10/04/2020

A DESTRUIÇÃO DA AMAZÔNIA E A HIPOCRISIA

Nesta sexta-feira da Paixão, renovo o desencanto, a tristeza mesmo que, em meio aos desencontros oficiais no combate à pandemia do coronavirus, volta a notícia de que o "desmate já é recorde na região amazônica":

"A extração ilegal de madeira corre em ritmo acelerado na Amazônia, fazendo com que o volume do desmatamento acumulado de agosto de 2019 a março deste ano já chegue ao dobro do verificado no mesmo intervalo anterior, quando a derrubada recorde da floresta virou alerta global. Uma área superior a três vezes a cidade de São Paulo já foi abaixo neste período." (*) 

Leo Correa/AP

Então, nada como um dia como este para meditar "religiosamente" um pouco sobre isso.

Volto-me para o simbolismo do "Gênesis" bíblico, mas se simbólico o que relata da criação constitui-se grande lição a se pensar.

Com efeito, no decorrer do milagre da criação, Deus seguiu esta ordem:

No terceiro dia:

11. E disse Deus. Produza a terra erva verde que dê semente, árvores frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a face a terra. E assim foi.

No quinto dia

25. E fez Deus as bestas-feras da terra conforme a sua espécie, e todo réptil da terra conforme, a sua espécie. E viu Deus que era bom.

No sexto dia:

27. E criou Deus o homem à sua imagem: à imagem de Deus o criou: macho e fêmea os criou.
30. E todo o animal da terra, e a toda ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há a alma vivente, toda a erva verde será para mantimento. E assim foi.

De notar que o 'verde' foi criado já no 3º dia; os animais, de "almas viventes", no quinto dia e o homem somente na 6º dia. Coube a ele, "dominar (presidir) sobre  os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado e sobre toda a terra e sobre todo réptil que se move sobre a terra" (1.26).

Há nesses versículos todos um sentido de religiosidade profunda. O dominar ou presidir toda essa criação não significa devastar, destruir, desrespeitar. O verde como alimento não só para ele como para todos os animais de "alma vivente".

Na medida que esses milagres da criação são desrespeitados, sem reposição do que destruído, qualquer manifestação dita religiosa é hipócrita.



E a hipocrisia mais se sustenta, a quem bater no peito e disser ao vento e aos bajuladores: "creio em Deus". E cai de joelhos perante falsos profetas e amealha os favores dos seu adeptos com a alma desorientada que merecem a compreensão.

Disse Jesus Cristo, em seu "sermão da montanha", segundo Mateus (6.5):

"E quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão".

Como pode um arrogado religioso desdenhar, como desdenhado tem, e a não presidir com amor esses milagres anteriores da criação? Mas, não, com palavras e desdém lançá-los, cúmplice, aos insanos que os destroem? A que preço que não seja o preço vil?

Hipócritas.


No filme "Quo Vadis" de 1951, sem entrar nos rigores da própria história, ao incendiar Roma, Nero na sua loucura, tinha um "projeto" de reconstrução da cidade.



Para se livrar da ira do povo pelo crime atribuiu aos cristãos o incêndio que engendrara contra a própria Roma e seu povo simples.

Era ele rodeado de bajuladores que enalteciam seus "talentos" medíocres de poeta e cantor. Havia um conselheiro, Petrônio, que ao enaltecer esses "talentos" o que fazia era impedir que a loucura do "divino" fosse mais trágica e mais assassina.

E havia o "general" Tigelino que em tudo o conduzia para a barbárie e crimes, mas era neutralizado pelo ponderado Petrônio.

Sim, Nero na sua loucura julgava-se divino. E essa condição de divindade era propagado ao romanos pelos seus bajuladores.


Sim, a culpa pelos seus desatinos é dos outros.



Nestes tempos caóticos, muitos são os que se penalizam com os animais.

Com efeito, muitos vertem lágrimas com um cavalo que morre de tanto esforço que lhe é imposto no dia a dia, por um "dono" irresponsável.

