá para plantio de soja, de cuja colheita parte servirá para o preparo de ração de gado ou para pasto do próprio gado.
Até quando esse nível de irresponsabilidade, de descaso a essa reserva que tem influência forte sobre o próprio clima da Terra?



Na 19ª Conferência do Clima realizada em Varsóvia foi enfatizada a tragédia provocada pelo tufão Hayan nas Filipinas. O negociador filipino Yeb Sano, muito emocionado com as 10 mil vítimas mortas pelo tufão, desafiou aqueles que não acreditam na realidade das mudanças climáticas, que visitassem as Filipinas naqueles dias tenebrosos.

                            
                               (Devastação na Filipinas: Tufão Hayan) 

 E apelou Sano para que a conferência de Varsóvia fosse aquela que "acabe com essa loucura." (da degradação climática).

(Imaginem milhões e milhões de carros, no mundo todo, expelindo monóxido de carbono...imaginem!)


CHUVA DE OURO PEQUENA, SORRI


Tão sorridente, brilhante
Nem a ventania forte a verga
Admirada por quem passa
Indiferente para quem vê, não enxerga.

RIO TIETÊ POLUÍDO  

O rio Tiete e o seu curso cortando todo o Estado de São Paulo. A sua degradação e a degradação generalizada dos mananciais. 

Se tem algo que me preocupa é o rio Tietê por sua poluição contumaz e, o máximo de contradição, a necessidade crescente de água potável na Grande São Paulo.
O rio Tietê tem um traçado surpreendente. Nasce nas vizinhanças do mar, mas desce atravessando todo o Estado de São Paulo. Há uma explicação geológica: sua nascente se encontra na cidade de Salesópolis (110 km de São Paulo), a cerca de 1.100 ms. de altitude. No seu curso, ao atingir Barra Bonita (282 km de São Paulo) a altitude da cidade já se reduz para 450 m. E nessa “descida” sua foz se dá na barragem do lago Jupiá, Rio Paraná, depois de 1.150 quilômetros de percurso.


                 (Nascente do rio Tietê em Salesópolis entre pedras).

Se me desviar para explicações não naturais, diria que o Tietê é obra da Providência, como se adivinhasse que por ali surgiria uma imensa metrópole que precisaria de água, necessidade que se estenderia por todas as outras regiões e cidades banhadas pelo rio.

Mas, o Rio Tietê vai bem na denominada região do Alto Tietê mas, como já tanto se disse, é um esgoto a céu aberto a partir da cidade de Mogi das Cruzes agravando-se a degradação já entrando em São Paulo. Muito se promete, mas nada muda. E há estudos prevendo que em pouco tempo municípios da grande São Paulo, incluindo a Capital,  terão (e já têm) problemas de abastecimento de água potável.

Houvesse juízo político e o Rio Tietê seria uma prioridade já há décadas e hoje seria fonte de abastecimento de água na Grande São Paulo.



("Monstro do lixo" - Parque de Lavras - Salto [SP] autoras Iriana Scalet Roque e Suelio Bernadochi - do lixo "obtido" no Rio Tietê).

Em tempohá noticia informando que convênio firmado entre o Governo do Estado de São Paulo e o governo da França resultará na aplicação das mesmas técnicas de despoluição utilizadas no Rio Sena, de Paris, ao Tietê de São Paulo. Todas as orações e esperanças renovadas.


PRIORIDADES ABANDONADAS

No que se refere aos municípios brasileiros, já se disse que a maioria deles deverá ser afetada pelo desabastecimento. Há ai, em curto prazo, um grave problema a ser enfrentado.

Claro que na produção de alimentos, o consumo de água é imenso. Mas, não posso defender, por absurdo, que haja diminuição nessa produção, mas não posso omitir o desperdício. Essa é uma questão central. Não há muito foi divulgado que o consumo de água para a produção de carne bovina, revelam dados assustadores: - para 200 kg de carne bovina, estima-se que o animal abatido após três anos de vida consumiu direta e indiretamente mais 1.300 quilos de grãos, 7.200 quilos de feno e outros, 24 mil litros de água para beber, 7 mil litros de água para manutenção geral. Para toda essa estrutura de alimentos e água, o boi abatido consumiu mais 3 milhões de litros de água, significando por quilo de carne, 15,5 mil litros de água consumida. (1)

Mas o e "efeito xixi"? Ora, direis, ele se dilui na natureza e acaba voltando para os mananciais como água isso quando não escorre "in natura"  diretamente para os rios e reservatórios. E mais o estrume – que também afeta o aquecimento global -, misturada aos dejetos humanos temos uma bela sopa para dai extrair a água potável (?!) a cada dia com o crescimento de consumo. Temos uma perspectiva de caos em curto prazo.


