Explicação
Todos os meus textos que tenham alguma conotação política,
fora da linha que entendo “literária”, não publico neste Temas, mas num espaço
próprio (blog martinsmilton2.blogspot.com.br)
Porém, este tema, que foge um pouco das características de
tudo o que aqui já publiquei, revelam minhas experiências nos tempos dos
militares.
Pequenas porque trabalhava em multinacional automobilística.
Um detalhe que não dá para omitir: tempo de pleno emprego.
Mas, houve horrores nos bastidores, nos departamentos, nos subterrâneos. Artigos sobre esse tema, busquem no outro blog que acima indiquei.
Autocensura
Por alguma razão não muito clara na
minha memória, interessei-me pelo movimento sindical. Talvez porque, quando
funcionário da GM de São Caetano, nas épocas de eleição da diretoria da
entidade sindical, a multinacional, como de resto todas as outras, não davam
muita atenção para os sindicalistas..
Muitos daqueles que procuravam a
empresa para algum pedido, eram atendidos com desdém na portaria.
Afinal, nos tempos cinzentos da
ditadura, nem pensar em instaurar greve ou promover movimentos reivindicatórios
públicos. Tudo se resolvia nos Tribunais do Trabalho sob o peso forte das
orientações oficiais. Reajustes, apenas a reposição da inflação.
As publicações jurídicas, por seus
colaboradores de prestígio quando tratavam dos sindicatos o faziam apenas sob o
timbre de sua natureza jurídica, nunca por sua atuação política.
Ora, os idos dos primeiros anos da
década de 60 a
atividade político-sindical fora por demais intensa. De certo modo, contribuiu para a deposição de João Goulart. Pois não fora o Mal. Castello Branco que
qualificara o poder do CGT – Comando Geral dos Trabalhadores, como “ilegal
poder”?
Pois, foi nesse clima que em 1976 escrevi
um artigo sobre sindicalismo “político” numa prestigiosa revista jurídica. (1)
Não só pela tolerância que tinham os
editores com os meus textos, mas certamente que rompera aqueles grilhões para
lembrar que os sindicatos eram, como são, entidades também políticas.
Naqueles tempos, os sindicatos, por
conta da repressão se converteram em entidades assistenciais.
Pois, bem, um pouco por falta de base
outro pouco pela terrível autocensura pelo que um tal texto daqueles poderia
representar no âmbito da repressão, o artigo beirou, sim, a mediocridade. Nem
mais o fazia constar no meu currículo.
Mas, claro que amigos meus entenderam a
minha “dificuldade” em tratar do tema considerando a época e saíram em sua defesa.
Gentilezas.
Arapongas, “terceiros” no meio da linha
Em 1978, quando eclodiram as greve em São Bernardo eu
estava na fábrica e acompanhei tudo aquilo, o desajeito dos empresários e nós
todos em tratar de algo impensado em plena ditadura. (2)
Por todas essas experiências
“históricas”, um dia resolvi que escreveria um livro sobre o tema. E ele
realmente foi escrito, a quarta edição, pela pressa se constituiu na minha
“futura ex-obra prima”. (3)
Quando comecei a cogitar em tratar o
tema com mais informações, resolvi que tinha que entrevistar o dirigente
principal do CGT que após o 31 de março de 1964 fora banido da vida pública.
(4).
Consigo um primeiro contato telefônico
e vou me apresentando. A conversa demora, explico meus objetivos e marquei um dia
para comparecer à sua casa num bairro modesto de São Paulo.
Esse ex-sindicalista é o mesmo que num
documentário sobre Juscelino Kubitschek relatou a advertência do presidente
quando o CGT ameaçara uma greve geral em São Paulo , com decisão já tomada pelo Tribunal do
Trabalho. (5)
Dissera Juscelino a ele:
- Greve contra decisão da justiça é
inadmissível. Nesse caso terei que agir para manter a ordem.
Algo parecido com isso.
A greve não foi deflagrada, segundo o
ex-sindicalista. Pois, bem, assim que vou encerrando o telefonema, afirmando
que o meu interesse era apenas de pesquisa, tive a nítida impressão que um
terceiro na linha suspirara com alívio.
Arapongas a postos naqueles tempos 'chumbados'?
“Quem sou eu?”
A greve de 1980 foi por demais
tumultuada e insolúvel no ABC, desorganizando o dia-a-dia da cidade de São
Bernardo do Campo. (6). Intransigentes os sindicalistas, inúmeros deles foram
presos a mando do Governo Federal, de Santo André e São Bernardo do Campo, incluindo Lula, nas “instalações” do DEOPS
de São Paulo.
Muitos daqueles presos se sentiram
muito mal, depressivos, embora não fossem maltratados na prisão.
Passado um tempo, todos libertados, um
deles, querendo transmitir sua experiência ou simplesmente desabafar,
compareceu na fábrica, uma visita, na qual trabalhava, Chrysler de Santo André
(hoje, salvo engano,no terreno instala-se uma loja do Carrefour). (7)
Relatou toda a sua experiência
“doméstica”, o revezamento da faxina e toda sua angústia naqueles dias de
cárcere.
Saindo da fábrica depois de longa
conversa, provavelmente esse sindicalista relatou a visita nalgum boteco perto
do sindicato.
No dia seguinte, dois policiais a
paisana, chegaram de carro nos portões da fábrica e perguntaram para o
responsável pela segurança – um ex-militar que me batia continência – quem era
eu.
- Ele é o gerente de RI, um estudioso
do sindicalismo, respondeu o correto funcionário a mim subordinado.
Os policiais foram embora. Qual ameaça
significaria um gerentinho de RI de uma fábrica já com os dias contados para
ser extinta?
Era perigoso até conversar com os
supostos inimigos do regime.
Arapongas a postos.
Referências:
1.) Revista LTr de 1976
(2) O relato do aspecto mais
significativo de minha experiência de 1978, v. minha crônica de 11.05.2010 “Greve de 1978: o início de tudo : o dia em
que a boiada virou boiadeiro”, no blog martinsmilton2.blogspot.com. br;
(3) V. minha crônica de 31.10.2010, “A
história de uma edição: Errinhos que humilham “.
(4) Dante Pelacani, já falecido. Com o
golpe militar de 1964, refugiou-se no Uruguai e depois na Tchecoslováquia,
retornando ao país em 1969.
(5) “Os anos JK” de Silvio Tendler.
(6) Um relato envolvendo empregados
humildes da fábrica, no decorrer da greve de 1980, v. crônica de 17.04.2011 ”Sermão
da montanha”: fragmentos históricos que ficam”.
(7) José Cicote, que chegou a ser
eleito deputado estadual.
Foto: Milton PImentel Martins (a foto é muito bonita, mas o raio nela captado simboliza o temor que nos afligia naqueles tempos cinzentos de repressão).
2 comentários:
Assim foi, meu caro Milton. Tomado o poder "manu militare", impôs-se o dedurismo, a chantagem, a violência e, com ela o medo. Não foi fácil, resistir ao regime militar. Esperamos que tais situações não mais se repitam, seja daquela forma, seja numa ditadura de partido único.
Abraços.
Caio: Claro que eu era "não engajado" ao poder militar - que demorou demais. Mas, na PUC havia os arapongas voluntários, perigosos. Quantos foram torturados ou detidos "de graça" por conta desses dedos-duros vingativos, deslumbrados, que se engajaram no "autoritarismo" da época. Uns burros úteis...
Abração. MM
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