09/08/2015

"REPORTAGEM": MEMÓRIAS DE SÃO CAETANO. 50 ANOS DEPOIS

REPORTAGEM: MEMÓRIAS DE SÃO CAETANO, 50 ANOS DEPOIS

Esta longa crônica ("Reportagem") tem como motivação os 50 anos que se passaram de minha formatura no curso Clássico (1965) no Instituto de Educação “Cel. Bonifácio de Carvalho” o mais influente, então, no ABC.
Refiro-me, também, aos amigos velhos que “deixei” em São Caetano, a união entre o "Bonifácio de Carvalho" e o Centro Acadêmico que há muito não mais existe e andanças pelo Bairro da Fundação onde vivi minha juventude.
Em 29 e 30 de julho de 2015.

IDH sem índice ambiental
São Caetano é o município nº 1 no Brasil em IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, medida que faz parte do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e é calculado com base em três itens: renda, educação e saúde. A nº 2 é a pequena Águas de São Pedro. Houvesse uma medida ambiental no IDH, dificilmente Águas deixaria de ser a nº 1.
É em Águas que me escondo das contradições da vida e do Judiciário - instituição, todavia, da qual não me queixo. Da degradação ambiental que me comove MUITO mas que vai sendo tolerada até irresponsavelmente até...até quando? Quando a vida se tornar definitivamente insuportável?
Bem, São Caetano é cinza.


(Fotos acima de praça / paisagem de Águas de São Pedro)
(No último item desta “reportagem”, apresento uma “visão geral” resultado de minhas andanças e reminiscências que guardo comigo).
Amizades e amigos
Todos os meses os “sobreviventes” do Centro Acadêmico e do Instituto Estadual “Cel. Bonifácio de Carvalho” se reencontram numa pizzaria de São Caetano e nessas noites ao vinho e à cerveja, há um forte congraçamento.
Afinal, esses relacionamentos ultrapassam  meio século.
No encontro do dia 29 de julho último, no sacrifício, participei. Muitos deles a conhecer ou a reconhecer.
Ao longo da minha vida sempre me questionei sobre “amigos” e amigos. Não tenho certeza, talvez até esteja sendo injusto, mas os amigos não os conte nos dedos das mãos.
Nas inúmeras automobilísticas nas quais trabalhei, lembro-me de dois: menos que, digamos, subordinados - e não por isso – iam na lealdade acima desse “detalhe”. Empresas revelam amigos?
E dos “antigos” de São Caetano do Sul?
Posso ter mais por lá, mas dois sempre se fizeram presentes: 
Caio Venâncio Martins: amizade de mais de 50 anos entre tapas e reconsiderações. Poeta e cronista, fora ele quem nos últimos anos me incentivou a escrever, me encorajou aos blogs e a publicar artigos políticos no extinto “Vote Brasil".
E foi assim que saí do “quadrilátero” do meu escritório (sem estar nele, pela manhã, cedo, pelo menos, me parece um dia perdido).
Dai para frente os contatos nunca se perderam entre ideias, ideais – mesmo com a idade que nos espreita – e a necessidade da boa comunicação por esses veículos.

Caio Martins – não temos parentesco, mas há algo de irmandade que o sobrenome reforçou de modo indelével e definitivo.
A foto menos nítida aparece o Caio numa festa caipira promovida pelo Grêmio 28 de Julho o qual presidi naquele ano de 1965 (é o 3º da direita para a esquerda. Eu o 2° da esquerda para a direita).



Carmelo Conti: esse sujeito, muito humilde quando o conheci na década de 60 esteve comigo, de modo intenso em todas as atividades estudantis e mesmo na imprensa de São Caetano. Chegou a tal ponto que, ocasionalmente, me desmentia ou me corrigia quando relatava episódios dos quais participara eu até como agente principal. Em outras palavras ele sabia ou sabe mais do que eu de aspectos que a mim pertencem ou pertenciam diretamente.

Carmelo Conti – revisamos conceitos na noite do dia 29 de julho de 2015, sempre lembrando as iniciativas da primeira metade da década de 60, especialmente nas atividades brilhantes do ano de 1965 no Grêmio 28 de Julho.
Tempos memoráveis. Já lá se vão exatos 50 anos que também marcam o exato meio século de minha formatura no clássico do prestigioso I. E. “Cel. Bonifácio de Carvalho”.
A foto abaixo fora do “baile dos 10 mais” também promovido pelo Grêmio nos luxuosos salões do "Moinho São Jorge" - Utinga - Santo André. Carmelo está ao meu lado à direita. Na mesa pessoas amigas e diretores do Grêmio.

