Nos
idos de 1966, pouco mais de dois anos do golpe militar
– e digo isso de modo categórico – apoiado num primeiro momento por todos os órgãos influentes da imprensa e fortemente pela classe média e alta – que são basicamente os mesmos de hoje – o processo político estava por demais fechado, com dezenas de cassações de políticos e prisões dos mais exaltados à esquerda, sindicalistas e comunistas.
– e digo isso de modo categórico – apoiado num primeiro momento por todos os órgãos influentes da imprensa e fortemente pela classe média e alta – que são basicamente os mesmos de hoje – o processo político estava por demais fechado, com dezenas de cassações de políticos e prisões dos mais exaltados à esquerda, sindicalistas e comunistas.
Por
ato seu, foi fechado o Congresso Nacional.
Naquele
ano de 1966, havia perplexidade pelo modo como avançavam os
militares nas demandas políticas, começaram a gostar do poder.
E
havia um conformismo ou atitudes contidas nos meios políticos e nos
meios sociais, aí incluídos os estudantes. De espera.
Em
setembro de 1966 eu já não era tão jovem assim. Havia completado o
clássico e trabalhava num pequeno jornal em São Caetano do Sul. E
nessa empresa, nasceu uma revista estudantil.
Nas
páginas centrais dessa revista (setembro de 1966) fiz espécie de
apelo cuidadoso no andamento do processo político que se fechava,
utilizando até mesmo linguagem figurada.
[Para
exemplificar: quando me refiro a “casarão” não me lembro se me
referia ao presidente Castelo Branco ou ao Palácio do Planalto, sede
do governo.]
[O
“Pai forasteiro” fora uma referência aos Estados Unidos pela
influência que tivera na deposição de João Goulart que foi cantar
“em galho uruguaio”.]
Há
um sentido de ingenuidade nesse texto. E havia cuidado no modo de
dizer as coisas.
Com
o passar do tempo, esse conformismo que sentia em 1966 foi rompido a
partir de 1968, com o surgimento de grupos armados que passaram a
desafiar os militares. Com Costa e Silva na Presidência, foi
instituído o AI-5 em dezembro daquele ano em que pontificou de vez a
“linha dura” e a partir daí todos sabem da repressão àqueles
grupos que, por sua vez, reagiam com ações não menos violentos.
O
apelo, em forma de poema ou de rimas quando possível é este,
naquele ano de 1966 que em muito do que expressado, de modo
exacerbado serve para os dias de hoje em muitos aspectos.
A
pergunta, então, nesse tempo de espera, era: o que fazer?
De
tanta esquizofrenia isto é uma utopia
Eu
vos peço...
Meu
Pai
Ao
meu pai patrício
Brasileiro
quinhentão,
Para
poucos, estrangeiro
Até
nosso Pai
Nosso
Pai verdadeiro
Querem
naturalizar forasteiro?
Eu
vos peço, meu Pai
Meu
pai brasileiro
Cem
por cento nacional
Que
olhe de forma tal
Para
sua terra
natal,
Onde
tem palmeiras
E
já não canta o sabiá
Que
de tão papagaio
canta
em galho uruguaio
Eu
vos peço
Que voltem as eleições
Ah!
o votinho popular
Que
foi cassado por cá
Que
haja mais pão
O
pão nosso de cada dia
Que
de tão duro foi ao chão,
Comeu-o
a sádica inflação.
Que
o nosso dinheiro
Ah,
Ah, Ah, o cruzeiro
Não
tenha mal cheiro
Que
o estudante seja livre
Possa
se unificar
Sem
se subverter e marginalizar
Que
as nossas indústrias
Nossas
grandes e pequenas firmas
Não
se fechem de fina!
Que
a forme e a miséria
deixem
de existir,
Que
horror!
De
tanta esquizofrenia
Isto
é uma utopia!!!
Onde
os nossos ladrões
E
os nossos tubarões
Roubam
sempre de dia.
Até
quando ouviremos promessas
E
quando elas não vêm
A
resposta é: ora essa!
E
que a atual conjuntura
termo
antipático da linha dura
deixe
de fritar em tal fervura.
E
o brasileiro
Seja
bem brasileiro
melhor
que o estrangeiro
Noventa
por cento nacional
Dez
por cento sentimental,
Precisamos
muito
De
muita compreensão
Menos
ambição
Muito
boa intenção
Eu
vos peço meu Pai
Iluminar
o casarão
Com
tal é forte clarão
Que
ele volte a ter ação
Ação
e compreensão.
Mas,
sei meu Pai
Que
errar é humano
E
que os homens
Não
sabem o que fazem
muitas
vezes...
Eis
o nosso sacrifício
Pois
somos pacíficos da paz
Ainda
que não votemos
Ainda
que choremos
Ainda
que não comamos
E
ainda que soframos.
Eu Vos peço...
Um comentário:
Ah! Milton, não sei opinar sobre política... Claro, tenho plena consciência do que se passa, vejo que a situação não mudará tão cedo...
Gostei do poema.
Grande abraço!
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