24/07/2012

ESSAS COISAS DE MATO GROSSO




Uma vista rápida de pontos de Mato Grosso, em pouco tempo, revelam muito. Cuiabá está em obras, por conta da copa do mundo de futebol. No geral, não vi pontos altos de beleza, como se dá em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.
Mas, nas duas cidades há muito que fazer como de resto se observa em todo o país, em locais mais em locais menos.
Quanto às paisagens há muito que ver, melhor, que ver e até repensar sobre certas formações geológicas que intrigam.
Na Chapada dos Guimarães, aquela imensa área “cavoucada” na qual ecoa no fundo a queda d’água, refinada, o véu da noiva. Tempos de seca, porém.



Mas, o que impressiona é, realmente, o mirante do denominado marco Geodésico, que seria o centro da América Latina... mas os cálculos levam o centro geodésico do continente para Cuiabá.
Pois é nesse mirante que ao longe, do outro lado, se avistam imagens diminutas da capital, não há como evitar: há um sentido de desafio naquela formação lá embaixo, uma imensa cratera. Seria demais perguntar quais fenômenos na crosta terrestre produziram aquele acidente? Quando?


É só querer, despojando-se do micro comércio lá atrás, e de tudo o mais em volta que perturbe – afinal, todo mundo tem direito ao silêncio – há o acometimento de uma tênue emoção que leva a um sentimento místico. E nesses instantes, apesar de tudo em volta, um sentido de paz, mas não a meditação – esta só se torna viável no silêncio da reflexão.
 A chegada em Poconé propicia atingir a Transpantaneira, estradinha de terra, com pinguelas de madeira mal constituídas, mas que, bem ou mal permitem atravessar os riachos que a cruzam.
Há imensas áreas desmatadas no pantanal, pastos com bois e sem bois, muitas em vias de degradação clamando pela recomposição natural.
Nos trinta quilômetros adentro, nesta época de seca, se torce para cruzar com animais livres naquelas matas que parecem adoentadas.
Mas, não. Poucos. Jacarés negros ao sol nas margens, uma paca cruzando a estrada, pássaros múltiplos e periquitos barulhentos, tucanos nas alturas...
Um raro tuiuiú – ave com sua cabeça e pescoço negros – não é bonito. Mas, bonito é a sua liberdade de bicar tranquilo naqueles charcos em busca de alimentos.


Numa pousada para uma parada rápida, recomposição e descanso, uma surpresa porque impensado para os caipiras das cidades.
Numa pequena casinhola de madeira, quirera espalhada na sua também pequena base retangular, aguça o empenho das abelhas em obter...exatamente o quê?
- É o melzinho que tem o milho naquela parte branca, explica o caboclo.
Ora, pelo modo como elas se empenham sobre o milho picado, quase imóveis, parecem embriagadas ou querendo se tornar.


Não ligam em dividir a “iguaria” com dezenas de cardeais, aqueles pequenos passarinhos, de penugem vermelha na cabeça que se apoiam na casinhola e também avançam sobre a quirera.

Estrangeiros circulam por ali, hospedados, dias de simplicidade e convivência.
Fico imaginando acordar naquele local tão diferenciado pelas seis horas da manhã e respirar fundo ao som da natureza.
Um privilégio que, quem sabe, um dia terei.    

Fotos:
(1) Descida à Chapada dos Guimarães
(2) "Véu da noiva" que se vê daquele mirante
(3) Mirante do "marco geodésico"
(4) Tuiuiú 
(5) Abelhas e cardeais na quirera
(6) Modelo de habitação pantaneira (Pousada Rio Claro)                                                         

Um comentário:

Caio Martins disse...

Parabéns, Milton! Euclides não teria feito melhor! Forte abraço.