02/09/2009
ETÉREOS
(Imagem: borboleteando.blogger.com.br)
Fazer poesia, para mim, significa um desafio. Há momentos, raros, porém, que fluem elementos que me obrigam a produzir alguma coisa e, às vezes, dá certo.
Já disse um sem número de vezes que minha juventude foi (muito bem) vivida em São Caetano do Sul.
Com relativa proximidade à Serra do Mar, muitas vezes o nevoeiro que por ali eclodia, trazia algumas rebarbas na cidade. Em São Bernardo, havia dias em que a visão não alcançava além de cinco palmos, tal a espessura da massa branca.
Havia tardes de inverno, mesmo quando meio temperados, que o dia permanecia cinzento, com aquele vento frio que me levava a um sentido nostálgico, uma contradição, porque ao mesmo tempo uma fagulha de felicidade e alegria transbordava. Olhava para o céu fechado e me perguntava o que se passava comigo naqueles arroubos.
Tantos e tantos anos depois, não poucas vezes me vêm à mente aqueles momentos. Afinal de contas, hoje, mesmo não tendo muito a me queixar, o enquadramento da vida é diferente. Ela é dura de ser vivida. As indagações de agora e daqui para frente são nada além de desafios que me assaltam e se perdem sem resposta. Nada sei, pouco sei dessas transcendências.
E foi num dia assim, meio fechado, sem mais transmitir aquelas inspirações de outrora que escrevi ETÉREOS, num sentido de que a vida pode prosseguir mesmo quando já se chega, digamos, ao ocaso.
Etéreos é a que mais eu gosto.
A borboleta é a alma que busca nesses remanescentes, a inspiração para prosseguir absorvendo o que de bom resta para viver.
ETÉREOS
Nessa de desânimo
apatia
Não sei o porquê
de tal melancolia
(ou nostalgia?)
Desmedida
Sei não!
Cadê a Inspiração
os elementos Etéreos?
Clamo, pois, só, no (meu) deserto
Respostas não vêm
Ilusões não há (mais).
Miro margaridas murchas
(bem-me-quer, bem-me-quer!)
Que se preparam para semente
Sinto o sol...
mas não me aqueço.
Num momento, surpreso
confuso
Sinto o Etéreo, porém.
Uma manchinha azul
No éter
Vindo, chegando, esvoaçando!
Ora, uma simples...
Borboleta...azul!
Ela dança nos meus olhos
Solene, encantada, frágil
magnífica, rebrilhante...
E pousa, então...
na margarida
a mais desfeita
na gema amarela.
(apenas três pétalas ressequidas)
Apreendi logo
o valor da escolha...
Da borboleta azul
Etérea
tão tênue
tão efêmera
Bem vinda...
Porque na margarida
murcha
na gema
Ela sentiu a vida
(ainda)
Assim falava ela
a borboleta azul
Etérea
na minha nostalgia
(ou melancolia?)
Naquele dia...
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Um comentário:
Milton,
dizem as boas, até as más línguas, que quando começamos a ver borboletas azuis ou a Poesia está presente, ou causaremos terremotos na China... Quando encontrares outra, reze às Musas, e comprometa-se a não parar de escrever.
Abração.
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