27/06/2010

EU AMO TUDO ISTO!

EXPLICAÇÃO

Esta crônica foi publicada no portal “Prosa e Verso de Boteco” não faz muito. Preciso trazê-la para cá para ir centralizando tudo o que tenho escrito de bom e ruim. Há outras por aí que preciso achar.
No citado portal, esta explicação seria dispensável, porque é mais aberto, mais acessado. Nestes “Temas”, acho que a coisa fica mais reservada aos poucos leitores que me acompanham. Mas, enquanto houver um...
Pode parecer que o seu título fora inspirado numa campanha de famosa rede de fast food que não frequento e, claro, não consumo seus lanches. Nenhum.
O motorista parecia eufórico naquela manhã e se saiu com ela, essa frase, como explicado na “1ª cena”.
Na “2ª cena” me refiro no final a um restaurante-lanchonete que conheço há anos na rua de São Bento, São Paulo. De vez em quando eu passo por lá. O lanche a que me referi fora um sanduíche de queijo provolone quente com fatias imensas no pãozinho com bastante alface e rodelas de tomate no meio, muito bom.
O problema é a dose de colesterol. Juro que depois dele andei bastante pela minha destratada e querida cidade natal para queimar a gordura. Mas, não tem jeito. Sempre sobra alguma coisa e essa sobra faz crescer a elevação umbilical. Ai, ai, ai, o que fazer?


1ª cena: “Eu amo tudo isto”

Vou para uma audiência em Belo Horizonte marcada para as 09h00, início dos trabalhos. Saí de madrugada, preocupado porque minha viagem iniciada em Viracopos comportaria conexão no Rio de Janeiro. Chego meio em cima da hora no aeroporto de Confins. Se considerada a distância do centro de Belo Horizonte, realmente está ele nos confins. Alcanço o taxi. Falo de modo peremptório ao motorista:
- Olha, tenho que chegar à Justiça do Trabalho antes das nove. Você vai ter que sair pelas quebradas. Eu sei que estamos a 40 quilômetros do centro e veja a hora...
- Vai dar tempo, doutor! - respondeu com um largo sorriso.
Sujeito bem humorado! Mantive o meu mutismo, nervoso com o andar do relógio. O taxista quebra o “gelo”:
- Veja só doutor, estamos já em novembro, o tempo está passando depressa demais, não? - hoje já é quinta e daqui a pouco estaremos no Natal. Tem um cientista que diz que o tempo, por causa da poluição e das mudanças na atmosfera anda mais depressa, mas marcando o relógio a mesma hora de sempre.
- Talvez você se refira à Ressonância Schumann, disse eu impaciente. Por causa dos desarranjos ambientais, segundo essa teoria, a terra de uns anos para cá estaria em permanente taquicardia, mexendo com a velocidade do tempo do jeito que você falou. Mas, acredite se quiser...
Entramos num congestionamento terrível nas proximidades do centro. Olho para o relógio desesperado e ironizo:
- É, aqui o relógio realmente está rolando depressa demais.
- Garanto ao senhor que chegaremos a tempo, respondeu o taxista sorridente.

Retomando o assunto do tempo se esvaindo mais depressa do que no passado, ilustrei:
- Olha, o tempo pode até estar passando depressa, mas na média estamos vivendo mais, não sei se é bom ou ruim.
- Bom demais, doutor, eu amo tudo isto, respondeu dando uma arrancada e saindo à direita por uma quebrada estreita conseguindo fugir do congestionamento.
Ao me deixar na frente do prédio da Justiça do Trabalho, logo depois, antes de dar a partida, fez um sinal e gritou:
- Vou saber dessa tal “ressonância”. Até sempre.
Às 8h55 já estava no elevador da Justiça do Trabalho, lotado. Havia certo nível de tensão naqueles rostos todos. Audiência para mim é sempre um momento de tensão. Veio-me a frase do motorista:
- “Bom demais, eu amo tudo isto!”

2ª cena: “Minha idade de vida? 92 anos”

Desço tranquilo do 5° andar do Fórum João Mendes, em São Paulo. As coisas tinham caminhando bem nos meus (poucos) processos por lá e por isso havia baixado meu estágio “normal” de tensão quando da subida. Alojo-me bem na frente da porta do elevador e ouço um velhote, mas bem idoso mesmo, debatendo com outro idoso algumas questões jurídicas.


