22/02/2017

DE H. G. WELLS (Herbert George) A STEPHEN HAWKING



Desta feita, nesta crônica, reúno um grande Autor de ficção e historiador do século XIX/XX (1866-1946), como foi H. G. Wells e o grande cientista Stephen Hawking (físico e cosmólogo britânico).

“Guerra dos mundos” de H. G. Wells

Para conhecer a resenha e comentários do livro de Wells, acessar: 

TEXTO AMPLIADO



De Wells a Orson Welles

O livro de Wells descreve cenas de terror no modo como os marcianos agiam.
Na noite de 30 de outubro de 1938 – véspera do dia das bruxas -, nos tempos do domínio do rádio, o jovem Orson Welles adaptou a “guerra dos mundos” numa transmissão com todos os timbres de realismo, detalhando a invasão marciana na cidade de Grover's Mill, no estado de Nova Jersey (EUA).

[Uma referência que a própria cidade ostenta por ter sido em seu território a “invasão marciana” de Welles].

A transmissão interrompeu a programação normal da emissora, instalando-se o terror e pânico desmedido entre milhares de ouvintes tal qual se dera no livro, que fugiam para algum lugar se afastando do perigo iminente de destruição marciana e sobreviver.

[Mais informações sobre a transmissão de Welles: http://www.dw.com/pt-br/1938-p%C3%A2nico-ap%C3%B3s-transmiss%C3%A3o-de-guerra-dos-mundos/a-956037].

Revelada logo depois que a transmissão de Orson Welles fora convincente interpretação baseada no livro do H. G. Wells, suplantada a perplexidade geral propiciou a ele, Welles, abertura das portas de Hollywood onde dirigiu, com roteiro de sua autoria e intepretação, o filme “Cidadão Kane” apontado sempre como uma obra prima dele e do cinema americano. 

Tragédias que marcam

A destruição praticada pelos marcianos relatada em “A Guerra dos mundos”, com todos os detalhes naquele clima de terror nem de longe se aproxima do que se passou nas duas Grandes Guerras, especialmente na segunda na qual houve a devastação de Londres pelo nazismo, tanto quanto descrevera o livro pela invasão extraterrestre.

Não há como esquecer, por outra, a tragédia das bombas atômicas no Japão.

As guerras localizadas mantidas por razões até fúteis, por um pedaço de território, por um poder decorrendo o massacre impiedoso de vidas inocentes, estranhas a elas mas que ficam a mercê da monstruosidade dos contendores.

Há, também, a batalha da fome eclodindo em muitos países.

Essa e a “guerra dos mundos” real.

Wells e o cinema americano

Muitos são os filmes americanos que investem no tema de invasão alienígena com grandes destruições provocadas pelos invasores malvados.

Dois, porém, são diretamente inspirados na obra de Wells:

1953: “Guerra dos Mundos” dirigido por Byron Haskin, muito bem dirigido mas que omitiu alguns episódios do livro de Wells, como por exemplo, o de serem os marcianos carniceiros. E também as armas letais que faziam parte daquelas trípodes de 30 metros de altura cujos raios direcionados eram letais.

Nesse filme os ataques se davam pelos próprios discos voadores emitindo aqueles raios desintegradores com um som característico muito apropriado para a gravidade dos seus resultados. Por esses recursos foi premiado com o “Oscar” de efeitos especiais.

Tanto como no livro, as armas de defesa do exército eram inofensivas para conter o furor assassino dos invasores.

O filme também causou sustos naqueles tempos em que o cinema fora uma opção primeira de entretenimento, pelo que causava emoções e impactos genuínos.

















(As duas fotos ilustram bem cenas do filme de 1953, inclusive o “olho móvel” ameaçador, imaginado pelo seu diretor, que se estendia a partir dos discos e que explorava ambientes semidestruídos em busca de vítimas escondidas).

2005: “Guerra dos Mundos” dirigido por Steven Spielberg destacou no seu filme o lado carniceiro dos invasores, com dramatizações que não constaram do livro de Wells. Foi sucesso de bilheteria.

Klaatu e Gort

Se bem me lembro, um filme americano no qual o extraterrestre viera em missão de paz – mas nem por isso sem levar um tiro precipitado de um militar ao sair da nave -, fora “O dia em que a terra parou” de 1951 do diretor Robert Wise, tendo como personagens o agente pacifista Klaatu e o robô Gort, este um defensor que emite raios mortais pulverizando armas e inimigos.