As reuniões mensais dos amigos “antigos” acadêmicos
Como disse, um grupo de amigos daquele período, seja do Centro Acadêmico, seja do “Bonifácio de Carvalho”, todos os meses, há tempos, se reúne numa pizzaria de São Caetano e, na confraternização que se renova, tem como motivação principal aqueles verdadeiros anos inesquecíveis, numa cidade pulsante, que a história não repetirá jamais.
Não convivi com todos os participantes diretamente. Havia escolas e mesmo grupos diferentes, então, mas todos eles têm hoje a mesma motivação em manterem esses encontros: a lembrança de momentos felizes, marcantes, de desafios que não conseguem ser esquecidos.
E, ademais, esse congraçamento entre o Estadual "Bonifácio de Carvalho" e o Centro Acadêmico, se dava em reuniões sociais, bailes mas também no esporte (voleibol) na quadra do Estadual: essas competições eram conhecidas como EST-ACA.




Fachada pela avenida Goiás, do "Cel. Bonifácio de Carvalho" em 1965

A foto abaixo se refere ao encontro de 29 de julho de 2015. Alegria de viver, de participar já passados dos 70 anos de idade, pelo menos na média.

 

Visão geral 50 anos depois
A cidade de São Caetano – o “C” do ABC paulista – foi marcante para mim, na juventude.
Foi lá que estudando o clássico no Instituto Estadual “Cel. Bonifácio de Carvalho” – o mais destacado da região – na década de 60 me envolvi intensamente na vida estudantil e militei na imprensa local.
Não dá para esquecer certos episódios da vida jovem. O ano de 1965 foi marcante por tudo que fizemos no Grêmio 28 de Julho e eu já nem era tão jovem, já tinha 21 anos.
Esse foi, também, o ano de minha formatura no clássico. Essa idade “avançada” porque fora no ginasial mau aluno, me recuperaria no bom Ginásio Amaral Wagner, de Utinga. (1)
Quantas vezes disse que a década de 60, com golpe, revolução – chamem do que quiserem - e tudo, fora por demais inspirador, pelo menos em São Caetano, que pulsava, uma influência cultural, estudantil e política positiva na região.
São Caetano tem uma linha tênue que separa duas regiões: acima da avenida Goiás – onde está a sede da GM – mais sofisticada e abaixo dela.
Eu vivi sempre abaixo dessa linha, no Bairro Fundação.
Das fotos
Não poderia, antes, perder a oportunidade de algumas fotos.
Visão da rodoviária e lembranças do viaduto dos Autonomistas

Nesta foto, tirada na estação rodoferroviária, destaca ao fundo a loja matriz da Casas Bahia. Ela se originou em SANCA. Ao lado direito, a entrada do viaduto dos Autonomistas que sai do centro ao Bairro da Fundação: em 1954 quando de sua inauguração, com a presença do prefeito Anacleto Campanella, estive presente. Menino, ainda, me aventurei até a estação da então Santos a Jundiaí e cheguei a ouvir os discursos.
Grupo Escolar “Senador Flaquer” (assim conhecido, então)

Fiz o primário nessa escola, tão marcante na minha vida jovem. Quando da formatura um professor-músico compôs um hino de despedida que começava assim:
“Adeus minha escola querida, jamais te esquecerei na vida, foste para mim um fanal [lanterna, farol] que me ensinou o saber ideal...”
O prédio, sem os muros de antes, está bem conservado.
Os “quadros” de São Caetano 

