20/12/2019

FILME “DOIS PAPAS” DE FERNANDO MEIRELLES.


Para quem raramente assiste qualquer filme na TV porque a maioria sem significado baseada em histórias em quadrinhos, DOIS PAPAS (Netflix) é um diferencial muito positivo.

Inspirados em fatos, principalmente nos tempos de Jorge Mario Bergoglio, padre jesuíta nos idos da trágica ditadura argentina período no qual assumiu posição ambígua mas não de adesão, apenas para tentar poupar outros jesuítas da violência e da tortura, foi ascendendo no catolicismo, chegando a cardeal, com uma característica: sempre com modos simples e ligado às comunidades pobres.

Fora dançarino de tango quando jovem, gostava, como gosta, de futebol e. com esse perfil, um crítico da Igreja pelos seus escândalos e pelo distanciamento progressivo dos fiéis da religião dando margem a que milhões deles buscassem outras crenças ainda que explorados materialmente por elas.
Então, o filme retrata a convivência entre o Papa Bento XVI (Joseph Aloisius Ratzinger) antes da sua renúncia e a iminente escolha de seu sucessor, o argentino Bergoglio.
Desenvolve-se, então, um diálogo eventualmente ríspido, mas cheio de respeito, no qual Bento XVI revela seu inconformismo com as posições liberais de Bergoglio que defendia mudanças na Igreja especialmente não tolerar mais os padres e bispos pedófilos que, descoberto o escândalo, eram afastados apenas de suas comunidades, transferidos para outras e nessas, a continuidade dos abusos.
Escolhido Bergoglio o sucessor de Bento XVI, agora Papa Francisco em março de 2013, vem ele alterando o modo de tratar os pedófilos, entregando-os às autoridades públicas num processo necessariamente lento, tais as resistências no interior do Vaticano.
Há um desabafo religioso de Bento XVI que reclama de não mais ouvir a voz de Deus malgrado seus insistentes apelos nas orações. Francisco do mesmo modo e hoje ele até proclama que Deus por Seu filho Jesus, não se houve bem na crucificação.
Posições importantes, essa angústia que afeta todos os religiosos de não serem ouvidos em suas orações e nos seus pedidos,  esperanças não materializadas.
Eu, particularmente, que posso me considerar meio agnóstico, mas não tanto (contemple o céu numa noite estrelado e explique isso tudo), sinto que às vezes se dão tênues sinais que nos afetam para o bem ou para o mal, neste caso como lições. Não dê guarida às tentações! Hoje já se fala mais amiúde da “lei do retorno”, da “causa e efeito”, do “karma”, que cobram ou recompensam o que de mal ou bem praticado ao longo do tempo e da vida.
A GUISA DE MORAL DA HISTÓRIA
O Papa Francisco vem fazendo um trabalho de revisão da Igreja, combatendo, finalmente, a pedofilia em suas hostes e, repete-se, sua vida na Argentina fora simples e conviveu com os mais humildes, se preocupa com eles, combatendo o egoísmo dos abastados ou dos muito abastados que ignoram seus semelhantes que vegetam no mais baixo estágio de pobreza e de necessidades elementares.
Por isso, entre nós, aqueles que querem a Igreja estratificada em suas tradições seculares o criticam e entre nós, aqueles que assumem posicionamento político classificados de extrema direita o chamam de "comunista".
Nos primeiros a visão é turvada pelas tradições mas que, compreendendo tantas mudanças de meios e costumes no mundo, se convencerão a um tempo de que para a Igreja não há outro caminho que não sejam mudanças fundamentais, discutindo, sim, o sacerdócio de mulheres, de homens casados, o celibato e tudo o mais que intrigam e a afetam nos dias de hoje.
Aqueles de posicionamento político radical, chamar Francisco de “comunista” significa absoluta ignorância de suas origens, do que prega e da sua missão na Igreja cuja tarefa é muito difícil.

Muitos são os que sequer sabem o que seja "comunismo".

Essa e outras adjetivações são inaceitáveis num tempo de perplexidade num tempo em que, um líder de uma nação, para mostrar religiosidade recebe ajoelhado “benção” de um suposto bispo que, pelos seus fiéis, construiu um império econômico em poucos anos.

O FILME É IMPERDÍVEL COM DESTAQUE PARA DOIS GRANDES ATORES: Anthony Hopkins como Bento XVI e Jonathan Pryce como Francisco. Diálogos primorosos e direção precisa do brasileiro Fernando Meirelles.

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