MEMÓRIA - ANOS 60 - SÃO CAETANO DO SUL

DIÁRIO DO GRANDE ABC DE 10.01.2017
Anos 1960 - Memória de São Caetano  / Vida estudantil


TEXTO INTEGRAL


Memória: Ademir Medici – SETECIDADES
Quarta-feira, 10-1-2017

Anos 60. São Caetano ferve. Evolui

      Atenção, acadêmicos de São Caetano. Hoje é dia de cumprimentar Milton Martins pelo dia do seu aniversário. Morando e trabalhando no interior, o advogado e jornalista Milton Martins não deixa de estar muito ligado à cidade em que chegou criança de tudo, vindo de São Paulo.

      Para o aniversariante do dia, São Caetano, na década de 1960, era uma cidade pulsante, uma referência cultural e estudantil no ABC, que se transformava em Grande ABC. “Tive dias maravilhosos tanto na vida estudantil, cultural e na intensa atuação na imprensa local”, escreve Milton Martins, numa troca de e-mails com Memória.

      Uma das perguntas que formulamos a ele foi, ao mesmo tempo, direta e reflexiva: o que foi e o que significou o Centro Acadêmico?   

      A resposta, com certeza, bate com o pensamento da maioria dos acadêmicos que se reúnem periodicamente sob a batuta do coordenador Carmelo Conti:

     ■ A turma constituiu-se num aprendizado para mim. A maioria dos integrantes do Centro Acadêmico tinha raízes no Instituto de Educação Bonifacio de Carvalho. Depois, estudaram nas melhores universidades e até hoje se reúnem mensalmente, mais de 50 anos depois daqueles dias esplendorosos.

     ■ Só quem viveu é que sabe o que significou a década de 60 para essa juventude estudantil de São Caetano. Hoje, menos que dias saudosos, podemos dizer que foram dias de evolução.

Milton Martins

■ Nascimento: São Paulo, 10-1-1944
■ Filiação: Dario Martins e Concilia Martins
■ São Caetano: a chegada em 1950
■ Histórico escolar: Grupo Escolar Senador Flaquer, bairro Fundação; Colégio Estadual Amaral Wagner; Instituto de Educação Coronel Bonifácio de Carvalho (curso Clássico); Faculdade de Direito da PUC-SP.
■ Histórico profissional: predominantemente em multinacionais na área de Relações Trabalhistas; mais tarde como advogado empresarial e gerente na área de RH.
■ Esposa: Ana Rosa
■ Filhos: Milton, Otávio, Gisele, Silvio e Eduardo.
■ Netos: Susana, Caio, Vinicius, Yarin e Sofie (gêmeas), Lucah, Heitor e Lya.

LEMBRANÇAS

No Grupo Escolar Senador Flaquer, a emoção do diretor em informar aos alunos sobre o suicídio de Getúlio Vargas em 24 de agosto de 1954. Para alegria da meninada, as aulas foram suspensas.

A sede do Centro Acadêmico ficava nos baixos do antigo Cine Vitória. O debate informal era ali, incluindo o bar. Os contatos de Milton Martins com os acadêmicos eram “assustadores”. Algo assim:
■ Como disse Sartre...
■ Como disse Bertrand Russel
■ Como disse Marcuse.
■ Ficava intimidado, silencioso. Um aprendizado. Buscavam seus membros, como eu próprio buscava na presidência do Grêmio 28 de Julho, em 1965, realizações esportivas, políticas e sociais apenas pelo prazer de realizar. Um idealismo à flor da pele.

E São Caetano? Milton Martins afirma que a sua formação, o básico da vida, se deu em São Caetano. Ele chegou a assistir a inauguração do Viaduto Anacleto Campanella na primeira metade da década de 1950.

Anos depois...

No segundo mandato do prefeito Campanella, por programação de jornal da cidade – Tribuna de São Caetano - me encorajei, numa tarde de sol, em chegar ao gabinete do prefeito para uma mal programada entrevista.

