07/11/2010

PENSAMENTO FORTE

Já disse. Trabalhei a maior parte de minha vida profissional em multinacionais do ramo automobilístico.
Salvo na fábrica da Chrysler da cidade de Santo André (SP) há muitos anos extinta, talvez pelo meu modo de ver as coisas a despeito da minha atividade profissional sempre me considerei um anônimo no meio daqueles gerentes, supervisores e mesmo da peãozada toda.
Tinha um nome que até poderia soar forte na empresa, mas me sentia absolutamente desconhecido e desconhecia todas aquelas pessoas com as quais me relacionava no dia-a-dia
Vou dar um exemplo real da face2 usada dentro da empresa.
Eis que num fim-de-semana caminhando num lado qualquer do bairro, dou de cara com um gerente da empresa que se aplicava no jardim e numa horta de sua casa com a mão mergulhada na terra e no esterco, manejando enxada e regador.
Na segunda-feira, assim que eu o encontrei na fábrica, fiz provocação amistosa:
- Poxa, no sábado você foi aprovado como jardineiro, hem!
Resposta inesperada e constrangida:
- Não conte isso para ninguém.
Fiquei perplexo. Na fábrica ele usava a face2. Não me dera conta disso até então...
Ao longo desses anos todos, exigente comigo mesmo e com os meus pares, comecei a entrar num terrível processo de tédio, assistindo reuniões horríveis, aguentando colegas com alto grau técnico e zero – que eu conhecesse ou que se deixassem conhecer – em atitude humana, de interioridade, de subjetividade.
Numa multinacional para a qual trabalhara, certo dia surgira novo presidente um americano alto, loiro, cabelos mais para o grisalho, rosto magro e avermelhado, nariz empinado. Viera para proceder à reestruturação da empresa.
Iria “cortar na carne”, anunciava a “rádio peão”.
Criou-se um clima de expectativa e terror. Esse sujeito se impunha pela truculência verbal, expressando-se num português razoável.
Já pouco afinado por tudo isso que acima relatei e adquirindo antipatia incontornável por esse gringo, por várias vezes disse alto e pensei:
- O melhor para mim seria a demissão acrescida do pacote especial e tomar outro rumo na vida.
Porém, num processo contraditório, pus-me a ler, imaginando uma melhoria com a reestruturação que se desenhava e também por curiosidade, um livro não comercial de autoconhecimento e uso das “forças mentais”.
Na reunião decisiva da reestruturação, a despeito de toda minha dedicação, assim imaginava, fui preterido, sendo demitido.
Dera-se, sobretudo, um choque de desejos entre aquilo que passara a ler no livro citado e aquele pensamento forte anterior como o ideal (demissão).
Pelo que soube mais tarde, alguns daqueles gerentes a quem dera apoio, sempre, haviam também votado pela minha demissão.
Passado aquele momento amargo, inédito, porque nunca tivera tal experiência, refleti muito.
Na verdade, eu pedira mentalmente aquele desfecho.
Ademais, pelo meu tédio, rejeitando mentalmente dirigentes, julgando-os ignorantes devo ter alimentado por meses e meses, muitos inimigos não declarados resultado do rebate negativo do que eu pensava fortemente sobre eles.
O dia seguinte, sábado, fora um dia doloroso. Jamais imaginara que depois de tantos anos dedicados às empresas viveria essa experiência. Imaginava ser “imortal” nelas. Bobagem. E que bobagem.
Fora um pesadelo. Muitos se sucederam em estado de semivigília. Via-me chegando à empresa pela manhã, rumava para minha sala, não a encontrava ou havia alguém estranho sem rosto no meu lugar. Caminhava, então, pela fábrica como um fantasma, via sem ser visto, renovando a angústia da demissão ao acordar.
Soubera após administrar centenas de demissões nas várias multinacionais para as quais trabalhara os efeitos danosos que produziam nos demitidos.
Lembrara-me da angústia dos empregados humildes, que tentavam de todas as formas garantir seu emprego, implorando por uma transferência para outra seção ou para a matriz em outra cidade. E meu constrangimento em processar demissões de colegas próximos com quem compartilhara com lealdade êxitos e fracassos, por anos a fio.
- Recebera minha paga, pensara. Sentira o amargo do fel.
Nos dias que antecederam à minha saída definitiva da empresa, ex-subordinados bajuladores ou não, colegas do dia-a-dia, passaram a ignorar-me – da mesma forma como se daria nos sonhos -, como se receassem o contágio duma doença incurável. Mas, a despeito disso, sempre cuidara para que diante de mim próprio não fizesse o papel canastrão, de vítima. Quais lições tirei desse evento real?
i.) Que o pensamento é uma força que precisa ser cuidada. Há então se esforçar muito para superar, em relação ao seu antagonista, sentimentos de raiva, de intolerância e de dúvida. Haverá, pois, que mentalmente mudar o modo de pensar em relação a ele e transmitir pensamentos positivos de tolerância recíproca para que ele também mude o modo de agir. Esse exercício funciona.
(Não estou nem de longe tentando passar lições de autoajuda com o meu relato. Se tem algo que receio é ser ou parecer ridículo).
Já emiti pensamentos que não direi quais – porque são só meus – que vi repetidos a mim por pessoas próximas, para minha surpresa;
ii.) O pensamento forte obedece ao seu emissor, podendo provocar desgostos ou êxitos.
(Reconheço que há eventos que fogem dessa fórmula básica, provenientes, acredito, de outras causas pendentes na vida. Mas, esse é um outro tema).