Todos enaltecem os cuidados com os animais domésticos que são tratados, muitos, como crianças mimadas. Nada contra, desde que não se esqueçam das crianças.

No descaso e no deboche grosseiro nos apelos que apontam a devastação da Amazônia, os animais que morrem ou pelos incêndios criminosos ou pela sobrevivência impossibilitada pela quebra dos recursos alimentares são milhares.

Calem-se hipócritas políticos e os omissos que dão de ombros porque todos são cúmplices dessa tragédia!

E nem pensem que esses crimes não repercutem no planeta que de um modo ou outro adverte ou penaliza pelo abuso e desordem ambiental e moral praticados pelos homens.

Eu mesmo já revelei meu asco pela maneira como agem chineses, em determinadas regiões que se alimentam de tudo o que se mexe, sejam insetos, morcegos na sopa, sapos, ratos crus, animais exóticos e domésticos e o que mais a imaginar.

Esses ataques aos animais e insetos tem a ver com a tragédia imposta pelo ditador truculento Mao Tse Tung que "governou" a China de 1949 a 1976 (ano do falecimento) que impôs a morte pela fome a milhões de chineses.

E o abate nesses mercados chineses dos horrores se dá com extrema crueldade.

Mas, não se admirem de modo hipócrita com o que ocorre na China porque todos os que consomem carne como alimento não olham para o que se passa na barbárie dos matadouros.

Não querem saber dos porcos "aprisionados" imóveis em gaiolas até que tenham o peso para o abate!


Eu tenho pensado muito nessa crueldade e tenho minhas intuições.

Nos tempos das cavernas, os hominídeos aprenderam a caçar os animais e se alimentavam de sua carne.

Li não faz muito dois livros clássicos, "Odisseia" escrito há 900 AC por Homero do qual registrei o seguinte:

É nessa visita emocionada entre pai e filho é que se sabe que o velho Laertes (pai de Ulisses) cultivava frutas em seus campos. Essa é única referência a esse tipo de alimento em toda a Odisseia. A predominância sempre fora nos festins constantes, a carne. o pão e o vinho.

Essa mesma predominância carnívora e do sacrifício dos animais ocorre no Eneida, escrito por Virgílio anos antes do nascimento de Jesus Cristo. (**).

O sacrifício de animais nos altares é mencionado na Bíblia.

Me parece que o sacrifício dos animais para alimentação - o gado prolifera bastante - tem a ver com decisões divinas em reconhecer que a maioria dos homens ainda guarda a herança dos seus ancestrais dos tempos das cavernas. 

Mas, há a lei da causa e efeito.

E abatem barbaramente aqueles seres dotados de "almas viventes" que deveriam ser preservados por eles.

Sim, este é o planeta da barbárie, das diferenças, das penitências e nesse quadro caótico ou de redenção ou de expurgo.

Vejo de modo não otimista o obscurantismo e o caos futuros que atingirão as próximas futuras gerações.


Tudo o que é noticiado vindo da China, pelo seu regime político fechado, ditatorial recebo com reservas.

Mas o que é verdade é a compra de carne bovina pela China, algo em torno de 350 mil toneladas em 2019. Uma parcela para superar a fome de mais de 1 bilhão de habitantes.

Mas, qual a preocupação ambiental que foi divulgada recentemente por diversos meios de comunicação? A de que a China vem promovendo ampla cobertura vegetal (reflorestamento) como um modo de diminuir a sua imensa poluição:


"Como parte do plano para construir uma China Formosa, o país prometeu aumentar sua taxa de cobertura florestal para 26% até o ano de 2035.
Para cumprir o objetivo, Zhang enfatizou que o país deve acelerar o ritmo de reflorestamento, com cerca de 6,67 milhões de hectares de árvores recém-plantadas todos os anos, e deve implementar uma estrita proteção dos recursos florestais.
Mais medidas serão tomadas para promover a restauração ecológica das pastagens e será impulsionada a criação de parques nacionais pilotos, salientou Zhang." (***)



Dá-se, então, uma reversão de atitudes. Por aqui se desmata de modo criminoso sem controle nenhum, o que pode e o que não pode, tanto para obter madeira como para aumentar pastos, para maior produção de carne especialmente para exportação incluindo a China.

