O “Inferno”,
novo livro de Dan Brown e a sua visão sobre o inferno de Dante Alighieri (Divina
Comédia), e uma mensagem apocalíptica sobre a explosão populacional. (1).
Debrucei-me
sobre o novo livro de Dan Brown, “Inferno”. Dentro de minhas possibilidades
tenho por hábito não me prender a um tipo determinado de literatura, comecei a
leitura com alguma desconfiança pelo apelo comercial que a obra poderia conter.
E ela contem
mas há que destacar que no seu enredo trepidante há muito de cultura e
descrição de pontos turísticos de Florença, Veneza e Istambul que normalmente
fogem da atenção ou do interesse do viajante e do turista.
Eu que conheço as duas cidades italianas lamentei muito não ter chegado nem perto
de todas as atrações que elas resguardam e reveladas pelo famoso autor de
“Inferno”
Pois bem,
gostei do livro.
A história de Dan Brown tem como ponto alto, o
“Inferno” da Divina Comédia obra célebre de Dante Alighieri e nessa linha
engendra as novas aventuras do seu herói Robert Langdon. O ponto de partida da
história se fixa na pintura clássica do artista florentino Sandro Boticelli,
horrível, “Mapa do Inferno”, que exatamente representa esse lugar de castigos
eternos, segundo a interpretação do pintor às descrições de Dante Alighieri em
sua obra. (2).
Já escrevi na minha
crônica “Apocalipse Agora” sobre as seis bilhões de almas que habitavam a Terra
há uns 15 anos e que agora já ultrapassam sete bilhões. (3).
Não consegui redescobrir com
precisão as origens das informações, aquelas que batem na memória, lidas
nalgum lugar há décadas e que se perderam.
Mas, nesse passado de
décadas, certamente que numa publicação de proposições metafísicos, li que a
Terra poderia suportar até seis bilhões de habitantes e suportar essa 'carga' com
certa, “dignidade”.
Não de hoje, pois, tenho
aquela marca na memória imaginando então, atingido aquele número, quais
seriam as consequências.
Se bem me lembro, o
número foi ressaltado na imprensa à época, mas logo superado embora a devastação
ambiental, já elevada não tinha os rigores catastróficos de hoje, a
fome persistia em países sem e em desenvolvimento, mas havia certo controle, um
sentido de solidariedade, ainda que por ações limitadas de ajuda.
Hoje, com sete bilhões,
constata-se a degradação ambiental preocupante, grave, poluição climática
desenfreada, aumento da violência e da barbárie, as guerras de sempre fazendo
vítimas inocentes e inocentes úteis, a fome, a inanição e do abandono à própria
sorte de imensos contingentes populacionais.
E com tal quadro de
horrores visto das nossas janelas tão próximo, ao alcance da mão, costuma gerar na
mente de grandes grupos populacionais, dos mais variados níveis culturais e
religiosos, alguma expectativa de catástrofe mundial iminente, como se deu, por
exemplo, com as supostas previsões contidas no calendário maia, que eclodiriam
em dezembro do ano passado.
Afinal de contas, não há
muito, em dezembro de 2004, houve o “tsunami” na Ásia fazendo milhares de
vítimas (mínimo de 220 mil mortos) e imensos estragos materiais e mais
recentemente os terremotos no Japão dos quais, além das vítimas humanas,
provocaram desastres radioativos gravíssimos com a destruição parcial de usinas
atômicas.
Então, esse rumo para o
qual segue o mundo tem sido para mim uma preocupação, digamos, “filosófica”, mas não omissa.
Não para mim que não enfrentarei as dificuldades que se materializam e se
agravam, mas meus descendentes.
Hoje, a vida já não está
fácil de viver, convenhamos.
O livro “Inferno”, de Dan
Brown coloca entre os protagonistas um cientista brilhante, apocalíptico,
obsessivo, Bertrand Zobrist que altera de modo sutil pontos do quadro de Botticeli deixando
uma mensagem cifrada sobre as ameaças de um vírus por ele criado que ameaçaria a própria
sobrevivência da humanidade.
Langdon, então,
juntamente com uma médica aliada enfrentariam dificuldades múltiplas para
decifrar a mensagem e as consequências sombrias que adviriam.
Esse cientista pregava
que a humanidade enfrentaria o caos, a degradação moral, a falta de alimentos, água,
crises ambientais insolúveis com a explosão populacional, que antes de 2050
contaria com nove bilhões de habitantes.
Há referências às teses
malthusianas que alertam para a crise da falta de alimentos considerando o
crescimento da população em progressão geométrica enquanto os alimentos em
progressão aritmética. (4)
Hoje, reafirme-se, há imensos bolsões
de fome no mundo vitimando milhões de pessoas, incluindo crianças. Mas, para
sustentar os “bem nascidos e remediados”, é inegável que a degradação ambiental
se acentua exatamente para produzir alimentos a que custo for.
Pois bem, inserido no
enredo da história, no livro de Dan Brown de 443 páginas movimentadas e cheias
de reviravoltas se sobressai esta mensagem final:
“Os lugares mais sombrios
do Inferno são reservados àqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise
moral. [Para Langdon] o significado destas palavras nunca estiveram tão claros:
Em situações de perigo, não existe pecado maior do que a omissão.”
Essa frase repetida vezes
no livro de Dan Brown, creio se baseia neste trecho no Inferno de Dante
Alighieri:
“Tal horror espicaçava-me
a mente, e eu disse a Virgílio: Mestre, que ouço agora? Que gente é esta, que a
dor está prostrando?
