16/05/2011

“POEMAS”, para não dizer que não falei... (IV)

Alguns poemas já divulgados em crônicas neste blog, escritos em épocas muito diferentes e distantes.

TEMPLO VIOLADO




Pelos recantos fechados da floresta,
Atuam Espíritos cultivando flores
O portal místico decomposto em cores,
Pelo sol enfeitado por estreitas frestas.
Um Templo sob azul e límpida nascente
Permitia saciar n'Alma adormecida,
Inspiração profunda no mundo perecida
Intuindo orações de elevação crescente.
E assim, naquele ambiente purificado
Buscavam consolo e amor, desiludidos
Palavras interiores de paz, esquecidos,
Ali o filósofo apreendia a magia do iniciado.
Haveis que instrumento de trêmulo corte,
Trepidando fio, avançando duro e feroz,
Fez do Templo nada, senão estalo atroz
Num dia em que ao céu clamou a morte.
Que delírio insano ocorrera, porém ?
Na inscrição berrante anunciava tal torpeza:
"O progresso derrotara, forte, a natureza"
Restara então, do Templo, nada mais que desdém.


NU ARTÍSTICO


Estanco na figura nua
Mulher linda, perfeita
O clamor da beleza pura
Que a refinada obra acentua.

Fixo-me nas reentrâncias
Nos picos e declives espessos
Penso num abraço
Num beijo ardente à perfeição
Mas, ela ali não vive
É pura inspiração.

Não é ela real, pois.
Uma miragem é o que vejo
O artista que a obra fez
Assim graciosa e linda
Instiga o solitário desejo.
Reajo a tal beleza inatingível
Fixando-me ainda na imagem
Vingo-me, assim, jocoso, então,
Rio de piada antiga:

Senhora com decote revelador
Lindos seios à mostra, encantos
A marca selada da mulher,
Pergunta ao dançarino fogoso:
- Sabes dizer os atributos da mulher
De que mais lindo ela tem?
- Sei-os, senhora, mas não direi...



A NOITE


A noite tudo encombre:
o sono da criança
os beijos dos amantes
o sonho da alma nobre...

A noite é decantada:
é a musa do poeta,
é o repouso da saudade,
é o descanso da passarada...

A noite é temida:
nela tristes seres cantam,
dança a deusa d’água,
triste se torna a vida...

A noite muito inspira:
escondem os namorados,
doces se tornam os lírios,
a vida em silêncio aspira...

A noite é mística:
nela os fiéis oram,
nela a esperança renasce,
nela o filósofo pratica...

A noite é estranha:
ela esconde os ódios,
encobre a beleza,
desaparece a vergonha!

A noite tudo encobre

Foto da noite, de Milton Pimentel Martins

08/05/2011

FRAGMENTOS MATERNOS

Explicação: eu escrevi uma crônica “autobiográfica” (“Fragmentos Paternos” de 13.02.20110) sobre meu pai que, para minha surpresa tem sido muito acessada. Surpresa porque há outras melhores que se perdem esquecidas nas páginas que compõem este blog. Aliás, este blog, por tudo, pelo seu resultado, é uma surpresa.


Falarei, pois, de fragmentos de minha mãe, episódios que se perdem na memória, porque o tempo implacável, como é, desbota imagens e ternuras.
Minha mãe fora criada por madrasta de quem não guardara boas recordações. Aprendera a ler praticamente sozinha, naqueles idos de educação limitada, naqueles idos em que o homem não tinha lá muitos compromissos com a formação – meu pai era guarda-livros, porém - e as mulheres menos ainda. Claro que em determinados segmentos sociais a educação era importante.
Talvez não tenha muito que contar, porque todas as mães têm aquele mesmo sentimento de amor, ainda que reservado.
Foi esse o caso dela. Sofrera demais pelo alcoolismo do meu pai – naqueles idos que alcoólatra era vadio -, houve períodos em que ela praticamente administrou a casa, entre choros e esperanças de que o marido viesse sóbrio naquela noite.
Se não viesse, sua angústia ia ao extremo, sua amargura de tantos e tantos dias, meses, anos...voltava e dava um nó na garganta mais uma vez. Dos soluços ao choro copioso.
Sua ansiedade incontida na iminência de comprar a casa onde morávamos – como relatei na crônica “Fragmentos Paternos”.
Nos bons momentos o amor estava presente.aquele sentimento de ternura revelada, sim, mas sem ser expansiva, só aparentemente distante pelos seus desgostos. Tudo isso me influenciou. Aliás, tudo isso me influenciou de um modo indelével.
Por essa ordem, eu também assim agi, de certo modo, com meus filhos e há os que reclamam.
Com minha mãe por perto tive toda a liberdade para brincar, andar descalço pelas ruas, andar de bicicleta, tomar chuva, jogar bola nos campos enlameados, fazendo química no meu “laboratório ideal”, cuidando do quati enquanto esteve aos nossos cuidados. Liberdade sem medo.
Fora ela muitas vezes chamada no colégio para ouvir recomendações e alertas da diretoria sobre minhas “aprontadas” e indisciplinas.
Mas, nada que a envergonhasse, nada.

