14/03/2024

CENAS DO COTIDIANO (VI)

 (MUDEI O TÍTULO DE JANELA DISCRETA PARA CENAS DO COTIDIANO)

1. ORA-PRO-NOBIS











Há uns quatro anos, comprei muda de um palmo de ora-pro-nobis tal os elogios que ela recebe do ponto de vista de vitamínico e de ajuda à saúde.

Claro que coloco suas folhas na salada porque suas flores são amarelas. Se fossem rosas, dizem os entendidos, as folhas deve ser cozidas porque elas têm uma substância que pode ser prejudicial (oxalatose consumidas em quantidade.

Mas, há problemas: ela se agiganta, seus espinhos são perversos, perigosos e, então, todo cuidado é pouco.

A planta avançou pelo muro, tomou conta do pedaço, suas franjas chegam a baixa altura e seus espinhos rigorosos.

Ela floriu, flores amarelas que exalam um perfume forte, "abafado" mas que atraem  centenas de abelhas que desde bem cedo zunem e buscam o polem sofregamente.

As flores duram apenas poucas horas, mas enquanto lá estão, pela sua delicadeza e perfume e pela festa das abelhas, valem a pena os momentos.

Os espinhos, ora os espinhos... cuidados com eles, porém. Eu não os estou subestimado mas são piores que agulhas.

Detalhe: parece que ainda não dará frutos anunciando nova florada.

2. FLOR DE SÃO MIGUEL











Essa planta trepadeira produz a cada tempo flores azuis pequenas em cachos e também avançou sobre o muro.

O nome popular significa que ela tem, pode-se dizer, um certo valor místico de refletir a luz por sua flores azuis em seus cachos. Ela faz bem.

Eu a trouxe de uma cidade aqui perto (Águas de São Pedro), onde elas são mais comuns.

Muda de 10 cm. que floresceu bem e realmente inspira pela delicadeza de suas flores em cachos.

Ela está muito bem aqui.

Aguardo a próxima florada.

3.  ARARA QUASE QUE MADRUGOU













Nas primeira horas da manhã um grasnar alto. O que está acontecendo?

Saio a procura e vejo uma linda arara, meio escondidinha no meio de folhagens duma árvore.

"Peço" que ela se apresente na minha frente. Ela grasna, "arara!", "arara!".

Ela obedece e faz pose.

"Peço" que ela desça e passe a morar na ameixeira com outro pássaros, com pensão garantida.

Ela ficou ali em cima algum tempo e voou para não sei aonde.

Valeu o momento.

E que volte sempre.





  

28/01/2024

A VIDA VALE A PENA. MAS DAÍ, DECORRE...


Neste estágio da vida quando tantas foram as experiências, tantos percalços e êxitos que, sem qualquer interesse de dar vazão à vaidade ou à soberba revelo que tive muitos momentos venturosos.

Tive, sim.


Mas, a vida em si me desafia porque a vida é boa para ser vivida.


É por isso que todos a preservam, os doentes fazem tratamentos difíceis para prolongar a existência por quantos anos mais? Todos nós queremos viver mais e melhor.


É tão bela que na maioria esmagadora dos seres humanos não há qualquer indagação dos seus mistérios.


Para que pensar nisso se não vou conseguir resolver — não há respostas para tantas indagações.


Há a minha vida a viver e dela tudo usufruir mas, sempre, buscando a serenidade, sem pensar nas divindades à espreita.


É que quando se indaga da vida, na frente do espelho, olho no olho, surge alguém estranho na imagem e é nesse momento que pode se dar a revelação da individualidade, os olhos se mirando e aquela iluminação interior que não se explica.


Quando essa iluminação de apaga, por onde caminhará a face antes encarada? O que resta que não seja um corpo sem luz?


Repito: para que nisso pensar se a vida vale a pena ser vivida sem essas indagações?


Mas, sozinho num canto qualquer pode ocorrer um sobressalto: quem comanda isso, a própria vida efêmera? Deus existe?


