05/04/2023

AONDE VAMOS? O QUE ESPERAR?

 Mas só sei ler livro impresso!






Este breve texto tem algo a ver com esse quadrinho do Recruta Zero.

O personagem que segura o livro, é Platão, o "intelectual" do quartel, que parece resistir à modernidade — ler um livro no "tablet" —, dizendo que o livro impresso "é um experiência mais completa", é um romance, um volume  "perfumado".

Não, o perfume do livro, isto é, o cheiro da tinta e do papel só se sente nos volumes novos e essa "virtude" — a do perfume — se revela tenuemente. Mas, se revela. Em dois livros novos aqui comigo: "Stalin" e "Leonardo da Vinci" esse leve perfume de tinta e papel, agradável, não foi preconceituoso nem com o primeiro, a biografia de um ditador perverso.

O quadrinho questiona a modernidade, ainda do tablet.

Quanto a mim, nem pensar em ler livros no computador ou afim. Os poucos que li nesses recursos, tiraram a minha liberdade de anotar, de refletir nas próprias linhas do livro.

Não creio que me adapte a esses recursos, a esse modo de ler livros.

O livro para mim tem que estar à mão e não numa tela.

Depois de tudo a que me vi obrigado a aprender e me adaptar, aos sistemas digitais e tudo o mais há recursos que rejeito.

Por exemplo, eu tenho celular e costumo dizer que eu o uso, assim, mas ele "não me usa".

Eu fico perplexo com a ostentação desse aparelho mesmo com pessoas em caminhada dominical, meio curvados olhando para a telinha.

Vou confessar uma coisa: eu ando angustiado com a velocidade como as experiências se efetivam: como estaremos com o advento da Inteligência Artificial daqui a pouco? Esses sistemas integrados que respondem a tudo? E essas experiências são só o começo. Acredito que logo seremos questionados por eles, por esses sistemas todos, aí incluída a AI.

Estou preocupado e mesmo angustiado. Enquanto estiver por aqui, de quais prazeres terei que abrir mão com toda essa tecnologia que avança de modo cada vez mais rápido? Que nos desafia? A própria vida será alterada?

Amenizo minhas angústias com o livro que acabo de abrir, sem perfume porque é bem possível que ele tenha frequentado algum sebo.

Mas, para mim o livro impresso não precisa de perfume. 

Não exagero, o perfume está nas expectativas que o livro vai desvendando, página por página.







Obs.: esse quadrinho foi publicado na edição de "O Estado de São Paulo" de 03.04.2023.