Seus cuidados com as plantas, com os cachorros tão amorosos naquele quintal que continha além de videira num caramanchão que não dava uva, apenas uns cachinhos mirrados, também pé de tomate “japonês” e uvaia.
As bananas miúdas das bananeiras no fundo do quintal que ela convertia em bananada jamais imitada.
Que lembranças doces!
Quando mudei do ABC e ela também, com a viuvez, meus contatos, além de visitas periódicas, por anos a fio, foram aos domingos, pelo telefone.
Com o passar dos anos, ela percebeu que sua mente já não respondia ao que pretendia transmitir e isso a fez perder a vontade pela vida. Sabia tudo o que enfrentara. Pouco mais a frente deu-se seu passamento.


Uma mulher corajosa, bondosa, que faz parte da minha interioridade, da minha vida. Dona Cila.





Fotos:
(1) A avenca foi plantada por minha mãe e está conosco há cerca de 30 anos;
(2) Tempos sem registro na memória

01/05/2011

O QUE ESTOU VENDO NESTES TEMPOS DESREGRADOS

Sobre o que se passa em nossa volta neste planetinha cada vez menor já me posicionei muitas vezes.
Em pleno século XXI ainda não criou o homem juízo. Pensa em termos imediatos, promove guerras sem causa – salvo em nome do poder efêmero - destrói o planeta sem medir as consequências, ignorando o futuro dele e dos seus descendentes.
Já não bastassem semelhantes não tão semelhantes, assassinos e violadores (sociopatas criminosos)!
O predador é assim: tudo tem um valor econômico e esse valor se sobrepõe aos valores “espirituais” de uma floresta, ou de um riacho límpido. Estes não são mensuráveis. E lá se vão as margens devastadas que se deterioram nas cheias, afetando sua vazão.
Muito se devastou nos Estados Unidos. Milhares são as casas de madeira...
Entro numa igreja qualquer, aqui como lá ou na Europa e constato, no seu acabamento e nos milhares de bancos reservados aos fiéis quanto de florestas foi predada ao longo dos séculos.
Mas, é por aqui que ainda temos a grande floresta Amazônica que tal qual ação de formigas cortadeiras implacáveis vai sendo dizimada. É daquelas matas que se expande o fluxo da umidade pelo continente influenciando o próprio clima da Terra.
E o seu reservatório de água? Há os que se assustam com a conversa velada de sua internacionalização por conta da sobrevivência do planeta, num futuro. Essa revolução pode amadurecer à medida que aumentarem os desertos e se dê a escassez de água em regiões maiores.
Bem, é como somos irresponsáveis no cuidar desses recursos, como se fossem estrume de gado e não essenciais à vida!
Aumentam os desastres naturais não só aqui nestas terras mas no planeta e se fossem enxergados não como "causas naturais”, mas aquela questão de "causa e efeito", a mão do homem e sua insanidade inconsequente seriam identificadas na maioria dos casos.
Mas, quem nisso acredita?

Um poema, mesmo sem rima como é o caso desse abaixo, tem a virtude de permitir a inserção de simbolismos, numa medida importante – na denominada liberdade poética - embora possa exigir alguma reflexão do esforçado leitor. Chamarei de

TORMENTAS










Deparo-me inebriado
Na fronte da orquídea multicolor
Desligo-me do meu tempo
Do que me afronta o mundo,
Sinto elementos sutis, superiores
A contemplar – e contemplo!
Por um instante, uma fração
Sou sacudido por estampido
Há algo de tenebroso acontecido...
Volto-me para o alto – céu límpido
Não há tormentas anunciadas
Pássaros esvoaçam, me acalmam,
Cheiro de enxofre e dor se expandem no ar
Logo adormeço no pesadelo que vivo,
Deu-se a derribada da velha paineira


Florida e chorosa


Deu-se um tiro no peito do seu algoz
Que tomba no instante do estampido
No chão, no choro misturam-se sangue e resina
Mistura de dor e ódio!
O que mais terei que ver?
Nestes tempos dolorosos?
Serei um desiludido pessimista?
Ou um alienígena no meu tempo?
Não sei, volto-me para a orquídea
Linda, irradiando beijos
Tento esquecer o instante do mundo
Mas, ele está logo aqui, agora
Envolto na orquídea,
Envolto em mim!

24/04/2011

DA VAIDADE AO PÓ (Reflexões sobre a "terra prometida")


"E disse-lhe o Senhor. Esta é a terra de que jurei a Abraão, Isaque e Jacó, dizendo: A tua semente a darei: mostro-ta para a veres com os teus olhos, porém para lá não passarás.
Assim, morreu ali Moisés, servo do Senhor, na terra de Moabe, conforme ao dito do Senhor,
E o sepultou num vale, na terra de Moabe, defronte de Bete-Peor, e ninguém tem sabido até hoje a sua sepultura" (Deut. 34, 4,6)