Essa última indagação sobre Deus pode até ser ignorada porque a vida pode ser vivida sem ele. Os indiferentes que o digam.


Temos o livre arbítrio relativo, pelo qual conduzimos a vida, fazemos o que melhor nos interessa e nem é de se acreditar (muito?) no destino que autores da antiguidade muito ressaltaram, especialmente na peça teatral “Édipo Rei” de Sófocles. (*)


“Do destino ninguém escapa.”


Não se escapa do destino porque há muitas tragédias que ocorrem tantas vezes por eventos que se completam, as chamadas coincidências.


Estou eu aqui me desafiando a pensar na rotina da vida a ser vivida mas sou sacudido por saber dum avião que cai, por erro humano ou falha mecânica, vitimando centenas de viajantes.


As consequências são traumáticas.


Fora o destino reservado coletivamente a essas pessoas?


O porquê dessas tragédias traumáticas, o que alertam elas? Direi à frente.


Uma constatação afim que há muito faço:

— Como se explicam os níveis dos seres humanos neste planeta, um sábio vivendo entre delinquentes ou ao contrário até mesmo sem saberem dessas diferenças?


Há 1700 anos Santo Agostinho, nas suas “Confissões” faz essas indagações a Deus quando ia se convertendo à espiritualidade, ao catolicismo original. (**)


Sobre o mistério da criação e “questionando” Deus como se com ele falasse. Chega a perguntar a Deus o que havia antes da criação da Terra e do Sol naquele nada infinito.


E outro fenômeno que o atormentava: o controle do pensamento.


Santo Agostinho confessa que os pensamentos são difíceis de controlar e os luxuriosos o desafiavam permanentemente — tudo isso até hoje desafiando até mesmo o adepto a uma vida de renúncia. Isso pode explicar muita coisa hoje.


Porque


A luxúria é a mais intensa das paixões humanas: "é como o demônio que devora todos os atos do mundo". (***)


Parece que dei uma virada no tema, mas não. Eu quero expressar que não estamos sós nessas indagações aos que refletem sobre transcendências numa reflexão silenciosa.


E a presença de Deus? Com todas assas dúvidas que me desafiam e sabendo que obterei nada de respostas pelo menos neste meu estágio, por uma série de sensações, senti a presença de Deus que muitas vezes acena na sutileza do seu mistério. Os sonhos — que já qualifiquei de realismo fantástico —, mas não só, são um canal de revelações.


Eu falei de destino: para muitos espiritualistas há tarefas pendentes, condutas nas resolvidas, que vêm de outras vidas e que precisam ser saldadas. Essa é a lei?


Há muitas situações em que elas parecem ser regidas segundo esses princípios.

E há que ressaltar que este planeta é o das desigualdades, das crueldades, das guerras, do aprendizado, da sabedoria, da solidariedade e das penitências.


O livre arbítrio sem Deus leva às guerras...


E o planeta um minúsculo elemento nesse Universo sem fim, sobrevive nessa imensidão para propiciar experiências positivas e negativas, numa sucessão de vidas… até alcançar qual objetivo? A divindade? A luz?


Então, no tocante ao que chamarei de renascimentos, para não me fixar nas valorosas correntes reencarnacionistas destes tempos, vou buscar em Sócrates que viveu 400 anos antes de Cristo, explanações nesse sentido, claro que há contradições no diálogo com seu discípulo Críton.


Fixo-me neste texto da resenha que fiz:

Mesmo com questionamentos feitos por Símias e Cebes sobre a imortalidade da alma, ao morrer e que se daria naquele dia, pelo seu modo de vida, de filósofo, de vida simples, sem vícios, esperava Sócrates juntar-se a homens justos, bons senhores e deuses muito bons pelo que seus discípulos não devem se preocupar. E, depois, "é uma opinião muito antiga que as almas ao deixarem este mundo pela morte, vão para o Hades e que dali voltam para a Terra e retornam à vida..." Porque os vivos nascem dos mortos e estes daqueles.” (****)


Porque mencionei Sócrates:

Fora seu amigo Querefonte que consultara o Oráculo de Delphos sabendo se em Atenas havia alguém mais sábio que Sócrates. A resposta fora pela negativa, mas Sócrates sempre diria que o verdadeiro sábio é aquele que sabe que não sabe”.

