Os textos são longos e tratam do tema muito caro para mim: o
ambiental e, principalmente, a preservação da Amazônia.
Nos blogs que ainda detenho, de fácil acesso, são dezenas de artigos nessa
linha ecológico-ambiental, mas publicado na imprensa regional dos quais recuperei
três deles.
Eu os estou disponibilizando mais para meus registros
ficando de livre acesso aos eventuais interessados e curiosos. São eles:
1. Jornal de Piracicaba (Editorial) de 15.10.1997:
“Fazedores de Desertos”, partindo de texto sobre a queimada nas florestas, em
“Os Sertões” de Euclides da Cunha;
2. Folha do ABC de 06.09.2003: “Um mundo em devastação” no
qual aponto aspectos da poluição ambiental no mundo incluindo os absurdos testes
nucleares;
3. Folha do ABC de 10.01.2004: “A Amazônia e a devastação”
no qual dou destaque a um relatório ministerial que então revelava já no
estágio grave de devastação que 25% da área devastada estava abandonada.
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JORNAL
DE PIRACICABA de 15 de outubro de 1997
FAZEDORES DE DESERTOS
“Esquecemo-nos, todavia,
de um agente
geológico notável – o
homem.
Este, de fato, não raro
reage brutalmente
sobre a terra e entre
nós, nomeadamente
assumiu, em todo o
decorrer da história,
o papel de um terrível fazedor de desertos.
Começou isto por um desastroso legado
indígena.
Na agricultura primitiva dos silvícolas era
instrumento fundamental – o fogo”
A citação
acima, refere-se aos desertos provocados na região do nordeste com as queimadas
praticadas de modo devastador que, ao longo do tempo, foi devastando imensas
áreas de “flora estupenda”.
Essa
citação, não foi extraída de algum manual de
entidade ecológica, entre tantas nacionais e internacionais que criticam
a omissão brasileira na questão das queimadas havidas na floresta amazônica.
Ela é de autoria de ninguém menos que Euclides da Cunha, ao estudar “a terra”
em seu livro “Os Sertões”, cuja primeira edição apareceu em 1902.
Esse
consagrado autor, já então no início do século, demonstrando certa perplexidade
e amargura, apontava o absurdo das queimadas para abrir espaços para a
atividade pastoril ou, “ao mesmo tempo o sertanista ganancioso e bravo, em
busca do silvícola e do ouro”.
Décadas e
décadas se passaram e a prática do fogo continuou destruindo desordenadamente
as florestas brasileiras, praticamente extinguindo a mata atlântica e agora, em
proporções assustadoras, a própria selva amazônica.
É brutal a
omissão oficial a essa calamidade, cuja fumaça cega transeuntes, fecha
aeroportos e dificulta a respiração de crianças, exatamente na região antes
conhecida como o “pulmão do mundo”, qualificativo que fora um orgulho para nós
brasileiros.
À omissão,
alia-se o absoluto desrespeito à vida, pela natureza e pelo mistério das matas
virgens, com as milhares de vidas que sustentam, levadas de roldão,
inapelavelmente, pelo fogo.
Pois esses
indivíduos que exploram madeira na Amazônia, não costumam chamar de “pau” uma árvore com dezenas de anos,
exuberante, em vias de ser cortada para ser vendida às serrarias estrangeiras ?
Não a transformou em mera mercadoria ? Em vil metal ?
Nos dias de
hoje, fala-se muito em ecologia nos discursos, nas solenidades simbólicas de
plantio de árvores, nas escolas mas, na
prática, a realidade é dolorosa, assustadora, devastadora.
As
autoridades que poderiam reverter esse processo criminoso omitem-se, fecham os
olhos ao se depararem com a fumaça das queimadas e se voltam para a política
barata, ao supérfluo, às questiúnculas partidárias, à vaidade, à tolice.
Há projetos
de implantar o ensino permanente de ecologia nas escolas, de ordem que, no
futuro, as crianças de hoje, cuidem da natureza, devotem mais amor por ela.
Mas, o futuro já corre sérios riscos. O grave problema se verifica no presente.