Efetivamente, no que concerne a mim, não sou alguém religioso no sentido tradicional. Mas, por vezes, me assaltam algumas indagações.
Eis que, rodando ao acaso o controle remoto da televisão, assisti às cenas finais de um filme em que era encenada a morte de Moisés que, diante do comando de Deus, teria mesmo se irritado com Ele –“cruel” -, atitude que parece ser fantasiosa à luz do relato bíblico. A abertura destas reflexões narram o fim de Moisés, assim decidido por Deus porque ele "prevaricara", segundo a Bíblia.
Ocorreu-me, então, melhor refletir sobre essa passagem bíblica.
Com efeito, ao longo de nossa vida, deparamo-nos com pessoas especiais que fazem diferença no mundo, com tarefas exemplares realizadas em prol dos semelhantes, outras com idéias beneficamente influentes e que, por uma contingência qualquer ou naturalmente, morrem abruptamente.
Deixam inacabadas as grandes obras começadas ou permanecem indeléveis na memória de todos, por tudo o que fizeram ou que pensaram e transmitiram. Seu passamento gera, às vezes, grandes comoções coletivas. As pessoas de um modo geral, têm a sensação de perda, decorrendo daí aqueles comentários chavões, mas nem por isso insinceros: "o mundo ficou mais pobre com a morte de fulano"; "foi-se fulano, ficaram as obras". E assim por diante.
Cada um que, neste instante, se puser a pensar, encontrara alguém com esse qualificativo cujo passamento gerou alguma ou muita emoção.
E essas perdas de valores humanos, a obra inacabada que deixam, tornam "injusta" a morte, dolorosa, pranteada.
Mas, certamente, toda obra, por menor que seja, deixa alguma lição: o pai transmite ao filho lições de solidariedade, o filantropo por seus atos desprendidos de caridade, de resignação que um modesto servidor dá a cada dia na execução de seu trabalho mais humilde, pelas palavras de encorajamento que alguém proferiu para amenizar a angustia do amigo...
E apesar de tudo, muitas dessas pessoas que fazem diferença, acabam por não ver a "terra prometida" e desaparecem da vida como que por encanto e, a maioria delas, no pó, acaba sendo mesmo esquecida e "ninguém mais saberá de sua sepultura".
Que é conscientemente difícil aceitar esse "jogo da vida", não tenho a menor dúvida.
Mas, não teria a passagem bíblica relatando a morte de Moisés antes que pudesse adentrar à "terra prometida" também esse significado ? De que de nossas obras, grande ou pequenas, ficam as sementes para serem plantadas ou usufruídas num processo permanente de renovação, pelos nossos descendentes ou pelos nossos semelhantes para continuá-la ?
Moisés, que tanto fizera pelo seu povo, fora privado de adentrar à terra prometida, embora lhe fosse dado vê-la, "apenas" porque prevaricara perante Deus.
E isso com Moisés. Quanto a nós, qual o grau de prevaricação que temos perante Ele?
Eis porque, mesmo para as figuras humanas luminares de nossos dias e de todos os tempos, muitas não ficam para ver o resultado final de sua obra, isto é, não chegam até à "terra prometida", sequer a vêem, a virtual recompensa que poderia advir pelo esforço empreendido.
Talvez porque tudo por aqui seja "vaidade de vaidade".
Até para Moisés isso fora demonstrado, aparentemente por um capricho de Deus. Porque os exemplos e as obras ficam para a posteridade, tal qual sementes plantadas. E ao germinarem, não necessariamente será identificado ou lembrado o semeador.

Uma contradição que constatei? Sintetizada nestas linhas extraídas de poema:

"Da mais humilde à mais soberba criatura
A vaidade impulsiona o mundo, porém
Mas, no fim, nada restará senão o pó, o além...”



Foto: A “mão de Deus” sobre a cidade minúscula, “ameaçada” (ou protegida?) pela tormenta que chega (Foto de Milton Pimentel Martins – v. Galeria Mirtão no Flickr)

17/04/2011

"SERMÃO DA MONTANHA", fragmentos ”históricos” que ficam

De um modo geral todos na sua caminhada nesta estrada que não se divisa o fim, têm algo que contar. Muitos são os que não contam o que implica na perda de uma experiência, de um fragmento histórico, de uma inspiração poética.
O tema desta crônica é real e se afasta daquele sentido tépido, ameno de outras que damos às nossas experiências e as experiências tidas com tipos humanos diversos com que cruzamos ao longo da vida.

Não! Não foi nada ameno e vivido num período de muita tensão e incerteza. Esta passagem já contei muitas vezes, mas tenho aproveitado este Temas - nem sempre sustentado com o ânimo que pareço demonstrar -, para reunir todas essas experiências. São os meus fragmentos históricos.
Para mim o relato abaixo foi emocionante e, como tal, inesquecível, até porque nessa quadra da vida política brasileira, desenhavam-se novos rumos.


Foi assim...
...na greve de 1980 no ABC. Aquela que durou 41 dias e que para sua deflagração, não houve a ação de piquetes.

Trabalhava numa multinacional, em Santo André. Lá pelo 15° dia de paralisação, o ócio do dia-a-dia sem trabalho, sem solução, incentivou que as empresas tomassem algumas medidas para tentar, o quanto possível, esvaziar a greve e trazer os empregados de volta à linha de produção. (1)

Foi decidido, então, "chamar os empregados à responsabilidade", através de uma circular redigida por mim a mando da diretoria, remetida a todos eles, nos respectivos endereços residenciais. Essa circular foi redigida até com termos ríspidos, lembrando, no final que, para continuar garantindo o emprego e o sustento dos empregados e famílias, era necessário que voltassem imediatamente ao trabalho.

Devo acentuar que era chamado para reuniões em São Bernardo do Campo, onde se situava a matriz da empresa (Chrysler) de regra sempre que havia necessidade de redigir alguma circular aos empregados. Isolava-me numa sala e de lá saía o que interessava à empresa dizer.

A reação à carta fora praticamente nula. Até o 25° dia, a greve manteve-se com altos índices de paralisação.