Sou bem recebido. Minutos depois, sou conduzido ao gabinete. O prefeito me encara com aquele seu jeito irreverente. Olhando para os papeis, responde algumas perguntas, levanta-se impaciente daquela mesa meio arredondada de trabalho, sai apressado e me ordena:
- Venha comigo.

Saímos do prédio da Prefeitura. No estacionamento, ele abre a porta do carro, manda que eu entre e segue nos rumos de Santo André.

Paramos no próspero Diário do Grande ABC e ali ele me apresentou para o diretor de Redação, Fausto Polesi. Escrevi para o Diário por algum tempo. Perdi o pique pela minha insegurança.

Longe há anos de São Caetano, a presença de Anacleto Campanella se dá com o seu nome no Estádio Municipal.

Tinha que homenagear Campanella tantos anos depois. Um gesto de apreço ou de ternura. O que incomoda é que tudo passou de repente, numa velocidade... da vida.

O ESCRITOR

Milton Martins é autor do livro “Sindicalismo e Relações Trabalhistas”, escrito entre a década de 1980 e 1990, já em quarta edição.

■ Para entender os aspectos políticos do sindicalismo, cheguei a assistir assembleia no estádio da Vila Euclides na década de 80.
■ O documentário “Linha de Montagem”, com música de Chico Buarque, assisti no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Eram tempos de empolgação num clima autêntico. Hoje, o que dizer daqueles líderes?

Seu livro mais recente é o “Joana d’Art”. Nesta obra, o autor coloca muitos aspectos autobiográficos e também a ficção que se refere à personagem Joana, que muda de personalidade ao conhecer a vida de Joana d’Arc.

E HOJE?

Milton Martins continua advogando, com escritório próprio, mas com compromissos mais moderados.
■ Acho que estou me tornando ledor inveterado. Nestas últimas décadas, resido em Piracicaba e também em Águas de São Pedro. Não há como negar a qualidade de vida acima da média que se desfruta nessas cidades.


ONTEM. Baile do Pinguim promovido pelo Grêmio 28 de Julho em 1965. Local: Palácio do Mármore do Moinho São Jorge em Santo André: em pé, Carmelo Conti o segundo da direita para a esquerda, Milton Martins e mais à esquerda Gutildes Yeda Feijão. Nesse baile foram homenageadas as dez personalidades de destaque de São Caetano naquele ano. (Foto: Baile do Pinguim - 1965)

HOJE. Milton Martins com o amigo Carmelo Conti: “quem era o Carmelo naqueles idos? Uma espécie de pupilo do jornal. Como presidente do Grêmio 28 de Julho, ele me ajudou muito”
(Foto atual)

GENEROSIDADES E AMIZADES (*)

Sim, eu já contei parte desta experiência.(**)

Mas, depois de tantos anos, me veio a mente o valor da generosidade, do ponto de vista de quem a praticou, não de quem a recebeu.

Tudo lá pelos idos de 1964, a adolescência um pouco adiada e assim se deu pelas minhas repetições ginasiais. Essas circunstâncias me levaram à busca pelo trabalho remunerado sem me afastar das atividades estudantis intensamente aproveitadas em São Caetano.

Depois, a maturidade viria exigindo pisar firme no chão duro da vida e daí para frente, sempre…

Os episódios que de novo relatarei foram então explanados sob a minha perspectiva vaidosa, porque num dado momento “reconhecido” pela autoridade maior da cidade, no caso o prefeito Anacleto Campanella naqueles tempos em que São Caetano prometia em tudo ser o que é hoje.

Ora, quanto a esse efeito – o da minha vaidade que perdurou por tantos anos - já recebi de sobejo o meu galardão.

Mas, eu convivo também com meus bons “fantasmas”. Veem-me frequentemente o nome de alguém longe há muito de minha memória, de um evento qualquer, antecipação de um resultado de uma pendência que me interessa, de um caminho a percorrer e os sonhos, essas imagens e visões misteriosas que eles projetam no sono.

E nessa soma de variáveis, ocorreu-me que já fui agraciado com generosidades que só mais tarde as reconheci como tal e por isso, nessas novas reflexões, relembro algumas com algum peso de consciência porque não as agradeci. Não considerei, naqueles tempos, o sentido da graça que tais gestos inspiravam.

