03/01/2011

SETE PECADOS CAPITAIS / AVAREZA

(Sobre a origem dos 'sete pecados capitais' voltar para a crônica anterior "a gula") Do alto de tantos anos, não me deparei com a avareza na acepção da palavra. Neste sentido exato: “apego demasiado e sórdido ao dinheiro; desejo imoderado de adquirir e acumular riquezas.” Talvez porque nunca me relacionei com a riqueza média e soberba. Fortes tendências vi ao longo do exercício de minha profissão que essencialmente trata de direitos sobre patrimônio e valores. Não sei até que ponto essa riqueza imensa se apropriou de meios da sociedade de modo não honesto. Dá para desconfiar O que me ocorre, neste País e que caracteriza a avareza, se dá no meio político e em alguns setores sociais, a corrupção desregrada que se apropria por todos os meios e engenhos de recursos públicos. E o pior: esses facínoras de gravata não se contentam com pouco. Saciam-se apenas com valores vultosos, a ponto de tirar da boca de crianças carentes, sua merenda ou diminuir recursos da saúde, educação e saneamento aos mais necessitados. Inclui-se, mas num nível marginal na acepção do termo, o trânsito das drogas e para que tal se dê, com a liberdade que até agora ocorre, claro que há imensa rede de corrupção que se beneficia do vicio e da destruição psíquica e moral do viciado e família. A preço do vil metal. E o pior é que esses desonestos e marginais se julgam imortais tal a quantidade de abusos que praticam. Como se todos os seus crimes e lucros que deles provém serão usufruídos sem limites, quando na verdade nada sobrará da herança quando da consecução da mortalidade. Diria que esse quadro faz parte da natureza humana, neste mundo desigual, que estimula certas personalidades à experiência e ao aprendizado, mesmo que vivendo num estágio ainda abaixo da intuição média, o que não evita a delinquência, o roubo e o assassínio. Temos que conviver com essa horda, ajudar no que possível com exemplos aos que beiram a criminalidade na tentativa de alertar sua censura (consciência) ou a combater e mesmo punir como penitência. Tudo parece óbvio. Há notícias esparsas que vêm se repetindo aqui e acolá de atos de caridade praticada por muitos indivíduos extremamente ricos, o que seria uma antítese da avareza. Esses surpreendentes caridosos e filantropos têm por princípio devolver à sociedade pelo menos parte do que ela os possibilitou amealhar aos montes. São exemplos a serem enaltecidos porque sacodem a sociedade, espécie de dedo em riste condenando aqueles que abusam e mantém tudo o que amealharam no cofrinho forte da corrupção que tem tudo a ver com a avareza. E àqueles insensíveis que moram em imensas redomas virando o rosto para as carências muitas nas suas vizinhanças e que poderiam minimizar. Sim, a avareza está presente de muitas formas no nosso dia-a-dia. Mas, como disse, nunca frequentei essa roda de vícios que de uma maneira ou outra a qualificam. (1)

 (1) Sempre resisto em explanar neste espaço, temas de natureza política, mas resolvi, pelo enunciado do tema, avançar um pouco nessa linha. Os que se interessarem, inclusive com a prática de caridade por brasileiros, remeto ao meu artigo “A caridade como solução” de 05.07.2009 no portal www.votebrasil.com ou no blog, http://martinsmilton2.blogspot.com/ (Nesses portais, prevalecem, então, temas políticos e ambientais.)

