05/02/2020

HOROSCOPISTAS


Sempre pelas minhas andanças pelas páginas dos jornais via e até consultava  os horóscopos sempre com muita desconfiança.
Como é que foi escrito, qual tipo de "consulta aos astros" houve? Ou foi apenas um modo de preencher o espaço destinado pelo jornal, iludindo os leitores induzindo melhor sorte até porque os horóscopos nunca acentuam um momento de pessimismo. 
Pois bem, no meu livro "Joana d'Art", inspirado rigorosamente em "fatos reais", converti a elaboração de horóscopo semanal numa anedota, um modo de se desviar um pouco daqueles temas sérios autobiográficos e a ficção trágica do livro.
Mas, não foi somente eu quem desqualifiquei os horóscopos. Numa crônica de 05.01.2020 no jornal "O Estado de São Paulo" Luiz Fernando Veríssimo publicou um depoimento pessoal de horoscopistas que complicou seus horóscopos. 
A minha versão inserida no livro "Joana d'Art":















"Houve um tempo em que eu dava uma olhada no horóscopo. Muita gente leva o horóscopo a sério. Mas, naquele momento ri muito ao me lembrar como um velho jornalista que conhecera tão de perto e que dirigia um jornaleco semanário que tinha lá seus encantos, porém. Eram aqueles tempos heroicos em que a composição era feita nas linotipos. O velho jornalista tinha um perfil todo próprio: baixinho, desmazelado - diziam que meio avesso a banho - irreverente e desbocado. 
Certo dia resolveu que o seu jornal teria um horóscopo. Depois de muito procurar, não encontrando um horoscopista ou um astrólogo que aceitasse sua oferta, irrisório, resolveu que ele próprio, semanalmente, produziria o horóscopo.
Semanas depois, o primeiro horóscopo foi publicado, assinado pelo estranho nome de "Monsieur Abidul - o astrólogo internacional", tudo muito bem feitinho e organizado, com os símbolos do zodíaco e tudo. E assim a cada semana, lá estava o horóscopo fresquinho, regendo toda a semana seguinte dos leitores.
Mas, depois de um tempo, aquele exercício de horoscopista estava lhe dando cansaço e tédio porque passara a ser um compromisso inadiável. Havia o espaço a preencher. Já não aguentava mais "capricórnio, cuidado com amores inesperados, mantenha-se vigilante !", "virgem, prepare-se, você pode receber pequena fortuna!", "balança, como diz seu próprio signo, um dos pratos pesará mais e um amigo lhe trará agradável surpresa nesta semana!" e assim por diante.
Até que, no minuto final de fechar a edição, cheio de preguiça, cultivando sua mania de manipular nos dedos um pedaço de chumbo de gravação rejeitada que saíra defeituosa da velha linotipo como se fosse um bolinha de gude, todas as previsões dos signos foram trocadas: as de touro, foram parar em virgem, de balança em câncer, de capricórnio em aries, de aries em capricórnio e assim por diante. E o horóscopo foi assim montado por semanas seguidas.
Naquela manhã de segunda-feira – o jornal circulava aos domingos - o telefone da redação toca. A voz feminina pediu para chamar o horoscopista.
O estafeta sonolento que atendera insistiu que o tal Monsieur não trabalhava no jornal.
- Como não? já impaciente a leitora. É ele quem faz os horóscopos!
Acordando como se levasse um balde de água fria, o estafeta tapou com a mão o fone e chamou o diretor:
- Diretor, tem uma mulher aqui querendo falar com o tal do Monsieur Abidul.
Nessa hora eu chego e assisto tudo.
Meio surpreso no primeiro segundo, mais que depressa, estirou-se torto na cadeira, pé direito apoiado na última gaveta da mesa gasta onde se espalhavam as provas das páginas da última edição , afinando a voz, respondeu num sotaque misto de francês e inglês, tudo ridículo e risível.
- Bien, como posso ajudarr o senhorra ? Here é o Monsieur Abidul?
- "Seu" Abidul, suas previsões estão muito estranhas. Tenho certeza que no mês passado houve no meu signo um horóscopo idêntico ao de ontem. Minha filha leu o horóscopo de seu namorado, que é de leão com as mesmas previsões feitas para o seu próprio, de virgem, da semana passada. Como se explica isso?
Sem nenhum constrangimento, o diretor mantendo aquele sotaque híbrido, risos contidos à sua volta, respondeu marotamente:
- Oui, a senhorra. nunca ouviu dizerr que os astros e as stars se mexem no céu. Órra, os horoscôpos tem a mesma prrevison when os astros girram para o mesmo lugarr.
Ao que a mulher respondeu:
- O que gira é sua cabeça, Monsieur Abe... não sei o quê, seu charlatão. Seu sem-vergonha. E desligou o telefone.
O diretor perplexo manteve por alguns segundos o fone na mão, boquiaberto, enquanto seus óculos de lentes riscadas escorregavam das orelhas suadas. Não pôde conter a ruidosa gargalhada que ecoou por toda a redação e oficinas. Mesmo não entendendo nada, todos riam alto como se a gargalhada do diretor fosse, por si só, uma grande piada. Eu ri a ponto de ficar com dor no estômago.
Na edição seguinte o horóscopo deixou de ser publicado, com uma nota da direção do jornal simplória e curta no canto direito da primeira página: o astrólogo horoscopista havia sido demitido porque "descobriu-se que era um charlatão".
Rememorando essa história, considerada anedota por todos os meus amigos quando contava, mas que assistira de perto, porque naquele dia aziago lera meu horóscopo logo cedo, não contive mais uma vez a gargalhando pelo calçadão e pela galeria ignorando os olhares curiosos e inspirando o riso de outros que me encaravam.

