(Dos altos e
baixos que a vida prepara)
Deu-se
naqueles idos fenômenos da década de 60 onde a vida tinha um sabor de festa, de imortalidade.
Pois,
naquela minha vontade imensa de me arrumar na imprensa, de escrever artigos
apondo meu nome, essas coisas, fez-me experimentar venturas e aventuras.
Imaginem que
num tempo a perder na memória, a lápis, escrevi uma história sobre viagem à lua. De onde a
influência? Não sei dizer. Talvez porque desde sempre a lua tem sido para mim
um mistério a ser desvendado. E continua
até hoje. “No mundo da Lua”.
Mas, bom que
eu confesse que o português, todas aquelas regras, conjunções, análises
sintáticas foram sempre dificultosas para mim.
Na
informalidade do que escrevia, certa vez, em aula, fui sorteado para ler a
redação, lição de casa que a professora havia passado.
Li
apressadamente e ao final, “apoteótico”, conclui com sonoro “michô”.
A
professora, uma senhora de óculos, não entendeu bem a palavra e eu resolvi que
não a repetiria. A professora ficou perplexa e lá veio o sermão:
- Imaginem
uma língua tão rica como a nossa e o senhor usa uma palavra dessas que não
entendi bem, uma gíria, para encerrar sua redação. Ora, ora... (1)
Foi, então,
com esses antecedentes que passei a frequentar e trabalhar em redações da
pequena imprensa da cidade. Elas me encantavam.
Por que não estudei jornalismo? Porque naqueles tempos, a predominância era a advocacia.
Por que não estudei jornalismo? Porque naqueles tempos, a predominância era a advocacia.
Havia sempre
presente, geralmente à tarde, um sujeito, bom amigo, se não me engano corretor
de anúncios do jornal que se esforçava muito em escrever algum texto.
Mas, era
muito ruim na redação. Era eu quem dava alguma forma ao que ele pretendia
transmitir. Não por ser eu a melhor opção, mas por estar disponível. Ou porque
levava a sério seus textos.
E assim
passo a passo, foi organizando uma coluna social, aproximando-se das pessoas
destacadas da cidade.
Sua coluna
se tornou, com o tempo, bem atrativa, variada.
Por conta
disso, um dia, foi convidado a assinar coluna social do jornal mais importante
da região.
E com ela
tornou-se muito conhecido na região. A coluna levava seu nome. E todo dia, lá
estava ele ao lado de personalidades, de políticos, da riqueza, convidado
especial dessas festas e jantares comuns nos meios sociais, relatando os passos
da grã-finagem, sem esquecer a ‘futileza’ tão do agrado do fútil: “ó Ibrahim,
põe meu nome no jornal.”
Essas expressões comuns: "nímia gentileza"; "os nubentes exultantes disseram 'sim' sob as bençãos do padre X".
Essas expressões comuns: "nímia gentileza"; "os nubentes exultantes disseram 'sim' sob as bençãos do padre X".
Seu êxito era total, merecido pelo esforço em
melhorar e a facilidade que tinha em se relacionar com essas pessoas que,
afinal, conquistara, tornando-se um “deles”.
Alguns anos
depois, talvez nem tanto, sua coluna social deixou de se publicada. Outro nome
apareceu no seu espaço.
Este meu
amigo desapareceu completamente, pelo menos do meu ambiente de trabalho.
Um dia,
tempos depois, eu o encontro casualmente. Estava carregando caixotes num
caminhão.
O brilho da
vaidade perdera a luz. Mas, a humildade tem seu brilho, seu valor. Na verdade,
os extremos se tocam.
Legendas:
(1) O
dicionário Michaelis registra a palavra michar como verbo intransitivo - gíria.
Assim: vint
gír. Diminuir ou perder o valor; perder a
coragem. Eu
usei a pronúncia errada ("michô"), com o sentido de “acabou”.
Fotos:
1. Pavão albino
2. Pés no chão, na areia. Palmilha gasta.