26/12/2010

SETE PECADOS CAPITAIS / GULA

Introdução Este é um espaço livre que se presta a qualquer tema a que me sinta bem em explanar ainda que sem muita propriedade, conhecimento. É um modo de instigar ocasionais leitores em me corrigir ou criticar. Não receio nem um nem outro modo de abordagem Sempre me empolgaram os “sete pecados capitais”. A origem deles remonta àqueles primórdios do cristianismo por obra do papa Gregório Magno (540-604), no final do século VI. Anteriormente, já fora esboçado pelo teólogo e monge cristão João Cassiano, nascido no hoje território da Romênia (370-435). (1) Gregório Magno teria se inspirado também na “1ª Ep. de Paulo aos Coríntios” (versículo 13) que trata da “suprema excelência da caridade” mas ao praticá-la há a rejeição a vícios do homem. Seria de Gregório Magno esta frase: "A bíblia é um espelho que reflete a nossa mente. Nela vemos nossa face interior. Das escrituras aprendemos nossas belezas e deformidades espirituais. E ali também descobrimos o progresso que estamos fazendo, e quão longe estamos da perfeição." Os sete pecados capitais foram acolhidos por Santo Thomaz de Aquino (nascido em 1225 - vivendo apenas 49 anos) sendo introduzido nos ensinamentos cristãos.(2)  Com tanta erudição e influências dos religiosos mencionados não tenho a pretensão – claro que até por falta de mínima erudição – de tecer meditações profundas sobre o tema, pelo que nem quero repetir conceitos religiosos básicos consagrados de cada um dos sete pecados, que são: orgulho – soberba; inveja; cólera, preguiça; avareza; gula e luxúria.

  A gula Sem qualquer compromisso de explanar sobre os demais pecados, começarei com a “gula” porque se trata, a “arte” de comer, do nosso dia-a-dia, indispensável e prazerosa. Já se disse que todos os prazeres mundanos são efêmeros, isto é, eles resistem pouco: uma viagem tão ansiada se perde num maço de fotografias que com o tempo vão sendo esquecidas, o sono recompõe as forças, mas no fim do outro dia ele haverá que ser renovado. Mas, e o comer? Talvez seja, para os que desfrutem de relativa fartura um daqueles prazeres que deixam marca, a marca da gula. As refeições não se limitam no dia-a-dia, elas podem se repetir com diferentes quitutes, várias vezes: um café reforçado, cheio de pães, presuntos, biscoitos e compotas, pouco depois, no almoço regado a frituras, carnes assadas, legumes na manteiga ou margarina, cervejas ou refrigerantes, doces amanteigados, saladas e quem sabe, frutas na sobremesa se não for sorvete. À tarde para não perder a oportunidade, um café com bolo e, à noite, para comemorar qualquer coisa, uma massa bem feita ou mesmo pizzas “temperadas” com vinho. No fim de semana, inevitável comparecimento à churrascaria para se deliciar de nacos de picanha suculentos e gordurosos e outros do rodízio - colesterol "in natura" -, chopes, várias canecas... (*) A marca da gula esta na barriga e na sua circunferência. A balança silenciosa revela que antes registrara 80 quilos e agora mais de 90 quilos... A barriga é notória, pontuda, não dá para esconder mais. Por causa dela, o manequim sobe dois números ou mais. - Puxa fulano, você engordou. O pasto é bom, hem. Você consegue amarrar os sapatos? Gozação sutil. Que vergonha! Faz o teste de amarrar os sapatos. A barriga vai antes e suprime parte da respiração e dificulta o movimento. Amarrados os sapatos, parece ter havido um teste de fôlego, a respiração volta dificultosa. - Meu Deus, preciso emagrecer! O consolo é examinar as barrigas maiores e constatar que há ainda muito que avançar até alcançar aquele estágio de 120 quilos. E os americanos comendo hambúrgueres, fritas e refrigerantes todos os dias? Milhares caminham imitando hipopótamos. - Meu Deus, preciso emagrecer! No supermercado tem início a tentativa: - Quero muçarela magra, de búfala. - Mas, não tem gosto essa muçarela, observa o atendente atrevido. Mostra a barriga pontuda. - Preciso começar um regime E ele observa, encarando a barriga saliente: - Mas, o senhor foi feliz, comeu do melhor. Saboreou. Levou muçarela de búfala. Mas, as massas da noite anulariam as calorias economizadas com a muçarela de búfala. É isso aí, são sete os pecados capitais. Mas é a barriga que denuncia a gula, o guloso, o pecado - Começo o regime no ano novo. Já há uns dez anos que tento, desta vez vai. Será que contraio anorexia? Ai, ai, ai... 