O Brasil é realmente o país das contradições, do carnaval e do futebol. Vem vindo aí a Copa do Mundo em 2014 que está exigindo investimentos imensos para estádios, infraestrutura grandiosa no entorno, aeroportos ampliados mas pouco com a infraestrutura considerada gênero de primeira necessidade, como cuidar da água potável [eu disse água potável!], dos esgotos – pensar numa tecnologia agressiva para ele a para o lixo.
No futebol, se tudo der certo, gritaremos os gols do Brasil e, no final, campeões ou não, passadas aquelas emoções, ainda sob o cheiro forte da fumaça dos fogos, tudo voltará ao dia-a-dia com tudo por fazer...e grandes estádios ociosos.

Referências:

(1) Jornal O Estado de São Paulo de 21.03.2011. Acesse, artigo no mesmo sentido: http://www.syntonia.com/terra/artigo-impactos-ambientais-do-consumo-carnivoro/index.htm;









19/11/2013

CONSCIÊNCIAS [Branca e Negra]



O “dia da consciência negra” (20 de novembro) e a “consciência branca”. Entre Zumbi dos Palmares e Joaquim Nabuco e José do Patrocínio. A abolição da 
escravatura em 13.05.1888.



De um prospecto sobre o 20 de novembro:

“O Dia da Consciência Negra é dedicado à reflexão sobre a situação do negro na sociedade brasileira e celebrado em 20 de novembro. Esta data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Durante cem anos (1595-1695) o Quilombo dos Palmares (situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco) constituiu um foco de resistência aos ataques da Coroa. Em função da sua importância, tem sido um marco nas relações sociais e culturais que contribui no fortalecimento de ações para ampliação da cidadania”. (1)

Não será preciso dizer mais.

Essa “consciência”, dizem muitos, tem até mesmo o condão de ofuscar a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888, mal lembrada e comemorada, quase dois séculos depois da morte de Zumbi.

[Neste artigo (ou crônica) de 22.11.2009 mantido nos seus fundamentos, a seguir resgato um pouco da “consciência branca” que resultou na libertação dos escravos naquela data.]

CONSCIÊNCIAS [Branca e Negra]

Há alguns anos, uma edição de bolso, a obra “Minha Formação” de Joaquim Nabuco veio às minhas mãos duma dessas gôndolas giratórias de livraria. (2).

Como relatei antes, pouco sabia de Joaquim Nabuco que nascera no Recife em 1849, era rico, monarquista e abolicionista ferrenho falecendo em 1910 em Washington, como embaixador do Brasil.(3)




Livro com texto rebuscado, porque Nabuco fora sobretudo um intelectual, ao chegar à última página lamentei, sabendo que um dia desses teria que reler a obra.





Trata-se de um documento valioso porque fora escrito por alguém contemporâneo aos fatos e que, em muitas ocasiões, fortemente, tivera influência sobre eles.

Atenho-me à sua luta abolicionista.

Morando com a madrinha, ainda menino tivera Nabuco uma primeira experiência com o temor de um escravo que fugira duma senzala e agarrara seus pés, implorando que fosse comprado por sua madrinha porque o seu senhor, muito severo, castigava seus escravos com crueldade.

A partir dessa experiência, revelando que absorvera a escravidão “no leite materno que me amamentou” [de uma negra], “uma carícia muda” que o envolveu diria: “Assim eu combati a escravidão com todas as minhas forças, repeli-a com toda a minha consciência, como a deformação utilitária da criatura...”

Com a morte de sua madrinha, dona do engenho Massangana, relata ele quando de sua volta 12 anos depois, referindo-se aos escravos que o serviram:

“Não só esses escravos não se tinham queixado de sua senhora, como a tinham até o fim a abençoado. Eles morreram acreditando-se os devedores (...) seu carinho não teria deixado germinar a mais leve suspeita de que o senhor pudesse ter uma obrigação com eles, que lhes pertenciam.” (*) (...) Oh! Os santos pretos! Seriam eles os intercessores pela nossa infeliz terra, que regaram com o seu sangue, mas abençoaram com seu amor!”

