Vez por outra divulgo resenha de livros que leio para meu consumo — lembretes do essencial — embora divulgue publicamente num blog.
Não tenho por costume fazer escolha desse ou daquele livro, salvo uma ou outra exceção ao perceber que a obra pouco me acrescentará. E já me deparei com muitas dessas, mas a minha regra é não parar o que começara a ler...
Mas, há livros que busco e alguns me caem às mãos como que por “encanto”.
Um desses livros, que obtive num “sebo” mas hoje voltou ao mercado livreiro é “O Mistério das Catedrais” de Fulcanelli.
Claro
que esse livro
sempre aparece (ia) como
referência para explicar o simbolismo de figuras em relevo ou
baixo-relevo em
algumas catedrais especialmente a Notre-Dame de Paris, os sentidos
ocultos, alquímicos e filosóficos praticamente indecifráveis para
os não aficionados nessa cultura.
O livro fora para mim
de difícil compreensão porque esses
símbolos são representações ocultas, contendo, como qualifica o
autor, significados “herméticos”.
A origem da palavra “gótico”!
Então, não vou expor alguns dos elementos básicos que registrei do livro que podem ser encontrados no blog “Dos livros que li”. (*)
Considerando as esplêndidas catedrais diz o Autor:
“Os construtores da Idade Média tinham como apanágio a fé e a modéstia. Artesão anônimos de puras obras-primas, construíram para a Verdade, para a afirmação do seu ideal, para a propagação e a nobreza da sua ciência. Os do Renascimento, preocupados sobretudo com a sua personalidade, ciosos do seu valor, construíram para a posteridade do seu nome.”
O Autor, então, se fixa nas figuras de alto e baixo relevos na estrutura de Notre-Dame de Paris (construída entre 1163 a 1245) destacando os símbolos não cristãos entalhados em suas paredes e reentrâncias.
Catedral de Notre-Dame de Paris
A Catedral de Notre-Dame de Amiens (construída entre 1220 a 1268) tem a seguinte abertura do livro: “A exemplo de Paris, Amiens oferece-nos um notável conjunto de baixos-relevos herméticos”.
Catedral de Notre-Dame de Amiens (Amiens cidade a 120 quilômetros de Paris)
Nesta também o Autor analisa as imagens encontradas nas paredes do templo.
E a partir de uma dessas imagens “O orvalho do filósofo”, num certo trecho lembra que a faculdade de criar pertence só a Deus, o único Criador. Mas, necessitando do auxílio da Natureza esse auxílio será recusado se, “por desgraça ou ignorância, não colocais a Natureza em estado de aplicar as suas leis.”
E a condição primordial para o resultado é a ausência de luz.
Lembra o Autor que certos fenômenos se dão na absoluta escuridão: o ato da procriação, o germinar das sementes, o sono noturno que recompõe as forças perdidas durante o dia, a renovação das células, o funcionamento do organismo de digestão e excreção. Assim, também, com experiências químicas e alquímicas.
O poder do sol é destruidor de determinadas substâncias.
“E agora trabalhai de dia se vos apraz; mas não nos acuseis se os vossos esforços terminarem em fracasso”.
Em Bourges, cidade próxima de Paris, ao sul, no palacete Lallemant – “uma das mais sedutoras e mais raras moradas filosofais” – há um baixo-relevo de São Cristóvão.
E é aqui, num livro tão reservado que descubro aquilo que não conhecia, a lenda de São Cristóvão:
Essa lenda do santo poderia representar, do ponto de vista oculto, o transporte do ouro ao carregar o menino Jesus na travessia do rio:
Tratava-se
dum homem muito forte, agigantado, que decidiu que serviria ao rei
mais poderoso da terra. E assim fez, para alegria do rei que
encontrara um servidor tão leal e tão forte.
Certo dia
decepcionou-se o santo ao vir o rei se benzer ao ouvir o nome do
diabo. Ao saber que o rei temia o diabo, abandonou-o por não deter o
poder absoluto. Procurou, então, por satã para servi-lo. Sua
lealdade ao diabo durou até o momento em que o via desviando-se de
uma cruz.
Ao saber que o diabo receava o símbolo de
Cristo, resolveu procurá-lo porque seria ele o mais poderoso da
terra.
Mas não o encontrava. Para diminuir sua angústia,
um sábio levou-o à beira de um rio e sugeriu que ele atravessasse
os viajantes nos seus ombros fortes para que não se afogassem. E
nesse serviço encontraria quem procurava, prometera o sábio.
E
assim fez. Um dia, muito cansado, ouve batidas na porta de sua
cabana. Uma voz de criança se faz ouvir. Levantou-se o gigante e
arrumou-a em seus ombros partindo logo para a travessia.
No meio do rio, as correntes tornaram-se revoltas e o menino tornara-se um fardo, além do que podia suportar o gigante.
Imagem de São Cristóvão - Azulejo - Igreja Matriz de Rio Tinto - Concelho de Gondomar - Porto / Portugal
O São Cristóvão histórico fora perseguido por inimigos dos cristãos sendo trucidado lá pelo ano 250 DC
Ao perguntar por que um menino era assim tão pesado, recebeu a revelação: apresentara-se o próprio Cristo, o peso do mundo e, pelos serviços que prestara o gigante aos viajantes fora batizado por Ele e pelo Espírito Santo, recebendo o nome de Cristóvão - "Aquele que carrega Cristo" (chama-se Offerus).
Acentuam as páginas finais do livro:
“A Natureza não abre a todos indistintamente a porta do santuário. Nestas páginas, o profano descobrirá talvez alguma prova de uma ciência verdadeira e positiva.”
Citação:
(*) Acessar: DOS LIVROS QUE LI (ACERVO COMPLETO)