21/05/2013

(RE?) DESCOBRINDO ÉRICO VERÍSSIMO



De Érico Veríssimo, escritor gaúcho (Cruz Alta, 1905 –  Porto Alegre, 1975) li meio descompromissado, porque o autor, pela minha ignorância, não me dizia muito, suas obras seguintes:


A Vida de Joana D’ Arc

Olhai os lírios do campo

O Senhor Embaixador

Incidente em Antares

Solo de Clarineta (2 volumes).


Esses livros que li do brilhante autor, tanto tempo faz, que tenho apenas fragmentos dos seus temas e enredos – salvo sobre Joana D’Arc porque se trata de história que sempre me interessou e já me vali de outras obras. Teria que recolocar, então, esses livros na minha fila de prioridades, porque os tenho comigo.


Nestes tempos, após enveredar por diferentes temas literários, voltei-me para minha pequena estante, e lá estavam, como estão, aguardando o merecido desvendamento ainda da saga “O tempo e o vento”:

O Continente – Volumes 1 e 2

O Retrato – Volumes 1 e 2

O arquipélago – Volumes 1 a 3


Há pouco acabei de ler o 1° volume de “O Continente” que me surpreendeu muito. Nesse livro há um pouco de tudo, muito bem entrelaçado: traição, paixão, aventura, guerra, assassinato, sensualismo com “um certo capitão Rodrigo” e todos os ingredientes de um romance que empolga em todas as suas páginas.




Já lido também o 2° volume, achei curiosa uma “constatação” do Autor referente às refeições lautas servidas nas casas abastadas lá pelos idos da primeira metade do século XIX nas quais não havia “nenhuma verdura”:


“Winter [o médico] olhava admirado para aquilo tudo. Era simplesmente assustadora a quantidade de pratos que havia nas refeições das gentes remediadas ou ricas da Província. Nunca menos de seis, e às vezes até dez. Não raro numa refeição serviam-se quatro ou cinco variedades de carnes e nenhuma verdura.”

E depois ainda viria mandioca frita. É pouco?

  
Parto para a provocação: no grande Rio Grande do Sul, as coisas não continuam assim mesmo? Há tempos, em duas oportunidades, participando, sem dele nada experimentar, de  um churrasco em Porto Alegre num meio-dia quente de sábado, um amigo me provocava insistindo que eu experimentasse um torresmo feito um cubinho todo de gordura suína – se espremido verteria  gotas de colesterol “in natura” ; numa outra vez, para comer algo, já que pouco ou nada comia nas terras porto-alegrenses, numa noite fui a uma pizzaria; não me dei bem, restaurante à meia luz com  uma turma jovem reunida na cerveja e nada da comida italiana, é claro. Ainda assim, pedi a pizza que se revelou ruinzinha. Os circunstantes que ouviram o pedido me olharam intrigados imaginando de qual planeta eu procedia.

Incidente em Antares”

Para ler a resenha de "Incidente em Antares", acessar:  

TEXTO AMPLIADO


"O Arquipélago" - 3 volumes     
  
Estou encerrando a leitura do 3° volume. Gostei, há momentos nos quais os relatos são superiores, mas os capítulos "reunião de família" em todos eles me pareceram redundantes... chatos. 
                         
Vou encerrando o meu “descobrimento maduro” de Érico Veríssimo: hoje entendo os filmes e as séries de televisão que seus romances inspiraram. Para mim, sua obra é agora uma surpresa muito positiva. E eu isso confesso mesmo que tardiamente.




Um tributo a “Os Sertões” de Euclides da Cunha


Penso ser uma obra pouco conhecida de Veríssimo o livro “Breve História da Literatura Brasileira”, no qual foram concentradas suas conferências em inglês na Universidade da Califórnia, em Berkeley, que abrangeram os autores pátrios desde a “época colonial até a Geração de 45.”


Um trabalho de fôlego no qual explanou os aspectos mais significativos dos vários escritores brasileiros nesse longo período, chamando-me a atenção por uma particularidade ao se referir a “Os Sertões” de Euclides da Cunha: a sua sinceridade que se dera exatamente comigo ao ler o “livrão” euclidiano:


“Milhares de pessoas liam “os Sertões”. A maioria dos leitores ficou fascinada em especial com o estilo do escritor. [E aqui a sinceridade] Muitos saltavam [e saltam] os dois primeiros capítulos – “A Terra” e “O Homem” – porque os achavam demasiado sobrecarregado de termos técnicos, mas detinham-se sofregamente na última parte da obra – “A Luta” – porque tinha o sabor de um bom romance cheio de intrigas, pathos (*) e drama.”

(*Pathos, entre outros significados, "paixão”).


Do capítulo “A Terra” li trechos inclusive me impressionando muito a referência à prática pelos próprios indígenas das terríveis queimadas das matas para “limpar terreno” ação extremamente danosa para o meio ambiente que é adotada até hoje.


Embora esteja me referindo a Érico Veríssimo, no que se refere ainda a “Os Sertões”, a obra de Euclides quando lida com cuidado – mesmo com as dificuldades do vernáculo difícil do autor – suscitam admiração. 
O próprio Mario Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura em 2010, baseado em “Os Sertões” escreveu o romance “A guerra do fim do mundo”, com 790 páginas no qual no prólogo revela:

“Eu não teria escrito este romance sem Euclides da Cunha, cujo livro “O Sertões” me revelou , em 1972, a guerra de Canudos, um personagem trágico e um dos maiores narradores latino-americanos.”



