25/11/2012

O DC3 VOOU SERENO PORQUE HAVIA QUEM DEVESSE FICAR EM TERRA (*)



...para outra viagem, “sem volta”.


Dia desses, por dever de ofício, aportei em Belo Horizonte, fiz o que tinha que fazer – nem bem, nem mal – e a volta à tarde, esperei no aeroporto de Confins  a volta com a Azul – que tem sido pontual, felizmente.

Nesse lapso de espera, começo uma aproximação com um outro passageiro que esperava a definição da hora do seu voo por outra empresa - ocorrência muito normal num aeroporto, falamos de incidentes com aviões, até que, mais à  vontade, esse passageiro, animou-se a relatar um estranho incidente.

Encerrara-se o trabalho de grande empreiteira na divisa de Goiás – hoje Tocantins, estado criado em 1988 – com o Pará. Os principais funcionários rumariam, então, para Belém num ainda utilizado DC-3. Esse avião, Douglas DC-3 era um bimotor que fora importante entre a década de 30 até 50 no transporte de passageiros e carga.



Mas, por aqui, pelo que sei, voou muitos anos mais.

Mas, no dia da viagem, pela manhã, o avião não pode decolar. O piloto, que o conhecia nos detalhes percebeu que uma peça importante do motor estava desgastada pelo que fora adiada a partida por segurança.

Três dias depois, a peça chegou vinda de Manaus.

Peça trocada, tudo certo para a viagem, o velho DC-3 decolou. Mas, o piloto percebeu um desarranjo num dos motores e teve que pousar de onde saíra.

Fora, então chamado, mecânico, que veio do Pará, depois de mais três dias.

Cansado de esperar, inseguro com as possibilidades do velho DC-3 chegar em segurança até Belém um dos passageiros desistiu da viagem de modo definitivo:

- Não viajo nesse avião, de jeito nenhum. Amanhã pego um barco, do outro lado arrumo um carro e vou aos trancos e barrancos, por terra, até Belém. Do jeito que der.

E assim fez.
No dia seguinte, o mecânico que chegara, fizera pequenos ajustes e regulagens de rotina. O DC-3 partiu sereno e seguro nos rumos do seu destino.

Ao pousar o DC -3 em Belém, os passageiros receberam a má notícia, muito triste. O passageiro desistente do DC-3 sofrera grave acidente com o veículo que contratara. O veículo se chocara contra uma árvore. Ele e o motorista não resistiram aos ferimentos e faleceram no local.

Moral da história verdadeira: O DC-3 somente voou quando um dos passageiros desistiu da viagem. Seu destino era outro... sem volta.

Há muitos casos de passageiros que perdem voo em viagens que se tornam fatais, trágicas. “Carmas coletivos”.

Mas, para cada estalo de dedo, decola e pousa um avião no mundo.



(*) “RAÍZES DO BRASIL” – Sergio Buarque de Holanda



Divulguei no Facebook pequena nota sobre a minha leitura inicial de “Raízes do Brasil” de Sergio Buarque de Holanda, publicado no portal GOLP – Grupo Oficina Literária de Piracicaba – por iniciativa de sua coordenadora Ivana Negri - e no jornal “Tribuna de Piracicaba” de 10.12.2012 (a carranca é essa mesma).

Dias depois acabara a leitura do livro fazendo então, uma resenha maior sobre “Raízes do Brasil”, deixando claro que tive dúvidas em apreender alguns conceitos do livro.

Essa resenha já foi inserida neste blog, no título “Dos livros que não consegui ler (ainda?). E os já lidos” de 17.10.2010 (nesse titulo me refiro aos livros / autores seguintes: “O Sertões” de Euclides da Cunha; “Grande sertão: Veredas” de Guimarães Rosa; Friedrich Nietzche; “Ulisses” de James Joyce; “1984” de George Orwell; “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley; “O Presidente Negro” de Monteiro Lobato – Há outros lidos e não conseguidos).

Mas, voltando à resenha de “Raízes do Brasil”. O texto da resenha é longo mas destaco a menção crítica a Machado de Assis constante da obra de Sérgio Buarque de Holanda:

Trata-se de uma obra que exige concentração mais apurada na leitura de tal modo que se obtenha o preciso sentido dos conceitos emitidos pelo autor. Creio mesmo que seria bom que fizesse uma segunda leitura do livro  como preciso fazer de “Os Sertões” de Euclides – compromisso que estou em débito.

A referência às raízes do Brasil, significa que o autor voltou aos tempos da colonização portuguesa e bom que se diga que não é ele crítico na medida em que afirma que não é (sempre) possível subestimar a “grandeza dos esforços” de Portugal na exploração das novas terras, embora não nega que tudo se fez “com desleixo e certo abandono”.