As ações devem ser tomadas agora, energicamente, de tal maneira que sobre algo
para ser cuidado no futuro. Que valha a pena.
O desrespeito chegou ao insuportável. O
despreparo das entidades oficiais em enfrentar tais crimes é desanimador.
Chega a ser
patético. As entidades não governamentais (ONGs), por sua vez, apenas denunciam
e denunciam, mas não saem a campo em campanhas de protesto e de
conscientização. E as queimadas abomináveis continuam.
Há mais de
vinte anos, a revista “O Correio da Unesco”, reportava-se ao “Avanço do Deserto” na Terra, esclarecendo
uma das reportagens:
“Muitos
acreditam que os desertos do Oriente Médio e da região mediterrânea foram
criados pelo homem. Há dois ou três mil anos, as vertentes e as planícies do
Líbano, da Síria, o litoral do Egito e da Tunísia eram cobertos por rica
vegetação (lembremos os famosos cedros do Líbano) e forneciam a Roma grandes quantidades de
madeira, cereais, azeitonas, vinho e outros produtos. O abate de
árvores, a destruição das florestas e da vegetação herbácea e o pisoteio das
pastagens, juntamente com a erosão pelo vento e pela água, transformaram esses
territórios em semidesertos”.
Incluindo as
queimadas que em muito aumenta a gravidade da tragédia, estamos seguindo
exatamente essa receita. A de construirmos desertos na região mais exuberante
do planeta: a Amazônia.
Esse quadro
desolador no “atacado”, se manifesta também no “varejo” em todas as cidades.
Árvores das ruas são cortadas indiscriminadamente, com a tolerância das
autoridades, ora porque “fazem sujeira” com as folhas, porque dão sombra,
porque danificam o asfalto e ora porque “esteticamente” incomodam o cidadão
intolerante e insensato.
E, sem
qualquer reflexão, às centenas, as árvores vão sendo cortadas das ruas sem
serem substituídas, permanecendo seu toco como um alerta à insensibilidade
humana.
É chegada a
hora, sim, de olharmos para o futuro e para nossas crianças, de tal ordem que
vivam num mundo mais respeitoso com a natureza. Que, ainda que numa mera
poesia, se inspirem na simpatia que deve existir entre uma árvore e o homem.
Entre os animais e os homens e entre estes e a água, um elemento vital, preocupante,
também descurado.
No que conta
sobre a preservação das águas, são os
discursos com as mesmices de sempre, promessas, decorrendo,
ocasionalmente, medidas paliativas e modestas. No caso da fumaça das queimadas,
fecham-se os olhos. No caso da água, tapam-se as narinas para não sentir o
cheiro putrefato dos rios ou dos peixes mortos pela poluição.
Até quando a
omissão?
FOLHA
DO ABC de 06 de setembro de 2003
UM MUNDO EM DEVASTAÇÃO
Não
sei bem quando, mas talvez desde que me "conheço por gente" (frase inédita, não?) sou ferrenho
defensor da natureza e dos animais — com estes só tive experiências de carinho
e amor. Falarei oportunamente sobre essas experiências.
Por
ora, direi de um modo amplo na velocidade de um desabafo.
Já
não é de hoje que se filosofa em cima duma amarga realidade: a natureza devolve
aquilo que recebe, embora pela sua força de recuperação, um milagre, quando
deixa de haver a interferência do homem, ela volta a recompor áreas devastadas,
dentro de suas possibilidades.
Sem
muito destaque, noticia-se vez por outra o grave problema do aquecimento global
não só pelo desmatamento mas pelo excesso de poluentes lançados na atmosfera. E
as catástrofes que tudo isso provoca.
O
maior poluidor do mundo, os Estados Unidos, não se preocupam em introduzir
controles efetivos para a poluição industrial agravando seriamente o problema.
Se controle houver, será por iniciativa privada, nunca pela ação efetiva do
governo americano que considera essa uma preocupação secundária, a ser assumida
pelos os "tolos” que desejarem fazê-lo.
