...para outra viagem, “sem volta”.
Dia desses, por dever de ofício,
aportei em Belo Horizonte, fiz o que tinha que fazer – nem bem, nem mal – e a
volta à tarde, esperei no aeroporto de Confins a volta com a Azul – que tem sido pontual,
felizmente.
Nesse lapso de espera, começo uma
aproximação com um outro passageiro que esperava a definição da hora do seu voo
por outra empresa - ocorrência muito normal num aeroporto, falamos de incidentes
com aviões, até que, mais à vontade, esse
passageiro, animou-se a relatar um estranho incidente.
Encerrara-se
o trabalho de grande empreiteira na divisa de Goiás – hoje Tocantins, estado
criado em 1988 – com o Pará. Os principais funcionários rumariam, então, para
Belém num ainda utilizado DC-3. Esse avião, Douglas DC-3 era um bimotor que
fora importante entre a década de 30 até 50 no transporte de passageiros e
carga.
Mas, por
aqui, pelo que sei, voou muitos anos mais.
Mas, no dia
da viagem, pela manhã, o avião não pode decolar. O piloto, que o conhecia nos
detalhes percebeu que uma peça importante do motor estava desgastada pelo que
fora adiada a partida por segurança.
Três dias
depois, a peça chegou vinda de Manaus.
Peça
trocada, tudo certo para a viagem, o velho DC-3 decolou. Mas, o piloto percebeu
um desarranjo num dos motores e teve que pousar de onde saíra.
Fora, então
chamado, mecânico, que veio do Pará, depois de mais três dias.
Cansado de
esperar, inseguro com as possibilidades do velho DC-3 chegar em segurança até
Belém um dos passageiros desistiu da viagem de modo definitivo:
- Não viajo
nesse avião, de jeito nenhum. Amanhã pego um barco, do outro lado arrumo um
carro e vou aos trancos e barrancos, por terra, até Belém. Do jeito que der.
E assim fez.
No dia
seguinte, o mecânico que chegara, fizera pequenos ajustes e regulagens de
rotina. O DC-3 partiu sereno e seguro nos rumos do seu destino.
Ao pousar o DC -3 em Belém, os passageiros receberam a má notícia, muito triste. O passageiro
desistente do DC-3 sofrera grave acidente com o veículo que contratara. O
veículo se chocara contra uma árvore. Ele e o motorista não resistiram aos
ferimentos e faleceram no local.
Moral da
história verdadeira: O DC-3 somente voou quando um dos passageiros desistiu da
viagem. Seu destino era outro... sem volta.
Há muitos casos de passageiros que
perdem voo em viagens que se tornam fatais, trágicas. “Carmas coletivos”.
Mas, para cada estalo de dedo, decola
e pousa um avião no mundo.
(*) “RAÍZES DO
BRASIL” – Sergio Buarque de Holanda
Divulguei no
Facebook pequena nota sobre a minha
leitura inicial de “Raízes do Brasil” de Sergio Buarque de Holanda, publicado
no portal GOLP – Grupo Oficina Literária de Piracicaba – por iniciativa de sua
coordenadora Ivana Negri - e no jornal “Tribuna de Piracicaba” de 10.12.2012 (a carranca é essa mesma).
Dias depois
acabara a leitura do livro fazendo então, uma resenha maior sobre “Raízes do Brasil”,
deixando claro que tive dúvidas em apreender alguns conceitos do livro.
Essa resenha
já foi inserida neste blog, no título “Dos livros que não consegui ler (ainda?).
E os já lidos” de 17.10.2010 (nesse titulo me refiro aos livros / autores
seguintes: “O Sertões” de Euclides da Cunha; “Grande sertão: Veredas” de
Guimarães Rosa; Friedrich Nietzche; “Ulisses” de James Joyce; “1984” de George
Orwell; “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley; “O Presidente Negro” de
Monteiro Lobato – Há outros lidos e não conseguidos).
Mas,
voltando à resenha de “Raízes do Brasil”. O texto da resenha é longo mas destaco
a menção crítica a Machado de Assis constante da obra de Sérgio Buarque de Holanda:
Trata-se de uma obra que exige concentração mais
apurada na leitura de tal modo que se obtenha o preciso sentido dos conceitos
emitidos pelo autor. Creio mesmo que seria bom que fizesse uma segunda leitura
do livro como preciso fazer de “Os
Sertões” de Euclides – compromisso que estou em débito.
