Tenho para mim que ao atingir essa marca nada impede um breve relatório do que enfrentei nesses anos todos.
● Juventude, dificuldades
Muitas, até me situar nos princípios da “existência”.
De família classe média baixa não havia muito que aspirar. Mas, nada que eu me lembre me faltou.
// Brinquedo de Natal. Acessar: Carrocinha de Natal
Numa reação a essa situação, vivi anos brilhantes na década de 60 em São Caetano do Sul naqueles tempos de “imortalidade” em que tudo brilhava, as músicas e os costumes mais respeitosos.
Sim, houve a “intervenção” militar, uma época difícil com censura e prisões sórdidas aos opositores, muitos apenas contestadores teóricos, duramente “castigados”.
O ano de 1965 para mim tornou-se inesquecível pela minha atuação na vida estudantil da cidade e na pequena imprensa de São Caetano do Sul, uma cidade modelo.
// Vida estudantil e outros em São Caetano, acessar: Vida e experiência estudantil em SANCA
● Família
Casado há quase 53 anos com Ana Rosa, com cinco filhos e oito netos.
Milton, Gisele, Eduardo, Otávio e Silvio
● Vida profissional
Trabalhei a maior parte de minha vida profissional em multinacionais automobilísticas.
Aprendi muito, mas a empresa que me marcou foi a Chrysler. Os desafios e os desgostos hoje encaro tudo como valiosa trajetória.
Em 1975, pela empresa fiz viagens por países da América Latina para compreender o que eram as negociações coletivas sindicais nesses países (Argentina, Colômbia, Venezuela – muito rica, então – e México).
// Experiência diferenciada no México, acessar: México a a brisa na pirâmide
Uma premonição porque três anos depois, em 1978, eclodiu a greve no ABC que significou uma abertura política.
Nessa greve, minha atuação quixotesca foi um desgaste total, relatei isso, mas hoje, décadas depois, considero uma experiência muito valiosa.
Algo para contar, “histórico”.
No afã de convencer operários de minha fábrica de Santo André a voltarem ao trabalho, dando “um voto de confiança” usei palavras de baixo calão, uma delas hoje muito em voga nas redes sociais.
Fui interrompido na minha insensatez por um grevista que se apresentou como auxiliar de enfermagem:
- Como pode o senhor falar tanto palavrão…
// Greve de 1978, acessar: Greve de 1978 em SBCampo
Desde aquele 1978 tento me conter nesse vocabulário negativo do baixo calão que vibra mal na vida.
No final da década de 80 também profissionalmente, estive nos Estados Unidos com meu inglês ruim e relatei as peripécias.
// Eu e meu inglês ruim nos Estados Unidos, acessar: Inglês ruim nos Estados Unidos
►Demissões
General Motors – São Caetano
Aprendi muito. Foi lá que me interessei pelo sindicalismo. Aliás, os dirigentes sindicais eram atendidos na portaria da empresa. Anos depois...
Hoje, de sindicalismo, não quero nem ouvir falar.
O supervisor, uma personalidade intempestiva, não percebia que humilhava seus funcionários. Eu às vezes era “intimado” a abastecer o carro que lhe fora designado, para ficar no menos. Outro colega num nível hierárquico pouco acima tinha por missão levar uma admirada loura dos escritórios para arrumar os cabelos fora, no horário de expediente.
Pedi demissão e lhe falei poucas e boas. Um erro.
Chrysler – São Bernardo / Santo André
Também me demiti porque o diretor de RH sempre que pedia alguma coisa dizia que a fábrica de Santo André tinha os dias contados porque adquirida pela VW. No terreno da fábrica de Santo André hoje há uma loja do Carrefour.
Também a fábrica de São Bernardo desapareceu.
Fui homenageado com festa de despedida, cartão de prata e, pelo trabalho que desenvolvi no clube da empresa, nome de troféu.
Bons tempos que só pertencem a mim essas leves lembranças num tempo que muito me marcou.
Poderosa multinacional de Piracicaba
Nos primeiros anos considerei a melhor empresa para a qual trabalhara.
Depois, houve a consolidação das fábricas. A unidade de São Paulo foi transferida para Piracicaba.
Não que a empresa tivesse piorado, mas não me dei bem com a mudança e não parava de repetir:
- Melhor para mim seria a demissão com o recebimento do pacote (um plano de incentivo aos demitidos com valores superiores ao que estabelecia a lei).
Eu não era muito conhecido da turma transferida e fizera restrição à transferência de pessoal operacional de lá, porque aqui sobravam.
Repeti tanto esse “desejo”, a ponto de se realizar: fui preterido e demitido. E ponto final. A primeira vez para valer...
"Não deseje insistentemente aquilo que você não deseja ou não tem convicção do que quer..."
Sim, foi doloroso aquele fim de semana porque eu estava na estrutura do departamento, mas senti o que sentem e sentiam os demitidos surpreendidos. E eu que demitira, por dever de ofício, tanta gente!
