01/08/2010

A FEIJOADA VEGETARIANA

Naqueles meus tempos de indústria automobilística, coube-me num dado momento, editar o jornal interno da empresa (“house organ”, para os mais exigentes), apenas reconhecido oficiosamente por ela que, de um modo ou outro, o subsidiava.
Na busca por uma gráfica de qualidade, com preço possível, cheguei a uma administrada por descendentes japoneses.
Chamados, veio até mim uma simpática nipônica acompanhado de um japonês idoso, apresentado como seu sogro que, pelo que percebi, não falava nada de português. Revelando um princípio de lealdade, não escondia sua ansiedade em conseguir o serviço. Por fim, fez um preço realmente bom – muito subestimado, diga-se, em relação ao nível técnico que dispunham em suas oficinas. Não tive coragem de pedinchar.
E assim, foram se sucedendo as edições mensais.
Um dia, ao buscar os originais, sempre com o seu sogro a tiracolo, diz:
- Dr. M., não me interprete mal, mas gostaríamos de convidá-lo para um almoço numa churrascaria em São Paulo, muito boa. Lá estaremos todos, meu marido e um outro sócio da empresa, Jorge. Nosso relacionamento é dos melhores e queremos preservá-lo.
E o sogro arrematou:
- Braselero gosta muito churrasco, nô?
Respondi constrangido:
- Dona A. não se ofenda, mas eu não gosto muito de churrasco, prefiro umas saladas, torta de palmito, coisas assim.
O sogro não entendera nada, mas fechou o sorriso amistoso.
Desconcertada, voltamos a discutir a edição.
Uma semana depois, dona A. me liga, numa tarde:
- Dr. M. tivemos uma idéia. No centro de São Paulo tem um restaurante vegetariano muito bom. Tenho parentes que o recomendam. Poderíamos almoçar lá, o que o senhor acha?
Dia marcado, lá fui eu.

Todo o “staff” da gráfica lá estava. Pessoal simpático sem perder a seriedade. Todos avançaram na feijoada vegetariana.
Excelente. Não havia aquele sabor característico do composto de soja. Couve bem cortadinha e tudo o mais de primeira.

Umas duas semanas depois, dona A. volta para discutir nova edição:
- Dr. M., puxa aquela feijoada, hem, tem um efeito...
- Adstringente, provoquei eu, usando uma palavra que tem um sentido oposto ao saudável efeito laxante da saborosa feijoada.
A moça me olhou perplexa, abriu quanto pode aqueles olhos puxados, seu rosto se iluminou e emitiu uma sonora gargalhada. Segurou minha mão com suas duas mãos.
E o sogro:
- Sim, efeito adistrim, efeito adistrim, sorridente, infuenciado pela nora.

Não demoraria muito, e se desinteressariam pelo jornalzinho. Pelo nível técnico que tinham na gráfica, provavelmente conquistaram clientes de peso.
Restou apenas a feijoada com efeito adstringente e a lembrança de um pessoal nipônico bom.

3 comentários:

Ivana Negri disse...

Olá, tudo bem?

Sem falsa modéstia, faço uma feijoada vegetariana que as pessoas elogiam sempre e pedem a receita. São anos de aperfeiçoamento! Se quiser, envio a receita. E ela não é adstringente...

abrs
Ivana

Anônimo disse...

Prezada Ivana.
Sempre me honrando com sua presença por aqui! Faço uma sugestão: que tal publicar a receita da feijoada vegetariana aqui mesmo. Não são muitos os que me acompanham, mas pode ser útil para vários dos que aparecerem por aqui. Sds. MM

MILTON MARTINS disse...

A escritora Ivana Maria França de Negri, a propósito da feijoada vegetariana que não produz "efeito adstringente", remeteu a sua já bastante testada receita:

FEIJOADA VEGETARIANA (deliciosa e light)

Ingredientes:




½ quilo de feijão preto

1 lata de bife vegetal da Superbom cortado em tiras

1 xícara de proteína de soja graúda (PTS)

1 xícara de proteína de soja em tirinhas

3 linguiças de soja cortadas em rodelas

300 grs. de ricota defumada temperada (para dar o gosto de defumado) cortada em cubos

1 colher (sopa) de tempero chimichurri - tempero composto de ervas diversas

1 colher rasa (sobremesa) de fondor

½ cebola e 1 dente de alho picados

folhas de louro

azeite para refogar

1 colherinha de aji-no-moto



Deixar o feijão preto de molho de véspera.

Colocar em água, para hidratar, as proteínas de soja graúda e em tiras.

Aquecer o óleo ou azeite e refogar a cebola e alho picadinhos.

Coloca-se o feijão escorrido, a soja depois de espremê-la com as mãos para retirar o excesso de água, a ricota picada e as linguiças. Provar o sal e se quiser, colocar um pouco de pimenta calabresa (geralmente a ricota já contém pimenta). Colocar o aji-no-moto, o fondor e as folhas de louro.

Acrescentar água até cobrir todos os ingredientes.

Levar ao fogo na panela de pressão até que o feijão esteja macio e com caldo encorpado. Servir com arroz branco, couve cortada fininha e refogada, fatias de laranja e farofa.



Os ingredientes podem ser encontrados todos no Bom Queijo (empório de Piracicaba com grande varidade de produtos alimentícios)