É ira um pecado? Ou se trata de um distúrbio psicológico com graus de manifestação para cada um.
Porque a ira explode naqueles momentos de contrariedade do ofendido ao se defrontar com a desforra, com a humilhação, acuado, desrespeitado nos seus valores.
A ira não é um “pecado” apenas dos mortais. Do texto bíblico, sintetizado num portal católico se extrai o seguinte da ira manifesta das divindades:
“Moisés, ao deparar com o bezerro de ouro, deixa-se arrebatar pelo furor da ira santa, e quebra as tábuas da Lei (Ex XXXII, 19). Deus, muitas vezes, ira-se contra os pecadores (Sl CV, 40). Nosso Senhor lança mão do chicote, e tange para fora, irado, os vendilhões do Templo (Mt XXI, 12). Zanga com os Fariseus, que andavam espiando, para ver se haveria de curar, em dia de Sábado, o enfermo com a mão ressequida (Mc III, 5). São cóleras santas que têm justificativa no fim almejado: debelar ou fustigar o mal, e emendar os pecadores.” (1)
Mais sobre a “ira de Deus”:
“Só metaforicamente a Bíblia se refere (à ira de Deus): é um antropomorfismo, i.é. falar de Deus como se falaria de um homem. Com tal metáfora, quer a Bíblia ensinar que Deus é justo e tem suma aversão ao pecado e real tendência para puni-lo (Dt 32,16; 3 Rs 16,17).” (2)
Se são cóleras santas, não deixam de ser cóleras. Os textos transcritos revelam que há um ponto, mesmo entre os humildes e santos, que a explosão se dá e a reação se manifesta em maior ou menor escala proporcional à afronta recebida.
A ira, a raiva podem se exceder, especialmente nestes tempos em que um novo vocábulo foi inserido no nosso cotidiano, o estresse, que nos deprime e nos atormenta.
Há, de outra parte, uma dose de desequilíbrio que nasce com seres humanos tão diferenciados entre nós, como entre nós estão os sábios, caridosos e ilustrados.
A presença daqueles só revela que este mundo – e já escrevi sobre isso, alhures – é uma escola única na qual são “aceitos” tanto os primários como os alunos superiores.
Entre os primários, até de modo incompreensível – e não há se falar na infelicidade do nascimento em condições precárias porque não é só nesse segmento que os maus instintos eclodem – os semelhantes só são semelhantes até o momento em que uma qualquer motivação, até de natureza econômica, devam ser agredidos ou mesmo exterminados.
No capítulo da ira está o rancor e o desejo de vingança. Nestes casos, sou obrigado a reconhecer que tais estágios envenenam a mente dos que carregam tais sentimentos.
A ira vai e volta.
Nestes tempos, creio que mais do que qualquer outro, até pelo crescimento vertiginoso da população e das cidades, aumentando a pobreza, a fome, o vício e a violência, está difícil de viver.
Por outra, o bullying sempre existiu, mas ele se intensifica nestes tempos duros, pela ira, pela inveja do estudante mais forte, dando-se a agressão constante a um colega de escola mais fraco ou retraído. E o que se pode chamar de bullying se dá, também, pelo assédio moral que se avoluma dentro das empresas. (3).
São gestos gratuitos de intolerância que se bem pensados não têm explicação lógica, salvo para compensar frustrações reprimidas, desvios emocionais. O agressor se afirma perante seus iguais pela truculência moral.
Tenho para mim que a ira, como se verdadeira doença, se manifesta no trânsito caótico das grandes cidades. Qualquer desatenção, um para-choque amassado é o suficiente para os motoristas se engalfinharem e se matarem.
A ira, pois, está numa região cinzenta entre o pecado e a insanidade momentânea ou...permanente; faz parte da índole do agressor e também do agredido.
Não escrevo este texto para insinuar autoajuda até porque não tenho nenhum preparo para tanto, mas eu mesmo, em muitas oportunidades, guardando forte ira, ódio, tentei, com algum resultado positivo, mudar a atitude mental, ocorrendo casos em que o meu desafeto se aproximou amistoso se desculpando
Reconheço, porém, quão difícil em muitos momentos controlá-la. Dotado de “pavio curto” não só por isso, quantas vezes já me vi afirmando irado:
- Esse “cara” vai ter o troco. “Malandro não estrila, espera a vez.”
E quando “esperei a vez”, quanto perdi!
Imagem (1) / Foto (2):
(1) http://jesusnaessencia.blogspot.com
(2) Foto: Milton Pimentel Martins
Legendas:
(1) “O Sete Pecados Capitais – Psicologia Cristã” de Waldemar Magaldi Filho
(2) “Dicionário da Bíblia” – Bíblia Sagrada (Encyclopaedia Britannica Publishers, Inc. 1980)
(3) V. meu artigo / crônica “Bullying” em http://martinsmilton2.blogspot.com/2010/05/bullying.html
Pecados e Pecadilhos
Com a publicação do “pecado” da ira, hoje, concluo a série dos “sete pecados capitais.
Os outros foram publicados nas datas abaixo neste “Temas”:
17.07.2011 - Soberba
03.05.2011 - Inveja
20.02.2011 – Luxúria
16.01.2011 – Preguiça
03.01.2011 – Avareza
26.12.2010 – Gula (nesta crônica foram dadas explicações e informações da origem dos "sete pecados capitais".)
4 comentários:
Milton, não está irado comigo, né?rsrsrsrs. Gostei do seu texto bem oportuno, eu sou um irado sob controle. Dizem que sou tranquilo, compassado, mas quar, minhas enxaquecas que o digam; mas busco o equilíbrio em não me envolver com coisas que não me dizem respeito ou se o dizem é por malevolência - se necessário tomo um copo de suco de maracujá e vou pesquisar no blog do meu amigo Milton Martins.
Abção
Camilo
Saiba que, como disse no texto, sou (hoje nem tanto) um pavio curto que só me trouxe problemas na vida pessoal e profissional. Mas, como vc venho me contendo, mesmo. De vez em quando com suco de maracujá, maracugina, chá de erva cidreira e quejandos. Forte abraço. MM
Meu caro Milton, "bicho-gente" é, realmente, coisa muito perigosa... Todos os pecados e pecadilhos mencionados levam a considerar que a pretendida racionalidade leva, sempre, a desconsiderarmos a dignidade que têm os outros animais. Quem sabe, então, se não é por isso que cobiça, preguiça, ira, gula e quejandos sejam o motivo de estarmos destruindo não só todas as espécies, mas, até a própria?
Foi um prazer encontrá-lo, após quatro décadas e meia, em São Caetano do Sul. Precisamos repetir isso.
Abração.
Caio
O homem é predador com ira ou sem ira, com soberba ou sem soberba especialmente no Brasil com a sórdida devastação ambiental porque por aqui, de regra, prevalece a linguagem do R$ do modo mais descarado. Quanto ao encontro da turma (parte) no dia 28/09, foi muito agrada´vel, valorizado pelo nosso re-encontro depois de décadas. Abraço. MM
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