Referências 
 (1) “Cassiano - bem poderia ser escolhido o padroeiro dos jornalistas - é o homem que, em torno do ano 400, percorreu os desertos do Oriente para recolher - em "reportagens" e entrevistas - as experiências radicais vividas pelos primeiros monges; já o papa Gregório (não por acaso cognominado Magno), cuja morte em 604 marca o fim do período patrístico, é um dos maiores gênios da pastoral de todos os tempos. (Jean Lauand - Prof. Titular FEUSP - IJI – Univ. do Porto.

(2) “São Tomas de Aquino e os pecados capitais”)

(*) “Gula” trata-se de crônica. Preciso esclarecer que não me alimento de carnes. Uma luta difícil pró-vegetarianismo. Agora, a barriga... 

 Imagem: "Hagar, o horrível" e "Helga" personagens criadas por Dick Browne. Direitos autorais: "King Features Syndicate".

20/12/2010

REGRESSÃO (III): CARROCINHAS

MEMÓRIA: UM BRINQUEDO INESPERADO. UMA SURPRESA

Vou retornar no tempo, há muito tempo.

Eu ainda morava em São Paulo, na Lapa, bairro onde nasci. Na rua Roma.

Tempos de “pureza”, mais do que nunca, palavrão era pecado.

Criança, 6 ou 7 anos, saía sem medo pelas ruas dava a volta no quarteirão e parava nos escritórios da fábrica de máquinas de costura Leonam (Manoel ao contrário porque o dono seria Manoel Ambrósio Filho). As ruas eram praticamente desertas.

Tenho leve lembrança de queixas da derrota do Brasil na Copa de 1950 no Maracanã.

Acho que, pela família palmeirense, não sei se ainda na |Lapa ou já em São Caetano tenho distante a voz do incomparável narrador Pedro Luiz emocionado com a conquista pelo Palmeiras do campeonato mundial interclubes em 1951, comemorado apoteoticamente por 100 mil torcedores no mesmo Maracanã. Acho que meu irmão empolgado dissera: “o Palmeiras é campeão”. Não sei se foi nesse campeonato…

A proximidade do Natal e do Ano Novo tinha um sabor especial, muito mais do que agora, certamente. Naqueles idos na Lapa, a família toda se reunia na casa de um tio e lá havia a ceia do dia 31 de dezembro.

Minha mãe, excelente cozinheira, uns dois dias antes do Natal se unia às minhas tias e começavam a prepará-la.

Todos se uniam, meus primos e primas, meus pais, meus tios que contavam "causos", piadas, havia um clima de descontração pelo Natal, desprovido do apelo comercial de hoje e na véspera do Ano Novo, na virada, o rádio transmitia a corrida de São Silvestre. Em 1950 venceu um belga.

Penso que meus pais enfrentavam problemas, tanto que logo depois mudamos para as imediações de São Caetano, um trauma para minha mãe porque tudo estava por fazer, uma cidade que obtivera a autonomia havia dois anos.

Há desses momentos que não se esquece. E foi na Lapa. Guardei para sempre pelo gesto que surpreendeu o menino.

Fora, também, resultado de um impulso decidido, há quantos anos!

Quanto a mim, lembro-me bem, não sabia se meu presente de Natal seria bom. Se haveria presente.

Dias antes do Natal, meu primo fora ao "jardim de infância" para a festa da escola onde estava matriculado. Era perto de onde morávamos.

Fui com ele mas não tive coragem de entrar. Eu não "era" da escola.

Fiquei no portão e pude ver à distância todas as brincadeiras, as balas distribuídas e, para surpresa geral, no fim da festa, a escola distribuiu brinquedos a todos os alunos.

As crianças que estavam fora, vendo os presentes nas mãos dos meninos que saiam contentes, permaneciam boquiabertas pelos brinquedos que não ganhariam do "jardim da infância". E quiçá, do papai noel que naqueles tempos era uma figura comercial, mas nem tanto.

Eu não poderia ficar sem brinquedo também.

Criei coragem, entrei na escola quase vazia e vi-me numa sala ampla, toda enfeitada.

Uma mulher lá estava. Não me lembro do seu rosto? Era jovem? era velha? Bonita ou feia? Talvez mais jovem que velha. Jeito de professora, com certeza:

- Também quero um brinquedo, afirmei meio trêmulo com os olhos voltados para o chão.

