25/10/2009
ESTADOS UNIDOS, UM SENHOR PAÍS
Foto 1: A onda do açaí nos Estados Unidos. O cartaz apontado pelo meu filho Silvio, se ampliada a foto, revelará os seguintes dizeres: “Now available – AÇAI ENERGY – Brazilian Super Fruit”. Exposta num restaurante de estrada entre Nova York e Filadélfia
Foto 2: Visita a Lincoln Memorial (Washington). Eu e minha esposa Ana Rosa.
Foto 3: Naquela linha de aproveitar tudo o que possível a estatua da Liberdade, fotografada “a vivo” nas proximidades de sua ilhazinha (Ilha da Liberdade), pelo Rio Hudson (Nova York). A estátua possui 46,5 metros de altura, pesando 24635 toneladas e foi um presente da França aos Estados Unidos em comemoração ao centenário de sua independência.
Pela segunda vez estive nos Estados Unidos, pais que admiro. A primeira vez foi por conta de atividade profissional. Lá fiquei por 35 dias. Desta feita, há pouco, só alguns dias, o suficiente para apreender sua atmosfera num momento de crise. Sobre esse aspecto, escrevi no portal www.votebrasil.com, “edição” de 14.09.2009.
Normalmente, em qualquer viagem ao exterior – e eu já visitei 16 países entre América do Norte, do Sul e Europa -, há que aproveitar sempre com bastante atenção os aspectos turísticos de tal ordem que dessas viagens – além da vaidade (epa!) de afirmar “eu já estive lá” – fiquem imagens de experiências que realmente valham a pena reter.
Hoje, de todos esses deslocamentos ao exterior que tive a oportunidade de viver, só guardei fragmentos o que me leva a questionar se valeu a pena tantas horas nas desconfortáveis viagens de avião, nas suas poltronas minúsculas, cotovelos com cotovelos. As fotos que poderiam significar lembranças, com o passar do tempo ficam inidentificáveis.
Nesta última viagem aos Estados Unidos, em setembro último, estive atento a notícias do Brasil. Nada e em certos setores da tradicional ignorância americana o Brazil é praticamente desconhecido.
Na Filadélfia, faço duas perguntas a uma americana comum provinda do estado de Arizona. Ela sabia, pelo menos, que no Brasil se falava português.
- Por favor, o que a senhora sabe do Rio de Janeiro?
Silêncio constrangedor.
- E do Lula?
O mesmo silêncio.
Quanto ao Rio de Janeiro, é possível que a atenção dessa senhora do Arizona tenha sido despertada pelos recentes acontecimentos nos morros e favelas cariocas, com mortes e derrubada de helicóptero da polícia, que obteve repercussão internacional.
Um consolo: na vista do Museu de Artes da mesma Filadélfia, um segurança negro, de baixa estatura, ao saber que éramos do Brasil, mencionou:
- Oh, yes, Rio de Janeiro, samba.
Nada mais.
Digam o que disserem, mas sou meio “chegado” nos Estados Unidos, mas não voltarei mais por lá, salvo alguma grande “mamata” que surja do éter, até porque não aceito passagem área do Senado. Difícil, hem!?
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18/10/2009
O HOROSCOPISTA
Por muito tempo me diverti ao lembrar dum velho jornalista que conhecera tão de perto e que dirigia um jornaleco semanário que tinha lá seus encantos, porém. Eram aqueles tempos heróicos em que a composição era feita nas linotipos.
O velho jornalista tinha um perfil todo próprio: baixinho, desmazelado - diziam que meio avesso a banho - irreverente e desbocado.Tinha muitas manias: a principal era rolar nos dedos como se fosse uma bolinha de gude, um pedaço de chumbo que gravara texto rejeitado.