Numa tarde monótona, porém, quente, sufocante e sonolenta, poluída pela atividade de fábricas vizinhas, indústrias químicas, de pneus e a Refinaria de Capuava, dois veteranos empregados da fábrica, pertencentes ao setor de fundição, exatamente o mais sacrificado de todos, pela emanação de poeiras, gases e calor intenso, entraram cautelosos pelo portão principal da fábrica. No pátio, próximo da entrada para a área administrativa, fui chamado. Ambos portavam a carta que, com firmeza, nervosos, repudiaram:

- Não podemos aceitar os dizeres desta carta. Nós estamos aqui trabalhando há mais de 15 anos e eu (o interlocutor mais velho, negro alto e magro, envelhecido pelo trabalho pesado naquele ambiente insalubre) fundi os primeiros blocos do motor de exportação para o México. O que é que o senhor espera que façamos ? Que nós "fiquemos heróis" com tantos colegas lá fora esperando, torcendo para que essa greve acabe logo? Que "nós seja" desrespeitados por eles como traidores, fura greve ?
Que nossas famílias sejam ameaçadas pelos outros grevistas dos barracos vizinhos? O senhor pensa que estamos calmos em casa?

Perplexo, nada pude responder, tal o peso moral das palavras, do sermão que acabara de ouvir.

Enquanto se retiravam dignos e corretos, não pude externar, um pouco por vergonha, outro pouco para não deixar interpretar que a atitude fosse demagógica, minha emoção, meu respeito pelos profissionais simples que, com poucas palavras, pronunciadas corretamente, me passaram, para o momento, um verdadeiro "sermão da montanha", sem saberem que a carta fora redigida por mim. E lá foram eles cheios de dignidade.

"Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mateus 5.3)".

Referências

(1) Sobre a greve de 1978 ("Greve de 1978: início de tudo" de 11.05.2010), tenho um artigo indigesto que pode ser lido no portal www.votebrasil.com e no blog martins.milton2.blogspot.com

Foto da fábrica da Pirelli, em Santo André, então vizinha da fábrica da Chrysler, cuja área foi convertida há anos numa loja Carrefour. A empresa de pneus tem politica de preservação ambiental.

10/04/2011

O QUE TENHO QUE VER AINDA?



Volto-me quieto, um nó na garganta por toda aquela calamidade assassina que se deu na escola no bairro do Realengo, no Rio de Janeiro
Tenho me queixado muito das coisas tresloucadas que tenho visto nos últimos tempos: tragédias ambientais como aquela que se deu, não faz muito, no próprio Rio de Janeiro, a predação ambiental produzida ou incentivada por desmiolados que não pensam no futuro, nas próximas gerações, o desrespeito aos animais, brutalizados e os que perdem seu habitat, ao tsunamis devastadores e mais frequentes, à crueldade que grassa pelo mundo especialmente pelas guerras sem causa.
Tudo bem que há um outro lado da moeda, aquele que mostra um sentido de ternura que ainda tempera este mundo em desespero.

Com efeito, neste meu canto, meu escritório aqui de casa que já tantas vezes me referi, me consolei por alguns instantes desses traumas que me ferem ao ver uma quantidade de passarinhos, saltitantes no zinco do muro, irradiando aquele sonzinho, em busca de nacos de mamão e bananas ali postos para eles.

A graça e a inspiração que infelizmente não posso tocar, o que seria um consolo físico maravilhoso, porque sua desconfiança natural não permite. “O homem vem aí...”

Há um fantasma que não tem medo da luz do dia: minha cachorrinha preta, já morta, que está por aqui, transmitindo amor a seu modo.
Não há o que temer.

Indago-me, então, nesse mesmo instante aquela seleção do tresloucado, dito doente mental, mas com discernimento suficiente para fazer sua seleção macabra de quem viveria e quem não viveria.
- Fique tranquilo, disse a um menino apavorado, não vou matar você!
E em seguida:
- Vocês fiquem de costas que vou matar todos!
Foram somente as mãos do tresloucado que acionaram as armas?
“Onde estava Deus?”
Como isso foi possível?

Do alto de tantos anos, rememorando tantos eventos dolorosos, constato que, por uma série de razões, essas tragédias crescem de modo assustador e já fazem parte de nosso dia-a-dia. Como nunca.

Atento ao esvoaçar dos passarinhos – não há jeito – volto-me para os meus tempos distantes sem medo. Liberdade sem medo.
O meu passado está comigo. Dele não sou refém, porém.

O presente é incerto.
Se só o presente existe
O que faço com o ontem?
Dele tudo bate no peito
Na alma que se questiona
O que faço se o passado insiste?

No silêncio daqueles instantes
Eclode o sentimento da graça
De amor, tristeza e calma
Se o agora é o que conta
Porque a vida plena está presente

É no passado que ela ensina
E no passado que ela inspira,
Porém.



Acho graça de alguns percalços. Num domingo como este de sol ameno, chuva à tarde, já lá se vão tantos anos, na minha vontade de parecer intelectual, andava pelas ruas de São Caetano do Sul, empunhando um Estadão de “5 mil páginas”, lendo artigos de fundo, contando que as meninas que rumavam para a missa das 10h40 na matriz, me vissem e se impressionassem.
Até o momento em que taquei a testa num tapume na calçada coberto pelo jornal que lia e, de regra, pouco entendia. Acordei dos desvairamentos. Olhei para todos os lados para descobrir alguém que tivesse visto a testada para mais me envergonhar.
Mas, não, não havia. Embrulhei o jornalão debaixo do braço e sai de mansinho.
Destes momentos, neste presente, nessa sucessão de segundos, não há tapume para trombar e me acordar de um delírio.