De tudo isso que relatei, conclui por fim que há profissionais que nasceram para ser executivos e, menos que críticas, há que se esforçar para entendê-los.
E quanto a mim com a experiência relatada de perdas e ganhos: mais ganhei do que perdi.
Sabem por quê?
Porque para mim “tudo está ótimo!”



Imagem: He-Man, “Eu tenho a força” (Google)

31/10/2010

A HISTÓRIA DE UMA EDIÇÃO. Errinhos que humilham

Saibam, meus amigos, que nessa história de publicação e artigos, tive meus momentos de glória. Ilusórios, passageiros, mas, momentos!
Desde sempre fui assinante do jornal “O Estado de São Paulo”.
Um dia, já faz tanto tempo, escrevi um artigo de natureza jurídica (“O artigo 581 da CLT”). Eu o achei bom e remeti para o citado jornal.
Umas duas semanas depois, quase tive um desmaio ao vê-lo publicado na página que então havia de artigos jurídicos, ao lado de outros juristas. Salvo engano os temas trabalhistas nessa página eram coordenados pelo saudoso ministro Rezende Puech (do TST).
Alucinado, depois de algumas semanas, remeti outro, também publicado. A “glória” meus amigos.
Naquele primeiro artigo fiz críticas ao posicionamento da prestigiosa Editora LTr a respeito daquele dispositivo numa das suas edições da CLT. A Editora respondeu explicando os seus motivos em boletim próprio.
A partir daí, a aproximação com a Editora fora um passo. Escrevi diversos artigos em seus boletins e mesmo na Revista LTr, na qual só cabiam juristas da área trabalhistas.
Meus artigos lidos hoje, por mim? Modestos!
O principal dono da Editora, Dr. Armando Casimiro Costa, pode ter ido com a minha cara, tanto que me convidou, num dos congressos patrocinados por ela, Editora, para palestrante numa das seções.
Não muitos anos depois, elaborei um programa de treinamento de relações trabalhistas e sindicais para uma multinacional trazendo toda a minha experiência do ABC.
Submeti esse programa à Editora LTr. Foi ela reticente em aceitar a publicação o que determinaria, por mim, o abandono da ideia.
Depois de um cartão de Natal normal que remeti, ele me respondeu solicitando que eu remetesse novamente os originais.
E assim surgiu a primeira edição do meu “Sindicalismo e Relações Trabalhistas”.
A segunda edição não demoraria porque o livro fora adotado por uma amigo meu, Edmir de Freitas Garcez nos seus cursos “Negociando com negociadores”.
A terceira edição foi muito melhorada mas a editora não cuidou bem da revisão, o que me obrigou a responder críticas vindas até da Bahia.
Finalmente, a quarta-edição, que poderia ser a minha contribuição “profissional” para o tema, foi escrita às pressas a despeito do volume imenso de informações que me obrigara a compulsar, saiu com falhas minhas.
Quando isso acontece e você vê os errinhos com o “dedo em riste” apontando em sua direção, impossíveis de serem corrigidos, tudo fica meio deslustrado. Imperdoável, porque toda a edição poderia ser muito melhor.
“Aconselho”, pois, a todos os escritores, às voltas com a edição de seu livro, que deem o máximo e o revisem tantas vezes quantas necessárias. Insiram e completem. Nada de preguiça.