Constato hoje que o oposto, gestos de desprezo e descaso marcam muito na mente porque negativos, porque ferem. E resquícios ficam ao longo do tempo.

Generosidade todos tem alguma noção do significado ou significados. Por exemplo, a concessão de uma oportunidade, a caridade longe dos holofotes, uma amizade, tudo sem interesse de retribuição.

Conto de novo para explicar.

Lá pelos idos de 1964 engajei-me no semanário “Tribuna de São Caetano” porque tinha e até acho que ainda tenho, uma forte queda pela imprensa escrita, pelos jornais e até pelas oficinas.

Nesse período, seu diretor era João da Costa Faria e eu redator não muito afiado.

Salvo engano, ao entardecer das quintas-feiras o jornal de pequeno porte era “fechado”.

A redação era numa das salas do prédio do Cine Vitória – naqueles tempos nas noitadas na lanchonete nos seus baixos era um ponto de encontro e de salvação do mundo pelos estudantes.

Um dia Faria me disse de entrevistar o prefeito Campanella.

Tudo bem, aceitei como um desafio marquei o horário no gabinete, e numa tarde lá fui eu.

Sou bem recebido pelo seu então “eterno” secretário e aguardo na antessala. Campanella sai do gabinete curioso e apressado. Ele me encara com aquele seu jeito impaciente, olhando para os papeis, responde algumas perguntas e me ordena:

- Venha comigo.

Saímos do prédio da Prefeitura. No estacionamento, ele abre a porta do carro, manda que eu entre e segue nos rumos de Santo André. Nesse trajeto, a “entrevista” foi se realizando.

As fotos da entrevista e a própria entrevista de perderam.

Paramos no próspero “Diário do Grande ABC” que eu recebia diariamente com paixão e ali me apresentou ao diretor de redação do jornal.

Como resultado da apresentação do prefeito Campanella, escrevi para o Diário por algum tempo com cuidados redobrados. Por encarar outras atividades, mesmo no meio estudantil como aluno do Colégio Bonifácio de Carvalho me afastei da responsabilidade para com o jornal mas havia, também, certa timidez e insegurança, o compromisso em estar disponível a qualquer chamado do jornal. Tudo a lamentar. Como já se disse: “perdas são perdas”.

Em 1969, como deputado federal, logo depois do AI-5 do regime militar fora Campanella cassado na "lista" de 12.01.1969 com direitos políticos suspensos por dez anos. Parece que não sentira o golpe nos primeiros dias.

Mas, acho que dias depois, essa ato de violência política o afetou, sim.

Algumas vezes, de propósito, passava aos sábados na Barbearia do Chichillo na rua Baraldi e o encontrava. Essa Barbearia fora por algum tempo um ponto de encontro político importante, certamente por causa da presença de Campanella.

Anos mais tarde, no mesmo local eu o encontrava abatido porque doente.

Morreu jovem, aos 47 anos, em 1974.

Naqueles dias quando me apresentou ao Diário do Grande ABC o que poderia eu significar para ele? Ele lera algo que eu escrevera no jornal? Porque nunca dele me aproximara, salvo nalgum momento esporádico. Tudo o que fosse não poderia justificar seu gesto de generosidade, não político mas apenas de … generosidade.

E para gestos assim não há explicação.

Muito jovem, pude acompanhar o progresso de São Caetano. Menino, aventurando-me naqueles tempos sem medo saindo do Bairro da Fundação a pé, assisti à inauguração em 1954 do Viaduto dos Autonomistas sobre a linha férrea – que travava o tráfego no centro da cidade quando baixava a porteira - e lá estava ao longe o prefeito Campanella.

Como sabido, seu nome está marcado no estádio municipal da cidade.

Talvez meu apreço por ele de tantos anos mas nunca demonstrado, tenha produzido esse gesto inesperado que relatei, essas consagrações que não são explicáveis, porque resolvidas nalgum plano imaterial. Penso assim.