Concluindo…


Quis demonstrar as minhas “angústias” do que me rodeia, dos alertas que pressinto, das tentações que assaltam tal qual revelara Santo Agostinho. O livre arbítrio sem Deus tem levado a tragédias humanas, às guerras? E o que falar do destinonão há situações em que ele eclode do “nada” de modo traumático? Há notáveis diferenças entre os seres humanos, sábio e perversos vivendo praticamente, lado a lado.


E dos renascimentos sucessivos? Eles ocorrem? Nisto, acredito.


Referências

Os textos referidos podem ser acessados nestes endereços:

(*) TRAGÉDIAS GREGAS

(**) CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO

(***) DOUTRINA DE BUDA

(****) SÓCRATES DE PLATÃO

Nesse último texto há referência a Hades — naqueles idos, acreditava-se que Hades era o local para onde iam os mortos que para muitos, os desonestos e assassinos, era um local de pavor.

Foto: "Vitórias Régias" - Piracicaba


19/01/2024

CENAS DO COTIDIANO (V)



Apenas dando uma olhada discreta...




MUDEI O TÍTULO DE "JANELA DISCRETA" PARA "CENAS DO COTIDIANO"

CENAS DO COTIDIANO:

I. E não é que ainda existe primeira comunhão?

II. Construir praças é mais barato

III. Um nome lembrado e a alegria

I - E NÃO É QUE AINDA EXISTE PRIMEIRA COMUNHÃO?  

Lembro-me dos meus tempos de 1ª Comunhão, minhas ligações com a velha matriz de São Caetano que, acho, tenha buscado esse momento solene, por mim mesmo.

Não posso me lembrar, mas o que sei é que depois da comunhão minha mãe fez na pequena sala um festinha para a turma em volta com bolo e tudo,

O catecismo era exigente, tinha que rezar o "Credo", o "Pai Nosso", a "Ave Maria", "Salve Rainha" não tenho certeza do "O ato de contrição"...

O que sei é que as beatas eram muito pacientes, pessoas religiosas sinceramente religiosas, a mais devotada se aproximava naquelas manhãs, com hálito de café com leite e um dia me repreendeu porque eu não sabia recitar o "Credo":

— Se você não aprender não poderá fazer a comunhão.

Então, quando houve o ensaio da hóstia ela enrolou no céu da boca. Aviso o padre. Ele, grosso, fez troça.







Depois da comunhão, por algumas horas tive a sensação de estar levitando a um palmo.

Até frequentei por algum tempo os "congregados marianos", almejando aquela fita amarela porque eu, com aquela idade, só podia usar a fita azul...

Tudo isso passou.

Há dias, para minha surpresa meu neto Heitor também fez a 1ª Comunhão.







Foi num sábado, uma longa missa, cheia de cantorias e sermões mas ele fez a comunhão e, no momento das congratulações eu o senti feliz.

Depois, o entusiasmo tende a arrefecer porque as coisas do cotidiano e as múltiplas atrações da idade cobram atividades múltiplas.

De qualquer modo, daqueles tempos, tenho estes acordes na memória de um hino católico:

"Pecador agora é tempo, de contrição e de fervor, segue a Deus despreze o mundo-o".

E sobre o que restou disso tudo, sobre Deus? Um dia eu tento colocar no papel as sensações sobre esses mistérios. Tarefa nada fácil.

II - CONSTRUIR PRAÇAS É MAIS BARATO (!)

Não escondo minhas origens abeceanas.

Estudei o nível médio em São Caetano, no "místico" Colégio Bonifácio de Carvalho e no ABC trabalhei por muitos anos em multinacionais automobilísticas  com destaque para Chrysler de Santo André.