A mensagem pacifista do extraterrestre tinha a ver com a eclosão da guerra fria e o que de trágico poderia advir dela.

Todos os demais filmes são catastróficos nos quais os extraterrestres invasores vão destruindo a Terra, principalmente a sempre “culpada” Nova York.

STEPHEN HAWKING

Mas, e Stephen Hawking? (2)

O livro de H. G. Wells se refere aos marcianos que sentiam seu planeta num processo de exaustão e com aparelhos sofisticados que “escapavam à nossa compreensão”, olhavam para a Terra, invejosos.

Por essas condições favoráveis, resolveram atacar a Terra e liquidar toda sua estrutura, além de serem carniceiros.

Há um documentário que apresenta breve entrevista com Stephen Hawking no qual se revela favorável às viagens espaciais e admite a conquista de bases espaciais a nossa volta, porque os recursos naturais neste pequeno planeta se exaurem além de nossa capacidade técnica de reconstrução.

Acentua que foram grandes os progressos nos últimos cem anos, “mas”, diz ele, “se quisermos continuar além nos próximos 100 anos, o nosso futuro está no espaço”.

[Pontos que se tocam entre a ficção de Welles sobre Marte e as afirmações do cientista Stephen Hawking sobre a Terra...

Essas bases poderão ser inabitadas porque caso contrário há sempre a preocupação com a violência que poderá ser adotada pelos nossos conquistadores nessas eventuais conquistas eis que por aqui não faltam atos assustadores de crueldade].

Ele minimiza a presença de ETs entre nós ou que até mesmo venham nos visitando, chegando a colocar em dúvida as abduções que se dão, segundo ele, sempre com “gente esquisita”.

[Quanto a mim penso que alguma coisa além da esquisitice das vítimas pode estar ocorrendo – nos relatos os abduzidos, de regra, são submetidos a experiências físicas dolorosas].

Mas, em havendo contato com uma civilização significativamente desenvolvida, “pode ser similar ao encontro de Colombo com os índios. E os registros históricos atestam que esse encontro não foi bom para os índios”.

E também:

“... em vez de tentar achar vida no cosmos e se comunicar com esses seres extraterrestres, seria melhor que os humanos fizessem tudo o que pudessem para evitar esse contato”. (3)

Ou mais, os alienígenas estariam mais para a destruição no filme “Independence day” e pouco com o ET bonzinho que voava de bicicleta com as crianças, do filme de Spielberg.

Degradação

Não de hoje tenho preocupação com a degradação ambiental que se avoluma, enquanto cresce a população mundial que, por sua vez, necessita de mais espaço para sobreviver e, como decorrência o aumento da poluição, o ataque às florestas e outras reservas naturais, mesmo de água.

Os desertos crescem e não há qualquer tecnologia para reaver essas imensas áreas estéreis. Ou que haja interesse em desenvolver tal tecnologia.

Se tivermos que buscar bases no “universo próximo” à Terra em dias não distantes como sugere Stephen Hawking as causas começam com o descaso ambiental atual tão greve que para mim chegam à emoção.

Nossos netos sentirão esses efeitos dramáticos... se nada for feito para reagir a esse estágio atual de devastação.

Legendas

(1) H. G. Wells não é apenas escritor de ficção. Tenho comigo edição de 1939, em três volumes, da “História Universal” de sua autoria.











(2) Stephen Hawking sofre de doença degenerativa se comunicando por um computador acoplado à sua cadeira de rodas, no qual “um software permite que ele escolha palavras de uma lista e as reproduza através de um sintetizador de voz”.

(3) “O Estado de São Paulo” de 10.05.2010, transcrevendo artigo de Alok Jha do “The Guardian”. As afirmações de Stephen Hawking foram feitas em documentário para o Discovery Channel. Hawking é doutor em Cosmologia, autor do livro “Uma breve história do tempo”. 


11/01/2017

DAS RESENHAS DOS LIVROS QUE CONSEGUI LER

Exercício mental:

Nestes tempos de comunicação eletrônica, assumo a minha perplexidade pelos recursos postos à disposição. Entre esses recursos, predomina o facebook, um misto de alienação e empolgação que abriu a possibilidade a todos de se comunicarem. Considero um meio democrático antes inimaginável.
Pois bem, eu mesmo não nego minha empolgação com o facebook que vem sendo considerado por muitos um veículo que afasta as mentes da leitura tradicional. A charge de John Holcrof abaixo dá esse sentido.



