Menos
pelos
princípios,
que eu respeito, mas para conhecer um pouco mais o posicionamento
espírita sobre os Evangelhos de Cristo, estou acabando de ler o
livro supra de autoria de Allan Kardec, escrito em 18 de abril de
1857.
Neste
século XXI e essa discussão não é nova mas que assume condições
de “foro de cidade” de tempos em tempos, volta-se a discutir a
concentração de renda – o aumento da riqueza na mão de poucos, e
uma solução possível para diminuir esse impacto e melhorar a vida
dos menos favorecidos.
Muitas
são as teses, mas poucas as soluções reais. No Brasil, a
Constituição estabelece que caberá à União estabelecer impostos
sobre grandes fortunas mas até hoje, 26 anos depois de promulgada,
esse dispositivo não foi regulamentado.
Se
levar a sério um livro – romance político, direi, “O quarto K”,
de Mario Puzzo – afirmaria que os detentores das grandes fortunas,
em todo o mundo, segundo se depreende da obra citada, se autoajudam e
se protegem e mesmo agem para
garantia de seus interesses no
mundo político que, como se sabe,
não prima pela honestidade.
Mas,
o livro de Allan Kardec, que afirmou
todos os princípios da doutrina espírita é sobretudo religioso
ao interpretar sob essa visão, os Evangelhos de
Jesus.
Dessa
leitura se sobressai
um
conceito básico que se repetirá
ao longo da obra:
Fora
da caridade não há salvação
[E
também a humildade e o perdão]
Desde
logo mencione-se o
versículo no qual Jesus diz “que mais fácil é passar um camelo
pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico nos Reinos dos Céus”,
a interpretação
espírita
dada
tem
a ver com a
tradução equivocada ao longo dos séculos entre camelo
e cabo.
À
mesma
palavra, com duplo significado, prevalecera o
primeiro
sentido, mas o termo cabo
é o
que se coaduna ao texto evangélico,
porque feito de pelo de camelo e não o próprio dromedário que
não poderia
passar
pelo fundo da agulha.
Mas,
a riqueza existe e não é desprezada no livro de Kardec e aceita
sempre se
observado aquele
princípio da caridade:
“Ricos!
Pensai um pouco nisso. Ajudai o mais que podeis aos infelizes; dai,
para que Deus um dia vos retribua o bem que tiverdes feito; para que
encontreis, ao sair de vosso envoltório terrestre, um cortejo de
Espíritos reconhecidos, que vos receberão no limiar de um mundo
mais feliz.”
Em
crônicas diversas sempre demonstrei minha perplexidade com os
contrastes que há neste mundo: praticamente vivendo lado a lado,
seres humanos virtuosos
com
alto grau de espiritualidade e outros num estágio de barbárie que
praticam
atos estarrecedores e abomináveis.
Dai
porque o livro espírita não deixa de lembrar que “a
Terra pertence à categoria dos mundos de expiações e de provas, e
é por isso que nela o homem está exposto a tantas misérias”.
Mas,
há aqui, nesta
Terra, apesar
de tudo, a
“lei do progresso” que
avança.
E,
então, quanto
à riqueza
como
fazê-la inteligente,
incentivar
o progresso e, sobretudo, a caridade?
É
torná-la instrumento da diminuição das desigualdades, ajuda
permanente aos
que estão em volta do rico e
sofrem as agruras da miséria, da pobreza extrema. Por isso, não
deve reter o
rico a
riqueza para seus interesses pessoais e egoístas mas, com ela,
promover o progresso geral,
incrementando a produção e as ocupações, garantindo
a justa compensação pelo trabalho.
A
fortuna dada aos ricos não passa de um “empréstimo” dado por
Deus e todos eles, os ricos, que deverão prestar contas do que
fizeram quando se tornar ela inútil ao fim da vida terrena:
“Oh,
vós, ricos que empregardes segundo a vontade do Senhor, vosso
próprio coração será o primeiro a beneficiar-se nessa fonte
benfazeja, e tereis nesta vida os gozos inefáveis da alma, em vez de
gozos materiais do egoismo, que deixam o vazio do coração”.
(Fenelon).
E
quanto às esmolas que Jesus falava em sua época, um modo comum de
caridade, diferente dos tempos atuais com os meios de produção e
tecnológicos desenvolvidas, com fortunas imensas acumuladas mas,
mesmo assim, “a todos que podem dar, pouco ou muito, direi,
portanto: dai esmolas quando necessário, mas o quanto possível
convertei-a em salário, a fim de que aquele que a recebe não tenha
do que se envergonhar”.
E,
também, incentivar o trabalho garantindo o bem permanente da
família!
PARA
ENCERRAR:
O
livro de Allan Kardec informa que depois de passarmos pelas
tribulações da vida nas várias encarnações, chegará o tempo em
que viveremos num mundo de extrema felicidade.
Mas,
“a pergunta que não que calar”: o que somos nós
individualmente, o que almejamos – se é que almejamos algo – se
sequer sabemos quem somos e o que aqui fazemos neste mundo de
expiações e provas? Afinal, qual o sentido disso tudo, de tantos
desgostos e tragédias à nossa volta? Somente as expiações e
provas explicam?