O vento
suave sopra de um modo que poderia sugerir um poema qualquer com rimas, ou sem
elas exaltando esse momento. Único.
Entardece,
esse vento com seu frescor ameniza o calor tórrido e faz com que, além de
respirar fundo, tenha uma inspiração, uma busca de não sei bem o quê e onde.
Mas, é um sentimento sensível, de paz. Há o silêncio – que tenho o direito de
usufruir. Esse raro momento.
Medito.
Nessas tardes, quando há essas coincidências todas entendo um pouco mais o
significado do relaxamento interior pelo respirar pausado que bate fundo no
peito.
Minhas
misérias, captadas num vácuo da mente, se afastam envergonhadas e há esse
sentido harmonioso a tudo se sobrepondo. As nuvens se desajeitam como sempre se
desajeitam. Formam estrias.
Aquela branca vindo tal qual algodão limpíssimo,
por alguns instantes desenha...um caboclo? olhando para o alto, mãos cruzadas
em oração?
Talvez ainda
chova mais tarde um pouco. Nuvens escuras estão se aproximando. Que venha a
chuva, sinfônica.
“O vento vai
para o sul, e faz o seu giro para o norte: continuamente vai girando o vento, e
volta fazendo os seus circuitos”.
Essa frase é bíblica.
Levanto-me na
preguiça e alcanço a Bíblia já aberta num livro específico. Costumo me cansar
com os textos bíblicos porque exigem menos que leitura literal, interpretações.
[Já escrevi sobre esse tema, “Intuição
desvendada”, crônica de 20.09.2009].
Mas, se tem livro que me deixa perplexo, é “Eclesiastes”:
“Atentei para todas as obras que se fazem debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição do espírito”.
[Vaidade, nos dicionários: “desejo imoderado de atrair admiração ou homenagens, presunção, futilidades...”].
“E olhei eu para todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também para o trabalho que, trabalhando, tinha feito, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito, e que proveito nenhum havia debaixo do sol.”
Claro que o objetivo de tal texto é informar sem rodeios que no fim nada restará das riquezas, da fama, da fortuna, porque do seu autor só restará o pó. As placas, as homenagens se perdem no tempo, enferrujam, perdem-no viram pó, areia. “Quem era ele?”
[Já escrevi sobre isso, “Da vaidade ao pó (Reflexões sobre a terra prometida)” de 24.04.2011].
Mas, e as palavras e os exemplos dos que obraram pela Humanidade? A Bíblia está cheia deles.
Quanto a
mim, a despeito dessa realidade da qual a cada dia todos vamos nos aproximando
– do pó -, prefiro exercer o trabalho como um significado para a vida, mesmo
sem a intensidade de antes.
Para muitos
uma maneira de elevação (vaidade?). Há que lembrar que muitos sem trabalho, por
outra, se perdem na depressão, no vício. E estes pontos respondem ao pregador:
“Que vantagem tem o homem, de todo o seu trabalho, que ele faz debaixo do sol?”
A Natureza trabalha e se renova sob nossos olhos.
E eu mesmo
já disse, alhures, que “a vaidade impulsiona o mundo, porém.”
Depois de
amanhã, será segunda-feira “brava”. Se não iniciar meu caminho nos rumos do pó
– esse momento misterioso que nos “apaga” -, antes, terei tarefas e trabalhos a
executar, com ou sem vaidades.
A chuva está
chegando. Ela irrigará esta parte da terra. Que venha, sinfônica.
Fotos:
1. Nuvens, de Milton Pimentel Martins
2. Lavorando a terra
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