22/09/2023

CENAS DO COTIDIANO (ii)



  Apenas dando uma olhada discreta...





MUDEI O TÍTULO DE "JANELA DISCRETA" PARA "CENAS DO COTIDIANO"

O CHEIRO DA MORTE

Aquelas assuntos que não agradam mas que fazem parte do cotidiano. 
E aqui tudo se refere ao cotidiano.
Aqui neste meu pequeno quintal há à noite, com alguma regularidade morcegos que se encantam em voar pela casa e estranhamente pousarem de cabeça para baixo ao lado de uma luminária mas, principalmente gambazinhos.
Um deles, por muito tempo fora alimentado por mim, deixando à noite para ele algum tipo de alimento, uma fruta, uma banana, pão de forma...
Ele me via e fugia rapidamente. Não bastavam palavras carinhosas para que ele não tivesse medo.







Este aqui foi flagrado há algum tempo, em outro local mas também favorecido pelas jantinhas. Então, não é o mesmo deste relato.









Um dia desses pela manhã eu o encontro na vasilha de água dos passarinhos bebendo calmamente.
— Talvez ele estivesse sedento porque pela comida de ontem, pensei.
Ele não se assustou, não fugiu e, vagarosamente, foi nos rumos de uma pitangueira e subiu alguns galhos.
Ele me encarou tranquilo. Eu o deixei por ali. 
Uns três dias depois começou a exalar o forte odor da morte ali perto de onde ele bebera.
Aquele cheiro que penetra nas narinas e por ela fica na memória. Aquele mesmo odor que senti, um dia, há muito que, por dever de ofício, estive no IML de São Paulo.
Procuro de todos os lados a causa do cheiro até que, escondido atrás de uns vasos, lá estava o corpo do gambazinho inerte escondidinho exigindo recolhimento imediato.
Então, o bichinho uma manhã se exibiu a mim e me "informou" que partiria.
Naquele estado de deterioração de seu pequeno corpo, também para ele a luz se apagara.
E sem luz para todos os efeitos são os mesmos...

O IPÊ AMARELO FLORESCEU

Aqui num canto há umas bananeiras que podem dar cachos grandes, mas as bananas não são saborosas como eu gostaria. De regra, viram bananadas.
No meio delas, de modo discreto, despontou um ipê que sabia ser amarelo que teve muito dificuldade de se desenvolver.
Até que, depois de muito tempo, ele ultrapassou as folhas da bananeira e foi para o alto, acima delas.
E, então, nestes dias eu via pelas ruas e áreas verdes que os ipês estavam em pleno florescimento e me  perguntava:
— Mas, porque esse "meu" não dá flores?









As primeiras flores do ipê







Até que, numa manhã dessas suas flores sorriram.
Foi bom demais ver aqueles brilhos amarelos sob o sol.
E fazendo um tapetinho na terra com as flores que se soltam pena que tão rapidamente.
Foi a primeira florada. 
Nas próximas épocas esse "meu" ipê deve se tornar mais exuberante.

PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL. FALO DISSO HÁ MAIS DE 40 ANOS

Foram várias artigos sobre o tema. Na pequena / média imprensa do ABC quando lá residia
Tenho sido até repetitivo.
Não encontrei daqueles tempo comentários nos quais incentivava o plantio de árvores em quintais e calçadas. Quanto a essas muitas são piso estéril que apenas ampliam o calor.
Num artigo de outubro de 1983, este trecho que selecionei:

"Sobrevivendo as árvores, sobreviveremos, florescendo, suportaremos,
Somos apenas parte desse conjunto todo da fauna e da flora. Mas, na nossa imodéstia nos assumimos como os mais inteligentes... e ficamos cegos à nossa brutalidade inconsequente e irresponsável com as demais formas de vida que nos amam em silêncio e nos ensinam solenemente não obstante nossa cegueira tecnocrática."