A mulher, surpresa com o pedido, olhou-me por alguns segundos e sem relutar pegou sobre um armário uma carrocinha de madeira, puxada por um cavalinho. Caprichada, perfeita. Estava desembrulhada, sem a caixa. Talvez por isso tenha sobrado.

Entregou-me:

- Para você.

Foi demais. Inesquecível. Minha mãe ficou surpresa e contente com o presente inesperado que recebera. Jamais esquecerei essa carrocinha, pela forma como ela me foi dada.

Naqueles tempos e hoje com jogos eletrônicos e tudo, ainda acho que há uma idade em que a criança se encanta com um brinquedo. E quando ele é dado como foi dado sem qualquer relutância, seu valor se multiplica e permanece para sempre na memória.

Há um sentido de leveza e intensidade na gratidão a lembrar e a relatar.

Ainda que tenha sido há muito tempo, enleva tanto quem concede sem relutar, como quem recebe tanto que até hoje tenho guardada (na memória) essa carrocinha e seu cavalinho...



 A CARROCINHA
 
Um texto diferente  com outros episódios:


- Como vai nessa vida de riquinho? - Você sabe, esses caras falam tanto em reciclagem hoje, mas meu pai sempre teve consciência de que a cata de papelão, lata seria espécie de limpeza do mundo. Pobrezinho, ele sempre me dizia isso, querendo externar algum orgulho pelo que fazia, puxando aquela carrocinha cheia de tranqueira que ia catando. E os garotos caçoando dele. - Sabe que eu me lembro dele, com aquele chapéu batido, aquelas botinas gastas! - Então, naqueles tempos que pulávamos a veleta no fim da rua e saíamos naqueles campos com mato baixo a cata de ovos de patas, as peladas memoráveis no campinho. Por causa de uma delas não ajudei o velho num dia em que logo cedo, disse que não estava bem. Olhou para mim, fiz que não era comigo e não saí com ele. A consciência ainda me dói, meu amigo, ele morreu puxando a carrocinha naquele dia. E como foi difícil encontrá-lo, ou o seu corpo, que já estava sendo tratado como indigente. - Eu sei disso tudo. Só se falava nisso... - A família precisa comer, minha mãe adoentada. E nisso vi que tinha que assumir a carrocinha. E fui assumindo ainda menino. Eu, mas você também fez isso, enrolava fio de cobre descascado numa peça de ferro para ficar mais pesado e lá vinham os trocados do ferro velho. Com alguns tostões íamos à venda para comprar copinhos de hóstia com bananada. Que tempos, cara, que tempos! Foi por aí que fiquei riquinho, mas no diminutivo mesmo. Meu orgulho. - Essa história de carrocinha e seu pai me leva aos meus tempos de infância, um pouco antes disso, ainda. Não me lembro bem se meu pai voltara ou não ao alcoolismo. Acho que não. Essa doença fora provocada pela própria grande empresa de bebidas naquilo que hoje chamamos de “happy hour”. No fim do dia, o consumo de bebidas ficava meio liberado, o chope e mesmo destilados que ela produzia naqueles tempos. Essa facilidade deu no que deu. Eu ainda morava em São Paulo, na Lapa, bairro onde nasci. Há desses momentos que você não esquece. Guardei para sempre pela gratidão que ficou. Fora, também, resultado de um impulso decidido, há quantos anos! Naqueles tempos, a proximidade do Natal e do Ano Novo tinha um sabor especial, muito mais do que agora, certamente. As famílias se reuniam e usufruíam a ceia que todos se empenhavam em preparar . Minha mãe, excelente cozinheira, uns dois dias antes do Natal se unia às minhas tias e começavam a prepará-la. Todos se uniam, meus primos e primas, meus pais, meus tios que contavam "causos", mentirinhas mas, rigorosamente, havia um clima de emoção do Natal, desprovido do apelo comercial de hoje. Na véspera do Ano Novo, na virada, o radio espocava com a corrida de São Silvestre. Quanto a mim, lembro-me bem, não sabia se meu presente de Natal seria bom. Dias antes do Natal, meu primo fora ao "jardim de infância" para a festa da escola onde estava matriculado. Era perto de onde morávamos. As ruas eram praticamente desertas. Fui com ele mas não tive coragem de entrar. Eu não "era" da escola. Fiquei no portão e pude ver à distância todas as brincadeiras, as balas distribuídas e, para surpresa geral, no fim da festa, a escola distribuiu brinquedos a todos os alunos. As crianças que estavam fora, vendo os presentes nas mãos dos meninos que saiam contentes, permaneciam boquiabertas e tristes pelos brinquedos que não ganhariam do "jardim da infância". Muitos, nem do "Papai Noel" – que figura essa, que hoje me irrita. O cara todo de vermelho, barbudo, agasalhado num clima de quase 40°. C, com aquela risada ridícula: compre, compre, compre! Eu não poderia ficar sem brinquedo também. Criei coragem, entrei na escola quase vazia e vi-me numa sala ampla, toda enfeitada. . Disse à mulher que lá estava. Não me lembro do seu rosto? Era jovem? era velha? Bonita ou feia? Talvez mais jovem que velha. Jeito de professora, com certeza: - Também quero um brinquedo, afirmei meio trêmulo com os olhos voltados para o chão. A mulher, surpresa com o pedido, olhou-me por alguns segundos e sem relutar pegou sobre um armário uma carrocinha de madeira, puxada por um cavalinho. Caprichada, perfeita. Estava desembrulhada, sem a caixa. Talvez por isso tenha sobrado. Entregou-me: - Para você. Foi demais. Inesquecível. Minha mãe ficou surpresa e contente com o presente inesperado que recebera. Jamais esquecerei essa carrocinha, pela forma como ela me foi dada. Naqueles tempos e ainda hoje com jogos eletrônicos e tudo, há uma idade em que a criança se encanta com um brinquedo. E quando ele é dado como foi dada a mim a carrocinha, sem qualquer relutância, seu valor se multiplica e permanece para sempre na memória. Há um sentido de leveza e intensidade na gratidão a lembrar e a relatar. Ainda que tenha sido há muito tempo. Enleva tanto quem concede sem relutar, como quem recebe. Para sempre. E não tem essa de sentimentalismo barato, de memória inútil. - Eu também já ouvi essa história. Mas, isso já vai para quase um século e você não a esquece? - Não tem como. - Vamos descer para umas e outras. - Fico num copo só, vou avisando. - Eta cara chato. Ficou pior agora. Vamos lá então. Eu tomo o resto. Imagem: "Catador" - http://www.comshalom.org/blog/carmadelio/date/2009/11