As pinturas que enfeiam a cidade são dessa arte... em profusão...
Não de hoje em momentos de revisão do alto de minha idade, meio século depois, sempre tive vontade de caminhar pelas minhas “origens”, mesmo sendo paulistano.
Chego de ônibus vindo Piracicaba, pela “Piracicabana”, me instalo num hotel que jamais evoluiu (Acácia), a vantagem da localização central, nem sei se já piorou e pergunto à atendente:
- Onde encontro um restaurante vegetariano por aqui?
A atendente nega conhecer algum, mas me indicou um restaurante de bom padrão na rua Santa Catarina:
- O senhor não precisa comer a carne.
A rua Santa Catarina é hoje um calçadão bem constituído mas com um defeito grave: não tem árvores e nem floreiras.
Almoço, volto para a estação, atravesso por baixo dos trilhos da CPTM pela galeria, já percebendo abandono e falta de cuidados e chego à galeria coberta da rua Francisco Matarazzo, não menos abandonada, com lojinhas e botecos.
No fim do quarteirão, metros a frente, causa espécie num local daqueles, central, um prédio inacabado, feio, com lojinhas precárias no térreo. E essa feiura perdura há décadas.
Desço para a Fundação, das minhas “origens” um bairro que se não era bonito no meu tempo, é pior agora. Eu nunca vi tanta degradação pelos cantos das suas ruas e a imensa poluição visual produzida pelos garranchos dos grafiteiros que se revelam, na verdade, vândalos. Não há prédio ou muro que escapa dessa ação poluidora, bruta (v. foto acima).
Uns 10/12 quilômetros de andanças depois, vou ao prédio do cine Vitória, um ponto intelectual dos acadêmicos da cidade, porque a sede (do Centro Acadêmico) ocupava uma das salas do prédio. Eu cheguei a trabalhar nesse prédio na redação dum jornal. O último andar, naqueles idos, era ocupado por associações culturais de prestígio.
Agora o prédio está num processo de ruína, a entrada fechada com grades, o cheiro forte de banheiro público.

O prédio do “Cine Vitória” como era
Já ouvira falar desse estado do prédio pelas minhas sobrinhas de lá, mas ver para crer. 

Memória que se perde.

Meio desapontado saí um busca de um Café com algum atrativo, com alguma apresentação para uma média e algum tipo de pão. Só encontrei botecos e desisti.
O bairro da Fundação, para amenizar a poluição visual e a poluição de tantos carros que transitam às margens do Tamanduateí – como muitas outras cidades – precisa de um banho verde. Muitas árvores plantadas nos cantos e recantos. Todas sabem que as árvores “humanizam”, os jardins enfeitam, as flores encantam. 

Já falei demais... 


Outras crônicas com referência a São Caetano do Sul (SANCA) neste Temas:

1. Versos para ningém (dias de ingenuidade): 19.04.2009
2. Raízes Sancaetanenses (I): 21.06.2009
3. Raízes Sancaetanenses (II): 11.07.2009
4. Ternuras, essa palavra feminina...(?) [referência ao ex-prefeito Anacleto Campanella]: 11.04.2010
5. Regressão (II) - Primeira Comunhão: 24.10.2010
6. Tradições, memórias, fragmentos (II): 04.09.2011
7. Saudades: 10.10.2014

Legenda:

(1) Endereço do facebook do Amaral Wagner (que parece está se tornando portal de negócios): https://www.facebook.com/groups/Amaral.Wagner/

Página do Diário do Grande ABC de 10.01.2018 sobre os tempos de 1965:

Acessar: https://martinsmilton.blogspot.com/p/imprensa-memorias-diario-do-grande-abc.html

11/07/2015

MISCELLANEUS




Umberto Eco: “O Pêndulo de Foucault”

O romance o “O nome da Rosa” que virou filme de sucesso, com forte dose de suspense, não seria, segundo o seu consagrado autor, sua melhor obra, como afirmou em recente entrevista.



O seu melhor romance seria “O Pêndulo de Foucault”. O volume que está comigo conta com 675 páginas (Edições Best Bolso – 4ª edição).

Com entusiasmo comecei a leitura imaginando o que seria esse mistério do pêndulo. 

Encontrei desde logo dificuldades num texto rebuscado ao extremo, com menção de personagens verdadeiros, fora do conhecimento comum que acaba por tirar muito do que poderia ser de proveito do livro.

Há, também, textos pouco claros inseridos em algumas páginas, maçantes, que necessitam ser pensados sobre os motivos de lá estarem.

Cheguei não de hoje à conclusão que um livro não pode se situar no topo da pirâmide da compreensão, mas alguns blocos abaixo.

Mas, com muito boa vontade li as seiscentas e tantas páginas. No fundo, é uma obra que esmiúça as múltiplas correntes exo-esotéricas que se constituíram e tiveram influência no mundo de sua época, como os templários, os maçons, os rosacruzes... e inumeráveis outras.

Nessa linha do misticismo, chega a descrever o transe de personagem feminina que compareceu a um terreiro na Bahia e lá fora incorporada por espectro ou espírito (pomba-gira?), movimentando-se com gestos sensuais.

[Essa cena teve alguma utilidade para mim, porque confirmou experiência parecida que soube e que relatei no livro que escrevi, ainda sem definição de publicação – Joana D’Art]

Em resumo, não gostei dessa obra de Umberto Eco, porque não estou no topo da pirâmide da erudição.