Por causa disso e para não me curvar de modo exacerbado aos recursos impressionantes do facebook e de outros recursos disponíveis é que faço breve resenha dos livros que li nos últimos meses, na verdade um verdadeiro exercício mental.



“Fahrenheit 451” de Ray Bradbury

Para a resenha completa deste livro, acessar:

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“Dez contos para canções de Chico Buarque”

Esse livro foi publicado pela Companhia das Letras e patrocinado pela Caixa Econômica Federal.
Edição esmerada que talvez explique o vínculo do compositor – cantor com o lulopetismo.

O livro inclui dez contos tendo como fonte de inspiração o mesmo número de canções de Chico Buarque

No geral o livro é ruim.

Sei que é fácil criticar obras alheias, mas há contos no livro que homenageiam a minha mediocridade.

Salvam-se os contos de Carolla  Saavedra (“Entrelaces”), Luiz Fernando Veríssimo (“Feijoada completa”) e Mia Couto (“Olhos nus: olhos). Talvez um ou dois mais.

Tem um conto denominado “A calça branca”, sobre namorados homens muito ruim. Nada contra o namoro homossexual, mas esse conto passou batido na análise da qualidade.

Mesmo com as ressalvas acima, o livro é descartável...












“O Aleph” de Jorge Luiz Borges



É o um livro de contos do consagrado autor argentino. No total são 17 contos.

O livro se caracteriza por um estilo de maior erudição o que pode exigir uma segunda leitura. Há um quê de místico nos contos especialmente no último, o Aleph que dá nome ao livro.

Esse conto tem uma característica: o narrador se relaciona, ainda que exista rancor contido entre ambos, o primo de sua musa, Beatriz.

Esse interlocutor passa a escrever um poema interminável, desprezado pelo narrador que era obrigado a ouvir aborrecido estrofes e estrofes.

Mas, onde entra o Aleph?

Naquele círculo de alucinações ou nem tanto, o poeta disse o ter descoberto no porão de sua casa, esclarecendo que um Aleph é “um dos pontos do espaço que contém todos os outros pontos”.

No porão, o próprio narrador acaba captando o Aleph sendo exposto a revelações universais e de si próprio: “...vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu rosto, e senti vertigem e chorei, porque meus olhos tinham visto aquele objeto secreto e conjectural cujo nome os homens usurpam mas que nenhum homem contemplou: o inconcebível universo.”

Aí eclode aquele sentimento tremendo que afeta e fere todos os seres humanos, num dado momento da vida:  a inveja. O poeta que apenas suportava foi premiado pelo longo poema e o narrador, pela sua obra, não recebeu nenhuma referência.

[De acordo com os estudiosos da linguística, o aleph do idioma fenício teria dado origem ao alpha grego que, posteriormente, originou a letra “a” no alfabeto latino.
Para os adeptos das doutrinas cabalísticas, o aleph é interpretado como um símbolo místico e espiritual, responsável por representar Deus como “o começo de tudo”. De: www.significados.com.br] 


“Transplante de menina” de Tatiana Belinky


Tatiana Belinky, juntamente com seu marido Júlio Gouveia fez parte da pré-história da televisão, nos primórdios da Tupi na qual adaptaram entre outras, as obras de Monteiro Lobato, “O sítio do pica-pau amarelo”. Fora escritora, autora de inúmeras obras de literatura infantil.

Neste, a do ”Transplante de menina”, autobiográfico, pode ser considerado “juvenil”.

Russa, nascida em São Petersburgo, com 10 anos de idade, no final da década de 20, quando o país vivia as contradições de conflitos internos graves, viajou com seus pais para o Brasil.

É a partir daí que relata as todas as suas experiências, as dificuldades de adaptação, da língua, de moradia até que residiram em São Paulo, na rua Jaguaribe, no bairro Santa Cecília.

Dai a convivência com outras crianças brasileiras, o bullying que não era assim conhecido, sua coragem e aventuras.

Nas primeiras páginas, ela escreveu isto:

“Hoje – e já há muito tempo – eu não trocaria o Brasil por nenhuma espécie de “paraíso terrestre” em qualquer outra parte do mundo (...). E no Brasil, não gostaria de  viver em qualquer outro lugar a não ser em São Paulo, essa “Pauliceia Desvairada”, essa megalópole caótica, fervilhante, dinâmica – e, sim, muito linda, onde cresci, estudei e lancei minhas raízes. E onde espero descansar quando chegar o meu dia”.

O relato se encerra em 1932, fazendo a Autora referência à revolução constitucionalista de que eclodira naquele ano, com a derrota dos paulistas.