Nessa empresa tive oportunidade  de a representar em solenidades ocasionais em Santo André e, numa dessas estive frente a frente com o prefeito Antônio Pezzolo — dessas personalidades que não aparecem mais. 

A nota abaixo foi publica na coluna de Ademir Médici do dia 10/01/24 no "Diário do Grande ABC":

SIMPLICIDADE

Quando na Chrysler de Santo

André, algumas vezes

representei a empresa em

solenidades ou coisa assim.

Umas duas vezes me deparei

com a simplicidade do prefeito

Pezzolo e numa dessas vezes

falei de construir

uma praça na Rua Porto

Carrero — que não vingou

porque no final das contas no

terreno deu-se uma

construção.

Mas, não vou esquecer a frase

dele:

— Bom, pode-se ver porque

construir uma praça é sempre

mais barato.

Claro que pode haver preço de

desapropriação e tal, mas

tenho comigo, até hoje, que

construir praça (com área

verde) “é sempre mais

barato”.

Milton Martins

Piracicaba

Deve ficar clara a mensagem que construção de praças — que tanta falta faz nestes tempos ferventes — é uma obra barata.

Aqui em Piracicaba, já relatei isso, arborizei pessoalmente uma área verde antes abandonada. (*)

(*) Acessar: MINI RESENHA AMBIENTAL


III. UM NOME LEMBRADO E A ALEGRIA

Foi dia desses numa mercearia muito prestigiada aqui em Piracicaba.

Peço uma medida de muçarela e, depois, peço para aumentar o peso.

— Bete, coloque mais 100 gramas.

A moça que há anos lá trabalha, diz:

— Puxa, o senhor se lembrou do meu nome!

E, ao me entregar o pequeno pacote o fez com um sorriso de alegria.

Coisas simples, espontâneas, que dão um resultado inesperado. 




01/12/2023

A LENDA DE SÃO CRISTÓVÃO NUM LIVRO IMPENSADO

Vez por outra divulgo resenha de livros que leio para meu consumo — lembretes do essencial — embora divulgue publicamente num blog.

Não tenho por costume fazer escolha desse ou daquele livro, salvo uma ou outra exceção ao perceber que a obra pouco me acrescentará. E já me deparei com muitas dessas, mas a minha regra é não parar o que começara a ler...

Mas, há livros que busco e alguns me caem às mãos como que por “encanto”.

Um desses livros, que obtive num “sebo” mas hoje voltou ao mercado livreiro é “O Mistério das Catedrais” de Fulcanelli.








Claro que esse livro sempre aparece (ia) como referência para explicar o simbolismo de figuras em relevo ou baixo-relevo em algumas catedrais especialmente a Notre-Dame de Paris, os sentidos ocultos, alquímicos e filosóficos praticamente indecifráveis para os não aficionados nessa cultura.

O livro fora para mim de difícil compreensão porque esses símbolos são representações ocultas, contendo, como qualifica o autor, significados “herméticos”.

A origem da palavra “gótico”!

Então, não vou expor alguns dos elementos básicos que registrei do livro que podem ser encontrados no blog “Dos livros que li”. (*)

Considerando as esplêndidas catedrais diz o Autor:

Os construtores da Idade Média tinham como apanágio a fé e a modéstia. Artesão anônimos de puras obras-primas, construíram para a Verdade, para a afirmação do seu ideal, para a propagação e a nobreza da sua ciência. Os do Renascimento, preocupados sobretudo com a sua personalidade, ciosos do seu valor, construíram para a posteridade do seu nome.”

O Autor, então, se fixa nas figuras de alto e baixo relevos na estrutura de Notre-Dame de Paris (construída entre 1163 a 1245) destacando os símbolos não cristãos entalhados em suas paredes e reentrâncias.



Catedral de Notre-Dame de Paris



A Catedral de Notre-Dame de Amiens (construída entre 1220 a 1268) tem a seguinte abertura do livro: “A exemplo de Paris, Amiens oferece-nos um notável conjunto de baixos-relevos herméticos”.