Aonde foi parar toda essa gana de jurista? Já disse alhures que, no fundo no fundo, com suas exigências e metas a alcançar, a empresa de certo modo enterra o talento que se desvia para ela e por conta do salário no fim do mês.
Tudo isso se passou num estalo de dedo. As ilusões.



Errinhos que humilham

A propósito do tema, escrevi alhures uma crônica que transcrevo em parte. Assim,

Esse título não é meu. É do saudoso escritor mineiro Otto Lara Rezende que, numa crônica no jornal “Folha de São Paulo” de 18.01.1992 o utilizou no singular.
Mas, eu já vou logo grafando no plural, “errinhos que humilham”.
Inicia o cronista se queixando de erros de revisão que se davam, eventualmente, nos seus escritos, lembrando que “quando surgiu o computador na imprensa, pensei que vinha para acabar com essa gralha. Qual o quê. Sofisticou-a”.
Com o computador, dizia o escritor, não seria mais possível atribuir a revisor os erros do autor.
E nestes dias, então, com o notório avanço tecnológico e da comunicação? Não sei, não. Há “mistérios insondáveis” nos errinhos que humilham.
Com computador e tudo, ao longo do tempo, já me deparei com empastelamento em textos que escrevi, corte da conclusão, a essência do texto, para caber no espaço do veículo e até mexidas insuportáveis de quem entendera pouco do que nele se debatia.
Como explicar um erro tal num título de artigo no qual “queremismo” foi grafado como “quirimismo”? Ou a expressão “ato contínuo” com o sentido claro que contém e que foi impresso como “um ato contínuo”, significando que a inclusão do numeral “um” estreitou sua abrangência?
Para aqueles que se propõem a escrever publicamente o português é um desafio permanente, porque muitas vezes se sabe que a regra “é assim” mas não “o porquê de ser assim”.
Outro ponto lembrado por Otto são os erros do próprio cronista que insere um dado equivocado, uma desinformação, na crônica. Sem volta porque a eventual correção posteriormente é inócua ou com efeito limitado. E dizia: “Qual! Fica o travo da pequenina humilhação que me convida à humildade.”
Saibam todos, pois, que o cronista se depara com erros ortográficos dele próprio e, pior – afaste de mim esse cálice – erros de concordância. E isso mesmo tendo lido o que escrevera várias vezes.
Saibam mais os leitores que o cronista em cada crônica enfrenta esses vilões e escorregões. Ele cria, escreve e...erra. Um “sofredor”. E muitas vezes paga por erros que não são seus.



Imagem: O coelho de “Alice no país das maravilhas”. É tarde, é tarde! O tempo passou, mas sempre é tempo.

24/10/2010

REGRESSÃO (II): Primeira Comunhão

Situo-me num bairro pobre, num tempo tanto de paz como de simplicidades, lá pelos idos de minha infância já num estágio de compreensão das coisas. Casa simples, quintal no fundo, cerquinha de taipas, portãozinho mal fechado que dava para um terreno desocupado. Nos dias de muita chuva, o rio transbordava, chegando a água imunda até ali perto.
Tinha por hábito atravessar o rio pela ponte de madeira a poucos metros, nos tempos secos e rumar para a casa de um amigo da família que morava morro acima. Um braço de rua à esquerda que terminava numa valeta na qual corria água fétida que desaguava no rio. Quando chovia, transbordava, trazendo todo tipo de objetos varridos das casas ribeirinhas.
Nessa rua, casas humildes, água de poço, muita precariedade mas não percebia amarguras, queixas da vida...
Em muitos domingos recebi balas dos filhos do proprietário de muitas daquelas casas simples que ia receber os aluguéis. Muitas vezes seu carrão não conseguia entrar rua abaixo nos dias de chuva, pelo barro que se formava.


