08/12/2014

A RIQUEZA E O TRABALHO EM “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” [Allan Kardec]

Menos pelos princípios, que eu respeito, mas para conhecer um pouco mais o posicionamento espírita sobre os Evangelhos de Cristo, estou acabando de ler o livro supra de autoria de Allan Kardec, escrito em 18 de abril de 1857.
Neste século XXI e essa discussão não é nova mas que assume condições de “foro de cidade” de tempos em tempos, volta-se a discutir a concentração de renda – o aumento da riqueza na mão de poucos, e uma solução possível para diminuir esse impacto e melhorar a vida dos menos favorecidos.
Muitas são as teses, mas poucas as soluções reais. No Brasil, a Constituição estabelece que caberá à União estabelecer impostos sobre grandes fortunas mas até hoje, 26 anos depois de promulgada, esse dispositivo não foi regulamentado.
Se levar a sério um livro – romance político, direi, “O quarto K”, de Mario Puzzo – afirmaria que os detentores das grandes fortunas, em todo o mundo, segundo se depreende da obra citada, se autoajudam e se protegem e mesmo agem para garantia de seus interesses no mundo político que, como se sabe, não prima pela honestidade.
Mas, o livro de Allan Kardec, que afirmou todos os princípios da doutrina espírita é sobretudo religioso ao interpretar sob essa visão, os Evangelhos de Jesus.
Dessa leitura se sobressai um conceito básico que se repetirá ao longo da obra:
Fora da caridade não há salvação
[E também a humildade e o perdão]
Desde logo mencione-se o versículo no qual Jesus diz “que mais fácil é passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico nos Reinos dos Céus”, a interpretação espírita dada tem a ver com a tradução equivocada ao longo dos séculos entre camelo e cabo

À mesma palavra, com duplo significado, prevalecera o primeiro sentido, mas o termo cabo é o que se coaduna ao texto evangélico, porque feito de pelo de camelo e não o próprio dromedário que não poderia passar pelo fundo da agulha.
Mas, a riqueza existe e não é desprezada no livro de Kardec e aceita sempre se observado aquele princípio da caridade:
Ricos! Pensai um pouco nisso. Ajudai o mais que podeis aos infelizes; dai, para que Deus um dia vos retribua o bem que tiverdes feito; para que encontreis, ao sair de vosso envoltório terrestre, um cortejo de Espíritos reconhecidos, que vos receberão no limiar de um mundo mais feliz.”
Em crônicas diversas sempre demonstrei minha perplexidade com os contrastes que há neste mundo: praticamente vivendo lado a lado, seres humanos virtuosos com alto grau de espiritualidade e outros num estágio de barbárie que praticam atos estarrecedores e abomináveis.
Dai porque o livro espírita não deixa de lembrar que “a Terra pertence à categoria dos mundos de expiações e de provas, e é por isso que nela o homem está exposto a tantas misérias”.
Mas, há aqui, nesta Terra, apesar de tudo, a “lei do progresso” que avança.
E, então, quanto à riqueza como fazê-la inteligente, incentivar o progresso e, sobretudo, a caridade?
É torná-la instrumento da diminuição das desigualdades, ajuda permanente aos que estão em volta do rico e sofrem as agruras da miséria, da pobreza extrema. Por isso, não deve reter o rico a riqueza para seus interesses pessoais e egoístas mas, com ela, promover o progresso geral, incrementando a produção e as ocupações, garantindo a justa compensação pelo trabalho.
A fortuna dada aos ricos não passa de um “empréstimo” dado por Deus e todos eles, os ricos, que deverão prestar contas do que fizeram quando se tornar ela inútil ao fim da vida terrena:
Oh, vós, ricos que empregardes segundo a vontade do Senhor, vosso próprio coração será o primeiro a beneficiar-se nessa fonte benfazeja, e tereis nesta vida os gozos inefáveis da alma, em vez de gozos materiais do egoismo, que deixam o vazio do coração”. (Fenelon).
E quanto às esmolas que Jesus falava em sua época, um modo comum de caridade, diferente dos tempos atuais com os meios de produção e tecnológicos desenvolvidas, com fortunas imensas acumuladas mas, mesmo assim, “a todos que podem dar, pouco ou muito, direi, portanto: dai esmolas quando necessário, mas o quanto possível convertei-a em salário, a fim de que aquele que a recebe não tenha do que se envergonhar”.
E, também, incentivar o trabalho garantindo o bem permanente da família!


PARA ENCERRAR:
O livro de Allan Kardec informa que depois de passarmos pelas tribulações da vida nas várias encarnações, chegará o tempo em que viveremos num mundo de extrema felicidade. 
Mas, “a pergunta que não que calar”: o que somos nós individualmente, o que almejamos – se é que almejamos algo – se sequer sabemos quem somos e o que aqui fazemos neste mundo de expiações e provas? Afinal, qual o sentido disso tudo, de tantos desgostos e tragédias à nossa volta? Somente as expiações e provas explicam?

4 comentários:

Shirley Brunelli disse...

Milton, esse assunto é bastante complexo e exige discernimento . Temos muitos milênios de estrada pela frente, você bem sabe.
Quanto às diferenças sociais, isto é, sobre ricos e pobres, cada um está no lugar que alcançou. Além de termos nosso carma individual, fazemos parte do país em que vivemos. A cada minuto preparamos o nosso futuro, o nosso destino...
Belo texto.
Um abraço!

Shirley Brunelli disse...

Reli esse texto, Milton. Ficaria horas conjecturando sobre ele.
Mas, uma coisa é certa, colhemos o que plantamos e mesmo ao fazermos caridade, precisamos ter discernimento, isto é, saber quem e quando ajudar.
Paz e Luz!!!

TEMAS LIVRES disse...

Então, Shirley, meu interesse pelo tema, nessa parte do "Evangelho Segundo o Espiritismo"
, se deu por explicar o trabalho e a riqueza - sem culpa, quando útil para o desenvolvimento humano - e que o rico para ir para o céu - ou instâncias mais elevadas da espiritualidade - não será tão difícil quanto um camelo passar pelo "fundo da agulha". Aliás, relendo o Bhagavad Gîtâ, há capitulo referente à ação e ao trabalho, práticas que se situam entre as necessidades humanas de aprendizado e evolução.

Caio Martins disse...

Meu caro e preclaro amigo Milton Martins, somos os bichos mais perigosos e vorazes do planetinha desvairado desde sempre. Destruímos todas as espécies, incluindo a própria, até com as ações mais "inocentes".
Certamente construímos teorias de excepcional criatividade para justificar tal fim. Algumas generosas e construtivas para si - penso ser o caso - e outras mesquinhas e destrutivas em si, ainda que veladas por sagacidade hipócrita e com fins obscuros, via de regra indefensáveis.
Mas, crenças que consolam e confortam, podem ser toleradas. Forte abraço!