Aliás, não há delírios nestes tempo, de muita dor e desconsolo.
O que tenho que ver ainda?


Foto 1: http://passaregua.blogspot.com

Tucano na cidade
Parece que, por destruição do seu habitat natural, aves raras estão se aproximando das cidades. Este tucano foi filmado em Piracicaba, num bairro próximo do centro (imagens de Silvio P. Martins)

03/04/2011

ALUCINAÇÕES, SONHOS (?)

Vejo-me dentro do carro - às vezes não é um carro -, eu o deixo estacionado num local absolutamente inóspito: ladeiras íngremes, barrancos ameaçadores, passagens estreitas infestadas por água imunda.

Parece que estou nas alturas. Essa sensação me atormenta porque sou um pouco acrofóbico. Bem pouco. Há situações em que me intranquilizo olhando para baixo lá do alto.

- Se fosse assim, você teria dificuldades do avião, me disse alguém. Vá lá!
Equilibro-me naquelas tábuas, passando por sobre poças e poços. Aquela sensação de mundo perdido, sem verde, sem nada, caos.
Quero voltar e sair dali. Mas onde deixei o carro. Desapareceu.
Outra daquelas alucinações?
Pois um dia havia estacionado o carro numa rua movimentada e fui resolver alguma coisa.
Quando voltei, o carro havia desaparecido. Roubado?
Ameaço ligar para casa para virem me buscar e ir à delegacia registrar a ocorrência.
Entro no meio ovo do orelhão e de relance vejo o carro de volta dois passos à frente tão branco como sempre. Eu o ofendo:
- Por onde você andou seu energúmeno.
A resposta foram sons sutis de gargalhadas. Duendes que me perseguem. Somem coisas na minha frente e viro para um lado desesperado a procura e lá estão elas a menos de um palmo do nariz, na minha frente.
Ou os documentos importantes que sumiram de repente e foram achados no arquivo, em busca exaustiva numa pasta que há anos não mexia.
Não encontro o carro naquela imensidão depredada, sem vida por onde caminho e flutuo.
Volto me equilibrando pelas tábuas, pinguelas, ainda com a sensação do que estou no alto. Me equilibro.
Um grito surdo:
- Socorro.
Volto-me e chego à beira de um fosso cheio de água suja. Meto a mão naquela fossa na altura do meu antebraço e agarro a mão de alguém.
Puxo-o.
O salvado sai com facilidade, está vivo. Começa a devolver a água imunda que bebeu no pré-afogamento. Digo-lhe:
- É isso mesmo, vomite essa água suja que lhe fará bem.
Olho para os lados e só vejo devastação, barrancos. Não sei mais do afogado que puxei. Não sei o caminho de volta, o carro.
Numa fração, estou de volta. Piso no chão duro. O carro está no lugar de sempre me esperando para o trabalho dali a pouco.
Olho-me no espelho com a cara deslavada, com a sensação ainda da minha mão na água suja puxando o afogado e confesso:
- Cara você não sonha é um alucinado mesmo dormindo.
Saio logo depois para o cotidiano “real”. (*)




Noite de breu

Viajo na noite de breu. Não sei bem como cheguei até ali e onde estou. Noite de breu. Acho que estou onde tenho minhas raízes. Nada enxergo, mas pergunto para alguém que não vejo. Aqui é a rua ...? A resposta não veio sonora, mas fui informado por algum modo que era. Mas, a rua era muito acidentada não poderia ser. Nem nos meus tempos de menino que guiava barquinhos de papel pelas guias quando era ainda de terra.
Os barrancos são altos, dava para perceber naquelas trevas. Paro na frente de uma velha casa mal conservada:
- Aqui mora minha tia M.?
Não obtive resposta, mas entrei. Algumas crianças crescidinhas sentaram perto de mim e alguns moços que também lá estavam  me olhavam com condescendência.
Um deles de óculos:
- Nós fizemos alguns negócios, você se lembra?
Não, não me lembrava.
Minha tia aparece vestida com um vestido longo, simples, de cor levemente rosada.
Se aproxima, me beija o rosto e desaparece.
Acordei.
Há anos que minha tia falecera.
Essas sensações além de me deixarem perplexo, me reconfortam.
Tento pensar na casa velha. Não importa, nela moravam seres cordiais e amáveis.



Trailer da passagem...

Você teria coragem de relatar tais terrores?

Pois vou relatar.

Foi assim.

Lá pelas 22h00 horas, no meu escritório de casa, lia as últimas crônicas de Monteiro Lobato na obra “A Onda Verde" (na mesma edição “O Presidente Negro” do qual fiz breve resenha na crônica “Dos livros que não consegui ler - ainda. E os já lidos” de 17.10.2010, neste “Temas”).

A capa é ilustrada pela efígie do autor.


O sono não tinha batido a ponto de me fazer “perder os sentidos”.

Então, como se alguém me ordenasse:

“- Olhe para minha efígie de novo”

Fiz isso e dai para frente não sei o que aconteceu.