Hoje, São Caetano se tornou a pequena gigante cidade, exemplo para este país sofrido.

E nesse tema das generosidades e das amizades tenho que me referir ao advogado João da Costa Faria. Somos amigos há décadas – cerca de seis pelo menos.

Logo depois ele deixaria o jornal para se ocupar de sua profissão, da advocacia. Ele se formara na PUCSP. Aos trancos e barrancos me formei mais tarde na mesma PUCSP.

E por todo o seu discernimento não poderia ser diferente: sem qualquer favor, de tão competente, é ele hoje dos mais destacados advogados de São Caetano. Uma referência na cidade.

Estas lembranças, tento homenagear a generosidade e a amizade, irmãs siamesas.

Por isso tudo e mais há momentos em que me dá um nó por pensar nesses tempos mágicos que vivi e que chamo de “tempos de imortalidade”.

Embora ninguém me avisasse que teriam que ser aqueles dias aproveitados intensamente, eu fiz o possível.


Referências:

(*) Transcrito do mensário "O GINASIANO",publicação que congrega os ex-alunos do Ginásio Amaral Wagner de Utinga - Santo André.

(**) Diário do Grande ABC de 10.01.1917 (Coluna de Ademir Medici) 



Foto da inauguração do "Viaduto dos Autonomista" - SCS, em 28 de julho de 1954

MINHA CHEGADA INDIRETA NO GRÊMIO

O Grêmio sempre fora, para mim, um sentido de realização no Bonifácio que, como disse, era menos colégio mais um “estado de espírito”. Devo ter, ainda, uma carteirinha de sócio, assinado pelo Fuad.

Havia voltado ao Bonifácio em 1963, no Clássico. Em 1964 resolvi me candidatar à presidência, do Grêmio que causou muita estranheza entre os próximos.

Perdi. Não demorou muito e o Grêmio foi administrado de modo não muito eficiente pelo vice quase se extinguindo.

Em 1965, o diretor Teixeirinha me chama na sala dele e diz:

- Olha, vou me aposentar e não pretendo que o Grêmio encerra as atividades neste ano. Você não quer presidi-lo neste ano?

Topei e, bem no jeito, a eleição foi “indireta”. Mas, a ideia dele era um Grêmio moderado sem muitas pretensões.

Uni-me a uma turma decidida (Nelsinho Ribeiro, Eduardo Ascêncio, Walter de Toledo Barros e outros, todos de uma geração posterior, claro) e fizemos muitas coisas: o coroamento foi o “baile do pinguim”, no Moinho São Jorge, que homenageou os 10 mais de São Cetano. A estudante homenageada, que havia ingressado no direito do Largo de São Francisco, foi a Eloisa Maria Baraldi, irmã do Vitório.

Além disso, “baile caipira”, “shows de bossa e poesia” (um fazendo parte das comemorações do 28 de julho – aniversário de SANCA), encontros musicais na sede nos domingos à tarde com o Jerry Adriani ocasionalmente e tudo o mais.

Tudo isso foi documentado no jornalzinho “O Pinguim” cujos exemplares devem ter se perdido: o Bonifácio me pedira para alguma exposição e nunca mais soube deles.

O Carmelo Conti, um sujeito humilde mas com muita vontade de participar. O que tinha de humildade, tinha de lealdade. Estivemos juntos não só no Grêmio (era diretor) como na imprensa local.

Não digo isso para maneirar divergências políticas que se deram neste espaço. Já me manifestei em particular com ele pelos meus excessos.

O ano de 1965 fora para mim de muita felicidade e realizações.

Depois, bem, depois tive que desistir da “imortalidade” e sair pelo mundo, sem qualquer moleza.

Em 03.01.2021


 

[Carmelo Conti faleceu em março de 2021, com 72 anos, vítima da covid-19]

REPORTAGEM: MEMÓRIAS DE SÃO CAETANO. 50 ANOS DEPOIS

Esta longa crônica ("Reportagem") tem como motivação os 50 anos que se passaram de minha formatura no curso Clássico (1965) no Instituto de Educação “Cel. Bonifácio de Carvalho” o mais influente, então, no ABC.
Refiro-me, também, aos amigos velhos que “deixei” em São Caetano, a união entre o "Bonifácio de Carvalho" e o Centro Acadêmico que há muito não mais existe e andanças pelo Bairro da Fundação onde vivi minha juventude.
Em 29 e 30 de julho de 2015.