Volto-me e me surpreendo com ele, magrinho, baixo, cabelo ralos dividido no meio. No térreo não resisti:
- O senhor é advogado militante? Posso perguntar sua idade?
O velhote me olhou de alto a baixo, segurou firme a gravata verde, vacilou um pouco, respondeu:
- Sou advogado e minha idade são 92 anos.
- Mas o senhor ainda exerce a profissão?
Diante da resposta afirmativa, aquele que parecia ser seu cliente, também idoso, arrematou:
- E ele viaja para outras cidades para audiências e o que mais necessário.
Revelei minha admiração pela sua disposição para o trabalho e me envergonhei um pouco pela minha preguiça, mesmo depois de estar me aproximando das quatro décadas advogando ou indiretamente me valendo da advocacia para outros tipos de trabalho.
A advocacia é uma espécie de cachaça embora de má qualidade que vicia.
Sai para a rua de São Bento nos rumos de um velho bar para um lanche reforçado. Na frente da estação do Metrô, a uns dois passos do Largo de São Bento.
- Bom demais, eu amo tudo isto!



Fotos (from Google):
1. Fórum João Mendes (www.flickr.com)
2. Largo de São Bento (ircaldas.spaces.live.com/blog/)

20/06/2010

A ESPREITADORA

Explicação

Não pretendo ser lúgubre nesta crônica, embora reconheça que se trata daquele tema que muitos tentam ignorar e levam a vida pra frente, mesmo sabendo que a espreitadora anda por aí.
Eu também levo a vida pra frente mas quando se atinge certa idade, alguns amigos começam a ser “recolhidos”, pessoas importantes que foram referência também, e é nessa hora que paro um pouco para meditar sobre essa inevitabilidade.
Não fui fundo nas transcendências que o tema pode sugerir, até porque não tenho condições intelectuais para tanto
.

O recolhimento do escritor português José Saramago no último dia 18 de junho em linhas gerais foi assim descrito: tomara o café da manhã, começando logo depois a se sentir mal, teve atendimento médico, mas não resistiu às sequelas de sua doença respiratória, entre outras deficiências, do alto de seus 87 anos. As Divindades lhe garantiram um passamento suave mesmo considerando sua proclamada condição de ateu: “Deus não existe fora da mente das pessoas”. Mas, e certas emanações que provém da mente, meu ilustre “cara pálida”? Melhor não pensar?
Morte suave também se deu com meu pai, que cuidava de enfisema pulmonar que adquirira, creio eu, por conta de décadas de fumante de cigarros “quebra-peito”, aqueles “macedônia”, “continental” e outros de “altos teores”. Naqueles tempos em que os atores de Hollywood nos filmes faziam ligação de cena fumando com prazer seus cigarros. Claro que também dessa indústria deveria rolar um belo cachê.
Esse relato sobre o meu pai pode ser lido em "Amarguras e ternuras contidas", crônica de 22.05.2009.
Aquilo que de modo eufemístico, qualifico de “recolhimento”, sempre me causa perplexidades, porque o momento em que eclode, ou ocorre de modo suave, ou com extrema e traumática violência. Os acidentes aéreos são sempre impressionantes.
É a eterna espreitadora que resolve a hora e o modo de agir, aproveitando até mesmo a reunião de tantos num dado momento e lugar, por conta de “carmas” comuns, tentam explicar aqueles que acreditam na compensação de saldos que ficaram pendentes ao longo das existências. Lei de talião?
Há milhares de casos iguais a este que acompanhei por força de minha profissão o que explica o meu absoluto afastamento da área criminal. Em aulas de medicina legal meu estômago, ao presenciar certas imagens, me traía.
Um atropelamento fatal que um cliente jovem praticara, vitimando uma moça bem jovem que, depois de uma festa, caminhava de madrugada pelo leito molhado de rodovia de alta velocidade com pouco movimento naquela hora, acompanhada de outros colegas, todos alcoolizados em maior ou menor dose. Chovera muito, horas antes. Havia lama no acostamento, forçando os festeiros a andarem no meio da estrada. Uma neblina tênue dificultava a visão dos motoristas. Os faróis só em parte ajudavam porque o nevoeiro diminuía sua eficiência. O atropelamento fora inevitável, a vítima caminhava com passos incertos a dois metros no leito da rodovia, quase no seu centro.
A foto que compunha o inquérito policial me impressionaria para sempre. O rosto da jovem, jogada a metros de distância, estirada num barranco raso ao lado do acostamento, no meio de vegetação rasteira, cabelos loiros bem cuidados, olhos abertos, boca entreaberta, dentes à mostra, um sorriso macabro de surpresa, parecia não entender o fim violento da sua vida, a irreversibilidade do seu passamento. Aquela foto, aquela rosto, aquela expressão ficaram em minha mente por semanas, meses.
Muitas vezes, ao saber de atropelamentos fatais, aquela imagem angustiada, sorriso triste me assaltava, não como assombração, mas como uma advertência da fragilidade da vida que às vezes se esquece naqueles momentos de soberba.
Lembrava-me sempre dos versos de um poeta “sofredor”:
“Da mais humilde à mais soberba criatura
A vaidade impulsiona o mundo, porém
Mas, no fim, nada restará senão o pó, o além...”