12/12/2010

A MATANÇA DAS BALEIAS E OUTROS BICHOS.

Com regularidade recebo mensagens do Greenpeace, ora se referindo a ações que promovem para combater o aquecimento global, preservação das florestas e outros ora pedindo donativos em dinheiro para campanhas em locais distantes do planeta.
A mais recente se refere a pedido de ajuda para combater a matança de baleias pelos japoneses.

A tradução tem lá suas dificuldades, mas a mensagem tem o seguinte teor:


Enquanto você lê este e-mail, a frota baleeira japonesa está se aquecendo nos rumos Oceano Antártico para iniciar o abate anual da baleia. A “quota planejada” nesta temporada é de cerca de 1.000 baleias minc, 50 baleias jubarte e 50 baleias fin ameaçadas de extinção.

Temos de parar este massacre agora.

Durante a campanha de 2008, o então senador Obama disse: "Como presidente, vou garantir que os EUA assumam a liderança na aplicação de acordos internacionais de protecção da vida selvagem, incluindo a moratória internacional à caça comercial da baleias." Mas já há três temporadas caça têm ido e vindo desde que Obama falou aquelas palavras, e nenhuma alteração foi feita.

E aqui o pedido de donativos:

Por favor, apresse sua contribuição mais generosa como uma pressão sobre o presidente Barack Obama para cumprir sua promessa de campanha!

“Permitir que o Japão continui a caça comercial é inaceitável", como o próprio presidente Obama declarou, e o Greenpeace está arregimentando apoio para pôr fim ao massacre, uma vez por todas.

A caça comercial não só é inaceitável, é uma violação do direito internacional.