Queixa-se dessa maneira”,
tornou-me ele, “quem viveu com indiferença a vida, sem ter nunca merecido nem
louvor nem censura ignominiosa. Faz-lhes companhia um grupo de anjos
mesquinhos, que a Deus não manifestaram nem fidelidade nem rebeldia, expulsos
dos céus; nem o inferno profundo os acolhera, pois os anjos rebeldes se
jactariam de lhes serem superiores em algo.” (5).
Os que desejarem saber o
desfecho dessa história, precisarão ler o livro de Dan Brown.
Legendas:
(*) Nome no
Brasil, do filme “Battle Cry” de 1955 – Diretor Raoul Walsh, ambientado nos
tempos da 2ª Guerra Mundial
(1) “Inferno”
de Dan Brown - Editora Arqueiro (2013)
(2) Sandro
Botticelli, nascido em Florença, Itália, em 1445 e lá falecido em 1510. Uma
obra famosa do artista: “O nascimento de Vênus”
(3) Minha
crônica “Apocalipse Agora”, neste blog, de 13.12.2011
(4) Thomas Robert Malthus (14.02.1766 - 23.12.1834)
(5) “A
Divina Comédia” de Dante Alighieri (Florença, 1°.06.1265 – Ravena, 13 ou
14.09.1321) é composta de três partes: “visita” do autor como personagem, ao inferno
e ao purgatório, guiado pelo poeta latino Virgílio. Conhece primeiramente o
inferno e todos os pecadores, que incorreram nos mais variados pecados,
sofrendo os castigos eternos segundo suas culpas, ao purgatório e, quando chega
ao paraíso, é conduzido por Beatriz, sua amada, cujo amor não foi
correspondido.
Vali-me
nesta crônica da edição da L&PM Pocket de 2006, “Obra [na maior parte]
adaptada para prosa”.
Imagens:
Florença, Itália
Quadro de Sandro Botticelli "Mapa do Inferno" e detalhes em zoom
Apêndice:
MATA ATLÂNTICA EM MINAS
VIRA CARVÃO PARA OS FORNOS DE SIDERÚRGICAS.
Ainda que
escrevendo somente para mim, nos veículos restritos que tenho disponível,
inclusive neste, escrevi, entre outros, dezenas de artigos revelando minha
angústia com a devastação ambiental.
Essa
devastação no Brasil é dolorosa e preocupante, mas a grande maioria dos povos
se fecha num casulo principalmente por estas plagas, vibrando com novelas, com
o futebol em particular, ficando ao “Deus dará” a providência para esses abusos
ambientais inomináveis.
Afinal de contas,
ouve-se – e há literatura de autoajuda recomendando isso -, “eu vivo o presente – o
futuro a Deus pertence”; mas nesse futuro insondável há o conjunto familiar,
filhos e netos.
Há dias
voltei a me escandalizar, porque já estive revoltado antes, com esta notícia e
mesma notícia:
“(...) É a
quarta vez consecutiva que o Estado [Minas Gerais] lidera o ranking de perda da
floresta [Atlântica].”
“Sozinho, o
Estado foi responsável por metade do desmatamento do período, ali realizado
principalmente para fazer carvão para abastecer fornos de siderúrgicas.
Considerando somente as florestas (e não outros tipos de vegetação da Mata
Atlântica), houve perda de 10.7512 há no Estado entre 2011 e 2013 – um
crescimento de70% em relação ao ano anterior.”(Jornal “O Estado de São Paulo”
de 05.06.2013).
É isso
Árvores nobres,
de uma reserva diminuta, algo em torno de 8% de sua extensão original, sendo
convertidas em carvão para sustentar, ainda hoje, com tanta tecnologia
disponível, siderúrgicas mineiras. Trata-se de insanidade inacreditável, um
crime que se mantem impune. Por quais interesses essa prática se mantem é bem
fácil entender: a linguagem do dinheiro que a poucos beneficia.
E a
impunidade é tanta que o governo federal comemora, no que se refere à Amazônia
ainda cheia de elementos a desvendar, tantas vidas selvagens sendo ceifadas, os
quantos quilômetros foram devastados de um ano para outro. Trata-se de postura
enganosa porque de ano para ano, num mais noutro menos, a floresta vai
desaparecendo mesmo que todos saibam que é ela que tempera o clima.
Há com
efetividade um círculo de incompetência e irresponsabilidade porque os atos
insanos se referem ao aqui de agora.
O futuro,
ora, a Deus pertence.
No trajeto
do estado de São Paulo para Minas Gerais, via Anhaguera e na sua continuação no
território mineiro, são imensas as áreas devastadas, largas extensões
abandonadas. Há um misto de plantação de cana e milho. Nessas áreas a perder de
vista, não houve, de regra, a preservação pequena que fosse, da vegetação
nativa ou replantio de árvores, de micro bosques.
Claro que
não adentrei em tais áreas, mas nada me convence que minas foram levadas de
roldão pela mesma devastação que aumenta a incidência da seca.
O que
adianta se referir a tais omissões e insanidades? Se a ninguém, serve para mim.
Não serei eu quem se conformará. Não sou omisso.
Um comentário:
Caro Milton, somos realmente complicados: de um lado, construímos coisas de rara beleza e, de outro, destruímos o que nos cerca... Alguém, em algum momento, errou no projeto!
Forte abraço!
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