Afinal, uma fração de segundo antes do acidente mortal, aquela moça comemorava a alegria do baile que se encerrara minutos antes, alguns copos de cerveja a mais, desenhando sonhos e projetos já para o dia que nascia, um domingo que prometia tranquilo, após a madrugada chuvosa. O céu limpara, a noite começava dar lugar à aurora.

A lua dera o ar da graça entre nuvens que se recolhiam mas já ofuscada pela luz do amanhecer. As estrelas desapareciam também ofuscadas pela luz solar. A tragédia em nada impediria uma manhã ensolarada dando a impressão de que as árvores rebrilhavam comemorando a chuva forte de horas antes, enquanto bem-te-vis, andorinhas e pardais esvoaçavam, alguns caçando insetos despertos que saiam dos esconderijos recepcionando o sol.
Era o sinal de que a vida seguiria seu curso, cada um a experimentando segundo seu grau de merecimento até os limites postos pela espreitadora no exato instante que resolve intervir.
Muitos ela conduz por um túnel onde irradia a paz para novas missões.
Para outros, os de má índole...


Imagem: "Nebulosa de Hélice ("O Olho de Deus" - explosão de estrela semelhante ao Sol) NASA, from Google.

15/06/2010

A COPA É A DE 1958 (Quando tudo começou!)

Não me venham com essa de que o que passou, passou e que as reminiscências são exercícios de quem se volta para o passado porque no seu hoje os desencontros são doses de angústia insuperáveis.
Quanto a mim, pelas reminiscências, já fiz várias comparações e chego sempre à conclusão de que aquelas são espécie de alimento que amenizam, sim, minhas angústias nestes tempos cruéis. O que fazer? Mas, eu não desisto, não!
Lá estão as origens, lá estão as marcas dos pés que ficaram no tempo. Os passos da vida a serem contados aos que se disponham a ouvir.

Morávamos numa casa modesta, já melhorada, porém, com um quintal apreciável, duas cachorrinhas que minha mãe cuidava com carinho, um papagaio instável que só não se irritava com meu pai. Esse papagaio tinha a liberdade de se locomover por um longo arame esticado que saía de um poleiro próximo de uma parreira que pouca uva dava – se é que dava alguma – até nos fundos, no quartinho de despejo, também oficina de marcenaria de meu pai, um talento que tinha e com ele construía brinquedos e utilidades bem feitinhos.
As bananeiras também nos fundos ao lado do quartinho deram muitos cachos que viravam bananada no panelão. Eram pequenas. No meio do caminho, aquela fruta meio ácida que conhecíamos como “tomate japonês”.
Garotão em 1958, no ginasial, no 1° ano, palmeirense como todos em casa, comecei a me dar conta da Copa do Mundo, acho, quando a seleção brasileira venceu a da Áustria por 3 x 0 em 8 de junho.
À medida que a seleção ia vencendo o interesse ia crescendo na mesma proporção. Conseguiria o Brasil o campeonato mundial, finalmente? Na verdade, apenas oito anos depois, que me lembre hoje, ninguém mais se importava, então, com a derrota de 50. Acho que é coisa da imprensa, aquelas comparações absurdas, tanto que sempre que a seleção do Brasil joga com a do Uruguai, a partida se “transforma’ em revanche de 50. E o goleiro Barbosa, coitado, foi “condenado” para sempre. Que perdoe os brasileiros e a crônica esportiva no seu recolhimento.
Dava gosto ouvir a narração de Pedro Luis e Edson Leite que se revezavam nas transmissões da “cadeia verde-amarela”. Imaginem, comparar esses locutores com os de hoje – é melhor não comparar porque ofenderia a memória de ambos. Acho até hoje que Pedro Luis era palmeirense, de tão bom que era.