O trabalho, a ação e a riqueza (e a preguiça)

Na minha crônica de 08.12.2014, “A riqueza e o trabalho” em “O Evangelho segundo o Espiritismo” (Allan Kardec) estaria mentindo se dissesse que o texto que ali explanei não se constituíra numa revelação importante para mim: o trabalho e a riqueza sem culpa, quando útil para o desenvolvimento humano e que o rico, para ir para o céu – ou instâncias mais elevadas da espiritualidade - não será tão difícil quanto um camelo passar pelo “fundo da agulha”.



No “Bhagavad Gîtâ – A mensagem do Mestre” (Bhagavad Gîtâ = A sublime canção), que ora releio, “este notável episódio – que provém da velha e misteriosa Índia – do Mahabhârata despertou o mais vivo interesse entre todos os estudiosos do Esoterismo, quando sua primeira tradução surgiu na Europa”, assim explana sobre o trabalho e a ação:

"Faze bem o que te compete fazer no mundo; cumpre bem as tuas tarefas; ocupa-te da obra que encontras, para fazê-la o melhor possível: assim será muito bom para ti. Atividade é melhor do que ociosidade. A atividade fortalece a mente e o corpo, e conduz a uma vida longa e normal; a ociosidade enfraquece tanto o corpo como a mente, e conduz a uma vida impotente e anormal, de duração incerta.”

E porque “é vergonhosa a vida do homem que, vivendo neste mundo de ação, tenta abster-se da ação (...) aquele que, aproveitando a volta da roda, em cada instante de sua vida, não quer por a mão à roda para ajudar a movê-la, é um parasita e um ladrão que toma, sem dar coisa alguma em troca”.

Há os parasitas, não há como esquecer, que se aproveitam da “ação” para roubar seus semelhantes e a sociedade. A índole da corrupção.

É por isso que, até para o rico, fora da caridade não há salvação.

Esse texto, acho, do Bhagavad Gîtâ tem tudo a ver com a preguiça, um dos sete pecados capitais. Já escrevi sobre todos eles. No que se refere à preguiça a introdução de que me vali:

“Para mim, a preguiça no dia-a-dia é um pecadilho.
Sei que tenho que fazer hoje, mas adio para quando der vontade ou quando não há mais jeito.
Os dicionários a conceituam como aversão ao trabalho, ócio, lentidão.
Esses sábados à tarde em que a modorra bate forte:
- É preciso cortar a grama!
Penso:
- Ah, não. Vai chover quem sabe amanhã.
No domingo a preguiça bate mais forte, naquelas tardes intermináveis, véspera de segunda-feira implacável.
- Na semana que vem. Preciso arrumar os fios...Agora vou tirar uma soneca e viajar por mundos insondáveis
...” 
(Neste “Temas”, crônica de 16.01.2011)

Plantas ornamentais venenosas

São muitas as espécies. A maioria desconheço. Mal conhecia a palavras que define os seus estudiosos “etnobotânico”. Mas, duas são de minhas relações comuns e florescem à minha volta:

Lantana

Que floresceu abundantemente numa antiga fonte. Há indicações de que ela é venenosa e já matou animais que a consumiram. Mas, para chegar a esse extremo o consumo deve ser em quantidade. Suas flores variam bastante, como pode se ver na foto. 

Atraem borboletinhas em quantidade que nelas assentam.

O sumo de suas folhas, acho, tem cheiro assemelhado ao tomateiro.

Mas, nada de fazer chá!



Chapéu de napoleão

Essa, dizem, é venenosa poderosa exigindo cuidados. É leitosa. As flores são de amarelo forte.



Já se disse que suas “sementes imitem vibração que podem ser captadas por processos radiestésicos”.

Suas sementes, por causa dessa propriedade radiestésica, seria um bálsamo para dores lombares e de coluna.

Eu, que desde há muito, tenho uma dorzinha molestando essa região, embalei algumas e as tenho mantido na dobra da poltrona.

Sugestionado ou não, o caso é que, vez por outra, tenha a sensação de melhora.


