06/04/2022

CRÔNICAS E OUTRAS LUCUBRAÇÕES.

1. O ENCONTRO DAS CRÔNICAS: os efeitos do tempo

Em 1994 escrevi uma crônica que se referia à velhice e as lembranças que ficam da infância. O título: "Desfecho de uma vida simples".

Baseando-me em fatos daqui e dali, de saber e ouvir dizer, escrevi a crônica relatando a decepção do idoso ao descobrir que de tudo de precioso de sua infância nada mais restava.

No tocante a Bíblia que ele abriu em oração naquele momento de amargura, fora uma experiência real da qual eu participei; uma professora de filosofia, religiosa, que não revelara nunca qual ramo espiritual que professava, em algumas aulas, aos interessados, fazia um tipo de jogo: ela abria sua Bíblia ao acaso lia o versículo "sorteado" na página assim aberta e, então, pedia aos alunos que lessem o texto escolhido. Brilhavam os olhos da professora à medida que os aluno participando do "jogo" revelavam diferentes interpretações do texto bíblico. E naquele exercício havia uma sensação de leveza.

Pois bem.

Para encerrar a crônica citada eu fiz exatamente isso. Abri a Bíblia ao acaso e o versículo "sorteado" foi muito apropriado para o desfecho da crônica.

Se a crônica interessar, acesse, clicando: Desfecho de uma vida simples

Essa crônica foi publicada recentemente num revista digital que congrega ex-alunos do Ginásio "Amaral Wagner" de Utinga (Santo André) denominado "O Ginasiano". (*)

O jornalista Ademir Medici em sua coluna no "Diário do Grande ABC" de 2 de abril último fez o seguinte comentário mas será preciso lembrar que essa análise partiu de um amigo o que pode conter gentilezas da parte dele:

"Milton Martins, em "Desfecho de uma vida simples", fala do homem que, ao completar 80 anos, resolve voltar à sua terra natal. Todo estilo de Anibal Machado, jornalista e escritor que faz parte da primeira linha dos autores brasileiros."

Mas, quem é esse escritor Anibal Machado que sequer ouvira falar?

Fui pesquisar sobre Anibal Machado. Quem era ele?

Para minha surpresa, é ele o autor do livro "Viagem aos seios de Duília: 

Eu não li o livro até agora. Conheci essa história por um filme brasileiro com o mesmo nome que gostei muito.

O enredo é simples: quando pré-adolescente ao jovem apaixonado, a menina Duília lhe mostra os seios.

Ele fica com aquela imagem encantadora. 

Envelhece, se aposenta, solteirão  sai em busca de Duília enfrentando uma viagem tormentosa, O personagem, então, encontra a mulher, mas o tempo fora implacável com ela: viúva, uma senhora envelhecida, avó, cujos encantos se perderam naturalmente depois de tantos anos.

Sobre essa obra, mas pelo filme que gostei, escrevi uma crônica que pode ser encontrada no meio de outras, acessando:

Em Croniquestas (I)

Para mim tudo isso foi um encanto. Essa descoberta.

Bom que se diga que eu também enveredei pelo passado. 

Em 2018 andei a pé por São Caetano e relatei essa experiência também numa crônica.

Se for de interesse, acessar: Memórias de São Caetano 50 anos depois

Pensei em voltar à cidade e rever lembranças que faltaram,  marcantes de minha juventude, mas resolvi não fazê-lo. Afinal o tempo passou e os ânimos, hoje, são outros.

E, ademais, minhas "árvores centenárias" há muito se foram e eu não preciso voltar lá para saber. Quem ler a crônica "Desfecho de uma vida simples" vai entender o que estou dizendo.

(*) A publicação digital "O Ginasiano" é idealização de  Dilson Nunes, ex-aluno do Amaral Wagner que também a edita.


2. A PROXIMIDADE DO BEM E DO MAL

Criei coragem e divulgo esta menos que uma reflexão, uma constatação, e nas madrugadas da vida, que desafiam a minha compreensão. Não adianta, me consolo e reafirmo que o essencial da vida, nós todos não sabemos.

Olhem, estas são explanações minhas e somente minhas. Em todos esses livros que tenho lido geralmente aqueles com temas ocultistas, é revelada uma distância muito tênue entre o bem e o mal.

Isso se revela, por exemplo, no livro "Zanoni" de Edward Bulwer-Lyton (*) no qual o Autor expõe numa passagem que, na tentativa de desvendar mistérios universais pela “magia” ao inepto para tanto, pode a experiência se transformar num distúrbio mental grave. 

Sim dá para sentir o bem e o mal em sutis influências que se transpõem: um pensamento construtivo, qualquer que seja, pode ser turvado instantaneamente por um outro de influência destrutiva ou de inveja, ou de ódio. Jesus Cristo foi assediado pelo demônio. Até Pedro foi rejeitado quando advertiu Jesus de que ele não seria sacrificado como anunciara aos seus discípulos (Mateus 16, 22-23).

Tenho pensado muito nisso. Tenho sentido essas manifestações contraditórias do bem e do mal com constância. A essa proximidade entre o bem e o mal vem-me à mente a imagem dum ônibus, sentados lado a lado, roçando ombros um dos passageiros com alto valor moral caridoso e o outro exalando a perversidade de uma alma doentia dando guarida à destruição à sua volta.

Como se explica tanta diferença nesta planeta? É o planeta notoriamente das contradições. 

Que mistério é esse?  

(*) Acessar resenha do livro: Zanoni















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