Algum
remorso
Dos
meus filhos pequenos – quem me dera voltar no tempo e fazer coisas
indiferentes! Brinquedos, folguedos, participação, carinho.
Gratidão
aos anjos
Aos
meus anjos da guarda de me guiarem naqueles tempos loucos de descer
uma longa avenida em declive radical, de bicicleta e outras
barbaridades (rua Baia Grande, Vila Bela, SP até a ponte do rio
Tamanduateí – divisa com São Caetano – que não existe mais).
Ando
esquecido deles mas acho que eles estão por perto não esquecidos de
mim e no silêncio sopram sabedoria nestes tempos difíceis.
Nestes
tempos em que sobram sopros malévolos.
Passeio Astral
Chego
perto do Cine Vitória, de São Caetano, numa madrugada escura. Que
viagem é essa? Era nesse ponto, ali naquela esquina (Baraldi com
Santo Antônio) que se davam os encontros e debates entre estudantes
e acadêmicos. Tive vontade de falar... com quem? O cinema não
existe mais, onde os seus frequentadores, onde os debates que
resolviam a vida, o país sempre sem solução? O tempo passou
(passou?) e estou aqui nessa escuridão da madrugada.
Preciso
estar fisicamente por ali dia desses. Deve valer a pena repensar.
Parar um pouco.
Constrangimentos,
lembranças
De
um professor de matemática, eufórico, no exame oral, com um
visitante ao seu lado. Seus alunos não sabiam nada dos exercícios
das provas. Na minha vez, vi-me exposto a coisas “em grego”
transcritas na lousa para resolver. Eu era a esperança. Nada feito.
Frustrado. Nervoso, constrangido aprovou todos. E o visitante parecia
compreender o analfabetismo matemático de seus alunos que nas aulas
faziam cara inteligente. Nas provas, só colas. Nos exames faltaram
elas.
Inglês
De
uma professora de inglês, rigorosa ao extremo desejando que seus
alunos aprendessem a língua da América na marra. Nas chamadas orais
para interpretar em inglês um texto na classe, rezava para não ser
sorteado. Seria zero e a vergonha. Anos mais tarde pagaria pela minha
negligência e dificuldade em aprender o idioma. Um trauma.
A
minha necessidade de inglês chegara a ser tão intensa mais tarde que me
“matriculei” num curso em São Paulo que usava um certo método
se não me engano denominado “teleométrique” que além das aulas
teóricas, muito corridas, exigia por algum tempo, a fixação de
microfones atrás das orelhas, no osso mastoide, que transmitia sons
da língua que iam direto para o cérebro. Resultado final: zero!
Foram
muitas as rezas para recuperar o tempo perdido.
Solidão
Pode
não ser o vazio da existência. Ela pode preencher a alma com
revelações inesperadas, interiores. Lembranças e esperanças. Além
de se misturar aos livros quando é sério o vazio.
Um pouco de música clássica não ajuda também a superar esse sentimento de perda?
Um pouco de música clássica não ajuda também a superar esse sentimento de perda?
Saudades
Da
missa das 10h40 da matriz de São Caetano. Praça Cardeal Arcoverde. As meninas desfilavam
bonitas e elegantes. Flores.
Do
baile anual das debutantes na Associação Cultural, no salão do
prédio do Cine Vitória. A fina-flor e algumas flores meio
artificiais. Mas, havia beleza. Que tempos primorosos.
Infância
Dos
divertimentos de rua, jogos de taco, da bolinha de gude. Achar o
tesouro no barranco na Vila Bela. A televisão era remota. Não havia
a rede global alienante. Não havia computador, nem internet, jogos
na tela, facebook – mesmo que ele tenha facilitado o “direito”
de qualquer dos seus membros em se comunicarem.
Se
comunicarem ou se alienarem no nada mentalizar.
Saudade adocicada: Esquálidus
Na
década de 50, a figura misteriosa de Esquálidus, amigo de Mickey
nos quadrinhos de Disney. Se bem me lembro era um ET provindo da Lua que no
começo não conseguia se comunicar com Mickey.
Depois
se comunicava em todas as línguas – falava com a letra “p”:
pLua, pamigo... - falava com os animais e plantas. Previa o futuro,
tinha força incomum, atravessava paredes e levitava.
Com
todos esses poderes não se lembrava, porém, da palavra mágica para
voltar à Lua. - ou de onde viera. Um dia Mickey ordena: “vamos dar
o fora!”
DAR-O-PHORA
era a palavra mágica. E, com ela, pronunciada, deixou a Terra e os
quadrinhos do Mickey.
O
tempo fica e a gente passa. Inexorável.
Plantas
e árvores
Protesto
perante manacá de jardim que não floria, como floriam os das
vizinhanças.
No
dia seguinte, sábado, ouvindo meus apelos, não só floriu como
perfumou o corredor. Tinha a impressão que ao chegar perto, o
perfume se tornava mais...perfumado.
Tenho
o direito de pensar que as plantas têm seus desejos e respondem a
estímulos.
Vejam esta árvore – seria ficus? – que vez por outra visito. Sob sua fronde há dignidade, o clamor pelo respeito e o verdadeiro mistério que suas vibrações exalam. Vibrações serenas de paz e emocionante humildade. E essas coisas têm muito com divindades em sua volta. (*)
Pergunto,
então, qual a repercussão moral que decorre da devastação das
florestas? Dessas catástrofes ambientais? O “suor” das matas não
são as chuvas? Qual a repercussão moral pela degradação simultânea da fauna?
Há
um preço que temos que pagar pela insanidade, pela imoralidade. E
pagamos.
(*) Essa árvores pode ser vista "ao vivo" na área verde do Carrefour Piracicaba
Amigos
Posso
afirmar que os tenho. Poucos. Aqueles principais são os que
permanecem por décadas. Que me perdoem os mais recentes. Sabem
aquela do vinho?
Amigos
que não são amigos, são aqueles do mero relacionamento
profissional. Sobre amigos que se revelaram na vida profissional,
talvez me lembre de dois que sumiram pelas voltas da vida.
Mas,
pelo menos, eles “estão” comigo até hoje.
Reconheço
que essa escassez de amigos possa ter como causa, meu modo de ser e
de encarar as coisas e
até mesmo contundente.
A foto acima é de autoria de Milton Pimentel Martins
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