Explicação: Achei esta crônica “perdida” no meu blog que trata de questões políticas e sociais (Artigos). Foi escrito no dia de Natal de 2009. O blog “Temas Livres...” é mais adequado para explanações desta natureza por ser mais acessado do que no blog "Artigos”.
Descobri esta crônica porque pelo Google, alguém a
acessou. Foi bom, porque para o meu grau mui modesto de lucubração, gostei
do que escrevi.
O Natal foi deturpado pelo consumismo. O aniversariante foi substituído pelo papai Noel que se transformou num eficiente garoto propaganda da atividade comercial. Mas, ainda assim, há um sentido de paz na data pelo que emana das mensagens de Jesus. Enigmas.
Participando há dias de festa de confraternização de uma empresa que assessoro, foi convidado um religioso católico (“monsenhor”) para algumas palavras sobre o significado do Natal.
Para minha surpresa, a maior parte de sua peroração fora afirmar “O Natal não é o Natal”, tal a distorção que se dá nesses dias de festa, nos quais predomina a volúpia do consumismo e o papai Noel, essa figura importada do hemisfério Norte cuja vestimenta não se coaduna com o clima tropical do Brasil. Onde as renas, a neve? Papai Noel, esse “garoto propaganda” de muitos negócios, obscureceu o “aniversariante”.
No fim, pouco falou da figura de Jesus Cristo, encerrando sua participação concitando todos à reza do “Pai Nosso”, oração que fora, segundo o Evangelho de Mateus, ditado por Ele.
Naquele instante, surpreso com o rumo dado pelo religioso, saí um pouco do clima e me perguntei quem fora realmente essa figura tão polêmica como é Jesus Cristo, cuja passagem física pela Terra é tão pouco documentada?
Uma referência tênue se dá no livro "A Vida dos Doze Cesares" de Suetônio escritor que vivera em Roma aproximadamente entre 89 a 141 DC. No império de Tibério Cláudio Druso, lê-se no citado livro que o imperador expulsara "de Roma os judeus sublevados constantemente por incitamento de Cresto". As notas de rodapé explicam que aqueles judeus expulsos foram os primeiros cristãos e que Cresto era Cristo.
A essa referência imprecisa, há questionamentos do Seu próprio nascimento. À data tida como certa, de onde teve início a contagem de nossa era, conteria um equívoco: o que parece mais certo é que Jesus teria nascido quatro anos antes, havendo dúvida até quanto ao dia e mês exato do nascimento. (1)
Estamos vivendo dias de pesquisa que reviram tudo. A internet constitui-se fonte para todas as tendências.
Nessa linha, surgiram teses e estudos sérios, colocando Maria Madalena, não como uma mulher obscura, mas como companheira de Jesus.
E isso não se deu tão só com a eclosão do livro “O Código Da Vinci” de Dan Brown. Esse autor apenas popularizou o tema.
Atente-se para este trecho de Juan Arias, em artigo no jornal “O Estado de São Paulo” de 25.12.2005, ele que é jornalista e foi correspondente no Vaticano por 34 anos:
“A descoberta de importantes manuscritos em 1945, no deserto do Egito, faz pensar que existiu um cristianismo de primeira hora, capitaneado pelas mulheres, tendo à frente Maria Madalena, considerada a grande inspiradora de Jesus, sua esposa e depositária de seus maiores segredos. A mulher para quem o dia da ressurreição aparece antes que a Pedro e que à sua própria mãe, algo que já causava dores de cabeça a Santo Tomás”.
E a dogma da ressurreição? Coloco uma voz autorizada que põe em dúvida a Sua morte na cruz com alguma relutância, porém, porque o livro que eu saiba não se inseriu no “circuito comercial”, digamos. Trata-se da obra “A Vida Mística de Jesus” de H. Spencer Lewis que foi um dos principais líderes da Ordem Rosacruz – AMORC.
A 1ª edição é de 1929, dirigido ao público em geral e não somente reservado aos membros da Ordem, defende que a crucificação de Jesus não resultara em sua morte física. Os fundamentos dessa convicção, informa o autor, se assentaram em pesquisas efetuadas “nos lugares santos e místicos da Europa, Palestina e Egito” e de crônicas ao seu alcance nos arquivos existente em sua entidade.