Hoje explodem as temperaturas resultado da devastação ambiental severa.
Sei que já apelei alhures aos moradores que plantassem árvore no quintal se possível ou na calçada na frente da casa.
Vejam: 1000 adesões, mil árvores, 5000 adesões, cinco mil árvores... ajudando a melhor o clima.
Há um apelo mais insistente sobre isso nestes tempos. Mas, a minha preocupação é o sentir das mudanças climáticas na "pele" mas a predominância da indiferença como tem se verificado desde sempre (*)

Referência

(*) Da Ordem dos Advogados do Brasil de Piracicaba, este convite:

"É com grande entusiasmo que a Comissão de Meio Ambiente e Direito Urbanístico convida você para um evento dedicado à conscientização e à preservação do meio ambiente, programado para o dia 23 de setembro de 2023, às 09:00, no Bairro Santa Rita. 

Junte-se a nós para uma envolvente roda de conversa sobre o "Mapeamento Florístico de Piracicaba", seguida por uma significativa atividade de "Plantio de mudas de árvores". 

Como seria bom se outras entidades aderissem.




25/08/2023

CENAS DO COTIDIANO (i)

 



Apenas dando uma olhada discreta...




MUDEI O TÍTULO DE "JANELA DISCRETA" PARA "CENAS DO COTIDIANO"

JATOBÁS

Essas andanças por aí, principalmente nos domingos, me deparo com jatobás espalhados na beira da área verde e a calçada.

Perco a vergonha e cato alguns.

Quebro a casca dura e lá está o “bombom” verde, uma leve lembrança quando rodeava os campos, à beira do já poluído rio Tamanduateí em SCSul.













Experimento aquela fruta verde que embala o caroço duro.

Sabor de infância.

“Juro” que não mostrei a ninguém o riso debochado dos dentes verdes resíduos da fruta grudenta, não fiz anéis com o caroço e nem fiz munição de estilingue.

Só a volta à infância. Há coisas que ainda existem e hoje poucos se dão conta.

São tempos dos celulares.


BOMBONS SEM TAMANHO – DÚZIA DE DEZ

Separo o invólucro do bombom “serenata de amor da Garoto;

Cato a lente para confirmar se havia ou não “gordura trans”.

E então leio:

Novo peso de 19 g para 16,5 g. Redução de 2,5 g (13%).











Mas, que detalhe!

Redução de algumas gramas para aumentar os lucros, porque os preços não baixam proporcionalmente ou, por outra, são elevados periodicamente.

Essa prática é corrente hoje numa série de produtos.

Chego no mercadinho aqui do bairro e aponto para o proprietário que a lata do leite em pó desnatado não tem mais 300 g., mas apenas 280 g.

E ele me diz de bate pronto:

— Todo mundo reclama e ninguém faz nada.

A dúzia de ovos é de (10) dez.












Todo mundo faz piada e “ninguém faz nada!”.

Vejam isto (-) 30 gramas:












Pobre do consumidor, sempre lesado e nunca ousado.


DRAGÕES - DE - KOMODO

Esses super-lagartos vivem na Ilha de Komodo na Indonésia, um país com milhares de Ilhas.












No mapa se localiza-se ao sul a  Ilha de Komodo, onde estão esses animais que parecem ficção. Eles podem ter até 3 metros de cumprimento e pesar até 90 quilos.

Eles não mastigam suas presas. Eles as mordem inoculam o veneno que há na sua saliva e esperam o enfraquecimento delas. E, então, as engolem com chifres e cascos e tudo o mais.

Há um motivo para falar desses animais horrorosos mas que fazem parte da fauna planetária Um vídeo mostrou o exato momento em que um deles começa a engolir, salvo engano, uma ovelha.

Vivo, ainda, o animal atacado pelo dragão, começou a berrar com o seu mééé estridente que foi mantido audível até quando totalmente engolido, já no estômago do "monstro".

E eu que não tenho simpatia pelo dragão vendo e ouvindo isso!

Esses dragões impressionantes engolindo as presas com chifres e cascos pelo que depreende-se que seu estômago seja composto por algum líquido parecido com ácido...

... Brincadeirinha.

Foto de perfil sem sorriso e linguarudo. E feio.






