25/12/2011

PEQUENAS REFLEXÕES, SIMPLICIDADES, COTIDIANOS

Perdões

Neste dia de Natal, não ligando nem um pouco para o papais nois, velhos garotos-propaganda do consumismo barato ou caro – afinal são eles intrometidos numa data que não lhes pertence - reflito sobre o perdão.
Do meu passado de infância e adolescência talvez me ressinta hoje e ainda de suposto não amor paterno por tudo que já escrevi. Mas, tantos anos depois, há um sentido de inocência nessas minhas suposições que devo aceitar. (1)
Pode até ser fácil perdoar, mas quão difícil esquecer. Aquelas sequelas ressurgem ao acaso, depois de tantas décadas ficadas para trás. Sei que as dores também devem prescrever, perder a validade. E olhar para o alto e obter um sentido transcendente das coisas, das experiências.
Sem nenhuma inspiração – porque não sentia na minha “alma” o que escrevera pelo que zero de inspiração e transpiração --, escrito apenas para preencher um espaço num livreto a que me obrigara (2), há décadas escrevi um poema sob o título “Compreender e perdoar”. Assim,
Que luzes são essas,
Quais são essas luzes
De tão magníficas cores,
Que invadem meu ser?
que aliviam a mente
animam viver?

Um quê universal
Algo místico, imaterial
Inspira amar
A sorrir, a rir sem cessar,
E a musa Natureza
A santa Natureza
Inspira compreender
E perdoar...

Que se pode esperar
Do homem animal,
Do pensamento material,
Do egoismo do racional,
Senão compreender
E perdoar?

Agradeço meu Deus,
Este momento,
Delicioso momento
Em que senti
Tão profundamente
Um pouco de Ti...
E compreendi,
E perdoei...

(1964)
Só me encorajei a divulgar esse poema porque hoje é dia de Natal, simbolicamente o nascimento de Jesus. E por ser o tema próprio para um dia como hoje.
Quanto ao futuro, espero que os meus descendentes não tenham sentimentos adversos quanto a mim, pelo que fui e sou e que sempre me perdoem.

Confissão

Se disser que sou próximo de Jesus e da religião, estarei faltando com a verdade. Quantas vezes me vejo cético por tudo o que já li e ouvi sobre sua alegada presença na Terra. (3)
Mas, por outro lado, nos meus momentos de angústia – e não foram poucos – ou de clamor psicológico invoquei seu nome e sua intervenção para vir em meu auxílio.
Feitos os clamores, as coisas melhoraram. Seu nome como uma oração deve soar no infinito da vida, como um mantra, desbravador ou ouvidor das agruras que atormentam a humanidade.
No meu silêncio, nos meus sonhos...

Abelhinha preta

Na véspera, estava acomodado no meu escritório, aproximou-se uma abelhinha preta, voando na altura dos meus olhos, até pousar no meu polegar, no exato momento em que lia a notícia dando conta que empresa de bebidas se responsabilizará em recolher todo o resíduo reciclável no próximo réveillon em Copacabana.

Sabia que na área verde aqui ao lado – parte dela foi “organizada e plantada” por mim e está bem arborizada – precisava de uma limpeza de garrafas “pet” e sacos plásticos, papeis.

Larguei o jornal e a abelhinha e fui para a área verde fazer a faxina.
“Fiz a minha parte”. Quase nada ou nada. Bom que se diga. Melhor não está porque ninguém faz a sua. (Assista na crônica anterior, "Apocalipse now", video "Arte do Lixo").
(Há alguns meses, um espécime daqueles marimbondos zangados, picadas doloridas, também insistiu em pousar na minha mão como se a beijasse – carinho que não merecia porque já agredi mortalmente seus iguais e fui atacado por eles - dolorosamente).
Já escrevi sobre uma dessas experiências com esses marimbondos. (4)

Águas de São Pedro

Devagar estou indo para os rumos da linda Águas de São Pedro, a 30 quilômetros de Piracicaba.
Na casinha em reforma, soube que mora uma família de lagartos.
Estou ansioso para saber que tipo de relacionamento terei com os lagartinhos e lagartões.

Essa casa tem até hoje uma placa em inglês “toca da coruja”. Mas, acho que o correto seria e será, “toca dos lagartos”.
Um dia conto o que se deu.

