19/09/2010

"MUSAS ETERNAS"

Pode ter até atriz brasileira que se enquadre na lista das musas do cinema. Mas, nenhuma como as americanas. Lembro-me assim de passagem apenas de Regina Duarte, a ex-namoradinha do Brasil, que anda hoje pela casa dos 60 anos. E não tinha, é claro, o mesmo encanto pela relativa modéstia do cinema brasileiro, então.
E de Eva Wilma, muito bonita, na TV Tupi (“alô doçura”).
Periodicamente, circula pela internet um pps - power point slideshow (sofisticado, hem!) e há portais com as mesmas fotos, que de modo interessante lembram aquelas atrizes que frequentaram nossa imaginação no final dos anos 50 e especialmente nos anos 60, musas do cinema americano.
Com uma particularidade: dá-se nessa divulgação o contraste da sua melhor forma do passado, lindas, e nestes tempos, quando todas passaram dos 70 anos:


Julie Christie, lindíssima em "Dr. Jivago" e agora mostrando em seu rosto honesto, o peso dos quase 70 anos – quem não associa sua imagem à música “Tema de Lara”, que abrilhantou esse filme? (*)



Úrsula Andress, na sua aparição deslumbrante no filme “007 contra o Satânico Dr. No” que “satanizava”, sim, a nossa (masculina) imaginação e agora revelando no espelho da vida as marcas de sua idade também além dos 70;
Elizabeth Taylor com sua beleza “rigorosa”;
Sophia Loren, ainda muito bonita nessa faixa etária que exibira na juventude os seios perfeitos, redondos, eles sim, verdadeiros “lolobrígidas”;
... a marca selada da mulher desde que naturais.
E Brigitte Bardot, símbolo sexual de primeira em qualquer lista naqueles tempos, desinibida como poucas, hoje muito, muito, afetada pela idade, mas lutadora incansável pelos direitos dos animais.
Esse material tão versátil tem como fundo a música “To all the girl we’ve loved before” cantada por Julio Iglesias e Willie Nelson cuja letra tem estes versos:

“Para todas as garotas que fizeram parte da minha vida,
Que agora são esposas de outros:
Estou contente que elas apareceram
E eu dedico esta canção
Para todas as garotas que amei antes.”


Essas “musas eternas”, adoradas na telona, sequer sabíamos de sua vida privada. O que importava era sua presença brilhante, inspiradora, sensual, sexual.
Sim, elas eram esposas e agora são avós ou, quem sabe, bisavós.
As fotos comparativas da juventude e velhice me tocam pelo que foram elas. Não importam os estragos inevitáveis dos anos agora revelados.
Naquele estágio de juventude, esse mistério que há na existência feminina e que não nos dávamos conta, essas musas engravidaram, amamentaram, cuidaram dos filhos...mas, nunca perderam o poder de sedução quando na telona, mesmo já maduras.
Esses atributos estão presentes na mulher: sedução, maternidade e amamentação. Capazes de grandes explosões, nos momentos seguintes esbanjarem carinho ou envolvem seu companheiro num jogo de sedução e desejo irresistíveis. Ou partirem para o rompimento definitivo segundo as circunstâncias.
Ah, meus caros, essas mulheres com todos esses atributos ingressam no mercado profissional antes dito masculino, assumem cada vez mais posições de mando por mérito próprio, apolíticas (há referências positivas entre as que enveredaram para a política partidária), exigindo que barbados e marmanjos peçam ordens e aprovações de sua caneta.
Segurem as feras.

Mas, dou relevância à sua condição de carinhosa, sedutora, sensual e quão lindas, com estes versos que complementam com algum humor a realidade da mulher. Os bailes naqueles tempos eram um dos principais divertimentos nos quais rolavam cuba-libre, recatos, seduções e...long-play:

NU ARTÍSTICO

Estanco na figura nua
Mulher linda, perfeita
O clamor da beleza pura
Que a refinada obra acentua.

Fixo-me nas reentrâncias
Nos picos e declives espessos
Penso num abraço
Num beijo ardente à perfeição
Mas, ela ali não vive
É pura inspiração.

Não é ela real, pois.
Uma miragem é o que vejo
O artista que a obra fez
Assim graciosa e linda
Instiga o solitário desejo.

Reajo a tal beleza inatingível
Fixando-me ainda na imagem
Vingo-me, assim, jocoso, então,
Rio de piada antiga:
Senhora com decote revelador
Lindos seios à mostra, encantos
A marca selada da mulher,
Pergunta ao dançarino fogoso:
- Sabes dizer os atributos da mulher
De que mais lindo ela tem?
- Sei-os, senhora, mas não direi...



(*) Compositor Maurice Jarre (13.09.1924, Lyon - 29.03.2009, Los Angeles)

Foto: Julie Christie, hoje e “ontem”

2 comentários:

Caio Martins disse...

Pois é, Grande Milton... belíssima crônica, nos remetendo a quase meio século atrás. Entre a ingenuidade e a repressão moral, nos encantávamos com tanta beleza. Mas lembro-me do texto ter causado polêmica dentre nossas amigas: atores famosos da época também mudaram... Nós também.

Forte abraço.

Anônimo disse...

Lindo texto! Atores e atrizes do cinema que fizeram o mundo sonhar! Foi um tempo de sonho e fantasia!Feliz de quem soube aproveitar com juízo a cuba-libre, as seduções, os bailinhos maravilhosos!... E os filmes onde sonhávamos sem parar.
Sim, até os astros de Hollywood envelhecem, não é? Mas que nossos sonhos permaneçam... Adorei a crônica, dr. Milton!!! - Marisa