 

 

TREMORES

Esta crônica é pouco ortodoxa pelas revelações que faço. É um esboço ou um incentivo do que poderá se constituir em exposição mais ampla, no qual esta crônica, melhor desenvolvida, seria uma página ou um capítulo.

Há muito que dizer... o tempo dá um tempo.

Eu já relatei que um dia fiz a primeira comunhão e minha mãe fez uma festinha comemorativa na casinha modesta onde morávamos no bairro Fundação (SCS) mesma sala onde brincava de escritório. Havia base redonda duma mesa de centro que ficava pouco acima dos pés na qual “arquivava” papeis do “meu” escritório.

Minha mãe fez questão dessa comemoração.

Aqueles foram tempos felizes, mas tudo tem o seu tempo.

Houve esse sentido religioso do qual me afastei.

Já avançando na adolescência vivi com meus irmãos mudanças inesperadas.

Não me animo agora a falar sobre isso se realmente acreditar no que aqui vou relatar.

Talvez um dia me anime a tanto numa explanação mais elaborada tentando resolver sob a minha ótica essas experiências de vida como essas que, penso, superei.

Minha irmã mais velha sempre demonstrara, digamos, “sensibilidade espiritual” e na busca de respostas às projeções interiores que não entendia enveredou pelo ocultismo, esoterismo e inclusive no Rosacrucianismo da AMORC, naqueles tempos muito na moda.

Não há dúvidas que essa sua busca influenciou meu irmão e também a mim.

Esses irmãos já faleceram.

O ocultismo concentra uma gama de caminhos e alguns são até perigosos quando se insiste em os trilhar sem os entender.

Mas, hoje, me parece, com tantas alternativas de conhecimento esse tipo de trilha é pouco enveredada, acho.

Havia uma máxima que dizia que aquele que enveredasse pelo ocultismo, sempre teria algum lampejo em sua mente, fragmentos desses caminhos pouco ou muito trilhados. Quanto a mim há muito não me preocupo porque desde sempre me julguei um pré-neófito.

Nem sempre a religiosidade, nesses estudos, era invocada.

No caso da AMORC não me lembro da menção, por exemplo, a Jesus e o que representava nesse “mundo alternativo”, até que li um livro, “A vida mística de Jesus” escrito por um dos principais líderes da Ordem no passado (H. Spencer Lewis).

Um livro ou uma corrente filosófica, posso qualificar desse modo, que muito me influenciou, foi “Conceito Rosacruz do Cosmos” ou “Cristianismo Místico” de Max Heidel.

No grosso volume de mais de 500 páginas entre muitos temas, sobre a presença de Jesus no mundo, escreveu ele:

“Se Cristo Jesus tivesse morrido simplesmente, ter-Lhe-ia sido impossível executar sua obra. Mas, os cristãos têm um Salvador ressuscitado. Alguém que está sempre presente para ajudar os que invoquem o Seu nome. Tendo sofrido de tudo como nós, e conhecendo plenamente as nossas necessidades, Ele é o lenitivo para os nossos erros e fracassos enquanto continuarmos tentando viver uma vida digna. Devemos ter sempre ante os nossos olhos que o único verdadeiro fracasso é deixar de tentar.”

Então, os pecados do tempo de Jesus e os de agora, agravados, estão por toda parte: guerras, assassinatos, desonestidades, perseguições…

Mas, a todos que queiram se voltar à “vida digna”, ele está presente. É um amigo que pode ajudar no invisível as angústias, o desespero e até o ter sempre por perto.

Quero dizer que desde há muito, nas minhas reflexões questiono passagens de Jesus no seu tempo. Não se trata de arrogância inconsequente. Mas, atribuí a mim o direito de refletir sobre alguns aspectos de sua vida e tudo aquilo que não me é dado entender.

Por isso que — e já me referi a esse versículo — aplico Mateus 6.6 (“se quiser falar com Deus”). Mas, cada vez mais estou me impondo buscar a sua amizade e proteção.

Não estou aqui fazendo pregação religiosa — nem pensar! — e vou relatar linhas a seguir experiência fora desses conceitos.

