Temas:
1. A passarinha agressiva
2. O domínio dos celulares em uma hora
3. Super-homens
A PASSARINHA AGRESSIVA
Este é o "meu" clima, o dia a dia sentindo as mudas crescerem e se tornarem árvores.
Pois há dias, dois passarinho, talvez sabiás-laranjeiras ou talvez curruíras começaram um ninho no vão da garagem, bem protegido sob o telhado.
Até que o ninho ficou pronto e a passarinha lá se assentou tranquilamente, protegida. Tranquila é que não.
Lá de cima, perto, vendo a movimentação, voava para a ameixeira e, voltando a normalidade dela, retornava ao ninho.
Uns dias depois, ela começou a fazer voos rasantes às minhas costas, como que protestando pela minha presença constante. E, então, foi para o ataque, inofensivo, esbarrando as asas na cabeça.
Ela não sossegava, a ponto de ter eu cuidados especiais para não a espantar. Como sair com o carro?
Numa manhã, ela lá não estava.
A torcida para que voltasse. Não voltou.
Deixou três ovinhos. Os abandonou. Só ficou o ninho.
Claro que ela não percebia quem a protegia.
O DOMÍNIO DOS CELULARES EM APENAS UMA HORA
Nessas andanças de domingo, resolvi mudar de trajeto e seguir por uma pista de ciclismo, no meio de vegetação alta ambiente muito propício a alguma reflexão.
As árvores amenizavam a temperatura.
Distante, vejo se aproximar duas crianças pedalando bicicletinhas o que me deixou contente porque pelo menos naquele momento não estavam dominadas pelos encantos do celular.
Mas, não. O pai curvado dedilhava o celular não prestando atenção às crianças. Mais atrás, a mãe.
Em seguida, um ciclista pedalando devagar, fixado no celular sem prestar muita atenção com quem vinha à sua frente.
E por fim, já fora dessa pista, de longe acompanho uma jovem que mesmo atravessando a rua não tirava os olhos do celular.
Mais próximo ela estanca num passagem estreita sempre com o celular. Me desvio e ao lado dela provoco:
— Se eu lhe tirar o celular o que você fará da vida?
Ela me olha perplexa, como se despertasse de sono profundo, emite um som e volta para o celular.
Pois é, o celular tem tudo de apaixonante e de alienante, incentivo ao não pensar e a desviver...
Sem exageros!
SUPER-HOMENS
Assisti o documentário de Cristopher Reeve, o ator americanos que interpretou tão bem no cinema os quadrinhos de Superman.
Essa interpretação o fez o super-homem, assim chamado comumente.
Em 1995 nesses mistérios que a vida impõe, ele sofreu grave acidente. Ele foi atirado do cavalo numa competição de hipismo, batendo a cabeça contra uma cerca, fraturando a primeira e a segunda vértebra cervical, fazendo-o tetraplégico da pescoço para baixo.
Conseguindo sobreviver precariamente, tornou-se agente na busca de recuperação de pessoas com as mesmas lesões. Esse trabalho foi importante e reconhecido. Ele faleceu em 2004 aos 52 anos.
Esse tipo de experiência que até agride nossa incompreensão me faz refletir muito porque há esse simbolismo do "super-homem humano" mas sujeito aos perigos insondáveis da vida que o faz tão frágil.
Por um "mecanismo" mental que não explico, esse evento com o ator me lembrou um filósofo do qual não sou admirador muito mencionado pelos filósofos contemporâneos, suas frases sempre citadas: Friedrich Nietzsche. (*)
Em duas de suas obras ele faz menção em viver como super-homem e homem superior, mas esqueceu de lembrar quão frágil é o ser humano que sequer se conforma com a mortalidade. Para ele Deus estava morto. Ele pregava que o super-homem deveria se libertar dos dogmas religiosos.
Pois bem, o filósofo nos último anos de vida, pelos 46 anos de idade, foi perdendo a razão num grave colapso mental. Talvez fosse resultado da sífilis que adquirira na juventude. Com a loucura viveu por certa de 11 anos sendo cuidado pela mãe. Faleceu aos 56 anos.
Neste estágio de vida não há super-homens, mas só seres frágeis que nada explicam nem mesmo o tecido da pétala duma rosa. Humano, demasiado humano.
Referências:
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