A China por sua vez, refloresta, contando com a carne brasileira a preço de liquidação e não olha para o desastre ambiental que por aqui se avoluma para sustentá-la mesmo que em parte.


Hoje, o poder central é rodeado de bajuladores que se aproveitam dos meios de comunicação, as tais redes sociais, para santificá-lo, para comparar com o passado os seus discursos desastrados, pelas falsidades que divulgam, pelo rancor que não falta, pelas suas contradições e incompetências.

Deturpam apelos preservacionista sejam quais sejam os interlocutores, sem pensar um pouco no que de verdade contêm esses apelos. 

E partem para a agressão, para a distorção inescrupulosa.

Os imediatistas, ignaros cuja visão se perde olhando para os pés e não para o infinito.








Referências:

(*) "O Estado de São Paulo" de 09.04.2020 (de André Borges)

(**) Acessar:

"Odisseia":
https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2019/09/odisseia-de-homero.html

"Eneida":
https://resenhadoslivrosqueli.blogspot.com/2020/01/eneida-de-publio-virgilio-maro.html

(***) "Xinhua Português" de 12.03.2019

05/02/2020

HOROSCOPISTAS


Sempre pelas minhas andanças pelas páginas dos jornais via e até consultava  os horóscopos sempre com muita desconfiança.
Como é que foi escrito, qual tipo de "consulta aos astros" houve? Ou foi apenas um modo de preencher o espaço destinado pelo jornal, iludindo os leitores induzindo melhor sorte até porque os horóscopos nunca acentuam um momento de pessimismo. 
Pois bem, no meu livro "Joana d'Art", inspirado rigorosamente em "fatos reais", converti a elaboração de horóscopo semanal numa anedota, um modo de se desviar um pouco daqueles temas sérios autobiográficos e a ficção trágica do livro.
Mas, não foi somente eu quem desqualifiquei os horóscopos. Numa crônica de 05.01.2020 no jornal "O Estado de São Paulo" Luiz Fernando Veríssimo publicou um depoimento pessoal de horoscopistas que complicou seus horóscopos. 
A minha versão inserida no livro "Joana d'Art":