IDH sem índice ambiental
São Caetano é o município nº 1 no Brasil em IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, medida que faz parte do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e é calculado com base em três itens: renda, educação e saúde. A nº 2 é a pequena Águas de São Pedro. Houvesse uma medida ambiental no IDH, dificilmente Águas deixaria de ser a nº 1.
É em Águas que me escondo das contradições da vida e do Judiciário - instituição, todavia, da qual não me queixo. Da degradação ambiental que me comove MUITO mas que vai sendo tolerada até irresponsavelmente até...até quando? Quando a vida se tornar definitivamente insuportável?
Bem, São Caetano é cinza.


(Fotos acima de praça / paisagem de Águas de São Pedro)
(No último item desta “reportagem”, apresento uma “visão geral” resultado de minhas andanças e reminiscências que guardo comigo).
Amizades e amigos
Todos os meses os “sobreviventes” do Centro Acadêmico e do Instituto Estadual “Cel. Bonifácio de Carvalho” se reencontram numa pizzaria de São Caetano e nessas noites ao vinho e à cerveja, há um forte congraçamento.
Afinal, esses relacionamentos ultrapassam  meio século.
No encontro do dia 29 de julho último, no sacrifício, participei. Muitos deles a conhecer ou a reconhecer.
Ao longo da minha vida sempre me questionei sobre “amigos” e amigos. Não tenho certeza, talvez até esteja sendo injusto, mas os amigos não os conte nos dedos das mãos.
Nas inúmeras automobilísticas nas quais trabalhei, lembro-me de dois: menos que, digamos, subordinados - e não por isso – iam na lealdade acima desse “detalhe”. Empresas revelam amigos?
E dos “antigos” de São Caetano do Sul?
Posso ter mais por lá, mas dois sempre se fizeram presentes: 
Caio Venâncio Martinsamizade de mais de 50 anos entre tapas e reconsiderações. Poeta e cronista, fora ele quem nos últimos anos me incentivou a escrever, me encorajou aos blogs e a publicar artigos políticos no extinto “Vote Brasil".
E foi assim que saí do “quadrilátero” do meu escritório (sem estar nele, pela manhã, cedo, pelo menos, me parece um dia perdido).
Dai para frente os contatos nunca se perderam entre ideias, ideais – mesmo com a idade que nos espreita – e a necessidade da boa comunicação por esses veículos.

Caio Martins – não temos parentesco, mas há algo de irmandade que o sobrenome reforçou de modo indelével e definitivo.
A foto menos nítida aparece o Caio numa festa caipira promovida pelo Grêmio 28 de Julho o qual presidi naquele ano de 1965 (é o 3º da direita para a esquerda. Eu o 2° da esquerda para a direita).



Carmelo Conti: esse sujeito, muito humilde quando o conheci na década de 60 esteve comigo, de modo intenso em todas as atividades estudantis e mesmo na imprensa de São Caetano. Chegou a tal ponto que, ocasionalmente, me desmentia ou me corrigia quando relatava episódios dos quais participara eu até como agente principal. Em outras palavras ele sabia ou sabe mais do que eu de aspectos que a mim pertencem ou pertenciam diretamente.

Carmelo Conti – revisamos conceitos na noite do dia 29 de julho de 2015, sempre lembrando as iniciativas da primeira metade da década de 60, especialmente nas atividades brilhantes do ano de 1965 no Grêmio 28 de Julho.
Tempos memoráveis. Já lá se vão exatos 50 anos que também marcam o exato meio século de minha formatura no clássico do prestigioso I. E. “Cel. Bonifácio de Carvalho”.
A foto abaixo fora do “baile dos 10 mais” também promovido pelo Grêmio nos luxuosos salões do "Moinho São Jorge" - Utinga - Santo André. Carmelo está ao meu lado à direita. Na mesa pessoas amigas e diretores do Grêmio.

