Há décadas e décadas na pequena estante do meu pai havia um livro
muito antigo, “A Esfinge” cujo autor fora Mondini Belleti. Penso ser esse o título e o livro.
Curiosamente, buscando no Google, encontrei num sebo, a oferta
desse livro, cuja edição é de 1923. Talvez o livro que li quando bem jovem,
fosse exatamente essa edição.
Li sem interesse e, reconheço, com algum desdém, o livro, cuja
história se baseia na tragédia de "Edipo”. Desdém ou não a verdade é que
gravei para sempre,
“enquanto durar esse sempre”,
a seguinte frase do autor que, me parece, sintetiza todo o sentido da obra:
“Se ao invés do enigma proposto, impusesse a esfinge de Tebas que
Édipo lhe definisse o homem, e seria Édipo devorado como todos os outros menos
desgraçados.”
O desdém se devia à definição do “homem” para mim, então, algo descabido. “Definir o homem”, ora.
Mas, hoje, assistindo o que eu assisto, as mazelas, a violência
entre os seres humanos, a maldade desmedida contra os animais, aquilo que tanto já disse, neste mundo de desigualdades
onde convivem, lado a lado, a sordidez e a santidade, a frase me faz
mais sentido. E sempre aquela pergunta
que não quer calar: qual o sentido de tudo isso, da vida, sob o sol do dia-a-dia?
E Édipo? E essa esfinge de Tebas?
Mitologia grega. Édipo foi vítima de uma maldição. Matou sem saber
seu próprio pai e se casou, também sem saber, com sua própria mãe. Conhecida a
verdade, Jocasta, a mãe, se suicidou enquanto Édipo, por não ter reconhecido
quem era a mulher com que se casara, feriu-se provocou sua própria cegueira e
se emasculou (castrou-se).
Dessa história da mitologia grega nasceu a teoria psicanalítica freudiana
do “complexo de Édipo” segundo a qual o filho pode ter mais afeição à mãe e
menos com o pai. Até mesmo aversão. Essa afeição à mãe se resolveria numa dada
idade, com o “complexo de castração”.
E a Esfinge?
Um monstro com cabeça de mulher e corpo de animal (cão) que aterrorizava
Tebas com seus enigmas. Não desvendado pelas suas vítimas, eram mortas e devoradas.
O enigma proposta a Édipo:
“Qual o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e
três à noite”?
Édipo venceu a Esfinge – que foi destruída -, com esta resposta:
- É o homem. Pela manhã ele engatinha com quatro ‘patas’; ao
meio-dia é o adulto que anda com as duas pernas e à noite (na velhice) ele se
vale de uma bengala, três pernas. (*)
Tudo isso relato por conta dessa frase que decorei há décadas.
Essas coisas estranhas da mente que frequentemente afloram. Desta vez dela me
livro oficialmente, mas continuo não sabendo definir o homem. E quem saberá?
(*) ÉDIPO REI de Sófocles, acessar comentários da peça:
https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2019/05/edipo-rei-de-sofocles-livro-60.html
https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2019/05/edipo-rei-de-sofocles-livro-60.html
Imagens.
1. Edipo e sua filha Antígona, que nunca o abandonou.
2. Representação da esfinge de Tebas
Antígone
ANTÍGONA de SÓFOCLES
Sófocles (496-406
AC) escreveu uma das tragédias mais conhecidas do teatro grego, “Antígone”
(Antígona), filha de Édipo que para mim – e por isso fiz um resumo valendo-me
da edição de ebooksbrasil [www.ebooksbrasil.org]
– tem algum ponto em que lembra a peça “Romeu e Julieta” de William
Shakespeare. (Nessa obra de Sófocles, encontram-se a intransigência da autoridade representada pelo rei Creonte, a sua tardia resignação e a tragédia, o confronto entre o ódio e o amor e a consecução daquilo que já estava escrito, o destino).
Principais personagens (há outros na
peça de Sófocles)
Antígone
Ismênia
Creonte
Hemon
Tirésias
Eurídice
Antígone – Ismênia
São irmãs e
filhas de Édipo e Jocasta. Antígone chama a irmã para comunicar que
desrespeitaria as ordens de Creonte.