A referência às raízes do Brasil, significa que o
autor voltou aos tempos da colonização portuguesa e bom que se diga que não é
ele crítico na medida em que afirma que não é (sempre) possível subestimar a
“grandeza dos esforços” de Portugal na exploração das novas terras, embora não
nega que tudo se fez “com desleixo e certo abandono”.
Mais, a frente, ao tratar da “persistência da
lavoura de tipo predatório”, a exemplo do que denunciara Euclides em “Os
Sertões”, não deixa o Autor de destacar o uso do fogo na agricultura quando
chega aos detalhes de explanar sobre o uso da enxada e do arado:
“Mostra-se nesse trabalho como o recurso às
queimadas deve parecer aos colonos estabelecidos em mata virgem de uma patente
necessidade que não lhes ocorre, sequer, a lembrança de outros métodos de
desbravamento”.
A prática do fogo permanece até hoje, como se sabe,
devastando largas extensões de florestas brasileiras.
No livro ainda se descobre que em terras paulistas
a língua falada era, predominantemente, a indígena segundo, entre outras fontes
citadas pelo autor, as observações do padre Antonio Vieira: “É certo que as
famílias dos portugueses e índios de São Paulo, estão tão ligadas hoje umas às
outras, que as mulheres e os filhos se criam mística e domesticamente, e a
língua que as ditas famílias se fala é a dos índios, e a portuguesa a vão os
meninos aprender à escola.”
→ Aponta no meio do capítulo “novos tempos”, que autores
românticos tornaram “possível a criação de um mundo fora do mundo, o amor às
letras não tardou em instituir um derivativo cômodo para o horror à nossa
realidade cotidiana. Não reagiu contra ela, de uma reação sã e fecunda, não
tratou de corrigi-la ou dominá-la; esqueceu-a, simplesmente, ou detestou-a,
provocando desencantos precoces e ilusões de maturidade. Machado de Assis foi a
flor dessa planta de estufa.”
[Ora, o escritor é assim, tem o direito de sair da
realidade e criar situações novas, ficções, inspiradas, suas, ascender à poesia
que o afastam do horror da realidade. Toda a literatura de Machado, que está aí
até hoje e sempre reverenciada talvez se enfraquecesse se fizesse referência ou
descrevesse, por exemplo, à imundice que saltava pelas ruas do Rio de Janeiro.
Muitos horrores se foram e Machado de Assis, ficou].
Sobre o Segundo Reinado e da Primeira República,
“as constituições feitas para não serem cumpridas, as leis existentes para
serem violadas, tudo em proveito de indivíduos e de oligarquias, são fenômeno corrente
em toda a história da America do Sul” – o significado de tal afirmação no fundo
se refere “às primazias das conveniências particulares sobre os interesses de
ordem coletiva...”
[Com efetividade o fenômeno do descumprimento da
lei e da Constituição por aqueles que detêm influência por causa do seu vigor
econômico quando não parte do poder político é uma realidade. Que o digam as
milhares de ações que se avolumam nos tribunais há anos e anos e ainda hoje.
Todavia, quanto aos tribunais, constata-se que há posicionamentos mais rigorosos
que podem mudar o perfil de país de tal
maneira que se consiga a “ordem” proclamada na bandeira].
Há um sentido crítico à “cordialidade” que sempre
prevaleceu por aqui e até hoje visitantes de outros países ressaltam essa
característica brasileira que nem sempre seria saudável quando se trata de relações
impessoais, do Estado impessoal – separação do público e do privado. A
observação é minha trazendo esse aspecto para o presente: o denominado
“processo do mensalão” não tem algo da permanência do “estado cordial”?
Mas, ressalte-se que esse conceito, no livro, não é
muito claro.
Bem, paro por aqui, reafirmando a dificuldade do
texto do autor Sergio Buarque de Holanda em sua obra “Raízes do Brasil”, um
clássico muito citado mas tenho dúvidas se lido na mesma proporção.