Amor-eira

Eu a plantei pequena, bem pequena – menos de um metro - e, embora com muita frequência perto dela, não a vi crescer...tanto.
Hoje, até ela faz sombra sobre o banco de granito que de certo modo abandonei. Foi nele, naqueles fins de tardes quentes que li boa parte dos dois volumes de “Guerra e Paz” de Tolstoi.
O tempo passou, mas não só por isso: havia uma companhia importante que se foi e que ficava comigo por lá, a minha velha cachorrinha preta. (5)
Hoje, chegando perto da amoreira, dois bem-te-vis saíram apressados de sua copa. Quem me dera eles não se assustassem com a presença suspeita. Quisera afagá-los. Mas, não é assim, a natureza os previne. Afinal, “o homem vem aí”. E com ele a maldade pode vir junta.

Legendas (crônicas relacionadas):

(1)“Fragmentos paternos” de 13.02.2011 e “Fragmentos maternos” de 08.05.2011
(2)“Versos para ninguém” de 19.04.2009
(3)"Dos sem religião" de 27.02.2009 e também "Enigmas de Jesus" de 25.12.2009 in www.votebrasil.com
(4)”Animais (zinhos) e bichos” de 10.04.2009
(5)“Dias amargos” de 28.11.2010 e “Mensagens e imagens” de 23.01.2011

Fotos e imagens:

(1) Flores “sempre-vivas”, sempre-vivo
(2) Imagem de Jesus receptivo fora da cruz
(3) A “minha” área verde que plantei
(4) Paisagem de Águas de São Pedro
(5) Amor-eira

13/12/2011

APOCALIPSE AGORA


Esta crônica foi publicada com o mesmo conteúdo em outro blog que venho mantendo, no qual a maior parte dos artigos e crônicas que lá escrevo, refere-se a temas políticos, sociais e ecológicos.
Para um blog “político” com assuntos “indigestos” devo reconhecer que esta crônica é até bem acessada.
Por conter identidade com estes “Temas”, divulgo-a aqui também com os ajustes que julguei necessários. (*)


Nem sempre o colunista consegue redescobrir suas fontes, aquelas informações que batem em sua memória, lidas nalgum lugar há décadas e que se perderam.
Mas, nesse passado numa publicação de assuntos metafísicos li que a Terra poderia suportar até seis bilhões de habitantes.
Há dez anos, essa marca foi comemorada, hoje já seriam sete bilhões.
Não de hoje, pois, tenho aquela marca na memória imaginando então, quando, atingida, quais seriam as consequências.
Curiosamente, nestes tempos de agora, na medida em que se aguça a predação ambiental, há um sentimento de que algo catastrófico vai ocorrer, algo apocalíptico, tendo como principal referência o calendário Maia que se encerra abruptamente em 21 de dezembro de 2012. Nessa data, o planeta seria então afetado por algum fenômeno natural catastrófico que modificaria radicalmente a vida conhecida, Isto é, destruição de tal ordem que a vida não seria mais esta como conhecemos.

Sete bilhões de almas realmente afetam do modo mais predatório as reservas ambientais.
Essa predação não se dá apenas pela sua necessidade em produzir alimentos e outras necessidades, mas também pelo que traz de prejuízo ambiental a tecnologia, a indústria, o lixo às centenas de toneladas.

Milhões e milhões de carros que exigem milhões e milhões de barris de combustível fóssil que por sua vez poluem a atmosfera em toneladas de resíduos.


E pior, na medida em que as necessidades de combustíveis se avolumam, a busca de fontes oceânicas tem sido desastrosa a mais não poder, com o vazamento de milhões de litros nos mares, afetando toda a fauna marinha por anos.
É afetada com essas catástrofes toda uma cadeia alimentar da qual o próprio homem dela se vale. Mas, enquanto disponível, geralmente a obtém com brutalidade, desprezando as vidas que ceifa em sua caça insana, sem sequer entender, de muitos desses animais vitimados, a própria inteligência e mesmo a aproximação amistosa que fazem perante o seu carrasco traiçoeiro. E são mortos brutalmente.

A escassez de água potável se constitui grave ameaça já havendo regiões miseráveis que não recebem ajuda ou a recebem de modo insuficiente e dela se privam sempre em maior escala.