Dessas experiências todas cheguei a uma conclusão amarga: não há amigos na empresa apenas respeito hierárquico e interesses de sobrevivência. Quando o profissional nada mais representa nessa linha de interesse é ele descartado por mais que tenha feito aos superiores e aos subordinados. Talvez dos tempos da Chrysler eu tenha dois amigos com quem me correspondo às vezes.
● Advocacia
A advocacia também se insere na vida profissional.
Formei-me na PUC – SP. Toda noite de Santo André na maioria das vezes com um Fusca-64 (motor meio fundido) ia até à rua Monte Alegre - Perdizes.
Nunca tive moleza. Eu paguei toda a faculdade e o que mais necessário.
Embora tivesse trabalhado em multinacionais as principais acima referidas, a advocacia nunca deixou de me influenciar e ajudar.
Quando saí da Chrysler advoguei em Santo André / SCSul por algum tempo, um tempo bom de aprendizado.
Depois mudamos para Piracicaba. Fui contratado como assessor jurídico da poderosa multinacional. Respondera a um anúncio fechado que dera certo.
Todo profissional tem seus percalços, suas falhas. Mas, advogando em Piracicaba desde1994 tive meus desgostos porque há momentos em que o Judiciário não julga, o processo é empurrado. E nesse empurra se materializa a sempre citada teratologia (decisão absurda). E o advogado se depara, sim, com magistrados pouco empenhados.
Mas, e as vitórias? Nada de soberba ou “contar garganta” até porque nem tenho mais idade para isso...
Como é bom ouvir:
- O senhor foi o primeiro advogado a conseguir aqui na cidade o “home care”;
- O senhor foi o primeiro advogado que derrubou a exigência de cobrança de taxas de manutenção imposta por associação a moradores que discordavam do fechamento do bairro que antes eram abertos.
E por aí vai.
Mas, o que me deu 15 minutos de fama foi o êxito em uma "ação popular" movida por moradores que resultou na derrubada de todos os muros de um bairro relativamente grande que fora murado de modo discutível fixando a associação respectiva, taxas de manutenção. Deu-se no Bairro Santa Rita (Piracicaba) tramitação acompanhada permanentemente pela imprensa local e regional.
// (V. "Persona" no Jornal de Piracicaba de 30.09.2018, acessando: Coluna "Persona" no Jornal de Piracicaba
// Vídeo da SPTV. Copiar e inserir no Google este endereço (há publicidade no vídeo): https://globoplay.globo.com/v/6921605/
● Hoje, ao completar a marca 78
Ainda advogo, pouco, meus clientes fieis viraram avós e os filhos e netos são de geração distante da minha.
Gostaria muito de substituir o título de “advogado” pelo de escritor. Mas, escrever livros é difícil e, por isso, admiro esses indivíduos com esse talento porque, sobretudo, são rigorosamente persistentes nessa tarefa empolgante.
// Eu gostei de escrever o meu livro "Joana d'Art"- Acessar informações: Livro "Joana d'Art"
Leio bastante.
// Meu blog sobre livros lidos, acessar: Dos livros lidos
Estou tentando achar um novo rumo de atividades, mas me envergonho um pouco da minha pouca disposição (*)
No mais, há muito que dizer mas aí somente com um livro, digamos, autobiográfico.
Referências no texto:
(*) Em 27.06.2010 publiquei alhures este relato verdadeiro:
“Minha idade de vida? 92 anos”
Desço tranquilo do 5° andar do Fórum João Mendes, em São Paulo. As coisas tinham caminhando bem nos meus (poucos) processos por lá e por isso havia baixado meu estágio “normal” de tensão quando da descida.
Alojo-me bem na frente da porta do elevador e ouço um velhote, mas bem idoso mesmo, debatendo com outro idoso algumas questões jurídicas.
Volto-me e me surpreendo com ele, magrinho, baixo, cabelo ralos dividido no meio. No térreo não resisti:
- O senhor é advogado militante? Posso perguntar sua idade?
O velhote me olhou de alto a baixo, segurou firme a gravata verde, vacilou um pouco, e respondeu:
- Sou advogado e minha idade são 92 anos.
- Mas o senhor ainda exerce a profissão?
Diante da resposta afirmativa, aquele que parecia ser seu cliente, também idoso, arrematou:
- E ele viaja para outras cidades para audiências e o que mais necessário.
Revelei minha admiração pela sua disposição para o trabalho e me envergonhei um pouco pela minha preguiça, mesmo depois de estar me aproximando das quatro décadas advogando ou indiretamente me valendo da advocacia para outros tipos de trabalho.
A advocacia é uma espécie de cachaça embora de “má qualidade” que vicia.
Sai para a rua de São Bento nos rumos de um velho bar para um lanche reforçado. Na frente da estação do Metrô, a uns dois passos do Largo de São Bento.
- Bom demais tudo isto!