O "horoscopista" Luiz Fernando Veríssimo:
História pessoal, que já contei mais de uma vez: quando comecei a trabalhar na imprensa, há 200 anos, fazia de tudo na redação, depois de passar o dia no meu outro emprego de redator de publicidade. Um dia me pediram para fazer o horóscopo, já que o astrólogo profissional insistia em ganhar um aumento, uma reivindicação irrealista, dadas as condições do jornal. Como eu já fazia de tudo na redação, comecei a fazer o horóscopo também. Todos os dias inventava o destino das pessoas e distribuía as previsões e os conselhos pelos 12 signos do zodíaco.
***
O horóscopo era a última coisa que eu fazia no jornal antes de ir me encontrar com a Lucia e, se tivéssemos sorte, ir a um cinema, de modo que meu horóscopo era sempre feito às pressas, e com a escassa energia que sobrava depois de um dia fazendo de tudo, na agência de publicidade e na redação. E então bolei uma solução genial para liquidar o horóscopo em pouco tempo e ir embora. Como era óbvio que as pessoas só querem saber o texto do seu próprio signo e não o dos outros, comecei a fazer um rodízio: mudava os textos de signo e de lugar. O que um dia era o texto para libra no dia seguinte era para sagitário, etc. Ninguém iria notar a trapaça sideral, os deuses me perdoariam.
***
Não demorou para que o editor do jornal me chamasse. Tinha muita gente reclamando do horóscopo. O que eu pensava que era óbvio não era. Minha pseudoesperteza tinha sido descoberta, aparentemente todo o mundo lê todo o horóscopo todos os dias. Minha breve carreira de astrólogo terminou ali. Mas eu só queria dizer que, mesmo quando era eu que escrevia os textos, nunca deixava de olhar para ver o que libra reservava para meu futuro. Fazer o quê? Precisamos de uma direção na vida, venha ela de onde vier. 

ANTIGA-IDADE (*)

[Ou antiguidade
Para minha surpresa assim, assim, como não querendo nada meus filhos, alguns de modo mais formal começaram a reconhecer a antiga-idade dos pais.
Dois deles patrocinaram recentemente passeios agradáveis em cidades importantes.
O Silvio decidiu por Campos do Jordão, cidade que já conhecia, não tanto. 

Cheguei, desta feita, nas proximidades perigosas da "Pedra do Baú".



























Campos do Jordão é uma cidade na qual não parece haver crise no país pela massa de turistas que lá estavam, que abarrotava os restaurantes.
Uma dica para empreendedor: falta uma pizzaria central.















Já o Eduardo nos patrocinou um fim de semana na cidade mineira, famosa, de Poços de Caldas. Não conhecia e imaginava que fosse uma pequena cidade do tipo de Águas de São Pedro.
Mas, não, é uma cidade média, bem organizada, cuidada, com imensas praças e preservação ambiental. Há prédios públicos suntuosos.
Eu destaco dois locais turísticos, a "cachoeira do véu das noivas", com o seu trenzinho que roda mas tem a mágica de não sair do lugar. Interessante.
















O outro ponto, entre tantos outros é o da "fonte dos amores", local muito frequentado porque os macaquinhos, com quitutes autorizados (amendoim e bananas), das árvores altas vêm os buscar nas mãos dos ofertantes. Naquele sábado à tarde eles deveriam estar empanturrados com tanta gente estendendo a mão com os amendoins. 
Mas, eu quis ver de perto os macaquinhos e estendi a mão cheia de amendoim.
Eis que um deles se aproxima, raspa a minha mão, cata os grãos e me encara com aqueles olhinhos avermelhados como se atrás deles houvesse algo além de sua propalada irracionalidade... o quê,  gratidão, respeito, amizade impossível? A encarada amistosa me surpreendeu muito.

























Fiquei bastante surpreso com os olhos nos olhos. Já não é a primeira vez que isso me acontece. Quando escrevi sobre a encarada agradecida de uma vaca sedenta que dera água, essa crônica rolou por aí. (**)


Fotos:
Fotos de Campos do Jordão: Edu, Silvio e Jaque. 




































Dos dois locais em Poços de Caldas, eu e meu filho 
(cicerone) Edu, eu e minha neta Lya, de 4 anos e nós todos no trenzinho.



(*) Antiga-idade tudo a ver com antiguidade


(**) A vaca e o bezerro sedentos:
 https://martinsmilton.blogspot.com/2009/03/renuncia-carne-animais-brutalizados.html