Havia na beira das cercas pés de dálias que cresciam mais de um metro, dando flores enormes.



Giestas viçosas, suas florezinhas amarelas brilhavam ao sol naqueles tempos em que não se falava de poluição. Hoje são raras.



Até hoje procuro por violetas miúdas, que proliferavam cujas flores exalavam, se bem me lembro, leve perfume. Perto da valeta, um pé de “copo de leite” com flores imaculadas o ano todo resistiam a todas as agressões dos moleques e das enchentes.
Muitas tardes ia para essa rua, encontrar a molecada amiga. Ficava um pouco mais até a noitinha quando havia a reza do terço, cada mês numa casa diferente.
Ria muito daquilo tudo e, ansioso, esperava o fim da reza, ao amém, para participar dos refrigerantes que não faltavam nessa hora ou de licorzinho leve de anis ou hortelã.


No último dia de aula daquele ano chovera muito. Fiquei à espreita agarrado no pé de amora, vendo a água se aproximar alegando tudo por ali. Ela chegou mais uma vez perto da cerca do meu quintal, mas não passou dali, como nunca passara.
Saí às pressas para a aula, seria a despedida da professora.
Pela surpresa, aquele dia fora importante. Passara o ano inteiro sem uma falta sequer recebendo da professora, elogios, um livro de presente, lembrança desse feito inédito. Palmas.

Dois dias depois, num domingo, minha mãe falou da primeira comunhão, menos que um ato de fé, um costume que não poderia ser abandonado. Meu pai não interferira porque não se aproximava da Igreja. Meu tio era crítico cáustico da religião. Vez por outra ele chegava até nossa casa, com um caminhão tanque enorme de “querosene jacaré”, com maços enormes de dinheiro à vista de todos.


Interessei-me pela 1ª comunhão até porque não havia outro meio, então. Algum tempo depois comecei a frequentar o catecismo na denominada matriz velha da cidade.
Quando se aproximava a data, a beata que conduzia as aulas constatou que eu não decorara o “Credo” e “Salve rainha” Me ameaçou de ficar fora da comunhão.



Lá fui, então, decorar essas orações e reforçar outras.
O dia da comunhão chegou, um domingo que marcou porque minha mãe fez uns bolos, uns doces uns sanduíches e guaranás.
Se disser que não me senti um pouco acima do chão, depois da comunhão, estarei mentindo.
A partir dali voltei-me religiosamente para a missa dominical e me engajei entre os “congregados marianos” identificados com a fita amarela, passando pelo pescoço e ombros. Ficavam próximos da sacristia acompanhando a missa de perto. Eu recebi uma fita azul – que significava, que me lembre, a condição de aspirante.
Nunca perguntei o que significava aquele grupo dos “congregados marianos”.
Sempre que havia tempo, à tarde, ia para a igreja sabendo-a vazia, na certeza de encontrar linda menina que me fizera perder na paixão, aquele enlevo que só nessa idade se sente.
Ela, porém, tinha nome tradicional na cidade e seus pais estavam muito bem de vida. Esse enlevo perdurou por algum tempo mas havia esses obstáculos, o da pouca idade e diferença social, situação importante naqueles tempos, na cidade.
Esta tão ingênua poesia, remonta àqueles tempos. Vacilo hoje em lembrá-la exatamente pela sua ingenuidade mas me encorajo, imaginando que ela possa explicar esse “encanto” e minhas motivações que não se perderam neste meu mundo de hoje que nele batalho em algumas frentes sem esmorecer e a tudo agradecer!:

Menina
Morena
da cidade
das flores,
alegre
tão meiga
sincera.

