03/08/2014

ABELHAS E VESPAS



Muitas são as experiências interessantes com abelhas relatadas sempre. A minha é simples e de não agressão embora eu me expusesse a tanto no meio delas. Hoje, como tantos outros animais e insetos úteis elas estão num processo de extinção, quer pela degradação ambiental, quer pelos agrotóxicos espargidos nas plantações. Dentre os "animais" que polinizam, a abelha é o principal indivíduo. Elas equilibram a produção de frutas e outros alimentos que tende gradativamente à diminuição.
Estes são os tempos das tragédias ambientais.
Como essa preocupação não afeta a quem deveria, porque hoje tudo é imediato e na linguagem do dinheiro faço minhas homenagens às abelhas  torcendo por elas e enaltecendo a necessidade de sua proteção.
Abelhas
São essas pequenas coisas que ficam, um carinho só, um sonho que com o tempo vai se desfazendo. Não sei bem porque é ou foi assim. Me parece que para muitas coisas há uma fadiga natural e, com ela, certo desencanto e a ansiedade de mudança eclode.
Pois, foi assim.
O terreno não ia a sete mil m². Era tomado por eucaliptos. Para torná-lo aproveitável comecei um trabalho de arrumação do terreno. Um pequeno trator se incumbiu da devastação. Mas, no lugar dos eucaliptos, em todos os cantos foram plantadas árvores frutíferas, abertos canteiros, flores e, com elas os beija-flores e abelhas.
Muitas árvores e plantas foram queimadas pela geada que por lá se dera nalguns invernos.

Depois, construí uma casa de madeira, bem própria para o campo. Arrumadinha mas com alguns detalhes meio precários, caso dos vãos entre o telhado e o forro, que permitiram que morcegos frugíveros ali passassem a viver, ruidosos a noite inteira sobre o forro. 



E mais, tempos depois, num dos lados do telhado, bem na aba da varanda, a pouca altura, instalou-se um enxame de abelhas.
A colmeia cresceu muito. O mel quase que varava pelo o forro frágil de fibra tipo “eucatex”. Chegamos a extrair mel em razoável quantidade.
No calor insuportável dos dias de verão, as abelhas pareciam sofrer muito porque as telhas de amianto aumentavam a temperatura ficando a colmeia “prensada” num forno.


Em grande quantidade elas deixavam o abrigo no telhado e, “nervosas”, saiam em busca de alimento ou permaneciam esvoaçando ruidosas a poucos metros do chão.
Tinha por hábito passar no meio delas. Elas se embaraçavam nos meus cabelos, mas nunca foram agressivas. Jamais fui vítima de seus ferrões, salvo uma única vez em que uma delas, vendo-se presa atrás da lente de meus óculos, ameaçou a picada que não consumou. Se se consumasse, poderia ter atraído o ataque de outras e teria sido perigoso...ou doloroso o suficiente para não mais esquecer.
Essas abelhas eram agressivas. Certa feita, num pequeno serviço de terraplenagem por perto, o tratorista foi violentamente atacado por elas.
Para mim, essa relação de confiança demonstrada pelas abelhas, transcende o acaso, deixando transparecer que até elas respeitam sentimentos de não agressão e de tolerância.
Mas, não havia como, um dia tiveram que ser retiradas por quem bem delas cuidava.
Mas, essa minha convivência com elas, pode não ser pacífica. A reação pode não ser a mesma em qualquer outra circunstância ou pessoa podendo ser perigoso. 
O tratorista a metros de distância da colmeia teve essa experiência ao ligar o trator. 
Tantos anos depois, ficaram essas saudosas lembranças.

[Foi lá que numa pequena área de mata baixa, vizinha, devo ter encostado a perna numa taturana venenosa. Foi uma das dores mais atrozes que senti.]

Vespas 

Quando vim para o interior de São Paulo mudando-me com a família do ABC , aluguei uma casa assobradada. Na parte de baixo espécie de salão de jogos, dando para o quintal, instalara-se, parecia fazer algum tempo, um ninho de vespas, aquelas cujas picadas são muito dolorosas.
As crianças querendo fustigar os marimbondos que ali viviam quietos e amistosos, passaram, numa tarde de sábado, a mirar tênis no ninho. Claro que o vespeiro ficou agitado e agressivo. As vespas se aproximavam tentando identificar o agressor.


Impedidos por mim de continuarem atiçando os bichos, depois de algum tempo, não houve jeito, tive que recolher os tênis bem debaixo do ninho semidestruído.
No momento em que estiquei o braço direito para recolher um dos tênis em local bem abaixo donde esvoaçavam as vespas, uns cinco indivíduos me atacaram, picando apenas o braço ameaçador.
Eles não me atacaram para agredir, apenas para se defenderem da iminência de nova violação.
Meu braço inchou, mas eu apreendi a lição da não agressão e da justa defesa.

 Fotos

1. Trator trabalhando no terreno e primeira "moradia"
2. Casa pré-fabricada. Na aba à esquerda da varanda, habitavam as abelhas
3. Abelhas
4. Vespas