A coisa chegou à empolgação no jogo da terça-feira, dia 24, quando a seleção venceu a França por 5 x 2 e foi para a final com a seleção da Suécia.
Domingo, dia 29, nascera ensolarado. A decisão.
Havia nervosismo geral eclodindo no ar. O jogo começaria aí pela hora do almoço.
Todos a postos na minha casa, meus pais, irmãos, as cachorras e o papagaio temperamental se equilibrando entre um poleiro e outro pelo arame.
Logo no início o time da Suécia fez o primeiro gol da partida. Minutos depois, Vavá empataria e faria o 2°. O radio em volume alto transmitia a narração impecável de Pedro Luis. No final do 1° tempo, 2 x 1 para o Brasil, crescera o estado ansioso generalizado.

No 2° tempo o time do Brasil deslanchou: gol de Pelé, de Zagalo, 4 x 1, gol da Suécia, 4 x 2 e o “magistral gol de Pelé” (assim qualificado por Edison Leite que narrara o 2° tempo com emoção) o último, no final, que confirmaria o título para o Brasil, 5 x 2.

Fogos e rojões saíram de não sei de onde e espocaram lá nos altos do quintal, todo mundo emocionado em casa, as cachorras perdidas com aquele alvoroço incomum, trêmulas com os estouros, precisaram ser contidas e acariciadas, o papagaio maluco que, descendo para o chão, batia asas, gritando feito louco acompanhando o embalo da festa...
Ah, aquele dia de 1958! Aquela seleção sem estrelismos, sem endeusamentos, sem os milhões, profissionais que honraram o país.
O que fazer se o futebol é assim!

Até hoje reflito sobre aqueles momentos de confraternização e alegria em casa por obra da Copa de 1958 e ainda hoje quando ouço trechos da narração de Pedro Luis e Edson Leite, me arrepio.
E já despontava a bossa nova!
Meu Deus, que tempos aqueles!

Foto: Pelé aos prantos apoiado pelo goleiro Gilmar e Didi - 1958 (Google Imagens)


Página do Diário do Grande ABC de 22.06.2018

Acessarhttps://martinsmilton.blogspot.com/p/moravamosnuma-casa-modesta-em-sao.html

06/06/2010

TERRORES E TREMORES














"Ainda que tivesse sido o maior pecador dentre os homens, a nave do conhecimento da Verdade te conduzirá sem perigo pelo mar dos pecados”.
“Dirige, pois, a Mim todos os seus pensamentos e luta. Se a tua mente e o teu coração em Mim firmemente fixares, com certeza, enfim, a Mim chegarás”. (Bhagavad Gîtâ)


- Bem, pelo jeito posso lhe relatar alguns terrores que tenho guardado comigo e posso até ter escrito sobre eles mas de um modo meio poético, sabe aqueles devaneios ambíguos, nem sim nem não?
Não saberia precisar bem o momento ou suas causas. Talvez tivesse algo a ver com meu desinteresse religioso ou por fixação nalguma literatura que lera em algum momento. Não sei.
O processo fora gradativo. No começo, durante o sono, ocasionalmente, sentia-me incomodado. Nesses momentos, parecia estar lúcido no sonho, tentando desesperadamente acordar, mas alguma coisa me impedia de retornar ao "lar", de reassumir, digamos, a minha própria vida. De repente, como num estalo, acordava sobressaltado, totalmente consciente do que experimentara, de todo o mal-estar que tivera.
Acho até que na morte assim ocorre para aqueles muito apegados às coisas da terra. Talvez essas experiências, por esse lado, a mim se aplicam até que bem.
Preciso fazer um parêntesis, porém. Sabe do livrinho Bhagavad Gîtâ que já lhe falei?
- “Sublime canção”, lembro sim.
- Tem um trecho assim, dito por Krishna - que poderia ser considerado, para nós, o “Eu Superior”...
- A essência de Deus em nós?
- Diz:
“Faze bem o que te compete fazer no mundo: cumpre bem as tuas tarefas: ocupa-te da obra que encontras, para fazê-la o melhor possível: assim será muito bom para ti. Atividade é melhor do que a ociosidade.
E olha o que mais, porque a Divindade reconhece que o nosso mundo é também o da matéria:
“A atividade fortalece a mente e o corpo, e conduz a uma vida longa e normal; a ociosidade enfraquece tanto o corpo como a mente, e conduz a uma vida impotente e anormal, de duração incerta”.
E isso foi escrito lá pelo século IV antes de Cristo!
- Vida é movimento, então? Para ser bem simples. É bem atual.
- Pois bem. Passados esses momentos de terror, embora um pouco perturbado saía logo cedo para o meu mundo de obrigações, para as minhas tarefas da vida, “porque a ociosidade enfraquece...”
Certa noite, como se tocado na região dos tornozelos, tivera novos momentos de terror. Aquele toque sobremaneira físico, fizera vibrar todo o meu corpo, a alma, sei lá, tudo. Acordara instantaneamente, vivendo ainda aquelas impressões, aquele toque tão real, coração batendo a mil, trêmulo, aterrorizado, o desejo imenso de me esconder sem saber bem aonde, sob as cobertas, de mim mesmo, sabe lá. Sentia-me mal, muito mal.

