28/01/2024

A VIDA VALE A PENA. MAS DAÍ, DECORRE...


Neste estágio da vida quando tantas foram as experiências, tantos percalços e êxitos que, sem qualquer interesse de dar vazão à vaidade ou à soberba revelo que tive muitos momentos venturosos.

Tive, sim.


Mas, a vida em si me desafia porque a vida é boa para ser vivida.


É por isso que todos a preservam, os doentes fazem tratamentos difíceis para prolongar a existência por quantos anos mais? Todos nós queremos viver mais e melhor.


É tão bela que na maioria esmagadora dos seres humanos não há qualquer indagação dos seus mistérios.


Para que pensar nisso se não vou conseguir resolver — não há respostas para tantas indagações.


Há a minha vida a viver e dela tudo usufruir mas, sempre, buscando a serenidade, sem pensar nas divindades à espreita.


É que quando se indaga da vida, na frente do espelho, olho no olho, surge alguém estranho na imagem e é nesse momento que pode se dar a revelação da individualidade, os olhos se mirando e aquela iluminação interior que não se explica.


Quando essa iluminação de apaga, por onde caminhará a face antes encarada? O que resta que não seja um corpo sem luz?


Repito: para que nisso pensar se a vida vale a pena ser vivida sem essas indagações?


Mas, sozinho num canto qualquer pode ocorrer um sobressalto: quem comanda isso, a própria vida efêmera? Deus existe?


Essa última indagação sobre Deus pode até ser ignorada porque a vida pode ser vivida sem ele. Os indiferentes que o digam.


Temos o livre arbítrio relativo, pelo qual conduzimos a vida, fazemos o que melhor nos interessa e nem é de se acreditar (muito?) no destino que autores da antiguidade muito ressaltaram, especialmente na peça teatral “Édipo Rei” de Sófocles. (*)


“Do destino ninguém escapa.”


Não se escapa do destino porque há muitas tragédias que ocorrem tantas vezes por eventos que se completam, as chamadas coincidências.


Estou eu aqui me desafiando a pensar na rotina da vida a ser vivida mas sou sacudido por saber dum avião que cai, por erro humano ou falha mecânica, vitimando centenas de viajantes.


As consequências são traumáticas.


Fora o destino reservado coletivamente a essas pessoas?


O porquê dessas tragédias traumáticas, o que alertam elas? Direi à frente.


Uma constatação afim que há muito faço:

— Como se explicam os níveis dos seres humanos neste planeta, um sábio vivendo entre delinquentes ou ao contrário até mesmo sem saberem dessas diferenças?


Há 1700 anos Santo Agostinho, nas suas “Confissões” faz essas indagações a Deus quando ia se convertendo à espiritualidade, ao catolicismo original. (**)


Sobre o mistério da criação e “questionando” Deus como se com ele falasse. Chega a perguntar a Deus o que havia antes da criação da Terra e do Sol naquele nada infinito.


E outro fenômeno que o atormentava: o controle do pensamento.


Santo Agostinho confessa que os pensamentos são difíceis de controlar e os luxuriosos o desafiavam permanentemente — tudo isso até hoje desafiando até mesmo o adepto a uma vida de renúncia. Isso pode explicar muita coisa hoje.


Porque


A luxúria é a mais intensa das paixões humanas: "é como o demônio que devora todos os atos do mundo". (***)


Parece que dei uma virada no tema, mas não. Eu quero expressar que não estamos sós nessas indagações aos que refletem sobre transcendências numa reflexão silenciosa.


E a presença de Deus? Com todas assas dúvidas que me desafiam e sabendo que obterei nada de respostas pelo menos neste meu estágio, por uma série de sensações, senti a presença de Deus que muitas vezes acena na sutileza do seu mistério. Os sonhos — que já qualifiquei de realismo fantástico —, mas não só, são um canal de revelações.


Eu falei de destino: para muitos espiritualistas há tarefas pendentes, condutas nas resolvidas, que vêm de outras vidas e que precisam ser saldadas. Essa é a lei?


Há muitas situações em que elas parecem ser regidas segundo esses princípios.

E há que ressaltar que este planeta é o das desigualdades, das crueldades, das guerras, do aprendizado, da sabedoria, da solidariedade e das penitências.


O livre arbítrio sem Deus leva às guerras...


E o planeta um minúsculo elemento nesse Universo sem fim, sobrevive nessa imensidão para propiciar experiências positivas e negativas, numa sucessão de vidas… até alcançar qual objetivo? A divindade? A luz?


Então, no tocante ao que chamarei de renascimentos, para não me fixar nas valorosas correntes reencarnacionistas destes tempos, vou buscar em Sócrates que viveu 400 anos antes de Cristo, explanações nesse sentido, claro que há contradições no diálogo com seu discípulo Críton.


Fixo-me neste texto da resenha que fiz:

Mesmo com questionamentos feitos por Símias e Cebes sobre a imortalidade da alma, ao morrer e que se daria naquele dia, pelo seu modo de vida, de filósofo, de vida simples, sem vícios, esperava Sócrates juntar-se a homens justos, bons senhores e deuses muito bons pelo que seus discípulos não devem se preocupar. E, depois, "é uma opinião muito antiga que as almas ao deixarem este mundo pela morte, vão para o Hades e que dali voltam para a Terra e retornam à vida..." Porque os vivos nascem dos mortos e estes daqueles.” (****)


Porque mencionei Sócrates:

Fora seu amigo Querefonte que consultara o Oráculo de Delphos sabendo se em Atenas havia alguém mais sábio que Sócrates. A resposta fora pela negativa, mas Sócrates sempre diria que o verdadeiro sábio é aquele que sabe que não sabe”.

Concluindo…


Quis demonstrar as minhas “angústias” do que me rodeia, dos alertas que pressinto, das tentações que assaltam tal qual revelara Santo Agostinho. O livre arbítrio sem Deus tem levado a tragédias humanas, às guerras? E o que falar do destinonão há situações em que ele eclode do “nada” de modo traumático? Há notáveis diferenças entre os seres humanos, sábio e perversos vivendo praticamente, lado a lado.


E dos renascimentos sucessivos? Eles ocorrem? Nisto, acredito.


Referências

Os textos referidos podem ser acessados nestes endereços:

(*) TRAGÉDIAS GREGAS

(**) CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO

(***) DOUTRINA DE BUDA

(****) SÓCRATES DE PLATÃO

Nesse último texto há referência a Hades — naqueles idos, acreditava-se que Hades era o local para onde iam os mortos que para muitos, os desonestos e assassinos, era um local de pavor.

Foto: "Vitórias Régias" - Piracicaba


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