Vi-me nalgum lugar sem janela e porta e comecei a gritar:

- Quero acordar, quero minha vida...

Fazia um esforço que imaginava consciente para acordar e sair daquele lugar.

De repente, como todos os sonhos, me achei acordado, ao lado de pessoas desconhecidas subindo degraus daquele que parecia o antigo sobrado onde morara em outra cidade, dirigindo-me ao quarto dos meus filhos, portas fechadas.

Nesse instante acordei do lado de cá do mesmo modo como adormecera: sem sobressaltos.

Tivera, talvez pela minha idade, experiência da perda de rumo quando da passagem para o outro lado... definitivamente.

Um trailer da passagem. Sem volta?



Imagens


(1) "Spiritual Repose", de Max Ernest
(2) "A grande convulsão" de Henry de Groux
(Fonte: http://casoual.wordpress.com)

Livro de Monteiro Lobato:
"Onda Verde" - Edição de 1961 - Editora Brasiliense

(*) V. "Terrores e Tremores" de 06.06.2010

27/03/2011

O MEU TEMPO DO ONÇA

TEMPO DO ONÇA: Essa frase foi cunhada a partir do modo de atuar do governador do Rio de Janeiro, capitão Luís Vahia Monteiro, que o governou de 1725 a 1732. Os relatos dão conta que era varão honestíssimo, exigindo o cumprimento rigoroso das leis. Seu apelido era Onça. Numa carta que escreveu ao rei Dom João VI, o governador chegou a declarar que "Nesta terra todos roubam, só eu não roubo". A frase é mesmo do “tempo do Onça” se considerarmos por aqui, como hoje e há muito age a classe política.
Rigoroso sem olhar hierarquia e interesses influentes obteve forte oposição sendo deposto pela câmara dos vereadores em 1732.
Há uma outra versão, mas me parece que essa é a verdadeira.



Saio da escola, não me adapto de modo nenhum à caneta com pena dura, troquei várias e sempre há borrões, diferenças nos garranchos entre o excesso de tinta e pouca tinta. Insiro de novo no potinho cheio da carteira e a mesma coisa.
Mas, dia desses eu achei uma Parker 21, caneta tinteiro famosa carregada com a tinta Parker Quinck. Uma evolução. Somente depois é que teria uma Parker 51, o suprassumo.
Mas, antes, apareceram as esferográficas, canetas pequenas, muito ruins, que liberavam tinta no papel e nos dedos. Por isso, eram rejeitadas e descartadas. Não teriam futuro...
À tarde dava uma chegada no bar do “seo” Pedro para assistir um pouco de televisão, torcendo para que exibisse desenhos do pica-pau ou qualquer outro. No fundo do bar, algumas cadeiras arrumadinhas, voltadas para a televisão. Quem quisesse, sempre que ligada – e não era muito – poderia se assentar por ali e passar o tempo vendo aqueles primórdios da televisão Tupi.
Aparelho grosso, preto e branco repleto de válvulas que demoravam a esquentar e trazer a imagem. Cinco minutos.
Muitas manhãs, quando possível, e à tarde, a molecada entrava por quase um caminho beirando a estrada de ferro e mais à frente, havia uma passagem que dava acesso para uma das principais vias da cidade. Ficávamos por ali vendo os trens se aproximarem como se fosse monstros até que alguém teve a idéia de colocar moedas sobre os trilhos e esperar o resultado. O trem passava a toda e as moedas saiam lisas. Algumas mais arrumadinhas viravam chaveiros.
Não contente em ficar por ali, naquele meio perigo, uma manhã avançamos nos rumos dos trilhos e chegamos mais próximo da estação. Os seguranças apitaram e vieram com tudo. Corri feito doido e pulei o alambrado e escapei. Na descida da cerca, minha camisa enroscou naqueles ganchos e virou trapo. Como explicar em casa. Camisa esfarrapada, desculpa esfarrapada.
Os outros moleques foram “detidos” e levaram um sermão daqueles porque era realmente uma área perigosa.
A minha sensação de êxito ao tomar o trem na estação de São Caetano e descer na estação da Luz e pagar o aluguel na rua Florêncio de Abreu e breve exploração do Jardim da Luz, então arrumadinho.
A sorte de não ter ingressado na Escola Vocacional de uma grande empresa de bebidas, depois de seis meses de curso pré-admissão. O alívio veio mais tarde ao descobrir outras alternativas de vida.
Não demoraria muito e fui trabalhar numa multinacional no Ipiranga, do ramo automobilístico de “faz tudo”, boysão que era.
Espalhadas pelas mesas as calculadoras “facit” de última geração, as máquinas de escrever modernas da mesma marca eram para mim um mundo novo.
Comunicações com a matriz na Europa a maior parte das vezes por telegrama, porque só havia uma linha telefônica, da antiga e inoperante CTB.
Depois os telex.
As cópias eram extraídas nas velhas heliográficas cuja matéria prima era amoníaco e a matriz papel vegetal.
As circulares em mimeógrafo predominantemente a álcool, com a matriz datilografada num carbono no verso da página.
















E finalmente, para cópias de documentos havia a famosa thermofax que utilizava papel próprio, tipo fax de hoje (que também já está saindo de moda) de cor de abóbora numa das faces e ali era impresso o documento copiado.
A máquina de fotocópia exigia local a meia luz e demorava vários minutos por documento.
Tempo do onça.