Imagine um navio japonês apressando-se através do Oceano Antártico. De repente, o arpoador vê uma baleia mãe e seu filhote. Os sons do oceano são abafados pelas explosões de arpões que atingem a baleia.

E o relato doloroso que seria preferível ignorar, não saber:

A dupla luta para libertar-se das linhas de arpão durante quase uma hora, debatendo desesperadamente suas caudas na água, até que, finalmente, um pistoleiro do convés atira para que sejam morta de vez. A baleia mãe e o filhote são arrastados até rampa de lançamento da nave, deixando um longo rastro de sangue atrás de si.

Para nossa frustração, em poucos dias essa cena trágica no Oceano Antártico vai se repetir inúmeras vezes. O Greenpeace precisa da sua ajuda, e a ajuda do presidente Obama, para pôr fim à matança dessas criaturas de nossos oceanos, “as mais originais, inteligentes e emocionais.”


Além do Japão, também a Noruega e a Islândia caçam baleias alegando interesse “científico” mas que na verdade, em especial os japoneses, apreciam a carne do maravilhoso cetáceo, fazendo parte de sua “cultura”.
Países ditos civilizados praticando tal barbaridade sem concessões.

Essa cena dolorosa há mais de um século foi descrita por Herman Melville no livro “Moby Dick”:

“Como quando o cachalote ferido, que desenrolou da tina centenas de braças de arpoeira, depois de um profundo mergulho flutua de novo e mostra a corda frouxa e torcida erguendo-se a boiar e espiralando-se rumo á tona, assim Starbuck viu longos rolos do cordão umbilical de Madame Leviatã, com o qual o filhotinho ainda parecia amarrado à mãe. Não raro, nas rápidas vicissitudes da caça, esse cordão natural, com a extremidade materna solta, enrola-se na arpoeira de cânhamo, de modo que o filhote é assim capturado.”
(...)
No que se refere às tetas na fase da amamentação, “preciosas numa fêmea que aleite, são cortadas pela lança do caçador, o sangue e o leite que correm da mãe mancham à porfia o mar, por quinas de metros. O leite é muito doce e forte, tem sido provado pelo homem, iria bem com morangos.”
(1)

Ora, perguntareis:

Não há crueldade idêntica ou pior nos matadouros bovinos e caprinos, nos abatedouros de aves?
Não foi o Greenpeace que remeteu outra mensagem no “dia de ação de graças” deste ano, feriado americano, relatando seus êxitos enquanto, na véspera, eram abatidos milhares de perus, ave símbolo da comemoração? Que comemoração é essa em “dia de ação de graças” com tal matança?
E o “nosso” Natal com a matança dos leitões e também dos perus?

Sim, há. Este é o seu mundo, cara.

Mas, se esta é uma realidade dura, é chegada a hora de ir diminuindo essa prática. E por que não a partir das baleias, essas criaturas “mais originais, inteligentes e emocionais.”?

Já me referi em várias crônicas e artigos sobre os estragos ambientais que produzem o gado bovino – no Brasil o maior rebanho do mundo - criado “artificialmente”, no que concerne à devastação das florestas, emissão de gás metano pela sua defecação.(2)
Se a humanidade não se convence de que a carne é dieta dispensável ou que pelo menos tivesse consumo menor, “tudo bem!”, mas que fiquem em paz as baleias na imensidão dos oceanos. Comecemos por elas a nossa contenção à imensa crueldade que praticamos contra os animais, melhorando nossa moral perante eles e, principalmente, perante nós mesmos, absorvendo aqueles sentimentos de paz e amor que eles, no seu habitat e a seu modo, inspiram.


(1) Já fiz referência a essa obra na crônica “Baleias, Caranguejos e Tartarugas” de 27.02.2010.
(2) O artigo mais recente constitui-se uma resenha que publiquei no portal www.votebrasil.com e no http://martinsmilton2.blogspot.com/ de 21.11.2010. Há um resumo do relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente que trata desse tema, inclusive fazendo referência à mudança de hábitos alimentares.

Fotos:
1. Baleias orca, from http://www.portalsaofrancisco.com.br
2. "Açougue" (Google)