[(*)Essa frase tem suscitado dúvidas de significado. Tento esclarecer: o 'senhor', proprietário dos escravos é quem tinha obrigações com eles e. portanto, o 'senhor' pertencia a eles, escravos, e não o contrário.] 

Claro que esse sentimento de gratidão de Nabuco provinha do que recebera de seus escravos que, no fundo, fora viva retribuição do modo como foram tratados no engenho de sua madrinha Ana Rosa.

Fora o Brasil o último país a promover a abolição dos escravos, fato que “humilhava a nossa altivez e emulação de país novo”, embora ocorressem muitas libertações gratuitas. Há referências de que na Província (Estado) de São Paulo, até 1885, cerca de 11 mil escravos haviam sido libertados, embora Nabuco revelasse que em 1879, quando iniciada a campanha abolicionista estavam ainda sob jugo quase dois milhões de negros.

O tráfico deixara de ser praticado em 1850. Em 1871, a Lei do Ventre Livre determinara que os filhos dos escravos, até que completassem oito anos ficariam com a mãe. Depois dessa idade, até os 21 anos, prestariam serviços aos seus senhores, o que significava “um regime igual ao cativeiro.”

Em 1888, Nabuco, como deputado, depois de constatar que o clero saíra da neutralidade em relação à abolição, resolvera ir a Roma e obter uma audiência com o papa Leão XIII – subscritor da encíclica “Rerum Novarum” de 1891 que entre outros temas apontou as condições subumanas de trabalho e as extensas jornadas exigidas dos operários – na qual solicitaria uma declaração do pontífice contra a escravidão no Brasil. Fora muito bem recebido e sensibilizara o papa. Mas a abolição viria logo, poucos dias depois com a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 13.05.1888.

Nabuco explana que ao assinar tal lei, sabia a princesa que dos negros só poderia contar com seu sangue e “ela não o queria nunca...” e que a classe proprietária “ameaçava passar-se toda para a República...”

Ela seria proclamada 18 meses depois. À família imperial fora imposto o exílio imediato.

A abolição dos escravos não se constitui causa próxima do advento da República [mas é uma causa, o Império já capengava], até pelo modo como fora proclamada, atabalhoadamente, sem convicção por Deodoro.

Mas, não deixaria a princesa Isabel de comentar:

“Talvez seja devido a essa lei que estejamos indo para o estrangeiro, mas se as coisas fossem repostas, não hesitaria em assiná-la”, apontando para a mesa na qual havia mandado gravar no mármore a data 13 de maio de 1888.” (4).

Com Nabuco muitos outros abolicionistas têm sua luta gravada, inclusive os que a ele se uniram, uma luta de consciência branca, negra, incansável. Consciências, redenções, mesmo que a cor da pele, então, fizesse diferença, a nossa vergonha que até hoje de um modo ou outro ainda reacende.

∞ 

Livro de Laurentino Gomes (5)

“1889”

Como diz o título, no livro o escritor explana sobre o antes, o durante e o depois da proclamação da República e detalha num capítulo a abolição da escravatura.
Desse capítulo além da luta de Joaquim Nabuco, entre outros, dois mulatos se destacam:

LUIZ GAMA, filho de negra liberta com português, mulato, vendido pelo pai quando em dificuldades financeiras, formou-se advogado tornando-se ferrenho defensor dos negros escravos. Por uma tese que defendia, a de que a agressão dos escravos aos seus senhores constituía-se legítima defesa pelos maus tratos que recebiam, foi ameaçado de morte obrigando-se a andar armado.


JOSÉ DO PATROCÍNIO, filho de um vigário com negra escrava, mulato, formou-se em farmácia, mas não exerceu a profissão, tornando-se professor e jornalista. Abolicionista, republicano – co-proclamador da República diante das vacilações de Deodoro da Fonseca -, chamou a princesa Isabel, de “a redentora”. Não fora, pois, um abolicionista branco que a homenageara com esse qualificativo.


Onde ficam esses heróis e suas consciências?