Eleva
enleva
encanta
se fala
se olha
se chora
se ri.

Do rosto
lmpidos
olhos
estampam
pureza
sublime
beleza.

Ah! menina
morena
és dona
de tudo
da Natureza
do mundo
e mesmo
de mim...

Um belo dia, não sei explicar bem, esse estado religioso foi abandonado de modo abrupto. Não sei se pelo amadurecimento quando novas informações chegam, o ginasial e os novos amigos, questionamentos de toda ordem, a maturidade sexual que se faz presente...e nessa época converti-me num péssimo aluno. Mas, nada que não recorde tudo com carinho.

Mais tarde, por razões que já revelei, enveredei pelo rosacrucianismo, ocultismo e até rudimentos do espiritismo.
Volto um dia a este assunto, embora já tenha me referido a ele em outras crônicas neste espaço.


Fotos:
Dália
Flor de giesta
Igreja: Matriz "velha" de São Caetano do Sul

17/10/2010

DOS LIVROS QUE NÃO CONSEGUI (AINDA?) LER. E os já lidos

Há livros que vou e volto e não consigo ir em frente na leitura até o epílogo.
Acho que a cultura perdida num livro não lido pode estar em outro qualquer mais palatável, menos rebuscado.
Há autores que sobem tanto o degrau da intelectualidade que são, para mim, inatingíveis. E livros inatingíveis quando assim os considero, não precisam ser lidos.


Aqui me refiro às obras seguintes entre outras:
"Os Sertões" de Euclides da Cunha
"Grande Sertão: Veredas" de Guimarães Rosa 

"Raízes do Brasil" de Sergio Buarque de Holanda
Friedrich Nietzsche
"Ulisses" de James Joyce
"1984" de George Orwell
"Admirável mundo novo" de Aldous Huxley

"O Presidente Negro" de Monteiro Lobato


Euclides


“Os Sertões”


Para comentários de "O Sertões" de Euclides da Cunha, acessar:

 TEXTO AMPLIADO





Grande SER-TÃO: Veredas

Para comentários de "Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa, acessar


TEXTO COMPLETO





“Raízes do Brasil”

Para comentários a "RAÍZES DO BRASIL " de Sergio 

Buarque de Holanda acessar


TEXTO AMPLIADO


Nietzsche

Mas, o autor que mais me incomoda é Friedrich Nietzsche, apenas Nietzsche, para os mais “íntimos”. Tenho aqui comigo, duas edições de “Assim Falou (ou falava) Zaratustra” que não consigo sair das primeiras páginas, pelo seu texto rebuscado, frases que se perdem numa ideia sem sentido.
Na introdução da edição da “Editora Martin Claret” (2007), de autoria de Scarlett Marton, dissera o próprio Nietzsche sobre esse livro:
“É um livro incompreensível, porque remete exclusivamente a experiência que não partilho com ninguém”. E acrescenta: “Se pudesse dar-lhe uma ideia de meu sentimento de solidão! Nem entre os vivos nem entre os mortos tenho alguém de quem me sinta próximo.”
“Assim Falava Zaratustra” é um livro que tem lá suas parábolas e tenta substituir a figura sempre presente de Deus, pela do Super-Homem:
“Eu vos apresento o Super-homem! O Super-homem é o sentido da terra. Diga a vossa vontade: seja o Super-homem o sentido da terra.”
E sobre Deus:
“Noutros tempos, blasfemar contra Deus era a maior das blasfêmias; mas Deus morreu, e com ele morreram tais blasfemos. Agora, o mais espantoso é blasfemar contra a terra, e ter em maior conta as entranhas do inescrutável do que o sentido da terra.”
Nietzsche na sua maturidade pelos 44 anos de idade, num grave colapso mental, perdeu a razão. Atribui-se sua loucura ao avanço da sífilis, que adquirira na juventude. Com a doença “viveu” por cerca de 11 anos.
No capítulo “Mater Dolorosa” do velho livro (1948) “A Marcha do Tempo” de Stefan Zweig é relatado o drama de sua mãe, cuidando do doente famoso no dia-a-dia:
“Vê-se agora uma velhinha a conduzir, de vez em quando, o seu doente, como a um urso grande e pesadão, pelas ruas e a longos passeios. Afim (sic) de o distrair, recita-lhe intermináveis poesias, que ele escuta em torpor. Guia-o jeitosamente; fá-lo desviar-se das pessoas que o fitam curiosas e dos cavalos que detesta. Sente-se feliz toda vez que consegue reconduzi-lo à casa, sem que ele desperte a curiosidade popular com sua “voz muito alta” (como a senhora delicadamente classifica seus berros selvagens)”.
A mesma autora da “introdução” à edição referida linhas acima, conclui:
“Pensadores, literatos, jornalistas e homens políticos teriam nele um ponto de referência – atacando ou defendendo sua obra, reivindicando ou exorcizando seu pensamento. Quem julgou compreendê-lo equivocou-se a seu respeito; quem não compreendeu, julgou-o equivocado.”
Esse é Nietzsche!
Aonde entro eu nessa história, que sequer consigo ler “Assim falava Zaratustra? – e se conseguir um dia já me darei por satisfeito por ter lido pelo menos uma obra de Nietzsche.