Essa
soma de desmandos vai fazendo suas vítimas. O calor intenso que surpreende a
Europa — embora os especialistas não atribuam aumento da temperatura apenas à
poluição, porque fora um fenômeno previsto para 2003 naquele Continente — deve
servir como alerta porque a continuar o nível de devastação e poluição
produzidas, essas anomalias tendem a ser "normais" daqui para futuro.
Com
esse calor intenso, só na França, em razão dele, morreram 12 mil pessoas.
Isso
não é pouco.
Entre
nós, de muito pouco podemos nos vangloriar. A motosserra trabalha
incansavelmente e de modo insano, tanto
na Amazônia e no pouco que resta da mata Atlântica, ora para captar
madeira nobre, ora para produzir carvão, ora para aumentar pastos, significando
nesse caso, que as áreas devastadas ficam a um passo da desertificação.
Esse
efeito também se dá em razão das imensas plantações de grãos, embora seja
imperioso preservar áreas verdes nessas plantações de tal ordem a garantir um
mínimo de equilíbrio.
E
esses assuntos não são levados tão a sério pela mídia.
Cansa,
por exemplo, todo "santo" dia, sabermos que o dólar subiu ou desceu
um centavo, que o risco Brasil variou para mais ou para menos — um índice que
nem mesmo seus idealizadores internacionais dão a importância técnica que
se dá por aqui — e se a "nasdaq" flutuou para cima ou para baixo —
matérias absolutamente irrelevantes
do
ângulo da vida. Enquanto isso, o placar da devastação ou do bom exemplo
ecológico constitui-se matéria secundária, normalmente divulgada, no caso da
televisão, em horários de pouca afluência.
Na
Encíclica 'Centésimo Ano' de 1991 (que comemorou os cem anos da Encíclica
`Rerum Novarum'), o papa João Paulo II posiciona-se sobre a ecologia acentuando que a
humanidade com seu consumismo exacerbado vem produzindo a "destruição
insensata" do meio ambiente ("Pensa
que pode dispor arbitrariamente da terra, submetendo-a sem reservas à sua
vontade como se ela não possuísse uma força própria..."). E eu me pergunto,
nessa linha de raciocínio, como é possível um mandatário pensar nos dias de
hoje em fazer testes atômicos, num planeta já tão sofrido?
Afinal,
o que querem esses vândalos, esses matadores rancorosos sem causa e esses
devastadores que convertem a natureza numa moeda qualquer, no vil metal? Que
num círculo vicioso de intensa interligação multiplicam pelos seus atos,
a violência sórdida que vai se banalizando, um alimento indigesto no nosso
dia-a-dia?
Para
que a vida no seu conjunto tenha valor será preciso mudar a mentalidade
universal, iniciando-se um processo de reeducação, de valor ecológico, de
preservação, porque mesmo coma alta tecnologia (ou por causa dela),
constatam-se dificuldades imensas no planeta a começar pela carência de água
potável em países diversos, um problema que tendo a se agravar.
Individualmente,
começarmos a dar valor às (supostas) pequenas coisas, às coisas
"simples": a uma fonte d'água, algo sagrado, a uma floresta, a um
beija-flor, ao replantio onde possa ser recuperado o que foi devastado, à
recuperação de um rio poluído, como um desafio fundamental, necessário...
Na
realidade, longe da pieguice, há que haver um esforço na conquista do “amor
global”, "ecológico" porque ele é simples e transmite essa simplicidade
fundamental.
FOLHA
DO ABC de 10 de janeiro de 2004
A AMAZÔNIA E A DEVASTAÇÃO
Preparado
por 12 Ministérios um relatório, abordando a devastação da selva Amazônica,
revelou o óbvio que pode ser resumido em poucas palavras: o desmatamento é
acelerado e celerado. Antes de trazer os números da devastação divulgados nesse
relatório, preciso dizer que não acredito numa ação firme desse governo para
conter com a autoridade necessária esse quadro de abuso que, na verdade,
diga-se desde logo, repete a mesma postura de todas as administrações
anteriores.
Vejo
na ministra Marina Silva um sem número de qualificativos: sua origem humilde,
seu esforço pessoal para superar
dificuldades, sua identificação com a mata e sua ligação com os ideais do preservacionista
Chico Mendes.