Mas, antes, é sempre bom lembrar que essas correntes esotéricas e mesmo o espiritismo doutrinam que a vida é regida pela “lei das consequências”, para o bem e para o mal. Pelos atos praticados. E essa lei age a seu tempo e hora até em reencarnações futuras.

E uma dúvida que tenho: o livre arbítrio, ainda que limitado, rege o destino duma vida? Como conciliar certos acontecimentos da vida que nada teriam a ver com nossas escolhas individuais?

Esses mistérios que me rodeiam.

                                                    ▬ / ● / ▬

Eu disse que o ocultismo pode ser perigoso e pode provocar experiências estranhas.

Ele pode mexer com o psiquismo. Conheci casos graves sobre essa influência naqueles idos.

No livro Zanoni de Edward Bulwer-Lytton, cujo enredo seria de “ocultismo fantástico” segundo indevidamente qualifica a capa, o personagem que dá nome ao livro e outro personagem, Mejnour, tinham a dom da imortalidade, viviam havia séculos. Eles agiam numa linha ambígua entre os mortais embora a obra fale no aperfeiçoamento da alma interior para que os homens se tornem mais que homens (todos os seres humano).









Mas, um terceiro personagem por tentar desvendar os poderes de Mejnour atraiu espíritos horrendos que o perseguiam.

Quis ou não o Autor, a verdade é que ele estabeleceu a tênue linha entre a iniciação para o bem ou para a tragédia da possessão neste caso ao não merecedor daqueles conhecimentos herméticos.

Relatei isso no meu “Joana d’Art” (*). Se bem me lembro, quando lia os trechos mais assustadores do livro (eu li mais de uma vez), as luzes se apagaram na minha sala.

Um susto e na penumbra.

Uma outra vez — talvez não fosse o mesmo livro, mas outro com as mesmas incursões — estava sozinho numa chácara em Campo Limpo Paulista, num local isolado, tarde da noite, escuridão total. Essa segunda experiência me levou ao descontrole e à busca de alguma luz… de vela…


















Claro que muitos rirão, dirão que se tratara de mera coincidência — “muita” para o meu modo de pensar, porém.

No “Conceito Rosacruz do Cosmos” a possessão é admitida lendo-se uma história na qual seria comprovada a reencarnação.

E os Evangelhos, quanto Jesus expulsou esses espíritos do mal, dominadores!

Não encerrei ainda esse tema. Há os Terrores.


Referência:

(*) 




26/06/2023

ETÉREOS

O passado está comigo...”

Espero que estes escritos não revelem delírios porque volto no tempo e me situo nas margens do rio Tamanduateí. Pela ponte de madeira sobre ele, a poucos passos de São Caetano, chegava do lado da Vila Califórnia (SP) avançando naqueles campos devastados e mais lá à frente campinhos de futebol.

Aquilo tudo tinha sabor de aventuras, até nos detalhes: a alegria em encontrar um pé de manga recém-brotado do caroço, em folhas grenás, os túneis das paquinhas nas areias à borda das valetas e, arranhando pelos seus espinhos, os juás brabos que o grito unânime denunciava como venenosos seus frutos verdes- amarelinhos que maduros expelem suas sementes.

Hoje já nem sei do veneno. Já há informações que seus frutos devidamente manipulados têm propriedades medicinais. De admirar! E nem penso que proliferassem em terrenos distantes de seu ambiente “normal”. Porque aqui perto me deparo, nascida num canto de uma guia, uma muda da planta que vai indo muito bem.











Juá "renascido"


Qual a origem de sua semente a ponto de espocar nesse local?

Mas, nesses campos com essa vegetação arbustiva, com os juás em profusão, sempre era surpreendido pelas borboletas azuis. Se bem me lembro, grandes que iam se aproximando brilhando sob o sol. Esvoaçavam ali e aqui e saiam em busca das raras flores para cumprir sua missão de polinizar as que encontravam.

