A
idade em Marte
Há uma seita esotérica que informa que o tempo
não existe. O exemplo nada científico dado para essa crença é que nos sonhos,
nas denominadas viagens astrais, o indivíduo viaja milhares de quilômetros em
fração de segundos, o que faria em dias, fosse uma viagem “física”.
Quanto a mim, que creio e vivi experiências
dessas viagens, cheguei a gravar nome de rua em algum lugar para o qual me
transportei. Acredite se quiser!
Na minha idade não receio em revelar essas
coisas.
Então, por causa disso, tenho por hábito dizer
que “eu passei pelo tempo” e não que o tempo passou para mim.
Dou o motivo sem qualquer sofisticação, de modo
simplório:
Movimento de translação (em volta do sol) da
Terra e de Marte:
. Terra: 365 dias e 6 horas (dia de 23h56
minutos)
. Marte: 686,98 dias (dia de 24h37 minutos)
Imagino que se eu contasse 60 anos de idade,
pelo movimento de translação de Marte que é quase o dobro da Terra, lá no
planeta vermelho eu teria pouco mais de 31 anos.
[E
quem disse que o marciano contaria o seu tempo de vida como nós contamos por
aqui?]
Onde está o “tempo” universal nessa imensidão com
incontáveis sois e planetas girando em torno deles nos desafiando a compreensão?
Que tempo é esse? Há tempo?
Tempo, tempo, tempo...
Islã
e suas decorrências. Os misericordiosos, os
impiedosos e os “infiéis”
A
forma “Islã” é derivada do árabe “assalã”, que significa paz, harmonia,
confraternização. Islã exprime, afinal,
resignação à vontade de Deus.
Para
o árabe muçulmano, a denominação de infiel é dada a todo indivíduo
não-muçulmano, isto é, ao indivíduo que não aceita os dogmas do Islã e não
segue a trilha do Alcorão, que é o Livro de Allah. (*)
Um
muçulmano piedoso, sincero, quando se refere a um infiel (cristão, idolatra,
pagão, judeu, agnóstico ou ateu), isto é, quando cita o nome de um servo de
Allah que viveu no erro, nas trevas do pecado (depois da revelação do Alcorão),
por não ter sido esclarecido pela fé muçulmana, acrescenta este apelo:
-
Allah se compadeça desse infiel!
Ou
recorre a esta fórmula, que é, igualmente, piedosa:
- Com ele (o infiel) a misericórdia de Allah!
Aceitam
os muçulmanos, como dogma, que o infiel, depois da vitória do Islamismo, tendo
vivido na heresia, longe da verdade, estará, fatalmente, depois da morte,
condenado às penas eternas. É preciso, pois, implorar sempre para os infiéis
(especialmente para os sábios), a clemência infinita de Allah, o
Misericordioso. (**)
Temos que há vertentes do islamismo que não são
misericordiosas, mas cruéis e que querem levar os infiéis (e até mesmo fieis) desde
logo “às penas eternas” do modo mais doentio, hediondo. Há os fieis soberbos,
certos de que o islamismo dominará o mundo ocidental a partir da Europa.
Já se disse, é e certo, que há muitos muçulmanos
piedosos que vivem ou viveram ao lado de muçulmanos cruéis e se mantem silentes
assumindo uma cumplicidade tácita (!).
Tempos, tempos, tempos.
(*) O Alcorão foi “sistematizado” entre 632 a 650
dC.
(**)
Todo o texto em itálico foi extraído
do livro “O Homem que calculava” de Malba Tahan (Edição de 2005 – Editora
Record).
Essas
coisas estranhas do não acordar
Um cochilo com a TV ligada.
De repente a sensação de que está meio
acordado. Parece ver-se na sua frente a alguns passos. Muito estranho.
Bate palmas para retornar ao corpo relaxado na poltrona e acordar de vez.
Não
consegue. Ouve com nitidez o som da
televisão. Meio em pânico vai até o lavabo pensando em molhar as mãos e o rosto
e acordar pelos efeitos da água fria.
Mira-se no espelho e seu rosto não aparece.
Apenas uma luz tênue se espalha no espelho.
Pensa em ter aberto a torneira e aí acorda.
Concorda que essa experiência, já não é a
primeira vez, tenha algo a ver com a passagem natural de plano, sem traumas,
vivendo aquele momento de confusão e consciente entre um mundo e outro.