Efetivada crucificação de Jesus, num dado momento, relata o autor, chegara até Pilatos uma mensagem que trazia o selo do próprio Tibério (imperador romano nos tempos de Jesus) instruindo-o a “revogar a ordem de prisão e adiar todo o processo, até que pudesse ser feita por Cireneu, uma investigação mais completa do caso. Até que isso acontecesse, Jesus deveria ser posto em liberdade”.
Diante disso, aproveitando a escuridão e a tempestade, Jesus foi removido da cruz ainda com vida e levado a salvo pelas mãos de membros da comunidade essênia – estudiosos da espiritualidade. Sobrevivido à crucificação, mais tarde reencontrou-se com seus discípulos, voltou a instruí-los até o momento em que a “porta de Sua vida pública foi cerrada para a Humanidade”.
Eis aí a “ressurreição”!
Mas, indiscutivelmente, a mensagem de Jesus Cristo fora e tem sido um divisor de águas.
Isso porque Ele pregara o amor como ponto de partida, instituindo toda uma conceituação religiosa que se materializou no "Sermão da Montanha", nas suas parábolas, produzindo uma radical mudança na mente de milhares de pessoas, que se renova com o passar dos séculos embora hoje se constatam desvios diante do consumismo e do agnosticismo crescente. E daí a indiferença.
Um religioso certa vez me perguntara:
- Já imaginou sem os ensinamentos de Cristo, como poderia estar o mundo, se não fosse imposto um freio à barbárie de há dois mil anos? E não é Ele ainda um freio à nossa própria barbárie? É Ele, sem dúvida, o grande redentor porque as pessoas, quando desejarem ou precisarem, têm uma tábua vigorosa onde se apegar. Alguns são irremediavelmente tocados por Ele. Preste atenção, completara esse religioso, toda imagem ou estampa de Jesus, tende a atrair a atenção das pessoas distraídas, mesmo que em princípio fora de seu campo normal de visão. Num dado momento elas se deparam encarando a Sua imagem. A própria comemoração do Natal, ainda que a data não seja correta: há um momento em que a volúpia comercial dá lugar a algum sentimento diferenciado no coração das pessoas, para algumas até com mais ênfase, uma esperança de melhora, de solidariedade. Porque nesses dias, acreditam tantos, Seu espírito voltaria a tocar a Terra, purificando-a, reacendendo sentimentos de solidariedade, perdão e amor.
Creio mesmo que, em momentos próprios, alguma coisa se revela ao espírito do indivíduo. Certa feita, por obrigação, presente a um culto religioso numa igreja evangélica, num dos sermões foi dado a um fiel ler um trecho do Evangelho de São João no qual Jesus, a Nicodemos, disse a célebre frase: "Na verdade, na verdade, vos digo, que não pode ver o reino de Deus, senão aquele que nascer de novo".
Diante da ignorância de Nicodemos, demonstrada com novas perguntas, Jesus quase que desconversou, mas por fim encerrou assim a conversa, parecendo até mesmo revelar certo desapontamento com seu interlocutor: "Tu és mestre em Israel e não sabes essas coisas". (João 3, 10)
Que coisas? Que temos que renascer? Que temos que voltar a este mundo muitas vezes? Não fora essa passagem uma convincente revelação de que Jesus falara em várias renascimentos, para "ver o reino de Deus"? Onde se situaria, então, o dogma da ressurreição?
Não parece convincente que o “nascer de novo”, seja na interioridade de cada um, na espiritualidade? Porque nesta Terra as diferenças entre indivíduos e povos são notórias alijando muitos milhões dessa realização num período de vida relativamente tão curto. (2)
Essa passagem, somadas a outras tantas, apenas aguçam os enigmas da figura, da vida e da existência de Jesus Cristo.
Referências:
(1)
V. minha crônica “Estrela que
acompanhou os Reis Magos. Mistérios” de 08.09.2015 neste “Temas”;
(2)
“Este é o planeta das contradições:
ao lado de monstruosidades humanas, vivem sumidades e homens inspirados.
Cientistas abnegados. Por analogia, poderemos considerar tratar-se duma grande
escola na qual o aprendizado vai do jardim da infância, tudo meio caótico e
primitivo, ao mais elevado curso de doutoramento espiritual.” (v. minha crônica
“Onde estava Deus” de 12.10.2009 neste “Temas”)