15/03/2023

MAS, NÃO ESTÁ BOM ASSIM?

 (Tem momentos em que Deus responde)

Neste meu estágio de vida, com alguma frequência, noite adentro, tento encontrar alguma inspiração aos segredos do Universo que são tantos, insondáveis e nessa linha, quantas vezes me pergunto, aquelas perguntas até desprezadas, porque respostas não vêm, “o que faço por aqui?”, “qual o sentido disso tudo?”

Porque são muitos os segredos mantidos em ...segredo além da compreensão.

Qualquer que seja o gênio humano que pensa ter desvendado um desses segredos num momento dado, se depara com um outro muro a ser escalado e outro e outro formando uma barreira interminável de obstáculos aprofundando os desafios e submetendo a inteligência.

Seria esta uma razão para os mistérios do Universo? E não sou muito de leitura evangélica, mas leio ("Aos Corintios", 2-14):

"Ora o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem  loucura, e não  pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente". 

 Qual filósofo ou espiritualistas devotos de qualquer fé, desvendaram esses mistérios?

Por outra, não sou eu quem poderia interpretar sonhos mas eles estão presentes na vida. Com qual mecanismo psíquico eles se manifestam? Nesse meu mundo de ignorância total, quantos deles me são tão agradáveis? Pois convivo neles não sei em que plano com pessoas atenciosas, gentis que parecem ouvir o que falo mas não respondem.

E também sonhos um pouco mais reveladores, como este:

Viajo na noite de breu. Não sei bem como cheguei até ali e onde estou. Noite de breu. Acho que estou onde tenho minhas raízes. Nada enxergo, mas pergunto para alguém que não vejo. Aqui é a rua ...? A resposta não veio sonora, mas fui informado por algum modo que era. Mas, a rua era muito acidentada não poderia ser. Nem nos meus tempos de menino que guiava barquinhos de papel pelas guias quando era ainda de terra.

Os barrancos são altos, dava para perceber naquelas trevas. Paro na frente de uma velha casa mal conservada:

- Aqui mora minha tia M.?

Não obtive resposta, mas entrei. Algumas crianças crescidinhas sentaram perto de mim e alguns moços que também lá estavam  me olhavam com condescendência.

Um deles de óculos:

- Nós fizemos alguns negócios, você se lembra?

Não, não me lembrava.

Minha tia aparece vestida com um vestido longo, simples, levemente rosado.

Se aproxima, me beija o rosto e desaparece.

Acordei.

Há muitos anos que minha tia falecera.

Essas sensações além de me deixarem perplexo, me reconfortam.

Tento pensar na casa velha. Não importa, nela moravam seres cordiais e amáveis.

A simplicidade, para que mais?

Há sonhos que me aterrorizam - não falarei deles pelo menos agora. Por isso, ao me recolher, não poucas vezes peço às Divindades que me façam, nas minhas “viagens” etéreas, estar perto de espíritos com um grau superior ao meu.

Não faz muito conversava num ambiente público com um amigo, um sujeito bom, mas que tem por hábito usar muito o baixo calão por qualquer razão. Eu já havia chamado sua atenção sobre isso. Às vezes me parece que o baixo calão é um vício meio parecido com o cigarro: vicia. Ambos fazem “cortes” nas inspirações creio, na sutil revelação que numa intuição qualquer nos é dada.

Então, dele não se poderia esperar, pensava, algum pensamento revelador que se aproveitasse, que saísse daquele círculo mundano. Mas, num momento de divagação sobre tudo o que nos rodeia ele, apontando para o sol lá fora afirma:

—  Bom, alguém fez tudo isso.

E na linha desse meu amigo que reafirmo os segredos imensos da vida de cada um, eu fico perplexo em constatar que neste planeta, convivem bem ou mal seres humanos com alto grau de entendimento ao lado de outros que agem como feras. Vizinhos, um perverso e um caridoso.

E é desses, mas não só, que se assistem barbaridades inenarráveis e a vida segue aos que, mesmo magoados profundamente, têm que sobreviver já no dia seguinte.

E as grandes tragédias que vitimam centenas e até milhares de vidas num só golpe?

E essas tragédias, seria a aplicação da “lei da causa e efeito” aceita pelos espiritualistas, agora mais popularizada como “lei do retorno”? Essa “lei” tem efeito individual e coletivo?

Sim, a vida é frágil, mas preciosa para cada um de nós mesmo que não compreendida.

Bento XVI, em 2006, alemão, ao rezar no antigo campo de concentração nazista de Auschwitz na Polônia, aos horrores e mortes impostos a milhares de judeus, àquelas vibrações tenebrosas do local, perguntou:

- Onde estava Deus?

