04/11/2012

ESTE MUNDO CONTURBADO E AS REFLEXÕES ECOLÓGICAS


Não receio em me repetir nas impressões que se repetem...
Misturo, na preguiça da varanda, uma série de pensamentos que vão e vem, incluindo pessoas, fatos e emoções que se perderam no tempo e que, num desses instantes, voltam à mente de modo inexplicável.


Estava exatamente refletindo sobre isso, sobre o passar dos anos – e como passaram céleres! – chamando-me para o alto nuvens brancas sopradas pelo vento. Formavam figuras disformes que se alteravam rapidamente a mercê do que o vento esculpia.
Mas, ali, na varanda naquele momento de serenidade, fui sobressaltado pela transcendência daquele fenômeno tão corriqueiro: quais as indagações que esses movimentos somados a tantos outros do planeta deveria fazer?
Minha mente preguiçosa foi instada a tanto, mas percebi quão limitada ela é para um mínimo de compreensão, não, claro, do movimento das nuvens em si, mas aquele sopro nessa conjunção universal.
Ó ignorância que não me deixa avançar!
Ao contrário das nuvens em movimento que se transformam eis-me aqui plantado neste chão sem poder flutuar e mudar a forma dos pensamentos que me afloram e que, por mais que eu os bem receba ou os afaste, não significam transcendências que naquele momento fora chamado a pensar. Há um bloqueio.
Mas, afinal, eu quero mesmo desvendá-las, essas transcendências?
Não sei ao certo.
Este é o mundo das contradições, das ofensas e dos perdões, da violência e da ternura, do desejo e da renúncia, do nascer e do renascer, do dar e receber. Da destruição e da reconstrução. Do amor e do ódio, da vida e da morte.
Nesse turbilhão de contradições e desejos, não sei se as quero reveladas neste meu tempo de agora. As nuvens estão lá no alto se transformando ao sopro do vento.
E eu somente as observo.


Já não de hoje, agora nessa mesma varanda me refugio sob a noite a cata das estrelas, naquele pequeno quadrilátero que resta entre muros e sempre com a esperança de ver movimento de algum corpo estranho deslizando no espaço.
Essa abóbada parece ser absolutamente indiferente a este mundinho tão minúsculo e tão cheio de ambições, traições e destruições.
A notícia diz que “um mosaico de imagens do centro da Via láctea, tiradas com um telescópio no Chile, registrou a presença de cerca de 84 milhões de estrelas, na maior observação desse tipo já feita pela astronomia.”


A área de observação seria de apenas 1% do céu...como disso se saberá, pelo tamanho do universo?
Quem controla essa harmonia de tantos corpos que não se chocam, que mantém distância cautelosa entre um e outro?
A pergunta é até redundante e primária, mas a resposta, essa não vem.
A despeito de destruidores como somos, pouco mereceríamos dessas forças controladoras, mas elas ainda mantêm, parece, alguma esperança de nossa redenção.  Como seria fácil nossa pulverização cósmica na nossa absoluta insignificância planetária!
Não duvido se tais forças controladoras não esperam que nós mesmos entremos em agonia como resultado de nossa insanidade.
Mas, na medida em que somos destruidores de nossa própria casa, mais violência aqui floresce, nesta escola de aprendizagem que concentra todos os níveis de aprendizes.
Violência não só entre semelhantes, mas também das forças revoltas da natureza – cada vez mais. (1)


O maior exemplo do benefício das árvores em relação ao resfriamento do clima é até elementar.
Nessas caminhadas que normalmente faço aos domingos num parque em cujo traçado se transita sob árvores e em outro trecho sob o sol, naquele primeiro trecho sempre há aquela sensação de refrescamento.


Imaginem como o clima é afetado pela queima de milhares de quilômetros quadrados para formação desordenada de pastos ou plantação de soja. E o “corte” de árvores com raiz e tudo pelos correntões.


Há, aí, uma tragédia anunciada.
A propósito do furacão Sandy que devastou regiões dos Estados Unidos e principalmente a sempre empolgante Nova York duramente afetada pelas enchentes há muitos cientistas que acreditam que tais tragédias e outras com o mesmo feito se deve às mudanças climáticas resultantes da ação do homem sobre a natureza.
Claro que há sempre os céticos que afirmam que não existem os efeitos daninhos das emissões poluentes sobre o clima e que tudo é “natural”. Afinal, o progresso da humanidade não pode ser contido pelas “teorias” do aquecimento.
Peter Singer, “incansável na denúncia dos riscos do aquecimento global e na defesa dos direitos dos animais” revela de modo enfático que o furacão Sandy não foi “um evento natural”. (2)
Tempestades extremas como essa, evidenciam nossa ingenuidade ao imaginarmos que o conhecimento científico é suficiente para nos proteger delas.”
Defendeatitude radical em relação ao efeito estufa, nas formas de geração de energia e em nossos próprios padrões de consumo – antes que seja tarde demais.” E, “no que se refere ao clima, assim como às plantas, animais e tudo o mais que chamamos de “ambiente natural”, não existe mais “natureza” neste planeta: estamos vivendo numa era em que a atividade humana afeta tudo, em todas as partes do mundo.”

Por tudo isso, a coisa por este mundinho de ninguém deve afetar filhos e particularmente os netos em diversos sentidos, até o da produção de alimentos que poderá ser prejudicada pela degradação do ambiente natural. (3)


Referências:
  
(1) “Apocalipse agora” neste “Temas” de 13.21.2011.
(2) Peter Singer, filósofo, ambientalista, professor de Bioética da Universidade de Princeton e autor de “Vida que podemos salvar” (2011). Entrevista ao jornal “O Estado de São Paulo" de 05.11.2012.
(3) Meu artigo “A devastação ambiental e a reserva alimentar (relatório do PNUMA)” de 22.10.2012 no blog: martinsmilton2@blogspot.com.br. 

Fotos:
(1) "Céu de Piracicaba" - Autor: Milton Pimentel Martins
(2) Foto divulgação das 84 milhões de estrelas da Via-láctea
(3) "Árvores" - acervo próprio
(4) Derrubada de árvores por correntões fixadas em dois tratores (Google)

2 comentários:

Ivana Negri disse...

Pois é, caro amigo, as pessoas se acham o centro do Universo e vilipendiam a natureza. Somos poeirinha cósmica apenas. O retorno da destruição vem em forma de grandes desastres ambientais.
Será que um dia o homem aprenderá?

ecoabraços

Anônimo disse...

Dr. Milton, feliz de quem tem uma varanda, para "ouvir estrelas"...
Ora direis!... E é assim, contemplando este nosso céu, com alguma atenção, que será possível "detectar" diferentes tragédias anunciadas de que a humanidade será vítima. Quem viver, verá.
Parabéns pela valiosa reflexão.
Abraços da sua leitora fiel
MARISA BUELONI