  

10/05/2015

“DE TANTA ESQUIZOFRENIA ISTO É UMA UTOPIA”

Nos idos de 1966, pouco mais de dois anos do golpe militar 
– e digo isso de modo categórico – apoiado num primeiro momento por todos os órgãos influentes da imprensa e fortemente pela classe média e alta – que são basicamente os mesmos de hoje – o processo político estava por demais fechado, com dezenas de cassações de políticos e prisões dos mais exaltados à esquerda, sindicalistas e comunistas.
Por ato seu, foi fechado o Congresso Nacional.
Naquele ano de 1966, havia perplexidade pelo modo como avançavam os militares nas demandas políticas, começaram a gostar do poder.
E havia um conformismo ou atitudes contidas nos meios políticos e nos meios sociais, aí incluídos os estudantes. De espera.
Em setembro de 1966 eu já não era tão jovem assim. Havia completado o clássico e trabalhava num pequeno jornal em São Caetano do Sul. E nessa empresa, nasceu uma revista estudantil.
Nas páginas centrais dessa revista (setembro de 1966) fiz espécie de apelo cuidadoso no andamento do processo político que se fechava, utilizando até mesmo linguagem figurada.
[Para exemplificar: quando me refiro a “casarão” não me lembro se me referia ao presidente Castelo Branco ou ao Palácio do Planalto, sede do governo.]
[O “Pai forasteiro” fora uma referência aos Estados Unidos pela influência que tivera na deposição de João Goulart que foi cantar “em galho uruguaio”.]
Há um sentido de ingenuidade nesse texto. E havia cuidado no modo de dizer as coisas.
Com o passar do tempo, esse conformismo que sentia em 1966 foi rompido a partir de 1968, com o surgimento de grupos armados que passaram a desafiar os militares. Com Costa e Silva na Presidência, foi instituído o AI-5 em dezembro daquele ano em que pontificou de vez a “linha dura” e a partir daí todos sabem da repressão àqueles grupos que, por sua vez, reagiam com ações não menos violentos.
O apelo, em forma de poema ou de rimas quando possível é este, naquele ano de 1966 que em muito do que expressado, de modo exacerbado serve para os dias de hoje em muitos aspectos.
A pergunta, então, nesse tempo de espera, era: o que fazer?

De tanta esquizofrenia isto é uma utopia



Eu vos peço...
Meu Pai
Ao meu pai patrício
Brasileiro quinhentão,
Para poucos, estrangeiro
Até nosso Pai
Nosso Pai verdadeiro
Querem naturalizar forasteiro?


Eu vos peço, meu Pai
Meu pai brasileiro
Cem por cento nacional
Que olhe de forma tal
Para sua terra natal,
Onde tem palmeiras
E já não canta o sabiá
Que de tão papagaio
canta em galho uruguaio


Eu vos peço
Que voltem as eleições
Ah! o votinho popular
Que foi cassado por cá
Que haja mais pão
O pão nosso de cada dia
Que de tão duro foi ao chão,
Comeu-o a sádica inflação.


Que o nosso dinheiro
Ah, Ah, Ah, o cruzeiro
Não tenha mal cheiro
Que o estudante seja livre
Possa se unificar
Sem se subverter e marginalizar
Que as nossas indústrias
Nossas grandes e pequenas firmas
Não se fechem de fina!


Que a forme e a miséria
deixem de existir,
Que horror!
De tanta esquizofrenia
Isto é uma utopia!!!
Onde os nossos ladrões
E os nossos tubarões
Roubam sempre de dia.


Até quando ouviremos promessas
E quando elas não vêm
A resposta é: ora essa!
E que a atual conjuntura
termo antipático da linha dura
deixe de fritar em tal fervura.


E o brasileiro
Seja bem brasileiro
melhor que o estrangeiro
Noventa por cento nacional
Dez por cento sentimental,
Precisamos muito
De muita compreensão
Menos ambição
Muito boa intenção


Eu vos peço meu Pai
Iluminar o casarão
Com tal é forte clarão
Que ele volte a ter ação
Ação e compreensão.


Mas, sei meu Pai
Que errar é humano
E que os homens
Não sabem o que fazem
muitas vezes...


Eis o nosso sacrifício
Pois somos pacíficos da paz
Ainda que não votemos
Ainda que choremos
Ainda que não comamos
E ainda que soframos.
Eu Vos peço...