As reuniões mensais dos amigos “antigos” acadêmicos
Como disse, um grupo de amigos daquele período, seja do Centro Acadêmico, seja do “Bonifácio de Carvalho”, todos os meses, há tempos, se reúne numa pizzaria de São Caetano e, na confraternização que se renova, tem como motivação principal aqueles verdadeiros anos inesquecíveis, numa cidade pulsante, que a história não repetirá jamais.
Não convivi com todos os participantes diretamente. Havia escolas e mesmo grupos diferentes, então, mas todos eles têm hoje a mesma motivação em manterem esses encontros: a lembrança de momentos felizes, marcantes, de desafios que não conseguem ser esquecidos.
E, ademais, esse congraçamento entre o Estadual "Bonifácio de Carvalho" e o Centro Acadêmico, se dava em reuniões sociais, bailes mas também no esporte (voleibol) na quadra do Estadual: essas competições eram conhecidas como EST-ACA.




Fachada pela avenida Goiás, do "Cel. Bonifácio de Carvalho" em 1965

A foto abaixo se refere ao encontro de 29 de julho de 2015. Alegria de viver, de participar já passados dos 70 anos de idade, pelo menos na média.

 

Visão geral 50 anos depois
A cidade de São Caetano – o “C” do ABC paulista – foi marcante para mim, na juventude.
Foi lá que estudando o clássico no Instituto Estadual “Cel. Bonifácio de Carvalho” – o mais destacado da região – na década de 60 me envolvi intensamente na vida estudantil e militei na imprensa local.
Não dá para esquecer certos episódios da vida jovem. O ano de 1965 foi marcante por tudo que fizemos no Grêmio 28 de Julho e eu já nem era tão jovem, já tinha 21 anos.
Esse foi, também, o ano de minha formatura no clássico. Essa idade “avançada” porque fora no ginasial mau aluno, me recuperaria no bom Ginásio Amaral Wagner, de Utinga. (1)
Quantas vezes disse que a década de 60, com golpe, revolução – chamem do que quiserem - e tudo, fora por demais inspirador, pelo menos em São Caetano, que pulsava, uma influência cultural, estudantil e política positiva na região.
São Caetano tem uma linha tênue que separa duas regiões: acima da avenida Goiás – onde está a sede da GM – mais sofisticada e abaixo dela.
Eu vivi sempre abaixo dessa linha, no Bairro Fundação.
Das fotos
Não poderia, antes, perder a oportunidade de algumas fotos.
Visão da rodoviária e lembranças do viaduto dos Autonomistas

Nesta foto, tirada na estação rodoferroviária, destaca ao fundo a loja matriz da Casas Bahia. Ela se originou em SANCA. Ao lado direito, a entrada do viaduto dos Autonomistas que sai do centro ao Bairro da Fundação: em 1954 quando de sua inauguração, com a presença do prefeito Anacleto Campanella, estive presente. Menino, ainda, me aventurei até a estação da então Santos a Jundiaí e cheguei a ouvir os discursos.
Grupo Escolar “Senador Flaquer” (assim conhecido, então)

Fiz o primário nessa escola, tão marcante na minha vida jovem. Quando da formatura um professor-músico compôs um hino de despedida que começava assim:
“Adeus minha escola querida, jamais te esquecerei na vida, foste para mim um fanal [lanterna, farol] que me ensinou o saber ideal...”
O prédio, sem os muros de antes, está bem conservado.
Os “quadros” de São Caetano 