Referências

1. Prospecto da Prefeitura Municipal de Piracicaba (SP) – Secretaria de Ação Cultural (2009);

2. Joaquim Nabuco, “Minha Formação” – edição Martin Claret (a falha nessa edição constitui-se na falta de notas explicativas a determinados episódios muito pessoais do autor que exigiriam esclarecimentos de rodapé);

3. Sobre minhas “relações literárias” com o abolicionista, ver minha crônica recente, de 11.11.2013, “Memórias, fragmentos e coisas afins”;

4. Revista “Veja” – Edição especial – “República”, de 15.11.1989;

5. Laurentino Gomes, “1889” – Globo Livros / 2013.


MORGAN FREEMAN

A posição direta contra o dia da “consciência negra” é do ator americano, Morgan Freeman (“freeman” = homem livre):









11/11/2013

MEMÓRIAS, FRAGMENTOS E COISAS AFINS

 
Banho de Lua

Tenho algo a ver com a Lua mas não me considero (muito, epa!) lunático.
Sempre me agrada lá pelas tantas da noite dar uma olhada para a Lua como se fosse algum corpo que acaricia ternamente com a sua luz prateada.

Ora, direis, estais a fazer poesia!

Mas, não, madrugada dessas, lá pelas três e tanto acordei com um facho de luar me iluminando, avançando por uma fresta da janela entreaberta.

Gostei, olhei para a Lua, as nuvens a cobriram em segundos.
Poucos minutos depois o facho estava de volta sobre o meu rosto. Que momento inspirador!

Permaneci acordado até que os movimentos do pequeno planeta apagassem a tépida luz prateada, coberta novamente pelas nuvens.



Nessas madrugadas, particularmente essa iluminada volto-me para aquele passado longínquo e com pouco a me arrepender. Quando me voltam episódios ao quais me arrependo faço uma reflexão e tento superar por aqueles outros que me instigam por todos esses anos.

De repete, volto-me para um bairro da cidade de Santo André, Utinga (“Águas claras” em tupi), vizinho de São Caetano do Sul – cidade onde vivi momentos expressivos na minha juventude.

Mas, por que Utinga?

É que como péssimo aluno, fui jubilado do principal Colégio do Estado da Região, o Bonifácio da Carvalho.

Apesar disso, sequer cogitei de parar de estudar. Jamais.

O Colégio de Utinga ("Amaral Wagner") era de bom padrão. Todo dia lá ia eu apressado para a estação de trem de São Caetano para curta viagem até Utinga, estação seguinte, ou ônibus lotado, ou mesmo a pé.



Foram muito bons meus dois anos lá.

Não demorou muito, fiz amizade com um professor de português, muito querido, o “Caveirinha”, de tão magro que era, rosto chupado, bochechas encostando nos maxilares, pele mulata, cabelos lisos, fã incondicional de Joaquim Nabuco, pernambucano como ele. (*)

Fez um concurso literário sobre o grande abolicionista. Concorri e obtive o 2° lugar. Ganhei uns trocados de prêmio e aumentamos a nossa amizade.

Se bem me lembro, tinha ele envolvimento com algumas lideranças do bairro, muito extenso. 

Havia um movimento “surdo” para promover a autonomia do bairro, fazendo-o um município independente de Santo André. Idealista como era, para defender esses ideais, fundou um jornal de quatro páginas, “O Independente”, no qual me envolvi até o pescoço.

Alguns dias da semana, saía a cata de anúncios, sempre obtendo algum resultado. Havia um comerciante de ferragens, que toda vez me recebia bem e sempre autorizava anúncios para o jornal.

É sempre uma luta, quando se trata de jornal pequeno e sem capital. Acho até que o professor para fazer circular alguns exemplares semanais cobria o déficit do próprio bolso.

O movimento autonomista de Utinga não vingou. Que eu saiba nunca mais essa tentativa voltou.

Talvez poucos se lembrem por lá disso desse projeto frustrado mas sob o luar intenso tudo isso revivi com prazer e saudades.



Depois de formado, voltei ao Colégio Bonifácio de Carvalho, de São Caetano do Sul, matriculei-me no Clássico mas isso já é outra história não menos saudosa. Fica para outra vez.

Pequenos êxitos

Essa ligação, sempre, mesmo com a pequena e mesmo média imprensa, na verdade, já devo ter dito isso antes, não fiz jornalismo, optando pelo Direito que, na verdade, era o curso motivador por excelência para todos aqueles que cursavam humanas no colegial naqueles idos.

