05/09/2010

STEPHEN W. HAWKING e minhas implicâncias

“Desço” para o meu quintal repensando artigo que há pouco lera dando conta de que a população mundial ultrapassara a seis bilhões de criaturas.
Assento-me no banco de granito e na paz, tento meditar um pouco.
Seis bilhões de criaturas que nasceram de um ato explosivo entre um homem e uma mulher, entre doce e meio selvagem. De regra, a partir desse ato, favoráveis as condições, tem início a concepção.
Essa a lei, a mesma que se dá entre os animais ou quase todos.
Se pensar de modo natural, considerarei esses atos como normais, verdadeira rotina da vida. Mas, terei dificuldade em me situar se perguntar, por que são assim? Por que há um sabor adocicado no ato que antecede a concepção?

À minha frente, mirando a mangueira, noto que, com seca e tudo, ela promete oferecer muitas mangas,o que não se deu no ano passado.
Lembro-me bem dela, quando a plantei. Muda tenra na qual se via, ainda, resquícios do caroço

Lá no canto à esquerda, num ângulo do muro, nasceu “espontaneamente” um pé de pitanga. Com certeza sua semente fora escapada ali por um pássaro.
A despeito de toda a predação que ocorre no mundo, toda a semente, em condições favoráveis, está pronta para germinar.
Tento filosofar um pouco.
No que concerne à mangueira, é muito natural que ela dê manga deliciosa e açucarada. Essa a razão de sua existência. Do mesmo modo a pitangueira com suas frutinhas vermelhas.
Tudo muito natural, a menos que eu indague por que há de ser assim. Por que seus frutos agradam tanto ao nosso paladar? Mero acaso ou a mangueira e a pitangueira têm algo a ver conosco?
Quantas noites, miro esta fração do Universo e não me canso de admirar aquelas milhares de estrelinhas lá em cima, a milhões de anos luz de distância, piscando e anunciando sua imensidão e o desafio da incompreensão.
Como tal ordenamento se sustem?
Pelo acaso? Pelo equilíbrio da repulsão e da atração? Que se compensam? Por uma mágica do éter?
Que forças são essas, afinal?
Minha mente assim diminuta não consegue nada divisar sobre essas imensidões insondáveis que se dilatam sem parar. Mas, elas estão lá.
É aqui que entra o astrofísico Stephen W. Hawking. No seu livro “Uma breve história do tempo – Do Big Bang aos Buracos Negros”, no capitulo “Origem e destino do universo” (1), ele começa assim:
“A teoria da relatividade geral de Einstein, baseando-se em si mesma, previu que o espaço-tempo começou com a singularidade do Big Bang e chegará a um fim também com uma singularidade, o Big Crunch (se todo o universo entrar novamente em colapso) ou numa singularidade dentro de um buraco negro (se uma região local, como uma estrela, entrar em colapso).”
E mais à frente entre outras perguntas:
“Terá o universo, realmente, um começo ou um fim”.
“E, se tiver, com o que se parece?”
Bem, de toda a imensidade que se vislumbra e pelo meu nível de inteligência, não me atrevo sequer a atinar com tais questões, até porque não resolvi, ainda, o que se dá com a proximidade de minha mangueira e da pitangueira.
E as intuições que, vez por outra, interiormente brotam?
Tendo em conta a teoria do Big Bang, Hawking nesse livro começa a minimizar a presença de um poder superior (Deus) para gerir todas essas imensidões. Assim:
“Entretanto, elas (as pessoas) não informam com o que o universo se assemelhava quando começou; ainda seria da alçada de Deus dar corda no mecanismo do relógio e escolher como inaugurá-lo. Assim como o universo teve um começo, pode-se supor que teve um criador. Mas, se realmente o universo é completamente auto-contido, sem limite ou margem, não teria havido começo, nem haveria fim; ele seria simplesmente. Que papel estaria então reservado ao criador?”
Não surpreendem, pois, as notícias a propósito do lançamento do seu novo livro neste mês, The Grand Design (O Grande Projeto, em tradução literal). Disse Hawking:
"Porque existe uma lei como a gravidade, o Universo pode e deve criar-se a partir do nada. Criação espontânea é a razão para haver alguma coisa em vez de nada, para que o Universo exista, para que nós existamos", escreve Hawking. "Não é necessário invocar Deus para acender o pavio e pôr o Universo em movimento.”
Já me proclamei agnóstico (moderado), mas tal qual o crescimento e os frutos de minha mangueira e da pitangueira não consigo desvinculá-las da semente e do milagre de sua eclosão. E do orgasmo que precede a concepção animal. Há em tudo uma semente, notória e muitas profundamente veladas, irreveláveis.(2)
O astrofísico Stephen W. Hawking a quem admiro (ver abaixo recentes crônicas que escrevi sobre suas teorias), “consegue falar apenas por um sintetizador de voz computadorizado, em decorrência de uma neurodistrofia muscular que avançou nos últimos anos e o deixou quase completamente paralisado.”
Eis aí, um cérebro brilhante num corpo imóvel.
Diante disso, não sei se ele se volta para sua interioridade para tentar desvendar o seu próprio universo. E as diferenças entre os semelhantes.
Ah, sim. Há estrelas que fenecem, porque nasceram...


Referências:
1. “Uma breve história do tempo” – Editora Rocco – 28ª edição - 1997.
2. No livro "O Símbolo Perdido" de Dan Brown há a seguinte frase atribuida a Albert Eistein: "Aquilo que é impenetrável para nós existe de fato. Por trás dos segredos da natureza há algo sutil, intangível e inexplicável. A veneração a essa força que está além de tudo o que podemos compreender é a minha religião."
Fotos:
1. Minha mangueira no quintal.
2. Estrela central da Nebulosa Ampulheta em processo de extinção (Foto NASA - Hubble) – de olhos bem abertos.

Crônicas baseadas em idéias de Stephen W. Hawking:
16.08.2010: “Exilados”
23.05.2010: “Invasão alienígena: um perigo para a humanidade?”

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