As pinturas que enfeiam a cidade são dessa arte... em profusão...
Não de hoje em momentos de revisão do alto de minha idade, meio século depois, sempre tive vontade de caminhar pelas minhas “origens”, mesmo sendo paulistano.
Chego de ônibus vindo Piracicaba, pela “Piracicabana”, me instalo num hotel que jamais evoluiu (Acácia), a vantagem da localização central, nem sei se já piorou e pergunto à atendente:
- Onde encontro um restaurante vegetariano por aqui?
A atendente nega conhecer algum, mas me indicou um restaurante de bom padrão na rua Santa Catarina:
- O senhor não precisa comer a carne.
A rua Santa Catarina é hoje um calçadão bem constituído mas com um defeito grave: não tem árvores e nem floreiras.
Almoço, volto para a estação, atravesso por baixo dos trilhos da CPTM pela galeria, já percebendo abandono e falta de cuidados e chego à galeria coberta da rua Francisco Matarazzo, não menos abandonada, com lojinhas e botecos.
No fim do quarteirão, metros a frente, causa espécie num local daqueles, central, um prédio inacabado, feio, com lojinhas precárias no térreo. E essa feiura perdura há décadas.
Desço para a Fundação, das minhas “origens” um bairro que se não era bonito no meu tempo, é pior agora. Eu nunca vi tanta degradação pelos cantos das suas ruas e a imensa poluição visual produzida pelos garranchos dos grafiteiros que se revelam, na verdade, vândalos. Não há prédio ou muro que escapa dessa ação poluidora, bruta (v. foto acima).
Uns 10/12 quilômetros de andanças depois, vou ao prédio do cine Vitória, um ponto intelectual dos acadêmicos da cidade, porque a sede (do Centro Acadêmico) ocupava uma das salas do prédio. Eu cheguei a trabalhar nesse prédio na redação dum jornal. O último andar, naqueles idos, era ocupado por associações culturais de prestígio.
Agora o prédio está num processo de ruína, a entrada fechada com grades, o cheiro forte de banheiro público.

O prédio do “Cine Vitória” como era
Já ouvira falar desse estado do prédio pelas minhas sobrinhas de lá, mas ver para crer. 

Memória que se perde.

Meio desapontado saí um busca de um Café com algum atrativo, com alguma apresentação para uma média e algum tipo de pão. Só encontrei botecos e desisti.
O bairro da Fundação, para amenizar a poluição visual e a poluição de tantos carros que transitam às margens do Tamanduateí – como muitas outras cidades – precisa de um banho verde. Muitas árvores plantadas nos cantos e recantos. Todos sabem que as árvores “humanizam”, os jardins enfeitam, as flores encantam. 

Já falei demais... 

Notícia em "A Tribuna de São Caetano" 

de 19.03.1966


PROFESSOR GUILHERME:

Milton Martins foi o melhor Presidente do Grêmio 28 de Julho de toda a sua história


Em visita à redação de A TRIBUNA onde visitou todas as modernas instalações da SOSIL o professor Guilherme velho amigo e colaborador aqui da casa em conversa com a reportagem. assim expressou-se sobre o Grêmio Estudantil 28 de Julho":

— "Milton Martins foi o único presidente ótimo que possuiu o Grêmio Estudantil 28 de Julho em toda a sua história e sua gestão é por todos os títulos inatacável. Moço
inteligente, honesto, sensato e trabalhador, fez uma gestão operosa sem demagogia e por todos os títulos eficiente.
Reformou toda a sede do Grêmio, promoveu magníficas realizações sociais, esportivas c enfim, toda uma magnifica gestão.

"O próximo presidente se propor-se a realizar o mesmo que 
fez Milton Martins. já será uma grande garantia".


GRUPO ESCOLAR "SENADOR FLAQUER" - SCSUL
          1º PROFESSOR

Meu primeiro ano, meu primeiro professor. Já faz tanto tempo, tanto...Grupo Escolar "Senador Flaquer" - São Caetano do Sul. (Revista "Raízes" - Publicação da Fundação Pró-Memória de São Caetano - dezembro de 2008).













Se refere no texto o saudoso Glenir Santarnecchi que tínhamos 
alguma dorzinha de cotovelo das outras classes que só tinham professoras. No segundo ano, se não me falha a memória era a dona Denir, moça muito bonita, sem usar qualquer maquiagem.
Depois, a professora Carminha, assim gostava de ser chamada e no 4º ano a dna Olga, professoras excepcionais. Em que estágio estarão todos esses expoentes anônimos? Ah, aqueles tempos de colecionar figurinhas enroladas em balas, amassar barro até a escola...que tempos!!!