Nessa angústia de publicar e publicar, certo dia, em 1974 remeti um artigo ‘jurídico’ para o jornal “O Estado de São Paulo”.

O artigo foi publicado com destaque, uma alegria só, porque a página era coordenada por um ex-ministro do TST, já falecido.

Pouco tempo depois, em fevereiro de 1975, um segundo foi publicado no grande jornal.

Aí, transbordante, eu achei que era “dono do pedaço”. Artigos sem qualidade, ficaram sobrando, mas estaria mentindo se não reconhecesse, certo “estado de graça”, então, pelos trabalhos publicados no grande jornal.

Naqueles tempos, sabem.

Depois disso, de eventos diversos eu participei, palestras, congressos. Tudo ficou no tempo! 
Que interesse há? Estão mal arquivados em pastas que envelhecem e amarelam.

Tempo inexorável, meus amigos. Não há como escapar.



Quando da 3ª edição do meu “Sindicalismo e Relações Trabalhistas”, saudoso amigo meu escreveu no mesmo jornal sobre mim e sobre o livro, com palavras gentis. A edição estava muito ruim por descuido imperdoável da editora que não procedeu à sua tarefa de revisão, talvez porque eu fosse considerado peão, perto daqueles ministros todos que ela patrocinava.

(Eu recebi carta de profissionais de relações trabalhista da Bahia, questionando essa má revisão).

Mas, sobre mim, disse esse amigo (diretor de RH de multinacional) com gentileza: “...pessoa simples e modesta, até com traços de aparente timidez, não é de hoje que vem dando importantes contribuições ao desenvolvimento de modernas relações trabalhistas e o melhor entendimento do sindicalismo no Brasil. (...) é advogado de esmerada formação jurídica, mas não se deixa envolver no uso exagerado do chamado “advogadês”; ao contrário, consegue comunicar-se de maneira simples, em linguagem ao alcance de todos os mortais capazes de ler, sem em nenhum momento resvalar para a vulgaridade.”

Esses amigos, hem, que se encontram poucos.

[Quanto à “aparente timidez” a que se referiu esse amigo, talvez ele tivesse alguma razão, porque no passado eu conseguira superá-la; já houve, por outra, quem dissesse que eu não me relacionava bem. Provavelmente, por causa dessa “aparência”, seja verdade.]

Tiro de guerra

Sou reservista de 2ª categoria. Não escapei ao Tiro de Guerra.
Tantos e tantos anos depois, o que posso dizer é que tudo aquilo fora uma festa.
Soava em quase todas as marchas e prontidão, o grito do sargento: “- 61, dez flexões por errar o passo da marcha”... e lá ia eu para o castigo, para satisfação do sargento exultante; “ - 361, comporte-se, arrume o bibico, será possível!”



E por aí as coisas caminhavam.

No exercício de tiro para obter o certificado, o sargento fazia de conta que eu acertava o alvo. Eu nunca achava no alvo os meus tiros que se perdiam no éter.

Aprendi a muito custo desmontar e montar o fuzil 1908 (!)

As marchas eram de 20 ou 30 quilômetros estafantes, mas suportáveis, vá lá...

Para a corrida de oito quilômetros que todo o TG participou, eu me cansara demais na véspera, sábado, andando para cima e para baixo (não havia carro, não, ô meu, era tudo a pé – uma 'fuca' 1300 era espécie de trono que os riquinhos ostentavam e dirigiam).

Corri os 8 quilômetros, língua de fora, cheguei honrosamente ao fim mas minha classificação foi medíocre.

Tudo uma festa que me atrapalhou um pouco a vida profissional, mas sobrevivi.

Pequenas experiências que transbordam da memória.



(*) No dia da "Consciência Negra" (20.11.2013) publicarei um artigo, "recuperado" de outra publicação no qual destaco a atuação de Joaquim Nabuco na luta abolicionista.

Crônicas correlatas neste blog

1. “Idade” de 13.05.2013
2. “Poeta, cantais as ilusões desfeitas” de 15.04.2013
3. “A estação de trem e sua luz” de 05.06.2011
4. “Da vaidade ao pó” de 24.04.2011
5. “A história de uma edição” de 31.10.2010

Fotos:

As fotos de locais específicos, são da época,

1. Estação de trem de Utinga
2. I. E. ”Cel. Bonifácio de Carvalho” de São Caetano do Sul

3. Noite enluarada de Milton Pimentel Martins