Há a tecnologia que ativa a dessalinização das águas oceânicas que pode ser ampliada e minimizar sua escassez mas são imensos os investimentos.
Mas, não há mais tempo para suportar a poluição dos rios com esgotos e outros resíduos que tornam a água não potável, imunda. É premente a ampliação e aplicação de tecnologias do tratamento dos esgotos.
Sem qualquer propensão a levar tudo para o lado metafísico, digamos, é notória a correlação que se dá entre os vários elementos naturais. Essas destruições, o desrespeito à vida sem causa, provocam reações destrutivas num processo ‘incompreensível’ que o nosso modo de viver no dia-a-dia atribui de maneira simplista a fenômenos que sempre espocaram ao longo dos séculos e séculos.


O que se assiste, porém, é a frequência maior de pequenos e grandes eventos ditos naturais devastadores, como tsunamis, erupções vulcânicas, aquecimento global, secas, desertificações, devastações por chuvas intensas...


Há, efetivamente, indicações crescentes dos efeitos dessa desorganização ambiental que muitos não enxergam porque há a predominância da visão econômica da vida, do negócio, do consumismo e do “supérfluo necessário”, sem atentarem para os prejuízos globais que tais produtos e ações provocam no equilíbrio do planeta.

Os seis bilhões de almas, há dez anos alcançados, mantinham algum equilíbrio entre alimentos e meio ambiente. A fome em alguns países, na África, especialmente, não se dera pela escassez dos alimentos, mas por disputas políticas sórdidas que priva seres humanos do mínimo para sobreviver e também pela falta de ações solidárias de quem poderia ajudar.


Nessa linha do lucro e da linguagem do dinheiro, as florestas vão sendo devastadas, não só por conta dos pastos abertos em grandes extensões para criação de gado, mas também por exigência de amplos setores industriais.
Mas, tantos vivendo só no presente, ignorando as conseqüências no futuro, há que propagar que a preservação e reposição vegetal são essenciais para equilibrar o clima do planeta, ajustando na contrapartida técnicas do aumento da produção de alimentos nas áreas já reservadas ou devastadas.

Vive-se, nestes tempos, verdadeira babel consumista. Quanto de equipamentos desnecessários nos foram "vendidos" como essenciais a ponto de nos acostumarmos com seu uso e, mais, pelo rápido avanço tecnológico serem trocados sistematicamente por novos modelos, engrossando as pilhas de produtos obsoletos descartados. (Assista video "Arte do Lixo" abaixo).


Nem mesmo no âmbito econômico, há segurança. Os Estados Unidos em crise ainda gastando fortunas nas guerrilhas do Iraque e do Afeganistão - guerras perdidas de um modo ou outro porque as facções que se opõem à paz são criminosas sem aquela lógica ocidental em aceitar certos valores.
Aonde se situará a China, grande poluidora, até aqui indiferente aos apelos de contenção, com seus 1,3 bilhões de habitantes? Com sua produção industrial predatória? A própria Índia.
As dúvidas não param aí. Com tantas incertezas, se nada ocorrer em dezembro de 2012 nessa eclosão apocalíptica alimentada pelas grandes redes de comunicação mas que a muitos aflige como algo inevitável que merecemos passar, com certeza teremos que nos preocupar com o futuro de nossos filhos e netos.
A vida vai ser difícil de ser vivida, cada vez mais, mesmo com muito otimismo.

Esperança
Paisagens que ainda temos para contemplar.


(*) Crônica que tem relação com esta: "Qual será o nosso amanhã. E as previsões tenebrosas" de 15.06.2013

Legendas

(1) Ruas lotadas em Ambassador - Calcutá, Índia - mistura de carros, pedestres e ambulantes (foto de Randy Olson - National Geografic)
(2) Trânsito em São Paulo - Dia cinzento (Fonte: Jornal do Advogado de novembro de 2011, ilustrando artigo sobre a poluição e a relação com as doenças respiratórias)
(3) O petróleo e a sujeira nos mares, inclusive do Brasil, na Bacia de Campos - RJ (foto Google)
(4) Esgoto despejado no rio (Foto Google)
(5) Tsunami no Japão em 2011 (Google)
(6) Fome no mundo (Google)
(7) Dia de compras na rua 25 de Março / SP (Foto de Ricardo Correa - Revista Exame)
(8) Cataratas do Iguaçu (Google)