TEXTO COMPLETO 

O ano letivo de 1952 tinha inicio no Grupo Escolar Senador Flaquer do então curso primário. A grande emoção ficava por conta dos alunos do primeiro ano que, pela primeira vez, ingressavam naquela escola pela qual passaram figuras e personalidades da nossa cidade. Era a segunda escola primária da região do Grande ABC e hoje é a mais antiga em ação, tendo completado 88 anos de criação. O Senador Flaquer localiza-se na rua Heloisa Pamplona, 180, no bairro da Fundação e seu diretor, na época, era o professor Edson França Guimarães. A turma do primeiro ano "A" era formada por 47 alunos, geralmente dos bairros da Fundação e do Centro.

Todas as outras séries eram dirigidas por professoras e somente a primeira era dirigida pelo professor Paulo Tonini, recém-formado, sério e muito competente, com uma didática moderna e prática no ensino das primeiras letras. Nossa classe sentia uma pontinha de inveja das outras turmas que tinham professoras, novas também, mas bonitas. É o que achávamos quando formavam as filas no pátio da escola, tendo as mestras à frente.

Lembro-me bem da primeira aula do professor Paulo, em que nos contou com maestria e criatividade a história da descoberta do Brasil, com a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral e da primeira missa oficiada pelo frei Henrique de Coimbra, fazendo nossa mente viajar. Ao chegar em casa queríamos contar aos nossos pais e irmãos o que havíamos aprendido.

No mês de maio, vinha o fotógrafo para registrar todas as turmas num álbum com o diretor e o professor Paulo, sempre elegantemente vestido de temo e gravata. Guardamos essa foto até hoje e, de vez em quando, matamos a saudade vendo nossos colegas, apesar de a memória não ter guardado todos os seus nomes.

Hoje, temos a felicidade de termos o professor Tonini entre nós e podermos prestar essa homenagem ao mestre que nos ensinou os primeiros passos do conhecimento. A sua carreira não parou ai: tornou-se depois diretor de escola, mais tarde inspetor de ensino em nossa região, entre outros cargos. Tivemos a oportunidade, como jornalista, de publicarmos seus artigos na imprensa local, o que para nós foi uma grande satisfação.

A foto que publicamos hoje foi doada à Fundação Pró-Memória, aonde irá se perpetuar, mas esses antigos colegas de bancos escolares ou seus parentes poderão ajudar na identificação, bastando comparecer à Fundação ou ligar para (11) 4223-4780.

Para encerrar, em nome dessa turma, auguramos muita saúde ao professor Paulo Tonini e queremos homenageá-lo com um pequeno texto que podemos chamar de:

Ao mestre com carinho

"Estender ao professor todo nosso amor e carinho é ainda pouco diante do significado mágico de seu trabalho de preparar seus alunos para a construção de uma sociedade
mais humana, acolhedora e digna.

Ensinando a pensar, revelando conteúdos e abrindo-lhes os caminhos do conhecimento, formam a identidade das gerações e abrem suas perspectivas para o futuro.  Não há
riquezas que possam pagar essa dádiva, mas bastam algumas palavras: Muito obrigado, professor Paulo Tonini".

Foto:
Ano de 1952 - 1°ano "A" do Grupo Escolar "Senador Flaquer". Da esquerda para a direita, de baixo para cima. Primeira fila: 5°) Nairo Ferreira de Souza, 6°) Cláudio Geri. 
Segunda fila: 2°) Domingo Glenir Santarnecchi, 3°) Toshio ?, 4) Milton Marfins. 7) Prof. Paulo Tonini, Diretor Edson França Guimarães, 8°) Altevir Vargas Anhe. 
Terceira fila: 8°) Pedro Bonesso

 (*) (Saudoso) D. Glenir Santarnecchi, jornalista, advogado. pesquisador da memória da região do ABC e presidente da Fundação Pró-Memória de São Caetano do Sul

Grupo Escolar "Senador Flaquer" nos dias atuais que completou um século em 2020:





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