 Catedral de Notre-Dame de Amiens (Amiens cidade a 120 quilômetros de Paris)



Nesta também o Autor analisa as imagens encontradas nas paredes do templo.

E a partir de uma dessas imagens “O orvalho do filósofo”, num certo trecho lembra que a faculdade de criar pertence só a Deus, o único Criador. Mas, necessitando do auxílio da Natureza esse auxílio será recusado se, “por desgraça ou ignorância, não colocais a Natureza em estado de aplicar as suas leis.”

E a condição primordial para o resultado é a ausência de luz.

Lembra o Autor que certos fenômenos se dão na absoluta escuridão: o ato da procriação, o germinar das sementes, o sono noturno que recompõe as forças perdidas durante o dia, a renovação das células, o funcionamento do organismo de digestão e excreção. Assim, também, com experiências químicas e alquímicas.

O poder do sol é destruidor de determinadas substâncias.

E agora  trabalhai de dia se vos apraz; mas não nos acuseis se os vossos esforços terminarem em fracasso”.

Em Bourges, cidade próxima de Paris, ao sul, no palacete Lallemant – “uma das mais sedutoras e mais raras moradas filosofais” – há um baixo-relevo de São Cristóvão. 

E é aqui, num livro tão reservado que descubro aquilo que não conhecia, a lenda de São Cristóvão:

Essa lenda do santo poderia representar, do ponto de vista oculto, o transporte do ouro ao carregar o menino Jesus na travessia do rio:

Tratava-se dum homem muito forte, agigantado, que decidiu que serviria ao rei mais poderoso da terra. E assim fez, para alegria do rei que encontrara um servidor tão leal e tão forte.

Certo dia decepcionou-se o santo ao vir o rei se benzer ao ouvir o nome do diabo. Ao saber que o rei temia o diabo, abandonou-o por não deter o poder absoluto. Procurou, então, por satã para servi-lo. Sua lealdade ao diabo durou até o momento em que o via desviando-se de uma cruz.

Ao saber que o diabo receava o símbolo de Cristo, resolveu procurá-lo porque seria ele o mais poderoso da terra.

Mas não o encontrava. Para diminuir sua angústia, um sábio levou-o à beira de um rio e sugeriu que ele atravessasse os viajantes nos seus ombros fortes para que não se afogassem. E nesse serviço encontraria quem procurava, prometera o sábio.

E assim fez. Um dia, muito cansado, ouve batidas na porta de sua cabana. Uma voz de criança se faz ouvir. Levantou-se o gigante e arrumou-a em seus ombros partindo logo para a travessia.

 No meio do rio, as correntes tornaram-se revoltas e o menino tornara-se um fardo, além do que podia suportar o gigante. 



Imagem de São Cristóvão - Azulejo - Igreja Matriz de Rio Tinto - Concelho de Gondomar - Porto / Portugal


O São Cristóvão histórico fora perseguido por inimigos dos cristãos sendo trucidado lá pelo ano 250 DC






Ao perguntar por que um menino era assim tão pesado, recebeu a revelação: apresentara-se o próprio Cristo, o peso do mundo e, pelos serviços que prestara o gigante aos viajantes fora batizado por Ele e pelo Espírito Santo, recebendo o nome de Cristóvão - "Aquele que carrega Cristo" (chama-se Offerus).

Acentuam as páginas finais do livro:

A Natureza não abre a todos indistintamente a porta do santuário. Nestas páginas, o profano descobrirá talvez alguma prova de uma ciência verdadeira e positiva.”


Citação:

(*) Acessar: DOS LIVROS QUE LI (ACERVO COMPLETO)



18/11/2023

CENAS DO COTIDIANO (IV)

 



 Apenas dando uma olhada discreta...