Só que nesse caso não mais acorda, mesmo vendo
o corpo relaxado à sua frente. Não funcionará, então, o simbolismo da água
fria.
E aí, de
um jeito ou outro segue para outro plano deixando tudo para trás mesmo que não
quisesse.
O
afogado
Vamos aceitar que na morte por afogamento no
Rio São Francisco do ator global todos os episódios que resultaram no evento
trágico, relatados pela atriz que lhe fazia par nas gravações da novela, sejam
verdadeiros, isto é, não houvera interpretações eventualmente distorcidas pelo
pânico do momento.
O ator em franca ascensão, falecido, era
professor de educação física, trapezista, de estatura acima da média e sabia
nadar muito bem.
Ele tinha um lado de ator palhaço. Isso lhe dá
um ponto a mais na arte de interpretar. Palhaço tenta a alegria.
Ambos entraram no rio e fora ele tragado pelas
correntes. Houve tentativa de salvamento pela atriz que, perto dele, franzina, conseguira
apoio numas rochas.
Por que ele não?
Revelara que o ator dizia que não estava
conseguindo se mover. Ela viu por último o seu olhar. Da morte? Do apelo? Da
angústia? A iminência do fim dos seus sonhos? Tudo numa fração de segundos.
Essas mortes excepcionais, de figuras diferenciadas, que repercutem num
dado momento são sempre um lembrete a todos pela fragilidade do sopro e à
soberba.
Porque nem ela, a soberba, se salva neste
terreno de provações que caminhamos no dia a dia.
Tenho tido impressões sensoriais que colocam em
questão essas relações improváveis entre o ser humano, a vida na Terra e o
universo.
Na verdade, para essas sensações ocasionais não
tenho sequer palavras para explanar com clareza.
Já escrevi deste modo mas sem representar com
precisão o sentido superior disso tudo que me deixa perplexo de vez em quando:
“Não poucas vezes me questiono num exercício
desafiador, qual o significado da espécie humana nessa visão de universo sem
começo e sem fim. Para que servimos além de devastar o planeta em que vivemos?”
(*)
(*) Do meu livro “Joana d’Art”
“Operações
inimagináveis”
Em março de 2004, num jornal semanário no ABC,
escrevi uma crônica sob esse título que teve como motivação o anúncio de um
transplante de rosto, beneficiando uma jovem mulher americana que fora vítima
de grave acidente de trânsito, com seu veículo incendiado causando graves
lesões em sua face.
Dizia então constituir algo inimaginável, num
dado momento, feito o transplante de rosto – e transplantes tais ocorreriam
mais tarde e ocorrem – o paciente se olhar no espelho e ver mirado alguém “desconhecido”.
Para ilustrar esse suposto estado aflitivo que
me ocorria então, fizera uma ilustração valendo-me do filme “O segundo rosto”
(“Seconds”) de 1966 do diretor John Frankenheimer cujo enredo se refere a um
homem descontente com sua vida insípida que decide se submeter a uma plástica
sofisticada e radical e, na retirada da bandagem, surge um galã, Rock Hudson.
Passado um tempo, esse personagem transformado
constata que aquele “novo modelo” também não lhe dizia respeito e pretendera mudar
de novo.
Mas, ai seu fim é trágico porque a “Companhia” que patrocinara a
cirurgia não haveria de concordar, até porque fora aquele resultado a sua “obra
prima”.
Nesse quadro impressionante, das possibilidades
possíveis – afinal, já são tantos os transplantes de órgãos -, concluía aquela
crônica num estilo de ficção:
“Sem
pretender fazer humor negro com a indagação que acho justa: será possível um
dia, meio ao estilo de Frankenstein, transplantar a cabeça sã pertencente a um
corpo debilitado, para um corpo são de doador falecido?”
E, pelas afirmações que colocavam essa
possiblidade possível, então, arrematava:
"Que
tempos, meus amigos, que tempos! Quem viver verá.”
E por que volto a esse tema tão impressionante?
Porque há um neurocirurgião italiano que já faz
experiências nesse sentido com animais – um cachorro estaria sobrevivendo com
cabeça transplantada – que anuncia para o ano que vem, o transplante de cabeça
para um corpo são de um paciente russo, lúcido, cujo corpo degenera de modo
irreversível.
Sem meditar sobre questões éticas e até
religiosas, repito o que escrevi em 2004:
“Que
tempos, meus amigos, que tempos! Quem viver verá.”