Tatiana Belinky faleceu em 2013.












“O velho e o mar” de Ernest Hemingway



Para a resenha do livro, acessar: 

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O homem que calculava” de Malba Tahan (Julio Cesar de Mello e Souza)


Para a resenha deste livro, acessar:

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24/09/2016

TEMPO, TEMPO, TEMPO...MAS, QUE TEMPO?



A idade em Marte

Há uma seita esotérica que informa que o tempo não existe. O exemplo nada científico dado para essa crença é que nos sonhos, nas denominadas viagens astrais, o indivíduo viaja milhares de quilômetros em fração de segundos, o que faria em dias, fosse uma viagem “física”.

Quanto a mim, que creio e vivi experiências dessas viagens, cheguei a gravar nome de rua em algum lugar para o qual me transportei. Acredite se quiser! 

Na minha idade não receio em revelar essas coisas.

Então, por causa disso, tenho por hábito dizer que “eu passei pelo tempo” e não que o tempo passou para mim.

Dou o motivo sem qualquer sofisticação, de modo simplório:

Movimento de translação (em volta do sol) da Terra e de Marte:
. Terra: 365 dias e 6 horas (dia de 23h56 minutos)
. Marte: 686,98 dias (dia de 24h37 minutos)

Imagino que se eu contasse 60 anos de idade, pelo movimento de translação de Marte que é quase o dobro da Terra, lá no planeta vermelho eu teria pouco mais de 31 anos.














[E quem disse que o marciano contaria o seu tempo de vida como nós contamos por aqui?]

Onde está o “tempo” universal nessa imensidão com incontáveis sois e planetas girando em torno deles nos desafiando a compreensão?

Que tempo é esse? Há tempo?

Tempo, tempo, tempo...


Islã e suas decorrências. Os misericordiosos, os 

impiedosos e os “infiéis”


A forma “Islã” é derivada do árabe “assalã”, que significa paz, harmonia, confraternização. Islã exprime, afinal, resignação à vontade de Deus.

Para o árabe muçulmano, a denominação de infiel é dada a todo indivíduo não-muçulmano, isto é, ao indivíduo que não aceita os dogmas do Islã e não segue a trilha do Alcorão, que é o Livro de Allah. (*)

Um muçulmano piedoso, sincero, quando se refere a um infiel (cristão, idolatra, pagão, judeu, agnóstico ou ateu), isto é, quando cita o nome de um servo de Allah que viveu no erro, nas trevas do pecado (depois da revelação do Alcorão), por não ter sido esclarecido pela fé muçulmana, acrescenta este apelo:

- Allah se compadeça desse infiel!

Ou recorre a esta fórmula, que é, igualmente, piedosa:

- Com ele (o infiel) a misericórdia de Allah!

Aceitam os muçulmanos, como dogma, que o infiel, depois da vitória do Islamismo, tendo vivido na heresia, longe da verdade, estará, fatalmente, depois da morte, condenado às penas eternas. É preciso, pois, implorar sempre para os infiéis (especialmente para os sábios), a clemência infinita de Allah, o Misericordioso. (**)

Temos que há vertentes do islamismo que não são misericordiosas, mas cruéis e que querem levar os infiéis (e até mesmo fieis) desde logo “às penas eternas” do modo mais doentio, hediondo. Há os fieis soberbos, certos de que o islamismo dominará o mundo ocidental a partir da Europa.

Já se disse, é e certo, que há muitos muçulmanos piedosos que vivem ou viveram ao lado de muçulmanos cruéis e se mantem silentes assumindo uma cumplicidade tácita (!).

Tempos, tempos, tempos.

(*) O Alcorão foi “sistematizado” entre 632 a 650 dC.











(**) Todo o texto em itálico foi extraído do livro “O Homem que calculava” de Malba Tahan (Edição de 2005 – Editora Record).


Essas coisas estranhas do não acordar

Um cochilo com a TV ligada.

De repente a sensação de que está meio acordado. Parece ver-se na sua frente a alguns passos. Muito estranho.
Bate palmas para retornar ao corpo relaxado na poltrona e acordar de vez. 

Não consegue.  Ouve com nitidez o som da televisão. Meio em pânico vai até o lavabo pensando em molhar as mãos e o rosto e acordar pelos efeitos da água fria.

Mira-se no espelho e seu rosto não aparece. Apenas uma luz tênue se espalha no espelho.

Pensa em ter aberto a torneira e aí acorda.