Quando tal ocorria, meu dia não era bom.
Numa dessas visitas particularmente difíceis invoquei, “Jesus Cristo me ajude”. O resultado foi imediato. Acordei sobressaltado, mas instantaneamente livre daquela invasão, digamos, com alívio.


- Mas, você não se proclama agnóstico?
- Moderado meu caro, eu já disse a você sobre isso – lembre-se da minha definição particular. Tanto que nessa questão de vida e morte pendo para a reencarnação.
Passado algum tempo desses "toques" assustadores, fantasmagóricos, certa vez alguma mudança ocorreu.
Umas poucas vezes que me lembre, o sintoma do "toque" voltou a se manifestar como se me amarrasse. Mas, em minha mente, veio uma mensagem nítida:
- É benigno !
Meu corpo e alma novamente vibraram, mas de modo inspirador, tranqüilizador.
Acordei após aqueles segundos de sensações como se estivesse interiormente iluminado, com muita paz.
Na manhã seguinte, mesmo envolvido nos meus afazeres graves, carregava comigo resíduos de paz e harmonia.
- Experiências do bem e do mal, acho.
- Eu assim interpreto, mas não sei porque logo eu teria essas experiências.
Seria também uma dose tênue do evento morte ou a exteriorização dos efeitos do mal e do bem sobre nossa alma que, por uma razão qualquer me foram transmitidos. Pela fresta que se abriu no reino dos sonhos, eclodindo como um vulcão, o que se acumula no Ego inferior (o “porão”) e no superior (“uma impecável e imaculada sala de visitas”), as contradições da vida.
- E você invocou Jesus Cristo, hem?
- E como relatei, o resultado não poderia ter sido melhor. O que dizer, se não a verdade do que se passou?
- Sabe de uma coisa? Duvidava que você me contasse tudo o que me contou. Acho mesmo que o mundo dos sonhos tem “regras” próprias incompreensíveis. Eu por exemplo, não poucas vezes, me vi viajando em localidades estranhas e até conhecidas. Não é que certa vez, caminhava por uma cidade na qual vivi minha juventude e até visualizei o nome de rua nessas placas comuns que, para dizer a verdade, naqueles tempos, pouco conhecia. O nome da rua veio comigo quando cheguei a acordei. Usei o mapa para localizá-la naquela cidade. E ela lá estava.
E sabe o que mais? Isso que você me revelou daria uma crônica que até já bolei o título: “terrores e tremores”.
- É complicado falar sobre isso. Reflita muito antes de divulgar esse relato porque são experiências muito pessoais, sujeitas ao descrédito quase total. Quantos não teriam algo a dizer a respeito e silenciam. Com essas revelações alguns dirão: “o cara é alucinado, beirando a doideira”. E, claro, não se menciona nome...se você, um dia, tiver coragem de publicar. (1)


Imagens:
(i) yogasaocaetanodosul.blogspot.com
(ii) Theconspirate.blogspot.com (Jesus Cristo e Krishna)
(Google imagens)

(1) V. "Alucinações, Sonhos (?)" de 03.04.2011