NADA
Quantos pensam nessa expressão que
frequentemente é seguida de interrogação: “qual o sentido da vida?” Quantos?
Tenho por hábito me dar por perdido
em locais que até conheço bem: “onde estou agora?”
Dá-se nesses instantes uma mudança de
órbita, mesmo!
Outro ponto são as minhas
microdepressões. Elas me incomodam, me angustiam, mas jamais serão verdadeiras
depressões, essa doença moderna que a tantos ataca.
Volto pelo caminho de sempre no final
de tarde e baixa a angustia que me leva a questionar a minha existência.
Mas, o que faço aqui?
Segue-se um sentido de (i) reflexão,
de questionamentos e chego... ao NADA. Como se fosse um branco mental.
Não houve para preencher esse vazio instantâneo
um chamado à fé, às divindades. NADA.
Já não de hoje questiono, sem
entender, o mecanismo do sexo e a sua explosão. Nada de malícia. Dele
nascem bilhões de pessoas que se relacionam e se amam... e se odeiam.
Decaio no NADA mas esse NADA se lança
numa região anímica. Só minha. Nada sei. Não consigo.
Mal consigo expressá-lo. Porque é o
NADA
Vegetarianismo, meditação e espiritualismo
O ministro aposentado
(do STF) Carlos Ayres Brito, em entrevista à Folha de São Paulo de 18.11.2012,
revelou-se vegetariano que conquistou num processo gradativo de eliminação de carne, começando
pela vermelha, depois frango e por fim o peixe.
Eu sei aqui no meu
cantar do dia-a-dia como é difícil essa renúncia alimentar para alguém exposto às contradições do convívio social que tem a carne como prato básico.
Disse o ex-ministro
que, com base em estudos espiritualistas é contemplativo e, pelo que afirma, essa
contemplação suaviza sua vida.
Ao ser perguntado se
o vegetarianismo seria um passo para a iluminação respondeu:
“Não chegaria a isso,
não. Agora, tudo tem uma lógica elementar. É claro que não vou explicar tudo
pela lógica, porque o mundo do mistério existe e o mistério está fora da lógica
convencional. Quando você olha para você e diz: "Não há ninguém dentro de
mim, o meu corpo não está abrigando ninguém", quando você diz "eu sou
um vazio", você enxota o ego.
Mas não há vácuo na
natureza. O que acontece? O vácuo vai ser preenchido pelo universo, pelo
Cosmos, pela existência, outros preferem dizer por Deus. Expulse de si o ego
que o espaço deixado por ele vai ser instantaneamente ocupado pela existência.
Aí você dialoga com a existência, isso é elementar. Aí você tem um vislumbre do
eterno, do definitivo, mais clarividente, você abre os poros da lógica, do seu
cartesianismo, você vê o direito por um prisma novo.
Agora, você paga um
preço por isso. Qual é? Quando vê as coisas por um prisma totalmente novo, a
sociedade não tem parâmetro para avaliar seu prisma diante do inédito para
ela.
Você é um antecipado,
viu antes dela. O que ela faz, lhe desanca, lhe derruba, se não ela vai se
sentir menor, inferiorizada, aturdida. O que ela faz, ela lhe desanca, você
está errado, ou então você não é um cientista, você é um mistificador.
A sociedade não tem
parâmetro para analisar os antecipados no tempo. Veja a lógica das coisas, o
tempo só pode se guiar por quem anda adiante dele. São os espiritualistas, os
artistas, porque eles não têm preconceitos, pré-interpretações,
pré-compreensões." (*)
Nesta crônica me
refiro ao sumiço momentâneo do [meu] “ego”, com o NADA que se manifesta.
Claro que o
ex-ministro está muitos passos à frente em seu estágio contemplativo, de meditação, porque o
seu “vazio” pode ser “preenchido pelo universo”.
Eu não consigo ainda
me livrar das minhas circunstâncias, do aprofundamento do terror que estes meus
tempos propiciam e me afetam.
Talvez por isso para
mim manifesta-se o NADA, o ego desparece por instantes e ressurge neste mesmo mundo conflituoso.
Por enquanto sou assaltado pelas
influências terrenas, pelo horror.
(*) A entrevista
completa do ex-ministro Carlos Aires Brito por ser lida no portal “Ser
Vegetariano” (http://serveg.blogspot.com.br/)
BILA. O CÃO RAIVOSO
Bila era o apelido de um menino de
seus três, quatro anos de idade que podia sentar na guia da calçada sem perigo.
Numa manhã ele fez isso mastigando um
pedaço de pão com manteiga.
Um cão raivoso apareceu do nada é o
atacou ferindo-o gravemente com mordida profunda no rosto.
Tratava-se de um cão doente, raivoso.
Não sem antes mostrar seus dentes
ameaçadores, vertendo baba letal, foi morto logo em seguida com um golpe de
taco de golfe pesado na cabeça.
Imóvel, estirado no chão de terra batida, sangrando.
Bila, não resistiu ao ferimento e
morreu.
Porque tal coisa de deu?
Ora direis, há coisas piores neste
mundo de ódios e vampiros. Mas, neste momento apenas isso me afeta. Essas imagens. Estão na minha mente, para
sempre.
Sempre num relance, no silêncio, nas horas da noite flagro vultos brancos à espreita.
O EX-GALÃ
Ligado aos meios de comunicação, muito
conhecido, agora com cabelos grisalhos, penso que começara a se ressentir das
fãs sempre disponíveis que começavam a rarear.
Ele chega para falar com uma pessoa
conhecida com a qual conversava numa sala de escritório.
Troca algumas palavras com esse
interlocutor, seu amigo do mesmo ramo, e se despede.
Aperto de mão.
Chega até mim é faz o mesmo gesto:
- Até logo.
No dia seguinte se lançou no Vale do
Anhangabaú. Saltando do Viaduto do Chá.
A sua morte extrema foi abafada. O
NADA extremado.
Tema Correlato: "Idade" de 13.05.2012