Concorda que essa experiência, já não é a primeira vez, tenha algo a ver com a passagem natural de plano, sem traumas, vivendo aquele momento de confusão e consciente entre um mundo e outro.

Só que nesse caso não mais acorda, mesmo vendo o corpo relaxado à sua frente. Não funcionará, então, o simbolismo da água fria.

E aí, de um jeito ou outro segue para outro plano deixando tudo para trás mesmo que não quisesse.


O afogado

Vamos aceitar que na morte por afogamento no Rio São Francisco do ator global todos os episódios que resultaram no evento trágico, relatados pela atriz que lhe fazia par nas gravações da novela, sejam verdadeiros, isto é, não houvera interpretações eventualmente distorcidas pelo pânico do momento.













O ator em franca ascensão, falecido, era professor de educação física, trapezista, de estatura acima da média e sabia nadar muito bem.

Ele tinha um lado de ator palhaço. Isso lhe dá um ponto a mais na arte de interpretar. Palhaço tenta a alegria.

Ambos entraram no rio e fora ele tragado pelas correntes. Houve tentativa de salvamento pela atriz que, perto dele, franzina, conseguira apoio numas rochas.

Por que ele não?

Revelara que o ator dizia que não estava conseguindo se mover. Ela viu por último o seu olhar. Da morte? Do apelo? Da angústia? A iminência do fim dos seus sonhos? Tudo numa fração de segundos.

Essas mortes excepcionais, de figuras diferenciadas, que repercutem num dado momento são sempre um lembrete a todos pela fragilidade do sopro e à soberba.

Porque nem ela, a soberba, se salva neste terreno de provações que caminhamos no dia a dia.

Tenho tido impressões sensoriais que colocam em questão essas relações improváveis entre o ser humano, a vida na Terra e o universo.

Na verdade, para essas sensações ocasionais não tenho sequer palavras para explanar com clareza.

Já escrevi deste modo mas sem representar com precisão o sentido superior disso tudo que me deixa perplexo de vez em quando:

“Não poucas vezes me questiono num exercício desafiador, qual o significado da espécie humana nessa visão de universo sem começo e sem fim. Para que servimos além de devastar o planeta em que vivemos?” (*)

(*) Do meu livro “Joana d’Art”












“Operações inimagináveis”

Em março de 2004, num jornal semanário no ABC, escrevi uma crônica sob esse título que teve como motivação o anúncio de um transplante de rosto, beneficiando uma jovem mulher americana que fora vítima de grave acidente de trânsito, com seu veículo incendiado causando graves lesões em sua face.

Dizia então constituir algo inimaginável, num dado momento, feito o transplante de rosto – e transplantes tais ocorreriam mais tarde e ocorrem – o paciente se olhar no espelho e ver mirado alguém “desconhecido”.

Para ilustrar esse suposto estado aflitivo que me ocorria então, fizera uma ilustração valendo-me do filme “O segundo rosto” (“Seconds”) de 1966 do diretor John Frankenheimer cujo enredo se refere a um homem descontente com sua vida insípida que decide se submeter a uma plástica sofisticada e radical e, na retirada da bandagem, surge um galã, Rock Hudson.

















Passado um tempo, esse personagem transformado constata que aquele “novo modelo” também não lhe dizia respeito e pretendera mudar de novo. 

Mas, ai seu fim é trágico porque a “Companhia” que patrocinara a cirurgia não haveria de concordar, até porque fora aquele resultado a sua “obra prima”.

Nesse quadro impressionante, das possibilidades possíveis – afinal, já são tantos os transplantes de órgãos -, concluía aquela crônica num estilo de ficção:
“Sem pretender fazer humor negro com a indagação que acho justa: será possível um dia, meio ao estilo de Frankenstein, transplantar a cabeça sã pertencente a um corpo debilitado, para um corpo são de doador falecido?”

E, pelas afirmações que colocavam essa possiblidade possível, então, arrematava:

"Que tempos, meus amigos, que tempos! Quem viver verá.”

E por que volto a esse tema tão impressionante?

Porque há um neurocirurgião italiano que já faz experiências nesse sentido com animais – um cachorro estaria sobrevivendo com cabeça transplantada – que anuncia para o ano que vem, o transplante de cabeça para um corpo são de um paciente russo, lúcido, cujo corpo degenera de modo irreversível.


Sem meditar sobre questões éticas e até religiosas, repito o que escrevi em 2004: 

Que tempos, meus amigos, que tempos! Quem viver verá.”