Certo dia resolveu que o seu jornal teria um horóscopo. Depois de muito procurar, não encontrando um horoscopista ou um astrólogo no lugar, resolveu que ele próprio, semanalmente, produziria o horóscopo. Semanas depois, o primeiro horóscopo foi publicado, assinado pelo estranho nome de "Monsieur Abidul - o astrólogo internacional", tudo muito bem feitinho e organizado, com os símbolos do zodíaco e tudo. E, assim, a cada semana, lá estava o horóscopo fresquinho, regendo toda a semana seguinte dos leitores. Mas, depois de um tempo, aquele exercício de horoscopista estava lhe dando cansaço e tédio porque passara a ser um compromisso inadiável. Havia o espaço a preencher. Já não agüentava mais "capricórnio, cuidado com amores inesperados, mantenha-se vigilante !", "virgem, prepare-se, você pode receber pequena fortuna !" e assim por diante.
Até que, no minuto final de fechar a edição, cheio de preguiça, manipulando nos dedos um pedaço de chumbo de gravação que saíra defeituoso da velha linotipo como se fosse um bolinha de gude, todas as previsões dos signos foram trocadas: as de touro, foram parar em virgem, de balança em câncer, de capricórnio em áries, de áries em capricórnio e assim por diante. E o horóscopo foi assim montado por semanas seguidas.
Numa manhã de segunda-feira – o jornal circulava aos domingos - o telefone da redação toca. A voz feminina pediu para chamar o horoscopista. O estafeta sonolento que atendera insistiu que o tal Monsieur não trabalhava no jornal.
- Como não? - já impaciente, a leitora. É ele quem faz os horóscopos!
Acordando como se levasse um balde de água fria, o estafeta tapou com a mão o fone e chamou o diretor:
- Diretor, tem uma mulher aqui querendo falar com o tal do Monsieur Abidul.
Meio surpreso no primeiro segundo, mais que depressa, estirou-se torto na cadeira, pé direito apoiado na última gaveta da mesa gasta onde se espalhavam as provas das páginas da edição do último domingo, afinando a voz, respondeu num sotaque misto de francês e inglês, tudo ridículo e risível:
- Bien, como posso ajudarr o senhorra ? Here é o Monsieur Abidul?
- "Seu" Abidul, suas previsões estão muito estranhas. Tenho certeza que no mês passado houve no meu signo um horóscopo idêntico ao de ontem. Minha filha leu o horóscopo de seu namorado, que é de leão com as mesmas previsões feitas para o seu próprio, de virgem, da semana passada. Como se explica isso?
Sem nenhum constrangimento, o diretor mantendo aquele sotaque híbrido, risos contidos à sua volta, respondeu marotamente:
- Oui, a senhorra. nunca ouviu dizerr que os astros e as stars se mexem no céu. Órra, os horoscôpos tem a mesma prrevison when os astros girram para o mesmo lugarr.
Ao que a mulher respondeu:
- O que gira é sua cabeça, Monsieur Abe... não sei o quê, seu charlatão! Seu sem-vergonha! - e bateu o telefone.
O diretor perplexo manteve por alguns segundos o fone na mão, boquiaberto, enquanto seus óculos de lentes riscadas escorregavam das orelhas suadas. Não pôde conter a ruidosa gargalhada que ecoou por toda a redação e oficinas. Mesmo não entendendo nada, todos riam alto como se a gargalhada do diretor fosse, por si só, uma grande piada.
Na edição seguinte o horóscopo deixou de ser publicado, com uma nota da direção do jornal simplória e curta no canto direito da primeira página: o astrólogo havia sido demitido porque "descobriu-se que era um charlatão".
03/10/2009
MEUS TEMPOS DE BULLYING
Cartaz do filme "Os Brutos também amam" (Shane)
Há tempo para tudo e tudo passa com o tempo. Essa frase de efeito me faz pensar em muitas coisas e até na palavra bullying que trata do fenômeno odioso da agressão gratuita que se dá no ambiente escolar e não só. Pequenas gangs ou valentões “elegem” alguns colegas de classe ou da escola e passam a infernizar suas vidas. Diariamente.
