Neste estágio da vida quando
tantas foram as experiências, tantos percalços e êxitos que, sem
qualquer interesse de dar vazão à vaidade ou à soberba revelo que
tive muitos momentos venturosos.
Tive, sim.
Mas, a vida em si me desafia
porque a vida é boa para ser vivida.
É por isso que todos a
preservam, os doentes fazem tratamentos difíceis para prolongar a
existência por quantos anos mais? Todos nós queremos viver mais e
melhor.
É tão bela que na maioria
esmagadora dos seres humanos não há qualquer indagação dos seus
mistérios.
Para que pensar nisso se não
vou conseguir resolver — não há respostas para tantas indagações.
Há a minha vida a viver e
dela tudo usufruir mas, sempre, buscando a serenidade, sem pensar nas
divindades à espreita.
É que quando se indaga da
vida, na frente do espelho, olho no olho, surge alguém estranho na
imagem e é nesse momento que pode se dar a revelação da
individualidade, os olhos se mirando e aquela iluminação interior
que não se explica.
Quando essa iluminação de
apaga, por onde caminhará a face antes encarada? O que resta que não
seja um corpo sem luz?
Repito: para que nisso pensar
se a vida vale a pena ser vivida sem essas indagações?
Mas, sozinho num canto
qualquer pode ocorrer um sobressalto: quem comanda isso, a própria
vida efêmera? Deus existe?
Essa última indagação sobre
Deus pode até ser ignorada porque a vida pode ser vivida sem ele. Os
indiferentes que o digam.
Temos o livre arbítrio
relativo, pelo qual conduzimos a vida, fazemos o que melhor nos
interessa e nem é de se acreditar (muito?) no destino que autores da
antiguidade muito ressaltaram, especialmente na peça teatral “Édipo
Rei” de Sófocles. (*)
“Do destino ninguém
escapa.”
Não se escapa do destino
porque há muitas tragédias que ocorrem tantas vezes por eventos que
se completam, as chamadas coincidências.
Estou eu aqui me desafiando a
pensar na rotina da vida a ser vivida mas sou sacudido por saber dum
avião que cai, por erro humano ou falha mecânica, vitimando
centenas de viajantes.
As consequências são traumáticas.
Fora o destino reservado
coletivamente a essas pessoas?
O porquê dessas tragédias
traumáticas, o que alertam elas? Direi à frente.
Uma constatação afim que há
muito faço:
— Como se explicam os níveis
dos seres humanos neste planeta, um sábio vivendo entre delinquentes
ou ao contrário até mesmo sem saberem dessas diferenças?
Há 1700 anos Santo Agostinho,
nas suas “Confissões” faz essas indagações a Deus quando ia se
convertendo à espiritualidade, ao catolicismo original. (**)
Sobre o mistério da criação
e “questionando” Deus como se com ele falasse. Chega a perguntar
a Deus o que havia antes da criação da Terra e do Sol naquele nada
infinito.
E outro fenômeno que o
atormentava: o controle do pensamento.
Santo Agostinho confessa que
os pensamentos são difíceis de controlar e os luxuriosos o
desafiavam permanentemente — tudo isso até hoje desafiando até
mesmo o adepto a uma vida de renúncia. Isso pode explicar muita
coisa hoje.
Porque
A
luxúria é a mais intensa das paixões humanas: "é como o
demônio que devora todos os atos do mundo".
(***)
Parece que dei uma virada no
tema, mas não. Eu quero expressar que não estamos sós nessas
indagações aos que refletem sobre transcendências numa reflexão
silenciosa.
E a presença de Deus? Com
todas assas dúvidas que me desafiam e sabendo que obterei nada de
respostas pelo menos neste meu estágio, por uma série de sensações,
senti a presença de Deus que muitas vezes acena na sutileza do seu
mistério. Os sonhos — que já qualifiquei de realismo fantástico
—, mas não só, são um canal de revelações.
Eu falei de destino: para
muitos espiritualistas há tarefas pendentes, condutas nas
resolvidas, que vêm de outras vidas e que precisam ser saldadas.
Essa é a lei?
Há muitas situações em que
elas parecem ser regidas segundo esses princípios.
E há que ressaltar que este
planeta é o das desigualdades, das crueldades, das guerras, do
aprendizado, da sabedoria, da solidariedade e das penitências.
O livre arbítrio sem Deus
leva às guerras...
E o planeta um minúsculo
elemento nesse Universo sem fim, sobrevive nessa imensidão para
propiciar experiências positivas e negativas, numa sucessão de
vidas… até alcançar qual objetivo? A divindade? A luz?
Então, no tocante ao que
chamarei de renascimentos, para não me fixar nas valorosas correntes
reencarnacionistas destes tempos, vou buscar em Sócrates que viveu
400 anos antes de Cristo, explanações nesse sentido, claro que há
contradições no diálogo com seu discípulo Críton.
Fixo-me neste texto da resenha
que fiz:
“Mesmo
com questionamentos feitos por Símias e Cebes sobre a imortalidade
da alma, ao morrer e que
se
daria naquele dia, pelo seu modo de vida, de filósofo, de vida
simples, sem vícios, esperava Sócrates juntar-se a homens justos,
bons senhores e deuses muito bons pelo que seus discípulos não
devem se preocupar. E, depois, "é uma opinião muito antiga que
as almas ao deixarem este mundo pela morte, vão para o Hades e que
dali voltam para a Terra e retornam à vida..." Porque os vivos
nascem dos mortos e estes daqueles.”
(****)
Porque
mencionei Sócrates:
“Fora
seu amigo Querefonte que consultara o Oráculo de
Delphos sabendo
se em Atenas havia alguém mais sábio que Sócrates. A
resposta fora pela negativa, mas Sócrates sempre diria que o
verdadeiro sábio é aquele que sabe que não sabe”.
Concluindo…
Quis
demonstrar as minhas “angústias” do que me rodeia, dos alertas
que pressinto, das tentações que assaltam —
tal qual revelara Santo Agostinho. O
livre arbítrio sem Deus tem levado a tragédias humanas, às
guerras? E o que falar do
destino – não
há situações em que ele eclode do “nada” de
modo traumático? Há
notáveis diferenças entre os seres humanos, sábio e perversos
vivendo praticamente, lado a lado.
E
dos renascimentos sucessivos? Eles ocorrem? Nisto,
acredito.
Referências
Os
textos referidos podem ser acessados nestes endereços:
(*) TRAGÉDIAS GREGAS
(**) CONFISSÕES DE SANTO AGOSTINHO
(***) DOUTRINA DE BUDA
(****) SÓCRATES DE PLATÃO
Nesse último texto há
referência a Hades — naqueles idos, acreditava-se que Hades
era o local para onde iam os mortos que para muitos, os desonestos e
assassinos, era um local de pavor.
Foto: "Vitórias Régias" - Piracicaba