Eram irmãos
das duas, Eteócles e Polinice.
Com a morte
do pai, Édipo, ambos lutaram pelo poder em Tebas, mas, “ao passo que dois
infelizes, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, ergueram, um contra o outro,
suas lanças soberanas e deram-se reciprocamente a morte!”
Então, Antígone
relata à dolorosa notícia à sua irmã Ismênia:
“Pois não
sabes que Creonte concedeu a um de nossos irmãos e negou a outro, as honras da
sepultura? Dizem que inumou a Eteócles, como era de justiça e de acordo com os
ritos, assegurando-lhe um lugar condigno entre os mortos, ao passo que, quanto
ao infeliz Polinice, ele proibiu aos cidadãos que encerrem o corpo em túmulo
(...). Quer que permaneça insepulto, sem homenagens fúnebres e presa de aves
carnívoras”.
Ismênia
vacila, teme pela sorte da irmã, que decidiu sozinha proceder à inumação do
irmão Polinice.
Creonte
Com a morte
dos irmãos, filhos de Édipo, assume o reinado de Tebas, Creonte.
Seu édito
contra Polinice – negando a sepultura - foi assim explicado por ele:
Eteócles
que, “lutando em prol da cidade, morreu com inigualável bravura”. Polinice, “que só retornou do exílio com o
propósito de destruir totalmente, pelo fogo, o país natal e os deuses de sua
família, ansioso por derramar o sangue dos seus, e reduzi-los à escravidão”.
Antigone
consegue sepultar o corpo de seu irmão pouco abaixo da relva, sendo descoberta.
É
questionada por Creonte sobre a sua grave desobediência. Diz ela:
“Nem eu
creio que seu édito tenha força bastante para conferir a um mortal o poder de
infringir as leis divinas, que nunca foram escritas, mas são irrevogáveis”.
(...)
Creonte: “Ah! Nunca! Nunca um inimigo me será querido,
mesmo após sua morte.”
Mas, Antigone: “Eu não nasci para partilha de
ódios, mas somente de amor!"
Hamon, filho de Creonte, noivo de Antigone
Questiona o
pai pela dura resolução em condenar a morte a jovem:
“Quanto a mim, ao contrário, posso observar às
ocultas, como uma cidade deplora o sacrifício dessa jovem; e como, na opinião de
todas as mulheres, ela não merece a morte por ter praticado uma ação gloriosa.”
(...)
"Ela morrerá, eu sei! Mas sua morte há-de causar uma outra!"
(...)
"Ela morrerá, eu sei! Mas sua morte há-de causar uma outra!"
Mesmo com
todas as criticas à resolução, o édito de Creonte, por sua ordem, fora levado à
frente. Antigone foi levada a um sítio
deserto e encerrada viva em um túmulo subterrâneo, “revestido de pedras, tendo
diante de si o alimento suficiente para que a cidade não seja maculada pelo
sacrifício.”
Tirésias, o adivinho
Revela a
Creonte que sua resolução lhe trará graves consequências e desgraças.
Influenciado
por Tirésias, convencido pelo clamor geral em salvar a jovem Antigone, Creonte
se apressa em libertá-la do túmulo.
Tardiamente.
Ao lá
chegar, encontra Antigone que se suicidara enforcando-se com os cadarços de sua cintura
e lá está o seu filho Hemon em desespero. Cospe no rosto do pai que se
aproximara, que clamava que dali saísse, mas seu filho tira a espada, tenta atingi-lo, e se
suicida fincando a espada contra o seu próprio peito.
Eurídice
Esposa de
Creonte e mãe de Hemon
Sabendo da
morte do filho Hemon, Eurídice se fere com um punhal, suicidando-se com “um
profundo golpe no fígado, ao saber da morte de Hemon.”
Cleonte
entra em profundo desespero, sentindo-se culpado pelas mortes de Antígona, de seu filho Hamon e de sua esposa Eurídice. Pela sua tragédia.
“Não
formules desejos...Não é lícito aos mortais evitar as desgraças que o destino
lhes reserva!”
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