Mas,
daí a impor o nível de autoridade necessária para dar um basta nessa insanidade
que se pratica na Amazônia, há uma longa distância.
E.
por isso, sou pessimista no que concerne à sua estada na pasta do Meio
Ambiente.
Ademais,
o mundo se move por valores econômicos. Sabe-se diariamente como se comportaram
as bolsas de valores do mundo inteiro. E nesse contexto, o dos "valores
econômicos”, nele se inclui a lavoura e a pecuária, a madeira, ainda que, para a
expansão devas atividades, pague-se um preço humano elevado, qual seja, do
desmatamento desenfreado, sem medir as consequências para as futuras gerações.
Há
pouco. num artigo simples mais altamente revelador publicado no jornal "O
Estado" (título: "Indignação e fatalismo
na Amazônia"), o cientista José Goldemberg. a propósito do nível de
devastação que se constata na Amazônia, parece concluir nas entrelinhas que tal
estado de gravidade não causa a indignação que seria esperada.
São
suas palavras:
"Há
no Brasil muitos acontecimentos que provocam - ou deveriam provocar - nossa
indignação, mas não há nada na escala do que está acontecendo na Amazônia, a
última das grandes florestas tropicais remanescentes".
Realmente,
a questão ecológica não se constitui, efetivamente, numa grande preocupação
nacional, há muito mais "dar de ombros" oficial do que indignação
salvo no meio de grupos privados esclarecidos que alertam para as consequências
permanecendo o desrespeito à flora e à fauna, como o que vem sendo praticado na
Amazônia.
É
"compreensível" essa omissão.
Afinal,
as gerações futuras que resolvam o problema! Ora, os efeitos não são imediatos,
mesmo que já sejam graves
e urgentes...
Eis
alguns números do relatório (fonte: jornal "O Estado" de 31.12.03):
.
Área total estimada de devastação na Amazônia: 631 mil km2 ou 15,7% de toda a
floresta;
.
Área devastada entre agosto/01 a agosto/02: 25.500 km2, significando aumento de
40% em relação aos meses
anteriores. Tal extensão é maior do que o estado de Sergipe;
.
Estão abandonados cerca de 25% da área total desmaiada (165 mil km2) c isso não
é pouco, correspondendo a uma área maior que o estado do Ceara;
.
A pecuária é responsável por cerca de 80% de toda a área desmatada: o plantio
da soja cresceu 57% entre 1999 e
2001 significando efetiva participação no desmatamento desordenado e sem
controle oficial. E há, ainda, a ação implacável das madeireiras, muitas na
ilegalidade que sobrevivem apenas pela falta de fiscalização.
Não
deixa de acentuar José Goldemberg, que na extensão maior da Amazônia o solo é
arenoso. E, nessa realidade.
"o solo é paupérrimo, a floresta é mantida graças ao equilíbrio do
ecossistema". Sendo assim, torna-se improdutivo
em pouco tempo, o que explica o abandono da imensa área devastada (165 mil
km2).
Há,
pois, um imenso desafio se a matéria for tratada com o cuidado c premência que
ela exige e que consiste no manejo sustentado, respeitoso com a mata e a fauna
que ela contém.
Mas.
como acima dito. sou pessimista quanto a qualquer medida enérgica do governo nessa
linha, até mesmo pelo retrospecto conhecido, de omissão.
Vejam,
como este país continental, mas pobre, tem seus exageros, seus atos megalômanos
e antiecológicos: o
Brasil está comemorando a impressão do maior diário oficial do mundo. Com
efeito, a edição do dia 19 de dezembro último, o jornal oficial federal
circulou com 5.700 páginas, devendo assumir posição de destaque no livro dos
recordes (-Guinness Book").
A
explicação: a Constituição exige a publicidade de todos os atos oficiais...
Perguntar
não ofende: quantas árvores foram derrubadas para produzir apenas um exemplar
desse diário oficial, verdadeira aberração? E uma centena? E os milhares de
exemplares da edição toda?
Paro
por aqui, indignado, diga-se.