MUDEI O TÍTULO DE "JANELA DISCRETA" PARA "CENAS DO COTIDIANO"

CENAS DO COTIDIANO:

I. A chave que se desmaterializou a voltou a existir

II. O Google não é a inteligência artificial?

III. Tempos de desastres ambientais e o calorão

😒

I - A peça que se desmaterializou e voltou a existir

Acho que no primeiro ano do Ginasial eu tive aulas de trabalhos manuais que visavam propiciar ao aluno o desenvolvimento de aptidões, a criatividade e o interesse para resolver pequenas tarefas domésticas do cotidiano.

Esse talento remoto que tenho desse tempo e, talvez, pelo meu pai que, por pedaços de madeira fazia quase tudo de pequeno tamanho, incluindo brinquedos, carrocinhas, caixas... isso tudo ficou no meu subconsciente (ou no inconsciente? Não assimilei, ainda a linha divisória entre um e outro desses dois fenômenos psíquicos).

Pois bem, dia desses fazendo um trabalho com furadeira como que "por encanto", sumiu esta peça, chave para apertar as brocas no "mandril".



         




Essa chave tem 8 centímetros e, ao sumiço,  foi procurada à exaustão, até mesmo rastelando a área do gramado onde ele poderia ter caído. 

O pequeno pote de parafusos e pregos foi despejado uma dezena de vezes. E nada. Dei como perdida. 

— Duende fazendo traquinagem sempre dizia aos meus filhos pequenos quando alguma coisa sumia. 

Com alguma dificuldade comprei outra chave que servia na furadeira.

Eu tenho comigo, ainda, caixas de madeira feitas pelo meu pai que devem chegar há 60 anos. Elas estão comigo para guardar documentos mas uma delas serve exatamente para guardar a furadeira.

Resolvi reformá-la e pintá-la.

Nesses momentos havia a presença remota de meu pai que falecerá havia já 36 anos.

Esta é a caixa ainda não pintada, mas já reforçada tanto tempo depois de feita. E o pote de pregos e parafusos está ao lado.











Então, nesse trabalho precisei dum pequeno parafuso. Voltei a despejar o pote.

Para meu espanto, a chave desaparecida reapareceu destacada do monte de pregos e parafusos como se quisesse me surpreender. Fiquei atônito, porque o pote fora revirado várias vezes não só à procura da chave como, depois, em busca de parafusos e pregos.

Talvez houvera naquele momento de um trabalho humilde da reforma que fazia naquela caixa feita pelo meu pai há tanto tempo, sua presença forte na memória e, dai, por isso, deu-se um movimento de transcendência.

Não posso explicar diferente disso.

II. O Google não é a inteligência artificial?

Acho que sim.

Vejam só. A plataforma acabou com os dicionários — ou a necessidade constante deles — as enciclopédias, os atlas e milhões de livros técnicos, guias de ruas...

Mas, vou dizendo que sou ledor constante de livro impresso e não ando com o celular pendurado no pescoço, só os óculos.

A IA creio terá a muito a dever ao Google.




Virou expressão cotidiana:

"Dá um Google".

Na minha profissão (advocacia) — agora restringindo muito pelo tempo de exercício — então com o Google efervescente naqueles dias, havia lido nalgum publicação uma decisão do STF que mais tarde dela precisaria de modo impreterível.

Fui ao portal do STF e não a localizei. Então,

"dei um Google" e achei a decisão...

Simples assim.

III.  Tempos de desastres ambientais e o calorão

Já tem gente séria questionando as imensas áreas de plantio de soja, a perder de vista, sem qualquer reserva verde. E há os que já questionam os pastos para o imenso rebanho bovino que, digam o que quiserem, participa ativamente do efeito estufa.

Nos dois casos, as florestas foram devastadas implacavelmente. 

E há aí um receita perversa: parte da produção da soja alimenta o gado.

E há os depravados que fazem queimadas, não se preocupam com os animais que morrem, derrubam árvores e com tudo isso feito, todos lamentam o calor.

São os farsantes, os estúpidos.

E os omissos não se dignam a plantar uma árvore na sua calçada por causa das folhas que são obrigados a varrer. Se fecham e ficam na frente da televisão, ligando o ventilador.







Sinais de tempos futuros sem muito futuro.

