Exercício mental:
Nestes tempos de comunicação
eletrônica, assumo a minha perplexidade pelos recursos postos à disposição.
Entre esses recursos, predomina o facebook, um misto de alienação e empolgação
que abriu a possibilidade a todos de se comunicarem. Considero um meio
democrático antes inimaginável.
Pois bem, eu mesmo não nego minha empolgação
com o facebook que vem sendo considerado por muitos um veículo que afasta as
mentes da leitura tradicional. A charge de John Holcrof abaixo dá esse sentido.
Por causa disso e para não me
curvar de modo exacerbado aos recursos impressionantes do facebook e de outros
recursos disponíveis é que faço breve resenha dos livros que li nos últimos
meses, na verdade um verdadeiro exercício mental.
“Dez contos para canções de Chico Buarque”
Esse livro foi publicado pela Companhia
das Letras e patrocinado pela Caixa Econômica Federal.
Edição esmerada que talvez explique o
vínculo do compositor – cantor com o lulopetismo.
O livro inclui dez contos tendo como
fonte de inspiração o mesmo número de canções de Chico Buarque
No geral o livro é ruim.
Sei que é fácil criticar obras
alheias, mas há contos no livro que homenageiam a minha mediocridade.
Salvam-se os contos de Carolla Saavedra (“Entrelaces”), Luiz Fernando
Veríssimo (“Feijoada completa”) e Mia Couto (“Olhos nus: olhos). Talvez um ou
dois mais.
Tem um conto denominado “A calça
branca”, sobre namorados homens muito ruim. Nada contra o namoro homossexual,
mas esse conto passou batido na análise da qualidade.
Mesmo com as ressalvas acima, o livro
é descartável...
“O Aleph” de Jorge Luiz Borges
É o um livro de contos do consagrado
autor argentino. No total são 17 contos.
O livro se caracteriza por um estilo de maior
erudição o que pode exigir uma segunda leitura. Há um quê de místico nos contos
especialmente no último, o Aleph que dá nome ao livro.
Esse conto tem uma característica: o
narrador se relaciona, ainda que exista rancor contido entre ambos, o primo de
sua musa, Beatriz.
Esse interlocutor passa a escrever um
poema interminável, desprezado pelo narrador que era obrigado a ouvir aborrecido
estrofes e estrofes.
Mas, onde entra o Aleph?
Naquele círculo de alucinações ou nem
tanto, o poeta disse o ter descoberto no porão de sua casa, esclarecendo que um
Aleph é “um dos pontos do espaço que contém todos os outros pontos”.
No porão, o próprio narrador acaba
captando o Aleph sendo exposto a revelações universais e de si próprio: “...vi meu rosto e minhas vísceras, vi teu
rosto, e senti vertigem e chorei, porque meus olhos tinham visto aquele objeto
secreto e conjectural cujo nome os homens usurpam mas que nenhum homem
contemplou: o inconcebível universo.”
Aí eclode aquele sentimento tremendo
que afeta e fere todos os seres humanos, num dado momento da vida: a inveja. O poeta que apenas suportava foi premiado pelo longo
poema e o narrador, pela sua obra, não recebeu nenhuma referência.
[De acordo com os estudiosos
da linguística, o aleph do idioma
fenício teria dado origem ao alpha grego que, posteriormente, originou a letra
“a” no alfabeto latino.
Para os adeptos das doutrinas cabalísticas, o aleph é interpretado
como um símbolo místico e espiritual, responsável por representar Deus como “o
começo de tudo”. De: www.significados.com.br]
Tatiana Belinky, juntamente com seu
marido Júlio Gouveia fez parte da pré-história da televisão, nos primórdios da
Tupi na qual adaptaram entre outras, as obras de Monteiro Lobato, “O sítio do
pica-pau amarelo”. Fora escritora, autora de inúmeras obras de literatura
infantil.
Neste, a do ”Transplante de menina”,
autobiográfico, pode ser considerado “juvenil”.
Russa, nascida em São Petersburgo,
com 10 anos de idade, no final da década de 20, quando o país vivia as
contradições de conflitos internos graves, viajou com seus pais para o Brasil.
É a partir daí que relata as todas as
suas experiências, as dificuldades de adaptação, da língua, de moradia até que
residiram em São Paulo, na rua Jaguaribe, no bairro Santa Cecília.
Dai a convivência com outras crianças
brasileiras, o bullying que não era assim conhecido, sua coragem e aventuras.
Nas primeiras páginas, ela escreveu isto:
“Hoje – e já há muito tempo – eu não trocaria o Brasil por nenhuma espécie de “paraíso terrestre” em qualquer outra parte do mundo (...). E no Brasil, não gostaria de viver em qualquer outro lugar a não ser em São Paulo, essa “Pauliceia Desvairada”, essa megalópole caótica, fervilhante, dinâmica – e, sim, muito linda, onde cresci, estudei e lancei minhas raízes. E onde espero descansar quando chegar o meu dia”.
O relato se encerra em 1932, fazendo
a Autora referência à revolução constitucionalista de que eclodira naquele ano,
com a derrota dos paulistas.
Tatiana Belinky faleceu em 2013.
“O velho e o mar” de Ernest Hemingway
“O homem que calculava” de Malba Tahan (Julio Cesar de Mello e Souza)
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