Bully, do inglês, significa brigão e como verbo, ameaçar, amedrontar. Então, seria ameaçando, amedrontando.
Nos meus velhos tempos de ginasial me deparei com essas situações. Vivi essa experiência odiosa.
Em algumas oportunidades fui vítima do bullying.
A que mais me lembro, refere-se a um sujeito sempre acompanhado de outros dois ou três, e fui eu o “eleito” para ser sua vítima. Era tapa na cabeça antes da entrada nas aulas e durante as aulas quando distraído o professor, rasteiras e por aí seguia. Por dias, semanas e semanas.
Era um tormento minha chegada à escola. Tinha lá os meus medos do que poderia ocorrer se eu reagisse.
Até que um dia, no limite do insuportável, ao se aproximar para mais uma das suas à minha chegada, eu o empurrei violentamente. Ele caiu sentado, sob o olhar perplexo dos seus colegas, na verdade, uma ganguezinha. Todos riram.
- A seu fdp. Te pego na saída, disse ele raivoso e envergonhado.
Aquela manhã foi de pavor. Rezava para que ele fosse embora.
Na saída, do lado de fora do portão, lá estava ele me esperando. Toda a classe sabia o que viria. Um espetáculo de luta livre ao ar livre sob o sol ardente.
Eu naqueles tempos difíceis usava sapatos com solado de pneu, pesados, pois.
Fomos para um terreno próximo com farta assistência nos seguindo entusiasmada.
Descobri naquele dia que sabia brigar. Meu sapatão brilhou solto. Rolamos pelo chão de terra e poeira e por fim, meu bullyinista levou a pior. Abandonou a briga.
Claro que essa contenda teve repercussão na escola. Senti-me por uns dias o “Shane” de “Os Brutos Também Amam”, filme da década de 50 até hoje emblemático.
O sujeito no dia seguinte, hematoma num dos olhos, não conseguindo nem mesmo disfarçar as dores nas pernas, disse que ia para a revanche mas sossegou, nunca mais se aproximou de mim. Nem sua turminha.
Peguei fama de bom de briga, nada a me orgulhar. Meu orgulho é nunca ter começado uma. Se já levei a pior alguma vez? Bem, não se pode vencer sempre...
Quero deixar este depoimento pensando no que se passa hoje até mesmo jovens dando tiros de revolver para "resolver" o bullying de que é vítima. E outros casos desse naipe e graves.
Há que serem apoiados aqueles que são vítimas do bullying.
Vigilância permanente nas escolas para coibir a agressão física ou moral. E a atenção dos pais. Para os “eleitos”, é infernal cada dia e um pesadelo o dia seguinte, o dia seguinte, o dia seguinte...
Atenção dos responsáveis pelos sintomas desses transtornosw. A malvadeza hoje supera qualquer vilão.
E nada de imitar Shane porque as consequências podem ser graves, irreversíveis
20/09/2009
INTUIÇÃO DESVENDADA
(Igreja de Santo Antonio / Praça do Patriarca - SP)
Foto: Antonio Erivaldo - fotolog.terra.com.br/toninho:424)
Daqueles idos brilhantes que já tanto me referi, retorno minhas impressões, lembranças a uma professora de filosofia, que em algumas aulas no colégio, promovia um exercício religioso: abria a Bíblia ao acaso e incentivava os alunos participantes a ler um versículo. Em seguida pedia que cada um desse sua interpretação.
Dizia que a Bíblia tinha diversos significados, verdades que se intuem segundo o merecimento do fiel, mas em especial a vontade sincera em compreendê-la. Nesses exercícios bíblicos uma certa comunhão do grupo com o texto objeto de reflexão, poderia inspirar novas revelações.
Essa professora, juravam no colégio, pertencia a uma ordem religiosa católica. Quando perguntada, com aquele respeito todo, ela não confirmava e não negava, apenas desconversava.