"Houve um tempo em que eu dava uma olhada no horóscopo. Muita gente leva o horóscopo a sério. Mas, naquele momento ri muito ao me lembrar como um velho jornalista que conhecera tão de perto e que dirigia um jornaleco semanário que tinha lá seus encantos, porém. Eram aqueles tempos heroicos em que a composição era feita nas linotipos. O velho jornalista tinha um perfil todo próprio: baixinho, desmazelado - diziam que meio avesso a banho - irreverente e desbocado. 
Certo dia resolveu que o seu jornal teria um horóscopo. Depois de muito procurar, não encontrando um horoscopista ou um astrólogo que aceitasse sua oferta, irrisório, resolveu que ele próprio, semanalmente, produziria o horóscopo.
Semanas depois, o primeiro horóscopo foi publicado, assinado pelo estranho nome de "Monsieur Abidul - o astrólogo internacional", tudo muito bem feitinho e organizado, com os símbolos do zodíaco e tudo. E assim a cada semana, lá estava o horóscopo fresquinho, regendo toda a semana seguinte dos leitores.
Mas, depois de um tempo, aquele exercício de horoscopista estava lhe dando cansaço e tédio porque passara a ser um compromisso inadiável. Havia o espaço a preencher. Já não aguentava mais "capricórnio, cuidado com amores inesperados, mantenha-se vigilante !", "virgem, prepare-se, você pode receber pequena fortuna!", "balança, como diz seu próprio signo, um dos pratos pesará mais e um amigo lhe trará agradável surpresa nesta semana!" e assim por diante.
Até que, no minuto final de fechar a edição, cheio de preguiça, cultivando sua mania de manipular nos dedos um pedaço de chumbo de gravação rejeitada que saíra defeituosa da velha linotipo como se fosse um bolinha de gude, todas as previsões dos signos foram trocadas: as de touro, foram parar em virgem, de balança em câncer, de capricórnio em aries, de aries em capricórnio e assim por diante. E o horóscopo foi assim montado por semanas seguidas.
Naquela manhã de segunda-feira – o jornal circulava aos domingos - o telefone da redação toca. A voz feminina pediu para chamar o horoscopista.
O estafeta sonolento que atendera insistiu que o tal Monsieur não trabalhava no jornal.
- Como não? já impaciente a leitora. É ele quem faz os horóscopos!
Acordando como se levasse um balde de água fria, o estafeta tapou com a mão o fone e chamou o diretor:
- Diretor, tem uma mulher aqui querendo falar com o tal do Monsieur Abidul.
Nessa hora eu chego e assisto tudo.
Meio surpreso no primeiro segundo, mais que depressa, estirou-se torto na cadeira, pé direito apoiado na última gaveta da mesa gasta onde se espalhavam as provas das páginas da última edição , afinando a voz, respondeu num sotaque misto de francês e inglês, tudo ridículo e risível.
- Bien, como posso ajudarr o senhorra ? Here é o Monsieur Abidul?
- "Seu" Abidul, suas previsões estão muito estranhas. Tenho certeza que no mês passado houve no meu signo um horóscopo idêntico ao de ontem. Minha filha leu o horóscopo de seu namorado, que é de leão com as mesmas previsões feitas para o seu próprio, de virgem, da semana passada. Como se explica isso?
Sem nenhum constrangimento, o diretor mantendo aquele sotaque híbrido, risos contidos à sua volta, respondeu marotamente:
- Oui, a senhorra. nunca ouviu dizerr que os astros e as stars se mexem no céu. Órra, os horoscôpos tem a mesma prrevison when os astros girram para o mesmo lugarr.
Ao que a mulher respondeu:
- O que gira é sua cabeça, Monsieur Abe... não sei o quê, seu charlatão. Seu sem-vergonha. E desligou o telefone.
O diretor perplexo manteve por alguns segundos o fone na mão, boquiaberto, enquanto seus óculos de lentes riscadas escorregavam das orelhas suadas. Não pôde conter a ruidosa gargalhada que ecoou por toda a redação e oficinas. Mesmo não entendendo nada, todos riam alto como se a gargalhada do diretor fosse, por si só, uma grande piada. Eu ri a ponto de ficar com dor no estômago.
Na edição seguinte o horóscopo deixou de ser publicado, com uma nota da direção do jornal simplória e curta no canto direito da primeira página: o astrólogo horoscopista havia sido demitido porque "descobriu-se que era um charlatão".
Rememorando essa história, considerada anedota por todos os meus amigos quando contava, mas que assistira de perto, porque naquele dia aziago lera meu horóscopo logo cedo, não contive mais uma vez a gargalhando pelo calçadão e pela galeria ignorando os olhares curiosos e inspirando o riso de outros que me encaravam.