Essa é uma pergunta que cala na mente de todos nós ao assistirmos tragédias que emocionam.

Mas, foi Bento XVI, em suas últimas palavras antes do falecimento, quem disse:

- Deus, eu te amo.

Qual fora a motivação do papa emérito a tal confissão? Naquele momento da morte tivera a ampará-lo uma mão divina, uma visão iluminada?

Nunca se saberá porque a experiência fora pessoal e intransmissível.

Nessas noites de Lua cheia ou sem Lua, estrelas incontáveis, perto de minhas plantas – uma árvore é o repouso de passarinhos – que tomo a liberdade de perguntar a Deus:

- Por que tantos segredos? Mistérios? O que fazemos aqui nessa imensidão, num lugar proporcionalmente tão pequeno considerando o Universo ilimitado?

Até que me detive na Epístola do Apóstolo Paulo aos Romanos. Versículo 12: 2, 3:

2. E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.

3. Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.

Então, Paulo recomenda nos conformar com este mundo e, então, “não pense de si mesmo além do que convém”. Porque há nesses segredos indevassáveis, vou completando, “a medida da fé que Deus repartiu a cada um”.

Tenho um amigo com um nível melhor de compreensão, iraniano que vive há décadas no Brasil, seguidor da Fé Bahá’i, ocasionalmente eu o provoco sobre essas indagações que ele aceita bem, Deus, o Universo, os mistérios, essas angústias todas até que um dia desses ele me remeteu esta frase de Bahá'u'lláh, fundador de sua religião (*):

"E tu te consideras um ser insignificante, quando universo em ti se encerra?"

Mas, o que realmente pondero é a minha ignorância total “quando o universo em mim se encerra”. E, rigorosamente, com todos esses desafios, afinal, me pergunto: “sou insignificante”?

Bom, há momentos em que a vida enleva aqueles momentos que propiciam significâncias. E, penso muito nisso, ao final dos meus dias, levarei minhas experiências que só podem ser relatadas, jamais vividas por quem as tenha ouvido porque a emoção do momento não se transfere.

E, com o esquecimento ao qual estou reservado um dia, irei para algum estágio sem esses conhecimentos superiores não revelados, esses mistérios e segredos que não fazem parte das minhas possibilidades.

E todos com maior ou menor grau de reflexão não convivem com essas incompreensões no dia a dia? Difícil não pensar em si mesmo daquilo que não convém, contrariando Paulo.




A Lua como um olho que tudo vê. 





Noite dessas novamente refletindo sobre esses segredos universais sem respostas, sobre a vida frágil, a Lua lá no alto com seu reflexo prateado, recebi uma pergunta mental provinda não sei bem de onde, mas que me causou vigorosa impressão interior e significado se me propuser a respondê-la apenas por mim. Esta:

- Mas, não está bom assim?

● ● ●

NADA SEI DE ESSENCIAL

Ah, meus caros, aqueles tempos

De (ir) responsabilidade e

Imortalidade...

Isso era o que eu sentia

A felicidade era em si mesma

Não percebida mas vivida,

Mas, o existir não é sempre assim

Os chamados da vida que um dia clamam,

Os dissabores até severos e os amores

Laços de família

Tudo vai vencendo, indo

Eis me aqui, agora, certo de minha mortalidade

Nestes tempos que… assustam.

Nada tem respeito, nem as florestas

Os animais que defendo,

Habito em mim mesmo

Miro-me no espelho fixo-me nos olhos,

O que há atrás deles, onde habito?

Então, sabendo da mortalidade

Tantos do meu tempo se foram, já.

Meu irmão, generoso!

Sou instruído que da vida o essencial ninguém sabe

Não explico sequer o sabor duma manga

Do espocar duma rosa,

Bato nas janelas opacas da minha habitação

Não há resposta

Apenas um tênue sentido de religiosidade

Na interioridade, nos sonhos...

Os sonhos o que são? 

Que interações há nos sonhos com vivos e... mortos

Bem, não me é dado ir além do que sou

Um simples mortal com os dias contados...

E depois?

Nada sei do essencial...

Referência no texto em prosa

(*) “A Fé Bahá’í é uma religião monoteísta fundada por Bahá’u’lláh, na antiga Pérsia, durante o século XIX, que enfatiza a unidade espiritual da humanidade. Não possui dogmas, clero, nem sacerdócio, mas estima-se que existam cinco a seis milhões de Baha’is espalhados por mais de 200 países. Os ensinamentos Bahá’ís atribuem grande importância ao conceito de unidade das religiões: a história religiosa da humanidade é vista como um processo de desenvolvimento gradual.” Mais informações, acessar: https://www.youtube.com/watch?v=nELmf0ZQSwM