Sou do tempo das máquinas de escrever capengas. Sempre apanhei delas. Quando advoguei em Santo André, já não tão do onça assim, mau datilógrafo, com muito cuidado ia datilografando petições com várias cópias em carbono. Erro grave no meio da página, tudo haveria que ser recomeçado. Muitos socos dei na minha máquina de escrever inocente.
Quando me aproximei dos computadores – após a quebra da reserva de mercado porque com essa política, os computadores eram gracinhas (microdigital e outros) - quantos textos perdi, por falta de memória da máquina ou toque numa tecla errada. Por isso, anotava num papel qual a utilidade de cada uma.
Tempo do onça
Hoje com o “pen drive” e o celular o escritório está onde esteja um computador que possa ser conectado.
Cada vez com maior rapidez o tempo avança e o tempo continua sendo o do onça. Amanhã de manhã porque as tardes são mais curtas.
Fotos
(1) Rua Florêncio de Abreu, década de 50. Fonte: Blog "São Paulo antiga".
(2) Modelo de “thermofax” do tempo do onça. Veja a moda da secretaria...
(3) Apanhando da máquina de escrever

20/03/2011

MISTURA FINA: a palavra "tsunami”, a Lua, “Os Sertões”, “frase caipiracicabana”

A palavra “tsunami”

Quando se deu a tragédia na Ásia em 2004, a palavra mais utilizada nos meios de comunicação foi “tsunami”, de origem japonesa.
Por que não maremoto?
Meio incomodado pelo seu uso comum de novo com a tragédia no Japão, num momento dado, me deparei com a coleção “Enciclopédia Exitus de Ciência e Tecnologia” e avancei para conhecer nela o significado mais pormenorizado de “maremoto”
Não há nada de novo neste mundo, salvo o que for descoberto!
Vejam a definição de maremoto nessa enciclopédia - edição de 1981:

"Agitação violenta das ondas do mar, ou do oceano, em consequência de movimentos sísmicos que ocorrem na crosta suboceânica . As ondas agitadas por essa causa podem atingir grande altura e grande velocidade (cerca de 700km/hora), e, como consequência, podem adquirir enorme ação destruidora.
Quando os maremotos ocorrem à pequena distância do litoral, os vagalhões, com mais de 20m de altura e mais de 1km de extensão, investem violentamente contra a faixa costeira, destruindo tudo o que encontram em seu caminho. Nesse sentido, são dignas de registro as ondas de extraordinária extensão e de formidável energia destruidora que ocorrem na faixa ocidental do Oceano Pacífico, e que assolam o litoral da Ásia, particularmente do Japão. Estas ondas têm o nome japonês, porém internacionalmente adotada, de tsunamis (de tsu, porto, e nami, onda e mar)."


Eis aí os tsunamis mencionados na definição de maremoto. Termo internacionalmente adotado! Revelação numa publicação de 1981! Ignorante é o que ignora...

Lua cheia e luar

Hoje, sábado, espero ver a Lua no seu perigeu – o ponto em que o astro mais se aproxima da Terra – ou a apenas 356, 5 mil quilômetros. Vi pouco, entre nuvens.
Este é também um espaço de poesia
Neste meu canto que serve para tudo, para escritório, para reflexão, ouvir à noite resmungos fantasmagóricos de minha cadelinha já morta na janela, sou sempre instado a me voltar para a Lua quando presente lá encima.
Tenho para mim que se trata ela de prova presente do universo infinito ao alcance dos olhos, sem necessidade de telescópio. Ora, mas e o Sol? Ele brilha tanto que não pode ser encarado olho no olho, salvo em alguns momentos do dia com muita restrição. Já a Lua não, a Lua pertence à noite e reflete com serenidade a luz do Sol.
Aliás, seleno, palavra que se refere às coisas da Lua (“Selene”, em grego significa Lua), tem muito a ver com sereno, aquele estágio interior nosso que se refere à paz e à tranquilidade.
A noite pode significar a paz e induzir à reflexão, ao amor presente, à angustia de sua perda, lembranças que não se apagam.

Desperta-me ó luz prateada
Brilho tépido, candente, o luar
Obriga-me a desfrutar do seu momento
Da graça, do amor e da nostalgia
Convida-me a olhar para fora do que sou
Indago assim inspirado o que há além
Sua luz não esconde os piscares infinitos
Da Terra aprisionado o bastante
O peso do meu tempo, bem sei, não permite,
Tocar na sua fronte, tão perto e tão distante.


Os Sertões de Euclides

Devagar comecei a ler “Os Sertões” de Euclides da Cunha, a partir do capítulo “O Homem”. Antes tarde do que nunca.
Mas, depois dessa parte, voltarei para o capítulo “A Terra”.
Estou gostando muito.
O grande escritor nessa sua obra imortal, faz revelações surpreendentes.
Entre muitos episódios descritos com sua precisão reverenciada, ele destaca a influência paulista naqueles sertões norte-nordestinos bravios, descrevendo os horrores da seca já então.
Curioso que num tópico, sob o título “Os jagunços: colaterais prováveis dos paulistas”, informa que os desbravadores deste Estado migraram àqueles “rincões longínquos”, formando colônias numerosas desde o século XVIII.
De que não são culpados os paulistas? Até dos jagunços que seriam seus parentes próximos, descendentes.
Quando concluída a leitura, voltarei até para refazer o texto sobre “Os Sertões” numa crônica que denominei “Dos livros que não consegui (ainda?) ler” de 17.10.2010 neste Temas.
O texto abaixo foi extraído de antiga crônica que escrevi, citando trecho do livros de Euclides da Cunha (A Terra), referindo-se sobre as técnicas dos “fazedores de desertos”:

"Esquecemo-nos, todavia, de um agente geológico notável – o homem. Este, de fato, não raro reage brutalmente sobre a terra e entre nós, nomeadamente assumiu, em todo o decorrer da história, o papel de um terrível fazedor de desertos. Começou isto por um desastroso legado indígena. Na agricultura primitiva dos silvícolas era instrumento fundamental – o fogo"
A citação acima, refere-se aos desertos provocados na região do nordeste com as queimadas praticadas de modo desastroso que, ao longo do tempo, foram devastando imensas áreas de "flora estupenda".
Não foi ela extraída de algum manual de entidade ecológica, entre tantas nacionais e internacionais que criticam a omissão brasileira na questão das queimadas havidas na floresta amazônica. Ela é de autoria de ninguém menos que Euclides da Cunha, ao estudar "a terra" em seu livro "Os Sertões", cuja primeira edição apareceu em 1902.
Esse consagrado autor, já então no início do século, demonstrando certa perplexidade e amargura, apontava o absurdo das queimadas para abrir espaços para a atividade pastoril ou "ao mesmo tempo o sertanista ganancioso e bravo, em busca do silvícola e do ouro".


Frase caipiracicaba pura

(Ouvida no trajeto Piracicaba – SP num ônibus da “Piracicabana”):
Duas mulheres falando e falando muito em caipiracicabano carregado. Uma delas: “Noi precisa levá os travisseiro porque doi a costa”.
Só digo que mesmo com "liberdade poética", doeu forte nos ouvidos. Eta nois.

"OS SERTÕES" de Euclides da Cunha: Comentários sobre esse livro clássico serão encontrados na crônica "Dos livros que não consegui ler (ainda)...e os já lidos" de 17.10.2010.


Fotos / Imagens

A figura foi extraída do livro "Os Sertões" edição de 1952 da Livraria Francisco Alves. Autor: Ib Andersen;

As fotos e a figura, foram obtidas via Google.

13/03/2011

“POEMAS”, para não dizer que não falei... (III)

Dia 14 de março é o “dia da poesia”. Divulgo mais algumas escritas ao longo do tempo. Perdoem-me poetas.
Já expliquei que não são inéditos já os tendo divulgados em crônicas minhas.
A que mais gosto é “Etéreos”.

ETÉREOS








Nessa de desânimo
apatia
Não sei o porquê
de tal melancolia
(ou nostalgia?)
Desmedida

Sei não!
Cadê a Inspiração
os elementos Etéreos?
Clamo, pois, só, no (meu) deserto
Respostas não vêm
Ilusões não há (mais).

Miro margaridas murchas
(bem-me-quer, bem-me-quer!)
Que se preparam para semente
Sinto o sol...
mas não me aqueço.
Num momento, surpreso
confuso
Sinto o Etéreo, porém.

Uma manchinha azul
No éter
Vindo, chegando, esvoaçando!

Ora, uma simples...
Borboleta...azul!

Ela dança nos meus olhos
Solene, encantada, frágil
magnífica, rebrilhante...
E pousa, então...
na margarida
a mais desfeita
na gema amarela.
(apenas três pétalas ressequidas)

Apreendi logo
o valor da escolha...
Da borboleta azul
Etérea
tão tênue
tão efêmera
Bem vinda...

Porque na margarida
murcha
na gema
Ela sentiu a vida
(ainda)

Assim falava ela
a borboleta azul
Etérea
na minha nostalgia
(ou melancolia?)
Naquele dia...


CONTRADIÇÃO E SILÊNCIO

A vida caminha pra frente
Sucedendo-se o dia-a-dia feliz ou triste,
Não há sequer uma garantia
Nessa sequência de luta sem nexo (ou sadia ?)
Sinto que há nesse vai-e-vem
Valores interiores, superiores, sutis.
Como descobrir o que exprimem
Se os embates da luta me reprimem ?
Parece que essa luta sadia (ou doentia ?)
Não começa no sexo e termina na morte:
Há mensagens fortes nessa contradição
Que só a Alma silenciosa possibilita audição".




ENTARDECERES


Chega a pouco o entardecer
Já chegara a hora da “ave-maria”
Já escapam os morcegos dos ninhos
Ouço no éter o som dos sinos
Na mesma hora da meditação,
Pássaros inocentes se abrigam
Seja sob o sol que se esconde
Ou sob as bênçãos da chuva
Neste instante, a paz, haveria,
Mas, encho-me de angústias e dúvidas
Por que a tudo perseguir?
Onde se perderam os ideais?
Surpreendo-me, por avançar nas coisas da vida
Pela constância dos entardeceres que vão
Nada igual aos de ontem, mas iguais
Há um sentido de perda e emoção
Que me faz no silêncio soluçar,
Incompreendo essa ânsia do quase choro
Alerta-me sempre tênue chama do fundo d’alma
Que esses entardeceres com hora marcada
Tal qual imagens que me vejo no espelho
Se sucedem, não voltam e, aos poucos, fenecem.



Fotos/Imagens: Google
Flor Sempre-Viva