O "horoscopista" Luiz Fernando Veríssimo:
História pessoal, que já contei mais de uma vez: quando comecei a trabalhar na imprensa, há 200 anos, fazia de tudo na redação, depois de passar o dia no meu outro emprego de redator de publicidade. Um dia me pediram para fazer o horóscopo, já que o astrólogo profissional insistia em ganhar um aumento, uma reivindicação irrealista, dadas as condições do jornal. Como eu já fazia de tudo na redação, comecei a fazer o horóscopo também. Todos os dias inventava o destino das pessoas e distribuía as previsões e os conselhos pelos 12 signos do zodíaco.
***
O horóscopo era a última coisa que eu fazia no jornal antes de ir me encontrar com a Lucia e, se tivéssemos sorte, ir a um cinema, de modo que meu horóscopo era sempre feito às pressas, e com a escassa energia que sobrava depois de um dia fazendo de tudo, na agência de publicidade e na redação. E então bolei uma solução genial para liquidar o horóscopo em pouco tempo e ir embora. Como era óbvio que as pessoas só querem saber o texto do seu próprio signo e não o dos outros, comecei a fazer um rodízio: mudava os textos de signo e de lugar. O que um dia era o texto para libra no dia seguinte era para sagitário, etc. Ninguém iria notar a trapaça sideral, os deuses me perdoariam.
***
Não demorou para que o editor do jornal me chamasse. Tinha muita gente reclamando do horóscopo. O que eu pensava que era óbvio não era. Minha pseudoesperteza tinha sido descoberta, aparentemente todo o mundo lê todo o horóscopo todos os dias. Minha breve carreira de astrólogo terminou ali. Mas eu só queria dizer que, mesmo quando era eu que escrevia os textos, nunca deixava de olhar para ver o que libra reservava para meu futuro. Fazer o quê? Precisamos de uma direção na vida, venha ela de onde vier. 

ANTIGA-IDADE (*)

[Ou antiguidade
Para minha surpresa assim, assim, como não querendo nada meus filhos, alguns de modo mais formal começaram a reconhecer a antiga-idade dos pais.
Dois deles patrocinaram recentemente passeios agradáveis em cidades importantes.
O Silvio decidiu por Campos do Jordão, cidade que já conhecia, não tanto. 

Cheguei, desta feita, nas proximidades perigosas da "Pedra do Baú".



























Campos do Jordão é uma cidade na qual não parece haver crise no país pela massa de turistas que lá estavam, que abarrotava os restaurantes.
Uma dica para empreendedor: falta uma pizzaria central.















Já o Eduardo nos patrocinou um fim de semana na cidade mineira, famosa, de Poços de Caldas. Não conhecia e imaginava que fosse uma pequena cidade do tipo de Águas de São Pedro.
Mas, não, é uma cidade média, bem organizada, cuidada, com imensas praças e preservação ambiental. Há prédios públicos suntuosos.
Eu destaco dois locais turísticos, a "cachoeira do véu das noivas", com o seu trenzinho que roda mas tem a mágica de não sair do lugar. Interessante.
















O outro ponto, entre tantos outros é o da "fonte dos amores", local muito frequentado porque os macaquinhos, com quitutes autorizados (amendoim e bananas), das árvores altas vêm os buscar nas mãos dos ofertantes. Naquele sábado à tarde eles deveriam estar empanturrados com tanta gente estendendo a mão com os amendoins. 
Mas, eu quis ver de perto os macaquinhos e estendi a mão cheia de amendoim.
Eis que um deles se aproxima, raspa a minha mão, cata os grãos e me encara com aqueles olhinhos avermelhados como se atrás deles houvesse algo além de sua propalada irracionalidade... o quê,  gratidão, respeito, amizade impossível? A encarada amistosa me surpreendeu muito.

























Fiquei bastante surpreso com os olhos nos olhos. Já não é a primeira vez que isso me acontece. Quando escrevi sobre a encarada agradecida de uma vaca sedenta que dera água, essa crônica rolou por aí. (**)


Fotos:
Fotos de Campos do Jordão: Edu, Silvio e Jaque. 




































Dos dois locais em Poços de Caldas, eu e meu filho 
(cicerone) Edu, eu e minha neta Lya, de 4 anos e nós todos no trenzinho.



(*) Antiga-idade tudo a ver com antiguidade


(**) A vaca e o bezerro sedentos:
 https://martinsmilton.blogspot.com/2009/03/renuncia-carne-animais-brutalizados.html

20/12/2019

FILME “DOIS PAPAS” DE FERNANDO MEIRELLES.


Para quem raramente assiste qualquer filme na TV porque a maioria sem significado baseada em histórias em quadrinhos, DOIS PAPAS (Netflix) é um diferencial muito positivo.