Joyce
Estão aqui comigo as 900 páginas de “Ulisses” de James Joyce, esta edição com tradução de Bernardina da Silveira Pinheiro. (Editora Objetiva – 2007).
Não há lista de obras “universais” que não esteja “Ulisses” a encimando como leitura obrigatória. A obra de Joyce constitui-se uma paródia à obra clássica “A Odisséia” de Homero.
Cheguei na página 261 e pouco captei. A introdução de cada capítulo explicando onde se insere a saga de Ulisses na obra de Joyce situa-se no final do volume e, do mesmo modo, dezenas de citações dispersas no texto, que só são compreendidas se buscadas as referências também no final do grosso volume.
Melhor estariam no rodapé de cada página.
Esse modo de apresentação cansa e dispersa.
Nesta fase, tendo lido ¼ do livro, já estou em vias de deixá-lo de lado.
Dói a consciência mas seu estilo e essas referências inseridas no final do livro (“Notas”) são, para mim, um entrave.

"1984" e "Admirável mundo novo"

Para conhecer a resenha e comentários do livro "1984" de George Orwell, acessar:


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Para conhecer a resenha e comentários de "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley, acessar:

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O PRESIDENTE NEGRO de Monteiro Lobato

Para conhecer a resenha e comentários de "O Presidente Negro", acessar: 

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Brown

Li há algum tempo o livro “comercial” de Dan Brown, “O Símbolo Perdido”. Não gostei!
O que há de interessante são as referências positivas à maçonaria no desenvolvimento da trama, além de enaltecer possíveis mensagens cifradas e herméticas que estariam presente no texto da Bíblia, cujos sentidos haveriam que ser objeto de meditação para melhor interpretá-las.
(Sobre esse tema, tenho a crônica “Intuição desvendada” de 20.09.2009).
Como é do estilo do autor, a história se desenrola sob muitos símbolos e simbolismos.
Vale-se o autor Brown de conceitos até elementares de origem esotérica, como aquele que diz “como é encima é embaixo”, significando que o Universo “lá no alto” com seus fenômenos mal compreendidos, inclui a Terra e nós que fazemos parte dela, aliás, este planeta um corpo minúsculo nessa imensidão que se perde sem fim numa noite estrelada.
Curioso que quando escrevia a crônica “Stephen W. Hawking e minhas implicâncias” de 05.09.2010 usava esse mesmo conceito (“como é encima é embaixo”). Mas, num dado momento deu-se um colapso “inexplicável” no computador e o texto foi todo perdido. Para mim, a primeira versão é sempre a melhor. Reescrevi tudo de novo perdendo qualidade e sem usar mais esse conceito.
São aquelas coisas difíceis de entender. Pensei que, com a perda do texto já integralmente escrito, em fase de “salvamento”, não devesse usar mais essa expressão porque não estaria preparado para me referir sobre ela do alto da minha ignorância.
Mas, eis aí.