Deus meu, quanto já falei sobre isso neste meu canto silencioso!




















26/10/2023

CENAS DO COTIDIANO (iii)

Esta seção deve sempre trazer impressões do cotidiano, até vivências banais. Mas desta vez, excepcionalmente, há um pouco de filosofia, digamos.

MUDEI O TÍTULO DE "JANELA DISCRETA" PARA "CENAS DO COTIDIANO"

Temas
● As árvores são acolhedoras
● Os filhos são caros (R$)?


Ap
enas dando uma olhada discreta...

 










AS ÁRVORES SÃO ACOLHEDORAS
Recebi essas impressões, descansando sob uma amoreira e ameixeira aqui no meu quintal.



...um chamado silencioso, esse sentido de acolhimento que retribuem elas (as árvores), aos cuidados que recebem.




 


Mas, tenho que dar um crédito a uma reflexão do filósofo Nietzsche de quem não gosto muito embora dele só tenha lidos apenas dois livros. Dia desses vou tentar ler mais um qualquer...

Então, no "facebook" um membro divulgou do filósofo, a frase seguinte:

"Nós nos sentimos bem em meio à natureza porque ela não nos julga".

Não nos julga?

Há muito tempo, em Manaus, passando por lá, constatei que os compromissos à tarde eram marcados ou antes ou depois das chuvas.

Agora, o Amazonas sofre seca nunca vista. Os rios secam. A fumaça das queimadas sufoca. A floresta vai sendo exterminada. As temperaturas se elevam no planeta. “A culpa é do el nino”...

Se a natureza não nos julga (aí as árvores) ela reage severamente não por vingança, mas porque ela compõe o essencial do planeta e não consegue se recuperar a tempo.

As crises atuais, que se agravam e a continuar esse estágio de irresponsabilidade antiambiental pode levar a um colapso inimaginável.

Então, a despeito dessas minhas ponderações, num dado momento, sob as minhas árvores que florescem sadias, recebi um chamado silencioso, esse sentido de acolhimento que retribuem elas, aos cuidados que recebem.


OS FILHOS SÃO CAROS (R$)? 

Dois filósofos, chamemo-los assim, que vivem na mídia disseram que um casal ter filhos será muito oneroso, para  vida toda.
Um deles sei que não tem e provavelmente não terá filhos.
Então ironizei naquele meu jeito de ironizar: "talvez ambos, se mirando no espelho, pensando nos seus pais, estejam fazendo uma autocrítica".
Pois bem, aqui em Piracicaba, há o Parque da Rua dos Porto, uma área de lazer, de caminhadas e tem até o quiosque da Biblioteca Pública "em público". Já falei desse quiosque já emprestei MUITOS livros e ainda tenho de lá, uma pilha pendente de leitura.
Nesse Parque há uma área de lazer também para os cachorros de estimação, tudo arrumadinho para o conforto dos estimados de quatro patas.




Área de lazer dos cachorros no Parque da Rua do Porto - Piracicaba








E, então, eu até já disse sobre isso: eu tenho observado casais não só de idosos, de meia idade e também jovens segurando a cordinha de seus cãezinhos e alguns até soltos... 
Onde estão os bebês em passeio nos seus carrinhos? 
Calculo cinco cachorrinhos para um bebê, minha estatística no "olhômetro".
Claro que os cachorros não dão o trabalho de um filho e, exigem pouco e vivem quanto, 15 anos?
Se maltratados eles voltam e lambem a mão do agressor.
Dia desses ouvi de uma palestrante espírita que os cachorros, principalmente os vira-latas, que no seu amor conseguem atrair para si um pouco das preocupações de seus donos, de suas angústias...

Não pelo que disseram os filósofos referidos, mas eu tenho refletido muito nestes novos tempos de celulares, de meios de comunicação e de mudança de vida de milhões de pessoas. 
Nestes tempos incertos.
E, nesse meio, o conforto e a despreocupação em alimentar apenas um cachorrinho e não um bebê pensando no futuro.
Que futuro?