Inspirados em fatos, principalmente nos tempos de Jorge Mario Bergoglio, padre jesuíta nos idos da trágica ditadura argentina período no qual assumiu posição ambígua mas não de adesão, apenas para tentar poupar outros jesuítas da violência e da tortura, foi ascendendo no catolicismo, chegando a cardeal, com uma característica: sempre com modos simples e ligado às comunidades pobres.

Fora dançarino de tango quando jovem, gostava, como gosta, de futebol e. com esse perfil, um crítico da Igreja pelos seus escândalos e pelo distanciamento progressivo dos fiéis da religião dando margem a que milhões deles buscassem outras crenças ainda que explorados materialmente por elas.
Então, o filme retrata a convivência entre o Papa Bento XVI (Joseph Aloisius Ratzinger) antes da sua renúncia e a iminente escolha de seu sucessor, o argentino Bergoglio.
Desenvolve-se, então, um diálogo eventualmente ríspido, mas cheio de respeito, no qual Bento XVI revela seu inconformismo com as posições liberais de Bergoglio que defendia mudanças na Igreja especialmente não tolerar mais os padres e bispos pedófilos que, descoberto o escândalo, eram afastados apenas de suas comunidades, transferidos para outras e nessas, a continuidade dos abusos.
Escolhido Bergoglio o sucessor de Bento XVI, agora Papa Francisco em março de 2013, vem ele alterando o modo de tratar os pedófilos, entregando-os às autoridades públicas num processo necessariamente lento, tais as resistências no interior do Vaticano.
Há um desabafo religioso de Bento XVI que reclama de não mais ouvir a voz de Deus malgrado seus insistentes apelos nas orações. Francisco do mesmo modo e hoje ele até proclama que Deus por Seu filho Jesus, não se houve bem na crucificação.
Posições importantes, essa angústia que afeta todos os religiosos de não serem ouvidos em suas orações e nos seus pedidos,  esperanças não materializadas.
Eu, particularmente, que posso me considerar meio agnóstico, mas não tanto (contemple o céu numa noite estrelado e explique isso tudo), sinto que às vezes se dão tênues sinais que nos afetam para o bem ou para o mal, neste caso como lições. Não dê guarida às tentações! Hoje já se fala mais amiúde da “lei do retorno”, da “causa e efeito”, do “karma”, que cobram ou recompensam o que de mal ou bem praticado ao longo do tempo e da vida.
A GUISA DE MORAL DA HISTÓRIA
O Papa Francisco vem fazendo um trabalho de revisão da Igreja, combatendo, finalmente, a pedofilia em suas hostes e, repete-se, sua vida na Argentina fora simples e conviveu com os mais humildes, se preocupa com eles, combatendo o egoísmo dos abastados ou dos muito abastados que ignoram seus semelhantes que vegetam no mais baixo estágio de pobreza e de necessidades elementares.
Por isso, entre nós, aqueles que querem a Igreja estratificada em suas tradições seculares o criticam e entre nós, aqueles que assumem posicionamento político classificados de extrema direita o chamam de "comunista".
Nos primeiros a visão é turvada pelas tradições mas que, compreendendo tantas mudanças de meios e costumes no mundo, se convencerão a um tempo de que para a Igreja não há outro caminho que não sejam mudanças fundamentais, discutindo, sim, o sacerdócio de mulheres, de homens casados, o celibato e tudo o mais que intrigam e a afetam nos dias de hoje.
Aqueles de posicionamento político radical, chamar Francisco de “comunista” significa absoluta ignorância de suas origens, do que prega e da sua missão na Igreja cuja tarefa é muito difícil.

Muitos são os que sequer sabem o que seja "comunismo".

Essa e outras adjetivações são inaceitáveis num tempo de perplexidade num tempo em que, um líder de uma nação, para mostrar religiosidade recebe ajoelhado “benção” de um suposto bispo que, pelos seus fiéis, construiu um império econômico em poucos anos.

O FILME É IMPERDÍVEL COM DESTAQUE PARA DOIS GRANDES ATORES: Anthony Hopkins como Bento XVI e Jonathan Pryce como Francisco. Diálogos primorosos e direção precisa do brasileiro Fernando Meirelles.