08/12/2014

A RIQUEZA E O TRABALHO EM “O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” [Allan Kardec]

Menos pelos princípios, que eu respeito, mas para conhecer um pouco mais o posicionamento espírita sobre os Evangelhos de Cristo, estou acabando de ler o livro supra de autoria de Allan Kardec, escrito em 18 de abril de 1857.
Neste século XXI e essa discussão não é nova mas que assume condições de “foro de cidade” de tempos em tempos, volta-se a discutir a concentração de renda – o aumento da riqueza na mão de poucos, e uma solução possível para diminuir esse impacto e melhorar a vida dos menos favorecidos.
Muitas são as teses, mas poucas as soluções reais. No Brasil, a Constituição estabelece que caberá à União estabelecer impostos sobre grandes fortunas mas até hoje, 26 anos depois de promulgada, esse dispositivo não foi regulamentado.
Se levar a sério um livro – romance político, direi, “O quarto K”, de Mario Puzzo – afirmaria que os detentores das grandes fortunas, em todo o mundo, segundo se depreende da obra citada, se autoajudam e se protegem e mesmo agem para garantia de seus interesses no mundo político que, como se sabe, não prima pela honestidade.
Mas, o livro de Allan Kardec, que afirmou todos os princípios da doutrina espírita é sobretudo religioso ao interpretar sob essa visão, os Evangelhos de Jesus.
Dessa leitura se sobressai um conceito básico que se repetirá ao longo da obra:
Fora da caridade não há salvação
[E também a humildade e o perdão]
Desde logo mencione-se o versículo no qual Jesus diz “que mais fácil é passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico nos Reinos dos Céus”, a interpretação espírita dada tem a ver com a tradução equivocada ao longo dos séculos entre camelo e cabo

À mesma palavra, com duplo significado, prevalecera o primeiro sentido, mas o termo cabo é o que se coaduna ao texto evangélico, porque feito de pelo de camelo e não o próprio dromedário que não poderia passar pelo fundo da agulha.
Mas, a riqueza existe e não é desprezada no livro de Kardec e aceita sempre se observado aquele princípio da caridade:
Ricos! Pensai um pouco nisso. Ajudai o mais que podeis aos infelizes; dai, para que Deus um dia vos retribua o bem que tiverdes feito; para que encontreis, ao sair de vosso envoltório terrestre, um cortejo de Espíritos reconhecidos, que vos receberão no limiar de um mundo mais feliz.”
Em crônicas diversas sempre demonstrei minha perplexidade com os contrastes que há neste mundo: praticamente vivendo lado a lado, seres humanos virtuosos com alto grau de espiritualidade e outros num estágio de barbárie que praticam atos estarrecedores e abomináveis.
Dai porque o livro espírita não deixa de lembrar que “a Terra pertence à categoria dos mundos de expiações e de provas, e é por isso que nela o homem está exposto a tantas misérias”.
Mas, há aqui, nesta Terra, apesar de tudo, a “lei do progresso” que avança.
E, então, quanto à riqueza como fazê-la inteligente, incentivar o progresso e, sobretudo, a caridade?
É torná-la instrumento da diminuição das desigualdades, ajuda permanente aos que estão em volta do rico e sofrem as agruras da miséria, da pobreza extrema. Por isso, não deve reter o rico a riqueza para seus interesses pessoais e egoístas mas, com ela, promover o progresso geral, incrementando a produção e as ocupações, garantindo a justa compensação pelo trabalho.
A fortuna dada aos ricos não passa de um “empréstimo” dado por Deus e todos eles, os ricos, que deverão prestar contas do que fizeram quando se tornar ela inútil ao fim da vida terrena:
Oh, vós, ricos que empregardes segundo a vontade do Senhor, vosso próprio coração será o primeiro a beneficiar-se nessa fonte benfazeja, e tereis nesta vida os gozos inefáveis da alma, em vez de gozos materiais do egoismo, que deixam o vazio do coração”. (Fenelon).
E quanto às esmolas que Jesus falava em sua época, um modo comum de caridade, diferente dos tempos atuais com os meios de produção e tecnológicos desenvolvidas, com fortunas imensas acumuladas mas, mesmo assim, “a todos que podem dar, pouco ou muito, direi, portanto: dai esmolas quando necessário, mas o quanto possível convertei-a em salário, a fim de que aquele que a recebe não tenha do que se envergonhar”.
E, também, incentivar o trabalho garantindo o bem permanente da família!


PARA ENCERRAR:
O livro de Allan Kardec informa que depois de passarmos pelas tribulações da vida nas várias encarnações, chegará o tempo em que viveremos num mundo de extrema felicidade. 
Mas, “a pergunta que não que calar”: o que somos nós individualmente, o que almejamos – se é que almejamos algo – se sequer sabemos quem somos e o que aqui fazemos neste mundo de expiações e provas? Afinal, qual o sentido disso tudo, de tantos desgostos e tragédias à nossa volta? Somente as expiações e provas explicam?