Imagens:


Capa de “O Continente 2”, 24ª edição – Ed. Globo;

Capa de “Incidente em Antares” – edição do Círculo do Livro de 1975 – Autor da capa: Natanael Longo de Oliveira.



16/05/2013

CONTRASTES: ILHABELA x CENTRO VELHO DE SÃO PAULO



A VOZ DO MAR AO MEIO-DIA...ILHABELA

O sol é o do meio-dia e bate forte nas águas emitindo luzes que ofuscam. Menos que ondas, o mar tepidamente bate nas pedras logo abaixo. As praias são irregulares e estreitíssimas onde estou. Aquele som inigualável do vai-e-vem das águas: o que elas me transmitem naquele instante?


A linguagem da serenidade.
Tive essa sensação transcendente por alguns segundos.
E pergunto: por que não é sempre assim?
As águas batem com a mesma suavidade e me respondem:
- Não tente me desvendar. Respeite as minhas anormalidades. Não há enigmas apenas siga minhas regras e cuidados. Porque senão eu te devoro. E não que eu goste, mas tenho que ser respeitado por causa da minha imensidão cujo controle se perde.
- Mas, o mar revolto avança sobre a terra, cidades, destruindo tudo à frente e afogando milhares de pessoas, sussurrei.
- Eu pertenço a um conjunto de dádivas ofertado pelos deuses. Quando as profundezas eclodem num grito de desespero de mudanças eu reajo na mesma proporção. À ira dos deuses. E essa reação pode significar a destruição e a morte. Mas, sei que você está neste mundo de violência sem causa. Lembre-se que há um sentido de ação e reação. Ademais, vocês são os grandes destruidores e agentes do desequilíbrio. Vocês recebem mensagens amargas e nem assim se dão conta de quão nefastas são suas ações devastadoras.
Não respondi. Contentei-me em ouvir o som harmonioso das ondas batendo nas pedras da praia, porque vivia um momento de serenidade inspirada pela voz suave do mar, numa pequena praia olhando ao longe na sua imensidão.
Mas, quanto o mar inspirou poetas!



Olhei para um lado, para o alto e os montes estavam ainda verdes. No amanhecer, nuvens escuras se formavam no pico naquela alquimia de mata é água.


Crônica com tema correlacionado: 

“Ilhabela, nascentes e borboletas” de 14.03.2010.
  

BREVE VOLTA A SÃO PAULO

Dia 15.05.2013 – “Centro Velho de São Paulo”



O denominado Centro Velho de São Paulo foi ofuscado pela região da avenida Paulista, que alguém já disse ser a mais paulista das avenidas da cidade.

Meu compromisso se dará no Centro Velho. Os trens do Metrô funcionaram bem.
Saio da Estação Tietê e desço na Estação São Bento. São 10h00. Os sinos do Convento / Igreja do Largo batem freneticamente. Harmoniosamente.  Agradável.
A rua estava limpa. Surpresa?
Praça do Patriarca, nome em homenagem ao Patriarca da Independência José Bonifácio de Andrada e Silva: relativamente limpa. Há aqueles, que não se sabe de onde insistem em produzir sujeira na praça.


Entro por alguns instantes na Igreja de Santo Antônio. Ali, na solenidade do ambiente à esquerda o confessionário. Flagro, quando a portinhola se abre, um padre de branco, esperando novos confessores. E eles comparecem. Saem da confissão, pelo jeito, mais leves, fazem o sinal da cruz reverente, de frente para o altar e saem. Não sei das penitências.


À esquerda da igrejinha de Santo Antônio, um prédio baixo, estreito, a sede paulista do extinto banco de São Caetano do Sul, que trabalhava, então, na “velocidade dos computadores”. Uma referência naquela cidade do ABC, sustentado pelo grosso dos depósitos da General Motors. Ah, aqueles tempos.
À direita, na esquina com a Líbero Badaró, o também extinto Hotel Othon Palace, hoje uma agência do Itaú.
Até ali minhas impressões eram das melhores.
Mas, sempre o “mas”: o Largo de São Francisco que sempre que posso por lá passo para rever a Faculdade que me rejeitou, porque já expliquei ser péssimo aluno, então, e me deparo, encostados na mureta à direita, um dormitório de uma dezena de mendigos. Mau cheiro. Um casal dormia coberto por trapos em plena calçada da rua José Bonifácio, “atrapalhando o trânsito” dos pedestres.


Mais tarde rumo para a Praça da Sé para embarcar no Metrô. Paro um pouco na frente da Catedral. Cheiro forte de banheiro público. Pessoas mal cheirosas.
Ora, a pobreza não precisa cheirar daquele jeito.
Saio logo dali.  Deixo a minha cidade natal com alguma angústia.

Crônicas correlatas:

“Largo de São Francisco. A Academia de São Paulo” de 30.05.2009

“Raízes sancaetanenes” (I) de 21.06.2009 e (II) de 11.07.2009

“Crônica Paulistana” de 26.07.2009

(Há outras)


Fotos:

1. Da Ilhabela, minhas
2. Da Avenida Paulista, da janela, de Isabel Vasconcelos, via celular
3. As demais, from Google