Eu não posso esquecer, porém, que encostadas nos muros daquelas casas humildes em ruas de terra batida proliferavam dálias enormes e as flores amarelinhas das giestas. Não tenho mais visto essas belezas. A última giesta encontrei um dia em Campos do Jordão. Consegui as sementes, elas brotaram mas não vingaram. Talvez prefiram locais mais frios porque agora tudo mudou...

As borboletas azuis nunca saíram dos meus encantos a partir da infância.

E parece que não somente comigo esse encanto com elas.

Há pouco relembrei ao acaso o belo poema, “Meus oito anos” de Casimiro de Abreu que no trecho duma estrofe, diz:

(…)

Correndo pelas campinas

A roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

Aqui no meu pequeno quintal esvoaçam borboletinhas brancas e amarelas, bem-vindas mas que não têm o encanto daquelas azuis de tamanho exuberante.

No dia do sepultamento do meu generoso irmão, há alguns meses, no magnífico Cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, no qual a ecologia é ponto de referência ali, não tendo ido ao ato final da entrega do seu corpo ao túmulo, acompanhando enquanto isso o suave nadar das carpas beirando canteiros — lá não há moedas atiradas na água que poderiam colocá-las irresponsavelmente em risco — meditava como muito tenho feito, sobre esses mistérios todos da vida e do Universo não escondendo, intimamente, minhas angústias … e, então, no meio das flores eis que brilhou ao sol bem na minha frente, por um instante… uma borboleta azul!






"Horto da Paz" - Ecológico



Não do tamanho que admirava na minha infância mas foi muito significativo esse, digamos, reencontro naqueles momentos de luto.

Porque há alguns anos refletindo um pouco sobre essas transcendências escrevi uma composição inspirada nelas, que chamei de “etéreos” na qual a borboleta azul na sua dança suave não desprezara o resto de vida que havia numa margarida cujas pétalas já haviam caído.

O poema – se me permitido assim qualificar – é este:

ETÉREOS

Nessa de desânimo

apatia

Não sei o porquê

de tal melancolia

(ou nostalgia?)

Desmedida


Sei não!

Cadê a Inspiração

os elementos Etéreos?

Clamo, pois, só, no (meu) deserto

Respostas não vêm

Ilusões não há (mais)

Miro margaridas murchas

(bem-me-quer, bem-me-quer!)

Que se preparam para semente

Sinto o sol...

mas não me aqueço.

Num momento, surpreso

confuso,

Sinto o Etéreo, porém.


Uma manchinha azul

No éter

Vindo, chegando, esvoaçando!


Ora, uma simples...

Borboleta ...azul!


Ela dança nos meus olhos

Solene, encantada, frágil

magnífica, rebrilhante...

E pousa, então...

na margarida

a mais desfeita

na gema amarela.

(apenas três pétalas ressequidas)


Apreendi logo

o valor da escolha...

Da borboleta azul

Etérea

tão tênue

tão efêmera

Bem-vinda...


Porque na margarida

murcha

na gema

Ela sentiu a vida

(ainda)


Assim falava ela

a borboleta azul

Etérea

na minha nostalgia

(ou melancolia?)

Naquele dia…








11/06/2023

FLORES E ORAÇÕES

Mirando meu pequeno quintal, misturo, na preguiça que se me abate, uma série de pensamentos que vão e vem, incluindo pessoas, fatos e emoções que se perderam no tempo e que, num desses instantes, voltam à mente de modo inexplicável.

Estava exatamente refletindo sobre isso, sobre o passar dos anos – e como passaram céleres! – volto-me para o alto e lá as nuvens brancas sopradas pelo vento, formavam figuras disformes que se alteravam rapidamente pelo invisível que sopra. Sempre me encantam esses movimentos.

Mas, ali, do lado da pequena garagem, naquele momento de serenidade, sou alertado pela transcendência de fenômenos tão corriqueiros ou complexos: quais as indagações que esses movimentos somados a tantos outros nos influenciam de algum modo e o próprio planeta? Mas, que são ignorados com um simples dar de ombros? Qual a conjunção universal dessa sucessão de fenômenos? Para que nisso pensar se difíceis?