Lidos ou quase:

• “Memorial do Convento” de José Saramago – português de Portugal, meio rebuscado. Para quem gosta do autor e do seu estilo.

• “A Cabana” de William P. Young

Comecei a ler este livro e não o conclui. O começo fora eletrizante, mas depois de ter o personagem principal recebido um bilhete do "Papai", algumas páginas à frente desisti da leitura. E do livro, é claro. É, todavia, um best seller.


• “1822” de Laurentino Gomes

Um bom livro muito documentado que causa perplexidade ao revelar fatos incríveis da nossa história.

Outros livros

Pipas

Ler livros que caem no gosto popular, podem significar decepções. É que geralmente há pieguices que encobrem um nível de mediocridade na idéia central da história.
Livro com essa característica é o “Caçador de Pipas” de Khaled Hosseini que vendeu e vende ainda aos milhares.
A história se desenvolve num ritmo vibrante. No seu âmago o personagem principal é um covarde que não consegue se redimir nem mesmo quando, delirando, corre atrás de uma pipa que surge pelos ares no final da história.
Inclui uma luta severa – um dos momentos mais destacados do livro – entre esse personagem e um nazista ligado aos talibans, cujo final, inverossímil, poderia ter sido inspirado num filme americano B, daqueles em que John Wayne salva a mocinha da boca do leão ou é salvo pela cavalaria num massacre aos índios. Aliás, o livro explica que esses filmes eram assistidos nos bons tempos do Afeganistão.
O mal do país é, pois, caracterizado por um alemão nazista que, aceito pelos talibans pratica todas as maldades. Afinal, o quê pretendera o autor com esse desvio? Deixar a ideia de que os talibans não eram tão crueis e que a truculência era um fato isolado no país ficando por conta de um nazista tresloucado o serviço sujo? Ou quisera comparar os talibans aos nazistas? Ou quisera ficar bem com os talibans?
Por tudo isso o livro, para mim, é ruim, embora a história seja contada num ritmo vibrante, tanto que é (ou foi) um best seller.
Outro dia o filme baseado nesse livro passou na TV. Tentei assisti-lo mas também não suportei esperar o final. Coisas de best seller.

Cegueira

O best seller "Ensaio sobre a cegueira" de José Saramago também faço restrições.
Porque, para mostrar a miséria humana, não será preciso nestes tempos e há muito, que todos fiquem cegos. Essa a proposta do autor. Mas, as misérias inimagináveis em todos os escalões sociais se dão entre os que bem enxergam. Nesse passo, para diferenciar ou tentar inseri-las num contexto extremo, sem mais nem menos todos ficam cegos. Somente a heroína, é claro, não é afetada.
E por aí vai a história descrevendo os horrores sob a cegueira. Se assistirei ao filme de Fernando Meirelles inspirado no livro? Dificilmente.

Ressalvo de Saramago, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” escrito em 1991 que lançara, então, Maria Magdalena como mulher de Jesus, mas uma prostituta recuperada, na melhor doutrina da Igreja, bem antes do best seller “O Código Da Vinci” de Dan Brown. Como se sabe esse e outros autores erigem Maria Magdalena, não como prostituta, mas a discípula preferida e angelical de Jesus.

Tenho que explicar, sem qualquer presunção até porque Saramago é Nobel, essas minhas impressões tão negativas sobre esses livros: talvez tenha sido influenciado pelos livros de Dostoievski que lera na mesma época: “Os Imãos Karamazovi” e “O Idiota”.
É injusto comparar, mas Dostoievski está disponível há mais de 150 anos. O autor russo tende a rebaixar outros quando suas obras são lembradas. O que fazer?

Imagens / Fotos:

1. Euclides da Cunha, estampa do livro "Os Sertões", edição de 1952 (Livraria Francisco Alves);
2. Nietzsche ao lado de sua genitora (Wikipédia - Google);
3. Retrato de James Joyce (ebooks.adelaide.edu.au)
4. Cena do filme "Ensaio sobre a cegueira" de Fernando Meirelles, da obra de José Saramago