Mais, a frente, ao tratar da “persistência da lavoura de tipo predatório”, a exemplo do que denunciara Euclides em “Os Sertões”, não deixa o Autor de destacar o uso do fogo na agricultura quando chega aos detalhes de explanar sobre o uso da enxada e do arado:

“Mostra-se nesse trabalho como o recurso às queimadas deve parecer aos colonos estabelecidos em mata virgem de uma patente necessidade que não lhes ocorre, sequer, a lembrança de outros métodos de desbravamento”.

A prática do fogo permanece até hoje, como se sabe, devastando largas extensões de florestas brasileiras.

No livro ainda se descobre que em terras paulistas a língua falada era, predominantemente, a indígena segundo, entre outras fontes citadas pelo autor, as observações do padre Antonio Vieira: “É certo que as famílias dos portugueses e índios de São Paulo, estão tão ligadas hoje umas às outras, que as mulheres e os filhos se criam mística e domesticamente, e a língua que as ditas famílias se fala é a dos índios, e a portuguesa a vão os meninos aprender à escola.”

 Aponta no meio do capítulo “novos tempos”, que autores românticos tornaram “possível a criação de um mundo fora do mundo, o amor às letras não tardou em instituir um derivativo cômodo para o horror à nossa realidade cotidiana. Não reagiu contra ela, de uma reação sã e fecunda, não tratou de corrigi-la ou dominá-la; esqueceu-a, simplesmente, ou detestou-a, provocando desencantos precoces e ilusões de maturidade. Machado de Assis foi a flor dessa planta de estufa.”

[Ora, o escritor é assim, tem o direito de sair da realidade e criar situações novas, ficções, inspiradas, suas, ascender à poesia que o afastam do horror da realidade. Toda a literatura de Machado, que está aí até hoje e sempre reverenciada talvez se enfraquecesse se fizesse referência ou descrevesse, por exemplo, à imundice que saltava pelas ruas do Rio de Janeiro. Muitos horrores se foram e Machado de Assis, ficou].

Sobre o Segundo Reinado e da Primeira República, “as constituições feitas para não serem cumpridas, as leis existentes para serem violadas, tudo em proveito de indivíduos e de oligarquias, são fenômeno corrente em toda a história da America do Sul” – o significado de tal afirmação no fundo se refere “às primazias das conveniências particulares sobre os interesses de ordem coletiva...”

[Com efetividade o fenômeno do descumprimento da lei e da Constituição por aqueles que detêm influência por causa do seu vigor econômico quando não parte do poder político é uma realidade. Que o digam as milhares de ações que se avolumam nos tribunais há anos e anos e ainda hoje. Todavia, quanto aos tribunais, constata-se que há posicionamentos mais rigorosos  que podem mudar o perfil de país de tal maneira que se consiga a “ordem” proclamada na bandeira].      

Há um sentido crítico à “cordialidade” que sempre prevaleceu por aqui e até hoje visitantes de outros países ressaltam essa característica brasileira que nem sempre seria saudável quando se trata de relações impessoais, do Estado impessoal – separação do público e do privado. A observação é minha trazendo esse aspecto para o presente: o denominado “processo do mensalão” não tem algo da permanência do “estado cordial”?

Mas, ressalte-se que esse conceito, no livro, não é muito claro.

Bem, paro por aqui, reafirmando a dificuldade do texto do autor Sergio Buarque de Holanda em sua obra “Raízes do Brasil”, um clássico muito citado mas tenho dúvidas se lido na mesma proporção.




2 comentários:

Tarcisio5 disse...

Milton, partilho com você os livros não lidos, apesar de inúmeras tentativas:
"Os Sertões";
"Ulisses" e o "Raízes do Brasil".
Guardei apenas o Ulisses para novas tentativas... Forte abraço e um ótimo 2013!

TEMAS LIVRES disse...

Tarcisio
Grato pela presença. Digo que o "Ulisses" de Joyce é "ilegível" porque são tantas as referências ao final do imenso volume que o tornam por demais indigesto. Há os que se proclamam intelectuais que dizem ser leitura indispensãvel. Bem, eu o tenho por aqui e não sei não, mas acho que não voltarei a ele. "O Sertões" de Euclides,vacilei muito, mas tirando a primeira parte que trata da "terra" o livro vai bem, eu gostei mas o vocabulário euclidiano, como sabido, é "abusado". Para uma melhor compreensão será necessário uma segunda leitura. "Raizes" é também "indigesto", mas fui até o fim. Livro muito badalado, direi apenas que o digeri. No texto menciono uma publicação neste portal (Temas, 17.10.2010) na qual fiz várias, digamos, resenhas. Abraço. 2013 repleto de emoções positivas.
Abraço. MM