Quanto a mim reclamo e reclamo da ignorância que não me deixa avançar! Simples pardais por cima me desafiam como se rissem das minhas impossibilidades. As maritacas barulhentas no cume das árvores...

Talvez, de um outro modo já tenha falado dessas “angústias” todas. Se falei, que me perdoem.

Digo que tenho inspirações neste meu pedaço de chão. Neste meu pequeno quintal fico ao lado ou junto de minhas plantas, quase um mundinho a parte.











Tenho aqui uma muda de “ora-pro-nobis” que quando plantei não tinha de tamanho mais que um palmo. Agora ela avança firme sobre o muro com aqueles espinhos agressivos e imperdoáveis.

Nele acompanho as poucas laranjas que amadurecerem num único pé, aguardo as três primeiras “ponkans” que também amadurecem, minhas roseiras, os hibiscos brilhantes, inclusive um, cujas flores chamo de “espeloteadas” porque dobradas, mas lá estão as anteninhas rodeadas de pontinhos amarelinhos. Alguém me explique essas perfeições todas.



Penso nas bananeiras como uma planta abençoada porque num dado estágio de crescimento, à noite, no silêncio do milagre, elas vertem o coração de onde florescem os cachos pesados. Essas bananeiras aqui se entrelaçam com um ipê que nasceu “espontaneamente”.

Um poema que escrevi há décadas chamava as florestas de “templos violados” pela ação predatória perversa do homem que já então demonstrava não entender nada da harmonia que o planeta contem como garantidor da vida.

Uma estrofe:

Um Templo sob azul e límpida nascente

Permitia saciar n'Alma adormecida,

Inspiração profunda no mundo perecida

Intuindo orações de elevação crescente.

Se a mata fechada é um templo para mim, neste meu pedaço de terreno tão infértil, tão forrado de pedras, plantas tão bonitas, porém, considero uma ...capelinha. Que me faz bem demais.

Ora, direis, falar com as plantas é um delírio, tal a impossibilidade de recepção do que se lhe é dito. Não há que esquecer que o pensamento é uma força.

E, ademais, o iogue Yogananda relata que visitava frequentemente o americano Luther Burbank, "um santo entre as rosas" a quem qualificava de horticultor, um cientista que fazia experiências positivas com plantas e até conversava com elas: "Além do conhecimento científico, o segredo para melhorar o cultivo das plantas é o amor". (*)

E, então nestes tempos de devastação ambiental é sempre bom lembrar que, no simbolismo do Gênesis, o "verde" foi criado antes dos animais e do homem. Prioridades do Criador.

Em muitas madrugadas sob o olhar da lua, ouvindo a voz do silêncio, tento estreitar essas afinidades com o que transmitem esse ambiente à minha frente.

Eu sei da paz no humilde brilho das plantas e de suas flores estas sempre presentes em atos importantes da vida colhidas para prestigiar a vida e a solenidade da morte.

E a oração nesse clima todo, nessa luta em controlar o pensamento de regra avassalador, sempre tenho em mente, em alguns momentos, com tais inspirações, seguir o versículo 6.6 do Evangelho de Mateus. É um incentivo ao encontro e à meditação. Ao silêncio.

Eu tento isso tudo. Porque, repito, o pensamento corre solto e quanto me torno indiferente a essas transcendências! Contradições.

Não convém me alongar, mas preciso falar dos passarinhos. Mesmo cuidados, por aqui eles são poucos, mas sei que o dormitório de muitos deles é uma ameixeira de tamanho avançado que faz parte do conjunto. Bom que se diga que nos seus galhos baixos florescem orquídeas.


Mas, se tudo favorável, voltarei ao tema.


Referência:


(*) Livro “AUTOBIOGRAFIA DE UM IOGUE” de Paramahansa Yogananda. Essa mesma experiência com o cientista citado na transcrição, com mais detalhes é revelada no livro “A vida secreta das plantas”.

● Esta crônica é transcrição da publicação "O Ginasiano" de junho de 2023 que faz parte, entre outras iniciativas, do grupo de veteranos do Ginásio Amaral Wagner de Utinga - Santo André.