Mas, a forma como se trajava e agia, sempre de vestido longo, cinza claro, na altura do tornozelo, sem pintura, cabelos lisos cortados pouco acima dos ombros, olhar brilhante e sereno num rosto redondo, rosado naturalmente, não negavam alguma ligação com uma qualquer ordem religiosa.
Naqueles exercícios, algumas derivações bíblicas iam eclodindo, transbordando, não decorrentes do exercício intelectual, mas da intuição, da interioridade. Existia naqueles momentos, um (in) explicável sentido de paz.
Sempre me lembro dela e de outros. Onde andariam esses expoentes? Ainda vivem?
Já disse que me desviei para correntes do ocultismo. Algumas dessas correntes incentivam, conduzem o adepto a encontrar na sua interioridade o seu templo e sua religião. Há alguns conceitos universais ou religiosos que dão as linhas básicas de conduta. Assumidas essas, à medida que o adepto se esforça, mais ele se encontra e mais ele renuncia a certos valores mundanos. A conjugação da auto-compreensão, com a renúncia a certos (des) valores vai levá-lo a identificar sua espiritualidade.
Mas, isso não é fácil, porque o dia-a-dia o coloca diante de imensos desafios mundanos. Que também se constituem valiosas possibilidades de progresso, se aqueles valores universais forem preservados como norma de conduta. Mas, na contrapartida, tende a fazer esquecer essa busca eminentemente religiosa e espiritual que estaria latente no âmago de sua interioridade.
Fica mais fácil, pois, frequentar uma igreja no domingo. Naquelas horas que ali passa, exterioriza o fiel sua busca pelo divindade, se apoia nalguma santidade, num exemplo. E interioriza certas vibrações das orações, das pessoas que ali estão, também, buscando uma melhoria pessoal ou religiosa.
Certa feita, um tanto intranquilo por alguma coisa que já não me lembro, voltei a uma missa católica. Saí muito mais confortado, principalmente pelo congraçamento que houvera entre os fieis.
Todas essas confidências que me encorajei a relatar, vêm a propósito da emoção que sempre sinto ao me deparar com pessoas em oração.
Normalmente, quando em São Paulo, para suportar a poluição e o cansaço adicional que ela provoca, tenho por costume, parar um pouco na Catedral da Sé e, na sua meia-luz, fazer um pequeno recesso, observando as pessoas que entram e saem. Outro dia, fiz isso na Igreja da Praça do Patriarca (Igreja de Santo Antonio).
Homens e mulheres, simples ou bem vestidos, entram, ajoelham-se ou não, oram diante de uma imagem ou no próprio genuflexório e se retiram.
Não importa o tamanho da imagem. O que importa é a busca da graça, do calor espiritual que o gesto, a oração piedosa podem produzir. São aquelas, as imagens, apenas símbolos que levam à religiosidade.
Quanto a mim, enquanto permaneço estacionado sem enveredar para minha autorreligiosidade pelos motivos mundanos que me deparo a cada dia – boa desculpa, hem? - alimento muita simpatia por aqueles que, no recesso de uma igreja, numa hora qualquer do dia, exteriorizam sinceramente a sua, sem exacerbações e exageros. Apenas um momento de reflexão e oração.
A propósito, já nem sei quantas vezes usei o trecho abaixo de uma poesia minha, cujo teor se perdeu. Vale mais uma vez para sintetizar o que quero dizer:
"A vida caminha pra frente
Sucedendo-se o dia-a-dia feliz ou triste,
Não há sequer uma garantia
Nessa seqüência de luta sem nexo (ou sadia ?)
Sinto que há nesse vai-e-vem
Valores interiores, superiores, sutis.
Como descobrir o que exprimem
Se os embates da luta me reprimem ?
Parece que essa luta sadia (ou doentia ?)
Não começa no sexo e termina na morte:
Há mensagens fortes nessa contradição
Que só a Alma silenciosa possibilita audição".
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