Não receio
em me repetir nas impressões que se repetem...
Misturo, na
preguiça da varanda, uma série de pensamentos que vão e vem, incluindo pessoas,
fatos e emoções que se perderam no tempo e que, num desses instantes, voltam à
mente de modo inexplicável.
Estava
exatamente refletindo sobre isso, sobre o passar dos anos – e como passaram
céleres! – chamando-me para o alto nuvens brancas sopradas pelo
vento. Formavam figuras disformes que se alteravam rapidamente a mercê do que o
vento esculpia.
Mas, ali, na
varanda naquele momento de serenidade, fui sobressaltado pela transcendência daquele
fenômeno tão corriqueiro: quais as indagações que esses movimentos somados a
tantos outros do planeta deveria fazer?
Minha mente
preguiçosa foi instada a tanto, mas percebi quão limitada ela é para um mínimo
de compreensão, não, claro, do movimento das nuvens em si, mas aquele sopro nessa
conjunção universal.
Ó ignorância
que não me deixa avançar!
Ao contrário das nuvens em movimento que se
transformam eis-me aqui plantado neste chão sem poder flutuar e mudar a forma
dos pensamentos que me afloram e que, por mais que eu os bem receba ou os
afaste, não significam transcendências que naquele momento fora chamado a pensar. Há um bloqueio.
Mas, afinal,
eu quero mesmo desvendá-las, essas transcendências?
Não sei ao
certo.
Este é o
mundo das contradições, das ofensas e dos perdões, da violência e da ternura,
do desejo e da renúncia, do nascer e do renascer, do dar e receber. Da destruição
e da reconstrução. Do amor e do ódio, da vida e da morte.
Nesse
turbilhão de contradições e desejos, não sei se as quero reveladas neste meu tempo de agora. As nuvens estão lá no alto se transformando
ao sopro do vento.
E eu somente
as observo.
Já não de
hoje, agora nessa mesma varanda me refugio sob a noite a cata das estrelas,
naquele pequeno quadrilátero que resta entre muros e sempre com a esperança de
ver movimento de algum corpo estranho deslizando no espaço.
Essa abóbada
parece ser absolutamente indiferente a este mundinho tão minúsculo e tão cheio
de ambições, traições e destruições.
A notícia
diz que “um mosaico de imagens do centro da Via láctea, tiradas com um telescópio
no Chile, registrou a presença de cerca de 84 milhões de estrelas, na maior
observação desse tipo já feita pela astronomia.”
A área de
observação seria de apenas 1% do céu...como disso se saberá, pelo tamanho do
universo?
Quem
controla essa harmonia de tantos corpos que não se chocam, que mantém distância
cautelosa entre um e outro?
A pergunta é
até redundante e primária, mas a resposta, essa não vem.
A despeito
de destruidores como somos, pouco mereceríamos dessas forças controladoras, mas
elas ainda mantêm, parece, alguma esperança de nossa redenção. Como seria fácil nossa pulverização cósmica na
nossa absoluta insignificância planetária!
Não duvido
se tais forças controladoras não esperam que nós mesmos entremos em agonia como
resultado de nossa insanidade.
Mas, na
medida em que somos destruidores de nossa própria casa, mais violência aqui
floresce, nesta escola de aprendizagem que concentra todos os níveis de
aprendizes.
Violência
não só entre semelhantes, mas também das forças revoltas da natureza – cada vez
mais. (1)
O maior
exemplo do benefício das árvores em relação ao resfriamento do clima é até
elementar.
Nessas
caminhadas que normalmente faço aos domingos num parque em cujo traçado se
transita sob árvores e em outro trecho sob o sol, naquele primeiro trecho sempre
há aquela sensação de refrescamento.
Imaginem como
o clima é afetado pela queima de milhares de quilômetros quadrados para
formação desordenada de pastos ou plantação de soja. E o “corte” de árvores com
raiz e tudo pelos correntões.
Há, aí, uma
tragédia anunciada.
A propósito
do furacão Sandy que devastou regiões dos Estados Unidos e principalmente a
sempre empolgante Nova York duramente afetada pelas enchentes há muitos cientistas
que acreditam que tais tragédias e outras com o mesmo feito se deve às mudanças
climáticas resultantes da ação do homem sobre a natureza.
Claro que há
sempre os céticos que afirmam que não existem os efeitos daninhos das emissões
poluentes sobre o clima e que tudo é “natural”. Afinal, o progresso da
humanidade não pode ser contido pelas “teorias” do aquecimento.
Peter Singer,
“incansável na denúncia dos riscos do aquecimento global e na defesa dos
direitos dos animais” revela de modo enfático que o furacão Sandy não foi “um
evento natural”. (2)
“Tempestades
extremas como essa, evidenciam nossa ingenuidade ao imaginarmos que o conhecimento
científico é suficiente para nos proteger delas.”
Defende “atitude
radical em relação ao efeito estufa, nas formas de geração de energia e em
nossos próprios padrões de consumo – antes que seja tarde demais.” E, “no que se
refere ao clima, assim como às plantas, animais e tudo o mais que chamamos de “ambiente
natural”, não existe mais “natureza” neste planeta: estamos vivendo numa era em
que a atividade humana afeta tudo, em todas as partes do mundo.”
Por tudo
isso, a coisa por este mundinho de ninguém deve afetar filhos e particularmente
os netos em diversos sentidos, até o da produção de alimentos que poderá ser prejudicada pela degradação do ambiente natural. (3)
Referências:
(1) “Apocalipse
agora” neste “Temas” de 13.21.2011.
(2) Peter Singer, filósofo,
ambientalista, professor de Bioética da Universidade de Princeton e autor de “Vida
que podemos salvar” (2011). Entrevista ao jornal “O Estado de São Paulo" de
05.11.2012.
(3) Meu
artigo “A devastação ambiental e a reserva alimentar (relatório do PNUMA)” de
22.10.2012 no blog: martinsmilton2@blogspot.com.br.
Fotos:
(1) "Céu de Piracicaba" - Autor: Milton Pimentel Martins
(2) Foto divulgação das 84 milhões de estrelas da Via-láctea
(3) "Árvores" - acervo próprio
(4) Derrubada de árvores por correntões fixadas em dois tratores (Google)