23/09/2023

TERRORES

Esta crônica eu relutei em divulgar porque se refere a experiências psíquicas (ou espirituais?) muito particulares. Mas, estou lendo “Confissões” de Santo Agostinho — filósofo católico, nascido em 354, apenas 41 anos depois do Édito de Milão, assinado em 313 por Constantino tornando o cristianismo religião oficial do Império Romano —, tempo tão próximo de Jesus, e constato que, antes da conversão de Agostinho ao cristianismo, suas confissões a Deus expunham as mesmas indagações que eu próprio faço hoje, tais os mistérios que rodeiam este planeta sofrido e o próprio Universo.

Eis que resolvi divulgar estas passagens. Nesse longo período de indiferença, creio, pior não foi porque eu nunca abandonara a força Universal — eu costumo chamar de “pensamento forte” — por tudo o que estudara e meditara sobre as relevâncias da vida, questionando com insistência as diferenças entre os semelhantes e, por causa dessas experiências sempre me pergunto o que domina o impulso de tantos desatinados que causam espanto e perplexidade tal a insanidade de seus atos?

Acho que, mudando um pouco conceito que li alhures e nem saberia dar detalhes, tantos anos se passaram mas, vez por outra, em termos da interioridade, da alma, tenho pensado que há os que, num impulso, revolvem os seus “porões”, aqueles resquícios de um passado insondável que eclodem de modo incontrolável num momento qualquer de provocação.

Aí o rancor, o ódio, o assassínio…e as tragédias que provocam.

Pois bem, na minha escala de proporcionalidade, há alguns anos, dando uma escapada possível das aulas da PUCSP com alguns colegas, fomos assistir “O bebê de Rosemary” um filme de terror sofisticado dirigido por Roman Polanski.

No enredo, havia em torno da futura mãe uma seita demoníaca que a controlava num convênio com o marido dela, esperando o nascimento de um bebê que atendesse aos desígnios do mal até porque o suposto pai fora uma entidade materializada num ritual sórdido de seus adoradores.

Aquela noite já não passei bem.

No dia seguinte, como uma marca de chumbo afetando severamente meu modo de encarar os desafios que a vida impõe, num lampejo esse peso foi agravado porque fiz ligação com relato de cena parecida de materialização de figura demoníaca descrita no livro “Mistérios e magias do Tibete” de Chiang Sing que garante que fora verdadeira e tão degradante, a ponto de recusar a autora dar detalhes em sua obra. 




Resenha, acessar: Mistérios e Magias do Tibete


 










Esse estado de carregar um fardo nefasto perdurou por uma semana. Havia revolvido o meu porão e teria que esperar a poeira baixar reagindo com meditação e oração.

A segunda vez que me senti mal se deu depois de, apenas numa noite, ler “O Exorcista” de William Peter Blatty.

É também uma obra que não faz terror “gratuito”, digamos, que pode ter algum significado para adeptos desses temas.

Fiquei, também, algum tempo, com os mesmos sintomas que acima relatei.

Para muitos essas obras são indiferentes, um passatempo mas não foram para mim.

Então, há muito deixei de assistir qualquer filme de terror — não perco mais tempo com eles — e no tocante a livros, dos tantos que tenho lido, alguns podem ter esse tema mas os tempos agora são outros.

Mas, quer pela maturidade quer pelos convênios que unilateralmente formulo a Deus esses terrores e outros que não relato nunca mais se manifestaram.

E, ademais, eu evito remexer nos meus porões.

A ira, para ficar somente nela, provoca mal-estar e quase sempre desarranjos de consciência.

Os sonhos podem informar coisas, revelações sutis e, a cada noite peço ao Criador, deixando um pouco seus mistérios Universais que me faça sonhar com almas melhores do que a minha ou vivenciar, nesse estado, experiências edificantes.

A idade ajuda ou leva à reflexão. Nesses temas tão pessoais, tão reservados eu preciso conversar com Alguém… porque eu sinto a minha fragilidade.


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